sexta-feira, 23 de setembro de 2016

RBS/Grobobo... Nossas diferenças são inconciliáveis


Resposta ao jornal da Globo que tentou me contratar. 

Por Leo Mendes



Diário do Centro do Mundo


Postado em 22 Sep 2016
por : Leonardo Mendes







Fui convidado a escrever uma coluna no jornal Diário Catarinense, do grupo RBS, braço da Globo no sul do país. Abaixo a minha resposta, em forma de carta aberta:

Queridxs amigxs da RBS/Globo,

confesso que fiquei bastante feliz com o convite, mas sou obrigado a decliná-lo.


É uma questão de princípios: eu não trabalho para empresas que atentam contra a democracia e que atuam de modo tão sujo quanto a Globo, a serviço de ideais tão mesquinhos.

Confesso também que perguntei quanto vocês estariam dispostos a me pagar, apenas por curiosidade, e peço desculpas por isso.

É que eu assisti esses dias ao filme Nove Rainhas, em que um dos personagens diz que não faltam garotos de programa, o que falta é potencial de investimento.

Digamos que por 1 milhão de reais eu aceitaria o cargo, por dois meses. E depois passaria a vida me purificando da experiência de trabalhar para a Globo.

Sabia que o valor oferecido não seria esse, e que eu não aceitaria, por isso peço desculpas por ter feito vocês perderem tempo elaborando uma proposta.

Eu prefiro vender o meu corpo na esquina mais imunda, a vender meu trabalho como jornalista a uma empresa como a Globo.

Não julgo aqueles que o fazem, e inclusive tenho grandes amigxs nessa empresa, que considero pessoas maravilhosas.

Acredito que essxs amigxs acreditem que a Globo pode mudar, que elxs possam ajudar nessa mudança.

Já eu acredito que o jornalismo da Globo não tem salvação, e é uma questão de tempo perder a pouca credibilidade que lhe resta, junto à parcela mais ignorante da sociedade, ou seja, a classe média que vai às ruas com a camisa da CBF contra a corrupção.

Um avanço civilizatório fatalmente acabará com isso, e a família Marinho terá que aceitar que não lhe resta futuro no jornalismo, talvez apenas no entretenimento e dramaturgia (a série Justiça é ótima).

Por isso entrar para o time de jornalistas da Globo, para mim seria lutar contra esse avanço civilizatório.

Eu espero ainda poder comemorar o fim do Jornal Nacional, o fim do Diário Catarinense, a venda de toda a estrutura jornalística a disposição da família Marinho e de seus comparsas.

A Globo é hoje a minha Bastilha. Sua queda é a minha vitória.

Nossas diferenças são inconciliáveis.

Sinceramente,









Leo Mendes



quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Agora vai... vai? Mas para onde?


Desculpa, Mil desculpas!


Mauro Baitasar



Agora vai... vai? Mas para onde?



antes que qualquer coisa seja dita, eu quero pedir desculpas aos professores e professoras das escolas da rede pública do povo gaúcho, o povo mais politizado do braZil. todos os envolvidos e envolvidas na eleição do governador $artori já sabiam de tudo que iria e está acontecendo: as mortes invisíveis que o jornalismo de excelência não repercute, o toque de recolher em porto alegre, por isso, e só por isso, riram dos nossos avisos, os petralhas, lembram da resposta para nossas perguntas? repetiam e repetiam, entre muitos risos, Vocês vão se ..der! vocês lembram o que diziam, certo? não é preciso repetir: vocês já sabiam do parcelamento dos salários, da paralisia da polícia civil, mas vocês contavam com a força competitiva e punitiva da brigada militar. lembram das selfs? domingos ensolarados, palavrões, gritos de ódio

mas claro, seus ensinamentos e análises profundas não haviam acabado. e todos e todas foram gritar, Fora Dilma, Fora PT, cansados e cansadas deste jeito de governar para todos. e olha que nem foi tanto assim, não conseguimos governar para todos os excluídos, mas então, inconformadas vestiram primeiro seus uniformes verde-amarelos, estilo neymar; depois o preto do luto, e tombaram-se às ruas. pareciam bêbados de tanto ódio. conseguiram! parabéns a todos e todas envolvidas, vocês e só vocês poderiam saber dos planos arrojados e futuristas para a Educação Pública Brasileira que nos chega através da mente pura e sensível do Alexandre, aquele mesmo: a substituição das disciplinas de Filosofia e Sociologia por Moral e Cívica. uau! agora vai! Sócrates, Platão, Antão, Gringão, Romário, é tudo a mesma coisa, Um dois feijão sem arroz, três quatro batendo panela, Dois passos para frente, Oito para trás, Mais um passo para frente, Calem a boca, Silêncio, Vocês são crianças, mas aqui é a escola e na escola todos vêm para aprender ficar em silêncio. Ouviram? Em SILÊNCIO!

e, às vezes, marchar

mas tem mais...

quero dedicar esse parágrafo a todos e todas da educação física envolvidas com esse outro achado futurista para a educação física: O Plano do Ensino Médio - elaborado depois de uma exaustiva discussão com os coxinhas da educação física (vocês já vinham discutindo, certo?) - decidiu abrir mão da disciplina de Educação Física, e também da outra disciplina de merda: Artes! isso é coisa pouca, quem se importa com cultura para os alunos e alunas nas escolas públicas, né? e com o corpo quem se importa, né?

Viva o Novo Ensino Médio das Escolas Públicas Brasileiras!

desculpem, eu me prometi nenhum palavrão, mas não consegui evitar três.

agora vai... vai pra onde?

fui aconselhado colocar uma nota explicitando que o texto acima contém ironia, está bem, este texto esquisito acima chega ser platônico de tanta ironia. então, para deixar explícita a proposta do MEC Golpista, estou adicionando aqui o resumo genial do Carlos Fabre Miranda, em sua linha de tempo no facebook, sem ironias:


" Escola sem partido, sem contraditório, sem crítica, sem reflexão, sem arte, sem corpo e sem sentido!"




Na prática, já tínhamos duas escolas no BraZil! Uma escola para os ricos e uma escola para os pobres! Agora, o braZil Golpista, anuncia que é isso mesmo, chega de adornar e contornar, daqui para frente vai ficar bem claro, acabamos com ENEM, Cotas, e toda essa esculhambação inventada pelo PT. Lugar de aluno pobre é em escola pobre, aprendendo a servir com silêncio e resignação os filhos amados da ESCOLA dos RICOS!

Saudações A TODOS E TODAS ENVOLVIDAS!



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Plano do ensino médio abre mão de artes e educação física e repete meta



NATÁLIA CANCIAN
MARINA DIAS

DE BRASÍLIA


PAULO SALDAÑA

DE SÃO PAULO
22/09/2016 15h15 - atualizado às 17h50



Rivaldo Gomes/Folhapress



Escola estadual Antonio Vieira de Souza, em Guarulhos, na Grande São Paulo



O novo modelo para o ensino médio, apresentado nesta quinta-feira (22) pelo governo Michel Temer (PMDB), flexibiliza o currículo da etapa, acaba com a obrigatoriedade de disciplinas de artes e educação física e traz um incentivo à expansão do ensino em tempo integral.


As mudanças propostas serão agora levadas ao Congresso por meio de uma MP (medida provisória), para acelerar a tramitação legislativa.




REFORMA DO ENSINO MÉDIO





Análise de Sabine Righetti: Reforma não resolve problemas que desembocam no ensino



O texto da MP assinada por Temer provoca a maior alteração já feita na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), de 1996. As mudanças terão implementação gradual nas redes de ensino dos Estados, a quem caberá definir a transição para o novo modelo. A expectativa do governo, no entanto, é ter turmas já com a nova proposta a partir de 2018.


O novo modelo irá prever flexibilização do percurso do estudante. Hoje, todos os alunos do ensino médio devem cursar 13 disciplinas em três anos. Com a mudança prevista na MP, somente parte da grade –equivalente a cerca de 1 dos 3 anos da etapa– será comum a todos. Para o restante, haverá a opção de aprofundamento em cinco áreas: linguagens, matemática, ciências humanas, ciências da natureza e ensino técnico.


Ao aluno caberá a escolha da linha na qual deseja se aprofundar. Mas a oferta dessas habilitações dependerá das redes e das escolas. Ao menos duas áreas, entretanto, devem ser oferecidas.


O ensino de língua portuguesa e matemática será obrigatório nos três anos do ensino médio. Mas, ao contrário do que previa a LDB, as disciplinas de artes e educação física deixam de ser obrigatórias nessa etapa. Elas continuam obrigatórias apenas da educação infantil ao ensino fundamental.


O secretário de educação básica, Rosseli Soares da Silva, no entanto, nega a mudança. Segundo ele, as duas disciplinas devem fazer parte da base nacional comum. O texto da MP, no entanto, retirou as duas disciplinas do texto anterior da LDB nos trechos sobre o ensino médio.


"Tudo o que constar na base nacional será obrigatório. A diferença é que quando coloca a [oportunidade de escolher] ênfases, só colocamos os alunos que tem interesse em seguir naquelas áreas. Não podemos continuar pensando que vamos ensinar tudo a todos."



'FALÊNCIA'


Em discurso no Palácio do Planalto, o ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM-PE), disse que a reformulação ocorre diante de um cenário de "falência do atual ensino médio", com baixo desempenho em avaliações como o Ideb e altos índices de evasão. "O desempenho de português e matemática é menor hoje do que em 1997. Os jovens hoje têm menor conhecimento em matemática e português do que na década de 90", afirma.


Segundo ele, uma comparação com o sistema aplicado em outros países mostra que o Brasil está hoje "na contramão do mundo". "Temos aí um exemplo do que é o ensino médio brasileiro, com 13 disciplinas obrigatórias, bastante engessado e que coloca o jovem com disposição de não continuar na vida educacional", disse. "O novo ensino médio tem como pressuposto principal a autonomia do jovem. É muito comum o jovem colocar que aquela escola não é a escola que dialoga com ele."


Segundo o ministro, o governo deve investir de R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão em dois anos no projeto de fomento ao ensino integral no ensino médio.


Já a meta é atender 500 mil jovens nessas escolas de tempo integral até 2018. "Teremos a responsabilidade de mais do que dobrar o número de alunos beneficiados", afirma ele, que também disse esperar que o texto da MP seja votado na Câmara e Senado até o fim deste ano.


O país registra 1,7 milhão de adolescentes entre 15 e 17 anos fora da escola -16% da população nessa faixa etária, que seria a ideal para o ensino médio.


INTEGRAL


De acordo com o texto da medida provisória, a carga horária mínima de 800 horas anuais para a etapa deve ser ampliada progressivamente para o mínimo de 1.400 horas anuais. Isso representa 7 horas de aulas por dia, o que caracteriza a educação em tempo integral. O texto afirma que essa ampliação deve seguir as metas já dispostas no PNE (Plano Nacional de Educação).


A previsão do PNE é ter, até 2024, ao menos 25% dos alunos de cada etapa de ensino em tempo integral. O país registra hoje 6% das matrículas nessa modalidade no médio. Dessa forma, de acordo com o texto, o governo não revoga a carga mínima de 800 horas já prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996.


Para expandir a oferta de tempo integral, o projeto prevê aporte financeiro do governo federal, de forma temporária, às redes estaduais que criarem novas vagas na modalidade. No entanto, esse valor –calculado por aluno– só será pago nos primeiros quatro anos e "respeitada a disponibilidade orçamentária para atendimento.


O ensino médio ainda poderá ser organizado em módulos e adotar o sistema de créditos ou disciplinas com terminalidade específica, "observada a Base Nacional Comum Curricular", a fim de estimular o prosseguimento dos estudos.


Assim, se um aluno tiver optado por se aprofundar em uma área, mas quiser mudar de opção, ele poderá solicitar a troca. Neste caso, receberá um certificado parcial a cada módulo concluído. "Ele será o protagonista do seu percurso", disse Mendonça Filho.


O texto também flexibiliza a contratação de professores sem concurso para atender a ampliação do ensino técnico. Permite ainda a contratação de professores sem formação específica na disciplina na qual vão atuar, desde que tenha "notório saber".


Para Eduardo Deschamps, do Consed (órgão que representa os secretários estaduais de Educação), a maior oferta de ensino profissional com o novo modelo de ensino médio "cria um enorme incentivo aos jovens que não seguem diretamente para a universidade". "E o mais importante é que a nova legislação não impõe um único modelo para o ensino médio. Ela permite criar novas formas de oferta sintonizadas com as aspirações dos estudantes", afirma ele, para quem a reforma é "urgente e prioritária".


O formato como o governo encaminhou as mudanças, por meio de uma medida provisória, no entanto, gerou polêmica entre educadores. Questionado, o ministro Mendonça Filho negou que a reformulação tenha sido imposta. "Foi uma mudança discutida", disse.



















terça-feira, 20 de setembro de 2016

Porto Alegre em chamas!

Mauro Baitasar



Como a cidade de Porto Alegre, capital de todos os gaúchos e gaúchas, referência no mundo em solidariedade, humanidade e urbanidade, em QUATRO governos sucessivos do PT, desde 1989 até 2004, se torna em 2016 – 12 anos depois do último governo petista portoalegrense - referência mundial em violência urbana? No ranking criminalidade, a cidade de Porto Alegre está entre as DEZ cidades mais violentas do MUNDO! Não dá para culpar o PT. Não dá para dizer que é uma maldita herrança petista! Mas dá para sentir muita saudade dos governos petistas em Porto Alegre.

Cada um/uma dos portoalegrenses deve – e precisa – elencar razões para essa honraria da mediocridade administrativa. Em DOZE anos perdemos espaço para sediar o Fórum Social Mundial, nos tornamos invisíveis, até que chegou o toque de recolher imposto pela criminalidade. Isso não é retórica, é a formalidade do nosso cotidiano. Não é frase de efeito, mas o efeito do que estamos vivendo.

Não existe apenas uma razão para tanta violência, mas muitas escolhas equivocadas dos/das portoalegrenses, somadas ao povo eleitor gaúcho: A escolha do mesmo boneco golpista das liberdades e conquistas sociais. Escolher esse boneco só por burrice, desatenção ou interesse empregatício explica em parte tanta violência invisível. Gritos que não ouvimos porque não queremos ouvir.

Devido a gravidade da vida de medo, que chamo de não-vida, vou tentar delucidar o protagonismo da burrice e desatenção nesta tragédia coletiva. O interesse empregatício, por óbvio, não vou atentar nem usar do seu ou do meu tempo. Todo vilão é medíocre, não porque lhe falte inteligência ou esperteza, porque é fingido, incorreto e injusto. É um traidor da vida, despreza todas as vidas que não se submetem ao seu protagonismo conquistador. Um agente bárbaro e sanguinário, mas um ator eficaz. Um candidato pelo empregatício é um ator eficaz. Todos e todas estamos sujeitos a uma ou muitas atuações fingidas pelo empregatício. Importante, mas não determinante. 
Mas a fofoca quando assume o caráter de profecia dá convicção e torna a cidadania invisível. Os direitos e os espaços de ninguém e de todos desaparecem. Voltamos à mendicância e ao roubo da vida.

Então, o que dá formato a tudo isso? 


Do ponto de vista do retorno rápido, é o jornalismo. O mais mentiroso praticado no MUNDO. Olha só, de novo, estamos lá no alto da pirâmide das comparações, encontramos homens e mulheres que usam os meios de comunicação de massa para inventar fatos ou esconder fatos, conforme os interesses deles mesmos ou em acordo com a relevância para o patrão. E não se engane, o leitor, telespectador ou ouvinte não é o patrão. Não somos o patrão, somos o efeito colateral. Aproveitemos.

Um jornalismo criminoso produz uma sociedade de criminosos. Um jornalismo mentiroso fabrica uma sociedade de mentirosos. Um jornalismo cínico concebe uma sociedade de cínicos. Um jornalismo de ódio ensina e educa para o ódio. Um jornalismo que reconhece nos efeitos colaterais, apenas isto, mortes possíveis de absorver, é cúmplice de cada morte em Porto Alegre. Esse jornalismo ideológico e partidário reinventou a sociedade desumana, mentirosa, cínica e canalha. Aproveitemos.

Tenho medo dos adultos crescidos das crianças que não brincam aos 5, 6 e 7 anos, a infância perdida para a alfabetização precoce (desculpem, mas não consigo resistir à piada: por que tanta estupidez destes pais? qual a razão para tanta pressa? pais... os seus filhos trabalharão até os 70 anos! calma, deixem que eles curtam a vida, pelo menos, nos seus primeiros 7 anos!), mas tenho uma pequena esperança. Afinal, são apenas crianças. Ainda não cresceram, mas vão crescer. Aproveitemos.

Tenho medo dos adultos que consomem esse jornalismo criminoso como se estivessem mascando tabaco ou chicletes. Adultos midiotizados. Não tenho esperanças. Nenhuma. Está fácil imaginar uma sociedade cada vez mais violenta, indiferente, egoísta, sem emoção ou sentido humano. Todo o humano que tínhamos substituído pelo sentido do dinheiro. Com esse jornalismo é um caminho sem volta. The Wall está a poucos metros e continuamos pisando no acelerador. Os homens e mulheres desse jornalismo criminoso são uma peste social, somatizam medos e mentiras em seus leitores/leitoras. Modelam uma couraça de preconceitos e conceitos que poupam os amigos e criminalizam os não-amigos. Aproveitemos.

Enganam-se aqueles que acreditam que protegem seus filhos/filhas com mais e mais policiais nas ruas (desculpem, novamente, não consigo resistir, não seja tolo de acreditar que não quero policiais nas ruas. e, por favor, sem esse seu catecismo estutipificado que deseduca: os direitos humanos só se preocupam com bandidos). Começaremos proteger nossos filhos/filhas quando assegurarmos uma vida de oportunidades dignas para todos os jovens da periferia, das vilas e das escolas públicas.


As curvas da vida com sonhos.

Não esperemos ver que os jovens se decidiram pela vida do crime para agirmos (desculpem, de novo, não consigo aguentar: matar esses jovens não é solução, nunca foi nem vai ser solução, só irá criar a aceitação da morte pela mão do Estado. naturalizar a violência e a ganância pelo acumulo de riqueza faz brotar como musgo a pobreza. hoje, temos cada vez mais jovens inspirados por bandidos, sonham com o mundo do crime. esse é o seu modelo de sucesso).

E a solução? Não temos a solução? É isto, e pronto?

E a Educação? Mas qual Educação?

A Educação do silêncio?

Cala a boca, Vocês não querem aprender!


Mas aprender o quê, professora?

Qual Educação? A Educação Formatadora que forma mão-de-obra acessível e barata; matadora de sonhos?

Estamos satisfeitos? Poderia ser pior? Nem quero imaginar esse pior.

Pense: É essa educação medíocre oferecida em nossas escolas públicas que você quer para o seu filho/filha (desculpem, é irresistível, não grite por falta de condições etcetcetc, esses chefes – prefeito e governador – foram eleitos com o seu voto, nunca prometem nada, mas desmancham o pouco que foi construído)?

Confiança, perdemos a confiança na sociedade que nos tornamos. Não acredito em solução mágica, mas o templo da perdição do governo golpista, não por acaso do PMDB, eles propõem mais uma ruptura na Educação Básica: fim da Filosofia, Sociologia, História, volta da Educação Moral e Cívica. Agora vai, iremos obrigar nossas crianças contar passos para entrar e sair das salas de aula, Um dois feijão ou arroz, Três quatro sem comida no prato! Sublimamos Hitler! Não precisamos queimar livros, estamos queimando a Filosofia, Sociologia, História e seus professores. As próximas gerações nem saberão que tudo isso já existiu!


Dois para frente, cinco para trás, Um dois nem feijão nem arroz, Três quatro nem comida nem prato!

Tenho apenas uma certeza, Enquanto não neutralizarmos esse jornalismo criminoso, não teremos chance de um outro jeito de viver. Nos tornamos o que sempre fomos: uma sociedade golpista. Mas também nos tornamos o que nunca fomos: referência no mundo, entre as DEZ cidades mais violentas do MUNDO!

Parabéns, a todos/todas envolvidas. Aproveitemos.



segunda-feira, 5 de setembro de 2016

O Brasil é feito disto aí

Do que é feito o Brasil? 


por Fernando Horta



Sul21





Não, a destituição de Dilma Rousseff não nos incomoda. Precisamos falar sério. Dilma não era líder de massas, não tinha história na política. Era uma burocrata alçada à presidência por um processo de impressionante transferência de votos que vieram de Lula. Dilma não fazia um bom governo, pendia irregularmente entre um trabalhismo conservador pontificado por um neoliberalismo (mal) disfarçado e um discurso garantista à la “onda rosa” europeia dos anos 70 e 80. Dilma não tem o dom da retórica. Tem história, mas não sabia usá-la. Seu maior discurso, até então, era uma resposta ao senador Agripino Maia dada ainda quando ministra da casa civil, entre 2005 e 2007. Rousseff se embananava na imensa maioria de suas falas e pouco conseguia instilar e inspirar na sua audiência. Como um “poste” se transformou na “coração valente”? Como se deu este milagre sabendo-se que sua assessoria de comunicação era a parte mais ignóbil e incapaz de todo seu staff (com folga)?


Em primeiro lugar, é preciso recordar que o processo de interpretação da realidade é sempre subjetivo. Falando mais abertamente, quem interpreta as coisas vê nelas o que quer ver ou o que consegue ver. O “coração valente”, portanto, está em quem olha, assim como está a “vaca” ou o “poste”. A trajetória de Dilma é pródiga em atos de coragem, mas isto pouca coisa significou até os últimos 60 dias. O que catapultou Dilma a condição que tem hoje foi a percepção da diferença entre ela e o Brasil. O contraste que nos foi oferecido durante o processo de impeachment é tão violento que não interessa quem foi (ou é) Dilma Rousseff, interessa entender do que é feito o Brasil.


Ainda incrédulos com o espetáculo dantesco nos oferecido pela Câmara dos deputados em 17/04 nós brasileiros, de direita, de centro e de esquerda nos horrorizamos com o que vimos. Brasileiros com cérebro custaram a acreditar que aquilo ali era uma parte substancial de nossa elite política. E a Câmara ficou órfã. Ninguém queria assumir a paternidade daquele horrendo monstro. A esquerda culpava a direita, a direita culpava a “ignorância” do povo, o povo … enfim o povo não entendia o que acontecia, mas sabia que aquilo era uma “luta entre ricos” e, portanto, também negava a paternidade. Os “deputados de ninguém”, aquele conhecido fenômeno (muito comum no RS) de políticos eleitos sem que “ninguém” tenha neles votado.


Depositamos nossa confiança no senado. Ali, diziam analistas, teremos um melhor espelho do que realmente é o Brasil. Assim também pensou o constituinte, pois atribuiu ao senado a obrigação da decisão final do impeachment. O que vimos nas manifestações dos senadores ocorridas até às 3 da manhã do dia 30 para o dia 31 de outubro foi, contudo, outro choque de Brasil. Não é possível que os discursos não tenham se alterado uma vírgula entre o início do processo de impeachment e o final. Horas de depoimentos de especialistas, de provas, de debates, arguições, textos e etc. tudo em vão. Era como se nada existisse. A acusação continuava com a catilinária barata do “quebrou o Brasil” e a defesa com o purismo do “não há crime, não há dolo”. Assistimos a um diálogo de surdos no senado. Desculpe, mas Isto não é o “devido processo legal”. Nunca se viu tamanho cinismo e desfaçatez.


Eis que os brasileiros com cérebro, seja de direita, de esquerda, de frente ou de ré; brasileiros vermelhos, azuis, amarelos ou cor-de-rosa; quaisquer seres pensantes que pisem sobre este imenso território estamos chocados. Se a Câmara nos mostrou um espetáculo de ignorância e incapacidade cognitiva o Senado nos mostrou um cinismo e uma inoperância política de impressionar. Este veredito não é difícil de se justificar. De fato, o brasileiro há muito é ensinado a desdenhar a política, isto é parte do jogo que os militares ensinaram e os políticos se jactam. Enquanto nós, cidadãos sérios, de direita, esquerda, ou de ponta cabeça não participarmos da política aquele show dos horrores continuará. Até aqui, entretanto, nada nos é novo. De onde, patavinas, sai a “coração valente”?


Eis que Dilma entra para a História do Brasil como o metro com que conseguimos medir nossa mediocridade. Enquanto nem a oposição pode chama-la de corrupta, mais de 70% dos senadores respondem a inquéritos ou estão condenados por crimes desta natureza. Enquanto o interino fazia conchavos nas sombras e se escondia em carros oficiais, ela adentrou o senado de cabeça erguida e lá ficou por mais de 14 horas. Kim sei lá eu o quê, convidado da direita no Senado, não suportou três horas na “tribuna de honra”. Tirando selfies, sentiu as dores do sentar no corpo jovem e retirou-se. A mulher de quase 70 anos que tinha sido escolhida como presidente, manteve-se incólume, sendo ofendida, maltratada, acusada e a tudo respondendo, calma e ponderadamente. O contraste foi tão evidente que até uma senadora, esposa de apoiador da ditadura e com patrimônio escondido da justiça eleitoral, congratulou a presidenta. Se errou, Dilma foi defender-se abertamente e ofereceu a si mesmo como prêmio a um Senado cínico. A diferença foi tão gritante que o Mundo não entende a nossa troca de Dilma por Temer.


Mas aí está sobre o que precisamos refletir. Dilma é de outra cepa. O Senado e a Câmara são feitos da mesma substância do Brasil. Esta é a beleza da Democracia. A ignorância de Felicianos e Magnos Malta é a mesma que se encontra aos cântaros Brasil afora. O empolamento elitista e preconceituoso de um Aloysio Nunes ou de um Cunha Lima é parte indelével de nossa classe média. O cinismo mudo de um Jucá ou de um Renan é característico de nossas elites. O desprendimento pueril de um Lindemberg ou de uma Grazziotin é também parte da nossa juventude. Aquilo lá é o Brasil, com seus acertos e erros, seus pontos fortes e fracos, suas barbaridades e tristezas. Os conchavos, as mutretas, a venda dos votos por cargos, o fisiologismo, a corrupção entranhada como modus operandi da política … é tudo o mais puro Brasil. Encontramos aquilo em qualquer canto do nosso país. Na coisa pública de cada cidadezinha e também nas empresas privadas. A Zelotes, quem diria, mostra isto todo o dia. Mega-empresários que faziam parte de “conselhos de gestão” são corruptos e sonegadores. Ninguém se salva, do médico que faz consulta mais barata sem recibo, passando pelo professor que inventa uma “saída de campo” sem sentido para diminuir suas aulas, ninguém se salva.


O Brasil é Lula, mas também é Fernando Henrique. Ali é disputa de brasis. O congresso muito bem nos representa. Daquilo ali tudo é que é feito o Brasil. É do fazendeiro escravocrata como Caiado ou da fazendeira autoritária (embora impressionantemente digna) de Katia Abreu. Tudo é Brasil. Dilma não. Dilma não é daqui. Dilma é feita de algo diferente e este contraste constrangeu até os perpetradores do golpe. A segunda votação pela retirada dos seus direitos políticos fez com que até um dos mais cínicos entre os cínicos, Cristóvão Buarque, ficasse envergonhado de si. A diferença entre ele e Dilma não cabe nesta galáxia e o pouco de humanidade que ainda lhe restava rasgou-lhe as vísceras. “Eu fico com ela” disse o golpista, num misto de sincericídio e vergonha.


Dilma finalmente se achou no Brasil. Ela viu que não é daqui. Porém, ao fazer isto Dilma nos mostrou do que somos feitos, do que o Brasil é feito, desde o tempo do império (que por sinal tinha representante da família real na “tribuna de honra” a favor do golpe). O Brasil é feito disto aí. Não há como se exigir mais. Não se pede aos outros o que eles não têm. Nossa pequenez nos saltou aos olhos, nos magoou a alma, deu-nos calafrios por compreendermos que nos falta substância. Foi terrível. Aquela mulher íntegra, altiva de mais de três metros de altura e uma voz tonitroante a nos humilhar fazendo chacota daqueles anões sórdidos e mentecaptos com suas teses insustentáveis.


Vá embora do Brasil Dilma! Vá e deixe-nos com nossa histórica pequenez. Não suportamos vê-la como você é, por isto criamos a ideia de um “coração valente”, porque não sabemos reconhecer nossa tacanhice.



.oOo.Fernando Horta, professor, historiador, doutorando em Relações Internacionais UnB.