domingo, 17 de janeiro de 2016

um jornalismo que vomita suspeitas


Agora é oficial: Cantanhêde reconhece que impeachment “subiu no telhado”


Tijolaço

POR FERNANDO BRITO · 17/01/2016






Está lá, nas últimas linhas da coluna dominical onde a “cronista da massa cheirosa”, Eliane Cantanhêde faz o elogio da traição de Michel Temer e das agruras em que este se meteu por isso.

” Se o impeachment subiu no telhado, o vice pulou de volta para o lado governista. Pelo menos até março.”

Para quem quiser entender, aí está a razão da dupla Aécio Neves- Marina Silva passar a pressionar para que o TSE faça “o melhor para o país”, isto é, casse Dilma e leve Temer de cambulhada.

Cantanhêde não alivia no “esculacho” tucano a Temer:
Quando o impeachment parecia uma opção real, o professor de Direito Michel Temer dizia que precisava estar pronto para cumprir suas “obrigações constitucionais”. Agora que parece irreal, o político Temer acha mais prudente tapar os buracos na relação com Dilma e pavimentar a estrada que leva o governo de ambos até 2018. Já que Dilma não deve cair, melhor ficar bem com ela. Ou menos mal. Além disso, há a questão central: o PMDB. A prudência ensina que “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Antes de almejar subir de patamar, da Vice para a Presidência, Temer precisa mostrar que ainda manda no partido que preside desde 2001. Senão, é melhor ter juízo e “obedecer” à hierarquia, torcendo para surgirem “fatos novos”.

Temer, como antes Cunha, foi bom enquanto serviu.

Um mês atrás, “o rompimento com seus vices pode ser fatal para os presidentes”, dizia ela, lembrando Figueiredo-Aureliano Chaves e Collor Itamar”. E Temer estava de “bola cheia”:
“Temer tem sido recebido calorosamente por empresários de diferentes setores, exaustos com a crise econômica, e foi aplaudido de pé na Federação do Comércio de São Paulo no mesmo dia em que enviou a carta para Dilma. Ele, porém, tem um discurso decorado para seus interlocutores: “Não conspiro, não desejo a queda dela, só espero uma solução rápida, para o país sair da crise. E se ela cair? Bem, aí eu cumpro meu dever constitucional”. Ele não vai conspirar a favor nem vai pegar em armas contra o impeachment, vai ficar exatamente como sua função exige: a postos.”

Inviabilizado no parlamento – embora com as graves consequências para o país do que isso causou durante meses – o golpismo migrou para as soleiras dos tribunais.

A pressão da mídia, agora, será ainda mais descarada em pressionar os magistrados.

Quem discordar, se não é ladrão, é defensor de ladrão.

E não basta intimidar um, é preciso intimidar todos, para que não surja outro desmonte daqueles, com um peteleco, que ocorreu com o voto – que seria unânime, previa o “Ministro” Merval Pereira – amedrontado de Edson Fachin, legitimando a manobra de Eduardo Cunha para instalar a comissão do impeachment.

E será o Paraná quem vai fornecer munição para este assédio, vomitando suspeitas através da mídia, como fez no caso da Época com Carlos Araújo.

jornalismo bandido: não tem fatos, não tem provas

Araújo ao 247: 'Época deve investigar seus patrões'




Brasil247 - Paulo Moreira Leite




16 de Janeiro de 2016






Horas depois que a revista Época chegou às bancas, neste sábado, com uma capa tão escandalosa como vazia contra o advogado Carlos Araújo, que foi casado com Dilma Rousseff e é pai da filha de ambos, Paula, ele deu uma pequena entrevista ao 247.

Araújo bateu duro, realizando um contra-ataque contra os donos da Globo, proprietária da Época: "A revista deveria preocupar-se em esclarecer por que seus patrões resolveram viver homiziados em Miami, cidade que é um dos endereços preferidos pela máfia internacional."

O advogado diz:

– Fui surpreendido com tanta maldade. Isso é coisa de jornalismo bandido, que não tem fatos, não tem provas, e tenta forjar uma impressão negativa sobre as pessoas que querem atingir. Sou uma pessoa honrada e minha prática sempre foi coerente com minha ideologia.

Advogado por formação profissional, calejado pelos rigores da luta contra a ditadura militar, quando foi um dos principais dirigentes da VAR-Palmares, uma das principais organizações armadas do período, Carlos Araújo avalia a edição da revista como uma operação política, cuja finalidade óbvia é tentar atingir a presidente:

– É puro jornalismo marrom, que atende a finalidades políticas e só isso. Como todos descobriram que não têm como publicar uma denúncia capaz de atingir Dilma diretamente, pois não há nada contra ela, tentam agir por via indireta, tentando atingir pessoas do círculo próximo, como eu.

A história divulgada pela revista é a seguinte. Desesperado pela crise da Engevix, empresa investigada na Lava Jato, um dos dirigentes da empresa, José Antunes Sobrinho, que hoje cumpre prisão domiciliar, teria feito uma "reunião secreta" com Araújo, de quem teria ouvido a promessa de receber a ajuda esperada. No mesmo período, diz a revista, um casal amigo de Araújo – e da própria Dilma – teria recebido um pagamento de R$ 200 mil. A tentativa de construir a narrativa de uma vulgar operação triangular é evidente como o perfil do Pão de Açúcar na paisagem do Rio de Janeiro – o problema é que não se apoia em fatos que possam ser comprovados, até porque a revista não se deu ao trabalho de conferir as informações que acabaria publicando.

O único encontro entre o advogado e um profissional da revista teve duração curtíssima e terminou de forma abrupta:

– Num recurso desonesto, diz Araújo, um dia um repórter da revista se infiltrou no meu escritório para tentar me abordar. Preencheu ficha como cliente, mas, quando sentou-se a minha frente, começou fazer perguntas sobre a Engevix, perguntou quanto eu havia recebido. Fiquei indignado e exigi que se retirasse imediatamente.

Araújo e Antunes se encontraram – não só uma vez, mas três vezes. O assunto era sempre o mesmo:

– Ele estava cada vez mais desesperado com a situação da empresa e queria de todas as maneiras que eu o ajudasse a marcar um encontro com a Dilma. Pretendia falar da situação com ela. Foram três conversas e em todas expliquei que este não era e nunca foi meu papel. Tenho a minha vida, a minha história, os meus valores. Jamais iria tentar interferir na agenda da presidente. Nem ela iria permitir isso.

(Momentos antes da entrevista, o Planalto desmentiu que o encontro tenha se realizado)

Começando a refletir sobre as providências jurídicas que tomará, Araújo afirma que "irei a Justiça defender meus direitos com todos os recursos cabíveis. Fui vítima de uma calúnia e vou entrar com uma ação contra isso. E vou exigir direito de resposta, cuja necessidade agora ficou mais evidente. Mesmo pensando em tudo isso, acho pouco. Não se pode fazer isso contra uma pessoa, sem prova, sem fatos."

sábado, 16 de janeiro de 2016

Mas Charlie Hebdo eu não sou mais.


Agora eu não sou mais 'Charlie Hebdo'








Por Flavio Aguiar, na Rede Brasil Atual:


Agora eu não sou mais Charlie Hebdo. Eu sou um refugiado sírio, eu sou um muçulmano perseguido, eu sou um norte-africano afogado no Mediterrâneo, um judeu em Auschwitz, um africano escravizado, um índio desaparecido em nome da Conquista europeia, uma criança vietnamita bombardeada com napalm nos anos 60 ou setenta etc. … Um menino morto na praia onde ele deveria brincar.

Mas Charlie Hebdo eu não sou mais.

Quando houve o atentado contra a redação do Charlie Hebdo, perpetrado por uma quadrilha de fanáticos que agiam em nome de uma visão completamente distorcida do Islã, eu e minha esposa saímos aqui nas ruas de Berlim, portando na lapela, com luto e orgulho, a divisa "Ich bin Charlie Hebdo", "Eu sou Charlie Hebdo".

A loja vizinha, de amáveis quinquilharias, de propriedade de um sírio, pusera na porta, em destaque, uma bandeira francesa. Não sou amigo de bandeiradas nacionalistas, mas aquilo era muito diferente Muito mais do que isto, era uma homenagem ao luto diante da estupidez do ato perpetrado, que incluía um ataque covarde a um supermercado de produtos judaicos.

Mas Charlie Hebdo eu não sou mais.

Tenho visto e já escrevi sobre a paranoia histérica que vem tomando conta da Europa depois desta série de atrocidades – não vamos brincar com isto – cometidas, tomando o nome de Alá em vão. Se os terroristas perpetradores destes crimes lesa-humanidade pensam que serão recebidos no Paraíso, espero que se deem conta do que na realidade fizeram ao arderem no mármore do inferno pela eternidade.

Mas Charlie Hebdo eu não sou mais.

A histeria paranoica piorou muito desde o "arrastão sexual" perpetrado por um milhar de energúmenos embriagados no Hauptbahnhof de Colônia, na Alemanha, atacando covardemente mulheres indefesas com todo o tipo de ofensa, que foram do roubo de celulares ao estupro. Agiam em nome de Alá? Foram descritos como "de aparência árabe ou norte-africana". Não duvido.

Mas a raiz deste comportamento não é islâmica, não é o Corão. A raiz é o descaso com que a juventude é tratada nas nossas metrópoles ocidentais. Isto justifica a barbárie que cometeram? De jeito nenhum. Existem milhões de jovens que são tratados com o mesmo descaso e que reagem de modo inteiramente diferente, construindo vidas próprias distantes destes ensurdecimentos ou fanatismos, entregando-se a militâncias generosas em nome da tolerância, da igualdade, da fraternidade, humanidade, da solidariedade – é bom não esquecer este conjunto de palavras –, ou simplesmente em busca de uma vida decente e digna.

Mas Charlie Hebdo eu não sou mais.

O cruel massacre dos jornalistas do Charlie Hebdo deixou cicatrizes. Mas a gente sabe que uma cicatriz pode ser tanto a lembrança da superação de uma ferida, como também a permanência da Marca da Maldade, assim com maiúscula, como no imortal filme de Orson Welles. Agora, a equipe do Charlie Hebdo cedeu diante da Marca da Maldade. Covardemente, atacaram uma criança.

Mais covardemente, atacaram uma criança morta. Quem não se lembra das fotos do pequeno Aylan, de bruços, tendo como leito de morte uma praia onde ele deveria brincar? E aí o desenhista do CH, embriagado por um sentimento aparente de ironia, mas na verdade de profunda xenofobia, faz uma "piadinha", perguntando, o que seria dele, se tivesse sobrevivido. E completa com a pseudocharge, onde o adulto resultante tem, inclusive, um nariz de porco na imagem, que ele teria se transformado num "beliscador de bundas na Alemanha".

Decididamente, não sou mais Charlie Hebdo.

Isto faz o serviço para as Marine Le Pen, as Front Nationale, as Pegidas alemãs, os neonazis de todo lado, os fascistas da Ucrânia, os reacionários da Polônia, os governantes idiotas que dizem estupidamente que seus países só receberão "refugiados cristãos" (dá vontade de perguntar: quer dizer que os judeus também não têm vez?), os antissemitas da Hungria, os canalhas no mundo inteiro que se valem das histerias estimuladas pelo sensacionalismo curto e grosso de mídias semeadores da idiotice.

Charlie Hebdo, adeus. Adeus, Charlie Hebdo.

Como já disse, eu agora me chamo Aylan, me chamo refugiado, me chamo muçulmano, me chamo tudo, menos esta profanação da memória de um inocente.

Liberdade de expressão é uma coisa. Desfaçatez, desrespeito, grossura, idiotice, covardia, canalhice para vender um exemplar a mais, é outra. Isto se chama jornalismo selvagem. Aliás, capitalismo selvagem.

Adeus, Charlie Hebdo. CH, adeus. O resto é silêncio.

imagine se fosse o PTptPTpt... a beleza moral dos canalhas


Tungaram o PSDB? Não é possível!



Quebrou o partido e tomou uma surra do Haddad! É um jenio!


Conversa Afiada



publicado 16/01/2016




Notável colonista (não seria uma redundância, amigo navegante ?) da Fel-lha, Natuza Nery, aquela que vai longe, informa na seção “Painel”:

Aquela dívida

O presidente do PSDB paulista, deputado Pedro Tobias, diz que pedirá uma auditoria nas contas da campanha de José Serra (o Padim Pade Cerra, o místico da Móoca – PHA) à Prefeitura em 2012. O senador tucano deixou (sic) uma divida de R$ 17 milhões para o diretorio estadual, que se recusa a pagar”.





NAVALHA


“Deixou” é ótimo, não, amigo navegante ?

“Deixou” … de presente.

O marqueteiro, o Luiz Gonzalez, como se sabe,cobra a dívida na Justiça.

O partido não quer pagar.

O Cerra muito menos.

Agora, amigo navegante, imagine se isso acontecesse no PCdoB, no PT, no PDT !

O ansioso blogueiro tem uma modesta contribuição a dar ao senhor Pedro Tobias: chamar aquele Ministro do PSDB de Mato Grosso, que tem assento no Supremo.

Ele é um dedicado e prolifico especialista em dinheiro de campanha.

Quem sabe ele não descobre quem tungou o PSDB ?

A propósito: de que vive o Cerra ?


Paulo Henrique Amorim

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

de estelionato em estelionato o vixinhu me chama de amigo de bandido


Delação de Cerveró não cita Dilma e Lula. Delator bandido, vazador bandido e mídia…




POR FERNANDO BRITO · 14/01/2016










A esta altura, a nata do “jornalismo investigativo” – leia-se divulgadores de vazamento – está, como dizia a minha avó, com “cara de tacho”.

Com a revelação, pelo Valor Econômico, que no termo de delação premiada apresentado ao ministro Teori Zavascki não constam menções ao ex-presidente Lula e à presidenta Dilma Rousseff, deixa todos com cara de pateta por apresentarem ao país o vazamento criminoso do que diz um criminoso sem ao menos checarem as informações.

Engoliram um rascunhão onde Cerveró diz um monte de coisas que não aparecem na versão definitiva, entregue ao STF.

Como o fato de terem havido reuniões com Dilma para tratar da compra de Pasadena e “adiantamentos” para a campanha de Lula.

E não aparecem, obvio, porque Cerveró não tem qualquer indício material para sustentar o que afirmava e o ministro Zavascki não é um imbecil de aceitar reduzir a pena de um ladrão confesso na base do “ouvi dizer”, “ele disse que o outro disse”, “sei que deram, mas não sei quem” e outras coisas do gênero.

A imprensa brasileira colocou o povo brasileiro na mão, exclusivamente, do que dizem bandidos.

O bandido Cerveró, caçando histórias para se livrar de anos de cadeia e o bandido-vazador, que “dirigiu” os repórteres, que se entregaram docilmente em suas mãos, sem verificar, sem chegar datas, circunstâncias, elementos fáticos, nada.

E aos editores covardes que não têm a decência de escrever com a clareza que faz o portal Terra:

Cerveró muda versão e não cita Dilma e Lula em delação

Muitos, nem chamada nos sites deram.

Não tem “problema”, abafa-se e poucos ficam sabendo do “mico” federal que pagaram.

E amanhã fazem outro.

Não é possível que o Judiciário brasileiro, o procurador-geral Rodrigo Janot e o ministro da Justiça não se interessem em apurar a origem deste estelionato feito com a delação de Cerveró.

Será que, também aí, o país está entregue a gente leniente com bandidos?

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Não lembra mais? Pois é...eles contam com isso: o seu pouco caso. O vixinhu só pensa em PTptPTptPT... eles só mostram PTptPTptPTpt

As provas: Globo (RBS) deu R$ 12 milhões na Zelotes



A Zelotes tem muito mais roubalheira que toda a Vara do Moro - PHA


Conversa Afiada



publicado 24/10/2015





O Conversa Afiada reproduz matéria de Najla Passos, na Carta Maior:


A Operação Zelotes apura o envolvimento de funcionários públicos e empresas no esquema de fraude fiscal que pode ter causado um prejuízo de R$ 19,6 bilhões

Najla Passos

Documentos sigilosos vazados nesta quinta (22) comprovam que o Grupo RBS, o conglomerado de mídia líder no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, pagou R$ 11,7 milhões à SGR Consultoria Empresarial, uma das empresas de fachada apontadas pela Operação Zelotes como responsáveis por operar o esquema de tráfico de influência, manipulação de sentenças e corrupção no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), o órgão vinculado ao Ministério da Fazenda que julga administrativamente os recursos das empresas multadas pela Receita Federal.

A SCR Consultoria Empresarial é umas das empresas do advogado e ex-conselheiro do CARF, José Ricardo da Silva, indicado para compor o órgão pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) e apontado pela Polícia Federal (PF) como o principal mentor do esquema. Os documentos integram o Inquérito 4150, admitido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na última segunda (19), que corre em segredo de justiça, sob a relatoria da ministra Carmem Silva, vice-presidente da corte.

Conduzida em parceria pela PF, Ministério Público Federal (MPF), Corregedoria Geral do Ministério da Fazenda e Receita Federal, a Operação Zelotes, deflagrada em março, apurou o envolvimento de funcionários públicos e empresas no esquema de fraude fiscal e venda de decisões do CARF que pode ter causado um prejuízo de R$ 19,6 bilhões aos cofres públicos. Segundo o MPF, 74 julgamentos realizados entre 2005 e 2013 estão sob suspeição.

As investigações apontam pelo menos doze empresas beneficiadas pelo esquema. Entre elas a RBS, que era devedora em processo que tramitava no CARF em 2009. O então conselheiro José Ricardo da Silva se declarou impedido de participar do julgamento e, em junho de 2013, o conglomerado de mídia saiu vitorioso. Antes disso, porém, a RBS transferiu de sua conta no Banco do Rio Grande do Sul, entre setembro de 2011 e janeiro de 2012, quatro parcelas de R$ 2.992.641,87 para a conta da SGR Consultoria Empresarial no Bradesco.

Dentre os documentos que integram o Inquérito 4150 conta também a transcrição de uma conversa telefônica entre outro ex-conselheiro do Carf, Paulo Roberto Cortez, e o presidente do órgão entre 1999 e 2005, Edison Pereira Rodrigues, na qual o primeiro afirmava que José Ricardo da Silva recebeu R$ 13 milhões da RBS. “Ele me prometeu uma migalha no êxito. Só da RBS ele recebeu R$ 13 milhões. Me prometeu R$ 150 mil”, reclamou Cortez com o então presidente do Carf.

Suspeitos ilustres

Os resultados das investigações feitas no âmbito da Operação Zelotes foram remetidos ao STF devido às suspeitas de participação de duas autoridades públicas com direito a foro privilegiado: o deputado federal Afonso Motta (PDT-RS) e o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes. O deputado foi vice-presidente jurídico e institucional da RBS, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Sul. Os termos de sua participação no esquema ainda são desconhecidos.

Nardes, mais conhecido por ter sido o relator do parecer que rejeitou a prestação de contas da presidenta Dilma Rousseff relativa ao ano de 2014, por conta das polêmicas “pedaladas fiscais”, é suspeito de receber R$ 2,6 milhões da mesma SGR Consultoria, por meio da empresa Planalto Soluções e Negócios, da qual foi sócio até 2005 e que ainda hoje permanece registrada em nome de um sobrinho dele.

Processo disciplinar

Nesta quinta (22), a Corregedoria Geral do Ministério da Fazenda anunciou a instalação do primeiro processo disciplinar suscitado pelas investigações da Operação Zelotes. Em nota, o órgão informou que o caso se refere a uma negociações para que um conselheiro do CARF pedisse vistas de um processo, sob promessa de vantagem econômica indevida, em processo cujo crédito tributário soma cerca de R$ 113 milhões em valores atualizados até setembro.









RBS_Zelotes e os documentos... aqui não tem nada de "ouvi dizer"


Roteiro para entender a maracutaia da “Zelotes”




POR FERNANDO BRITO · 13/01/2016







O Paulo Henrique Amorim publicou ontem os documentos da maracutaia envolvendo a RBS (afiliada da Globo no RS) e as empresas do ministro do Tribunal de Contas da União Augusto Nardes, responsável pelo parecer rejeitando as contas de Dilma Rousseff.

Abatido por uma febre gripal, confesso que não comentei o assunto por falta de capacidade de raciocinar.

Ainda bem, porque o Juremir Machado da Silva, do Correio do Povo gaúcho, montou o roteirinho, pronto, só faltando desenhar.

Veja só o que foi apurado:

Resumo da ópera.

2001: a RBS é autuada. Deve a bagatela de mais de R$ 258 milhões ao fisco. É o resultado de uma operação chamada de casa e separa pela qual se consegue deixar de pagar parte do que se deve ao leão.

2002: A RBS decide recorrer. Contrata o escritório de advocacia Dias de Sousa para isso. O recurso não leva. A dívida é confirmada.

2003: Novo recurso da RBS leva a melhor.

2005: A Fazenda, finalmente informada, recorre.

2008: Fazenda perde.

2009 e 2010: guerra de embargos declaratórios.

2010: Delegacia da Receita Federal de Porto Alegre recorre. Leva.

2011: novos recursos da RBS. Vitória definitiva. O escritório contratado leva mais de R$ 7 milhões pelo êxito. Em 2005, contudo, a RBS contratou uma consultoria para cuidar do caso: a SGR, que se associou à N&P, que hoje se chama Planalto. Assinou o contrato pela RBS o hoje deputado Afonso Motta. A Planalto era de Augusto Nardes, que, no mesmo ano, tornou-se ministro do Tribunal de Contas. Assinou pela N&P Juliano Nardes, sobrinho de Augusto Nardes, que só entraria oficialmente na empresa em 2008. Um dos envolvidos na operação RBS citado é José Ricardo da Silva, conselheiro do CARF, órgão encarregado de julgar os recursos contra a Receita Federal, que foi tragado pelo ralo da Operação Zelotes e vê o sol nascer quadrado. José Ricardo teria transferido recursos para a Ecoglobal Autolocadora de Automóveis, empresa de Juliano Nardes, homem da Planalto, etc.

No Conversa Afiada e no próprio post de Juremir você encontra os documentos e até a “linha do tempo” que reproduzo na imagem.

Documento, registros de transferências bancárias, cadastro de empresas e seus titulares.

Nada de “ouvi dizer”.

sinceramente vixinhu, ocê merece os seus heróis... continua no divâ da rbs_zelotes sonegadora? aperta o botão e pega um livro!

Relatório da Procuradoria Federal ao STF sobre o caso da RBS na Zelotes: rastros de uma operação que provoca arrepios







Mais um capítulo da história da RBS na Operação Zelotes

Como envolve personalidades com foro privilegiado, a Procuradoria enviou relatório ao STF.

É o inquérito 4150.

A relatora é a ministra Carmem Lúcia.

Resumo da ópera.

2001: a RBS é autuada. Deve a bagatela de mais de R$ 258 milhões ao fisco. É o resultado de uma operação chamada de casa e separa pela qual se consegue deixar de pagar parte do que se deve ao leão.

2002: A RBS decide recorrer. Contrata o escritório de advocacia Dias de Sousa para isso. O recurso não leva. A dívida é confirmada.

2003: Novo recurso da RBS leva a melhor.

2005: A Fazenda, finalmente informada, recorre.

2008: Fazenda perde.

2009 e 2010: guerra de embargos declaratórios.

2010: Delegacia da Receita Federal de Porto Alegre recorre. Leva.

2011: novos recursos da RBS. Vitória definitiva. O escritório contratado leva mais de R$ 7 milhões pelo êxito. Em 2005, contudo, a RBS contratou uma consultoria para cuidar do caso: a SGR, que se associou à N&P, que hoje se chama Planalto. Assinou o contrato pela RBS o hoje deputado Afonso Motta. A Planalto era de Augusto Nardes, que, no mesmo ano, tornou-se ministro do Tribunal de Contas. Assinou pela N&P Juliano Nardes, sobrinho de Augusto Nardes, que só entraria oficialmente na empresa em 2008. Um dos envolvidos na operação RBS citado é José Ricardo da Silva, conselheiro do CARF, órgão encarregado de julgar os recursos contra a Receita Federal, que foi tragado pelo ralo da Operação Zelotes e vê o sol nascer quadrado. José Ricardo teria transferido recursos para a Ecoglobal Autolocadora de Automóveis, empresa de Juliano Nardes, homem da Planalto, etc.

O material que segue historia cada passo do imbróglio.

É tão excitante quanto a Regra do Jogo.

O jogo, no caso, está no tapetão.

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terça-feira, 12 de janeiro de 2016

o jornalismo de hoje cabe na cabeça do vixinhu ou o vixinhu cabe... eles se merecem!

Jornalismos



11/01/2016






Deu curioso este verão em matéria de autocríticas e banzos jornalísticos.

Um muito pela angústia que sentimos – como cidadãos, mas em especial como profissionais – de ver “triunfar a nulidade” no jornalismo que se pratica hoje na grande mídia, uma espécie de “partido único” capaz de botar inveja à Coreia do Norte. Só que ao contrário, antigoverno e antipaís.

Um pouco por conta de um filme que todos comentam – e eu ainda não vi, só ao trailer – que conta a saga de uma equipe de repórteres do jornal Boston Globe que apura, durante meses, a pratica de pedofilia por padres da cidade, o Spotlight: Segredos Revelados.

De ambos, quase todos que li extraem a constatação de que o jornalismo que nos foi e é a paixão da vida se foi. Existe um novo, diferente, ao qual muitos de nós não teremos nem forças nem tempo de nos acostumar.

É pouco importante, porém, as coisas acontecem à medida do esforço humano, mas desprezando a humana pretensão de conduzi-las.

Semana passada, dia 4, completaram-se 38 anos desde que sentei-me a primeira vez em uma redação de jornal para trabalhar. É natural o cansaço, ainda mais quando a vida é trabalhar de segunda a segunda, sem sábado, domingo, feriado. Férias, que dirá?

Pode importar para mim, mas não importa para o processo social e o avanço social é a paixão inexcedível para um jornalista, como é a cura para um médico e a absolvição de um inocente para um advogado

Paulo Nogueira, hoje, no Diário do Centro do Mundo, comenta o desânimo do gente boa Xico Sá com sua paixão, a dizer que “aqui se despede o idiota que achou que jornal é feito para relatar minimante a realidade.”

Bobagem. Xico e outros fizeram, fazem e farão isso. E quando isso não couber mais num jornal havemos de inventar onde caiba.

Um -para meu orgulho – colaborador deste blog é de outra geração de jornalistas, mais velha que a nossa, tanto que foi meu – e de centenas ou milhares de meus colegas – professor, Nílson Lage.

Fala, também de suas mágoas.

Bobagem, peço respeitosamente para dizer. Pois senão ele não estaria diariamente no Facebook, com sua argúcia, sua sabedoria acumulada, sua coragem e suas palavras claras a lançar luz sobre tantas coisas para nós, seus ex-alunos e eternos aprendizes.

Transcrevo seu relato, com muita coisa do que ainda peguei, naquele janeiro de 1978 em que começou esta paixão que irá até a morte.

“Cada geração tem um depoimento. O da minha se perdeu por velhice e porque, na nossa ética, jornalista não era notícia.

Em suma, tínhamos um jornalismo retórico, dividido entre picaretas e tribunos, entre tomar dinheiro dos bicheiros e discutir os grandes problemas da humanidade – sempre dependente do dinheiro público e dos favores de governos, ou dos que investiam para ser governo. Nesse meio se fizeram grandes jornalistas, do Machado ao Lima, do Callado ao Graciliano.

Tentamos padronizar o estilo, objetivar o relato conforme a técnica universalmente adotada. Não tínhamos ideologia política definida – variava de um de nós para o outro – mas o que nos unia era esse compromisso com a realidade, fato e linguagem. A máfia – ancorada no Estadão, no Globo, nos Associados – resistiu e os militares ajudaram, em parte porque não entenderam nada.

As escolas de comunicação foram criadas por sopro de longe e por gente de fora, com o objetivo de emascular o jornalismo em sua vertente “quixotesca” – a nossa “idiotice da objetividade”. Só ingressamos nelas bem depois, quando, completados os ciclos básicos, constatou-se que alguém precisava falar de jornalismo.

Ainda na década de 1980, a congregação da Escola de Comunicação da UFRJ, dominada por “cientistas sociais”, negou-me redução de carga horária para cursar doutorado, alegando que, sendo mestre, eu já estudara muito para um jornalista (cursei o doutorado assim mesmo).

O que a geração seguinte encontrou foi a luta dos quixotes restantes contra moinhos. Quem movia as pás? A banca, que sempre socorre as empresas do ramo cobrando fidelidade? As agências de publicidade e seus líderes fascistas, os Mainardi e Hasslocker? As indústrias desnacionalizadas por força de uma política que objetivou desnacionalizá-las?


A grande mídia, hoje, é uma máquina de mentiras regional, engajada em uma máquina de mentiras global e que se esforça para superá-la em servilismo. Chegamos a um ponto em que mesmo o mais convicto nacionalista saúda como espaços de libertação o Facebook, o Google, a BBC, o Deutsche Welle…

Fui jornalista a vida toda. Tenho filha jornalista. Minha mágoa – e creio, a de poucos de nós que restam – é muito maior e mais velha do que a de vocês.

E a sua teimosia em ser jornalista, professor, também é maior e mais velha. Mas pode crer que a nossa vai chegar até aí.

E Mariana?

Dique golpista começa a rachar






Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:



O povo não é bobo. Ou não é tão bobo quanto a mídia pensa.

Comentário que pesquei no site do Globo, abaixo da matéria sobre Jaques Wagner, novo alvo da pistolagem política:





Quando entrei na notícia, era o comentário mais recente, aparecendo, portanto, em destaque.

Esse tipo de reação tem crescido. Sabe-se que a grande mídia, em especial o grupo Abril, contratam empresas especializadas em produzir comentários para os portais.

Os blogs da Veja e mesmo o Antagonista são usuários mais conhecidos dessas técnicas de iludir o leitor e o anunciante, para dar a impressão de uma audiência que não existe.

No caso dos blogs da Veja, os serviços são inclusive de péssima qualidade, e muitos comentários são produzidos quiçá eletrônicamente, por robôs, como se pode constatar pela quantidade bizarra de comentários assinados com nicknames, seguidos de textos repetitivos e redundantes, além da recusa destes mesmos serviços de instalar sistemas de comentários via Facebook, que dificultam o controle e a censura.

Quando aparecem comentários críticos às conspirações midiático-judiciais, é porque o sistema de controle rachou.

O dique da manipulação está começando a se romper.

A grande imprensa iniciou a semana com a nota apocalíptica de sempre, o que ajuda a criar um clima de pessimismo, que o mercado reflete no boletim Focus, o qual por sua vez abastece a mídia, num sistema de retroalimentação desgraceiro e doentio.

A grande imprensa continua a demitir em massa, criando nas redações um clima de terrorismo que resulta numa obediência cega do profissional aos ditames editoriais.

Os jornalistas passam a ter medo até mesmo de pensar diferente. De olho na sobrevivência, os profissionais não apenas vendem sua força de trabalho. Vendem também suas ideias, seus sonhos. Isso é o que o sistema atual pode fazer de mais cruel com a juventude disposta a trabalhar nas redações.

Com o recesso parlamentar, o sistema de pistolagem política depende da Lava Jato para vender conteúdo aos jornalões. De posse de um conjunto gigantesco de informações, um punhado de bandidos travestido de autoridades vende seletivamente vazamentos para uma imprensa interessada especialmente num determinado tipo de informação.

Os vazamentos da delação de Cerveró sobre o governo FHC servem para legitimar uma farsa. E digo farsa não porque desacredite da existência de atos de corrupção, tanto no governo FHC quanto nos governos posteriores. Refiro-me ao método de investigação, baseado em delações, de um lado, e num jogo calculado de vazamentos.

Daí que a agenda política nacional continua estreita. Os brasileiros não conhecem o Brasil. A quantas anda a economia brasileira real?

Por que a imprensa esconde que o Brasil tem o monopólio absoluto da produção mundial de nióbio, minério estratégico e essencial na produção de armas, satélites e produtos tecnológicos? Será porque não interessa à família Itaú, detentora deste monopólio?

Por que a imprensa parou de divulgar amplas reportagens-denúncia (se é que fez alguma vez) sobre a tragédia de Mariana?

A quantas anda a questão fundiária no país?

A nossa imprensa vive presa a uma agenda política incrivelmente curta, e repetitiva. Todos os jornais e revistas só falam de dois ou três assuntos, sob a mesma ótica.

A sociedade brasileira tornou-se muito mais complexa do que seu noticiário. Evidentemente, o monopólio cria essas distorções.

A ameaça de um novo delator de oferecer cem nomes de pessoas, envolvidas em algum esquema, transforma a Lava Jato numa grande pantomina. A delação premiada, definitivamente, vulgarizou-se.

Os réus entenderam que podem falar qualquer coisa, e serão premiados. Se não houver provas, não tem importância: a PF se encarregará de inventá-las, através de suposições as mais esdrúxulas possíveis. Os relatórios da PF tornaram-se peças de ficção, em que o policial, de posse de um conjunto volumoso de vazamentos, constrói uma teoria qualquer, a qual, desde que dentro da linha da mídia, será chancelada e defendida por esta custe o que custar.

As previsões econômicas para este ano ainda são bastante ruins: o boletim Focus, que colhe previsões da iniciativa privada, estimou que o PIB deve cair 3% este ano. Para o ano que vem, contudo, espera-se crescimento. Todos os fundamentos sinalizam que o ciclo negativo se esgota este ano. Aliás, já no segundo semestre deste ano, as luzes devem começar a surgir ao fim do túnel.

Politicamente, inclusive, este ano pode ser bem melhor, em virtude da realização das Olimpíadas e das eleições municipais. Melhor no sentido de possuir uma agenda política um pouco mais abrangente. O golpismo tende a se encolher, constrangido, diante do espetáculo de novas eleições livres e democráticas.

As Olimpíadas servem para erguer o astral, além de atrair, para o país, a atenção global, abrindo excelentes oportunidades para trocas culturais, políticas e comerciais.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

o dia em que o rock'n roll derrubou o muro


O dia em que David Bowie derrubou o Muro de Berlim



11/01/2016







Na véspera do lendário concerto em Berlim, em 1987, David Bowie passou o dia no lado oriental. Não tínhamos a menor ideia do que ele tinha ido fazer lá, do outro lado do muro. Aliás, naquela época, ninguém imaginava que algo, um dia, pudesse demover aquela estrutura de concreto bem armado que dividia o mesmo povo em dois mundos. Muito menos que a queda se desse de forma tão inusitada.

A propósito, desde a fundação da primeira Berlim, em 1237, na parte onde está a ilha dos museus (Museusinsel) e sua fusão, setenta anos depois, com o lado norte do rio Spree, quando se formou a cidade dupla, as histórias que compõe a História das Berlins se dividem em trágicas, cômicas e, também, inusitadas.

Depois de passar por vários distúrbios sociais, acrescidos de pestes, guerras e incêndios, a cidade iniciou sua ascensão quando se tornou capital da Prússia e residência oficial do rei. Friedrich III, que era um reles príncipe, conseguiu a promoção após sua autocoroação, transformando-se em Friedrich I, o rei da Prússia. Mas o cara não estava ali para brincadeira. Iniciou um processo de desenvolvimento da cidade, construindo grandes jardins públicos, avenidas (como a famosa Unter den Linden) e, antes de bater as botas, passou o bastão para outros Friedrichs.

Seus sucessores não só deram continuidade à ambiciosa intenção, como ainda, de lambuja, a transformaram na cidade industrial mais importante da Prússia. Além disso, os investimentos em ciências, artes e cultura fizeram com que Berlim passasse a ser o centro do iluminismo. Por esta razão, pensadores, artistas e arquitetos eram atraídos para lá. Nas décadas posteriores foram construídos por Schinkel edifícios dum classicismo pomposo.

Também Lenné criou jardins públicos de um valor artístico esplendoroso. Não fosse outro ambicioso melar os planos, um cara chamado Napoleão, que invadiu, bateu e mandou prender, a fundação do Império Alemão poderia ter demorado menos. Mesmo assim, em 1871, Berlim se tornou a capital desse império e os Friedrichs, que agora eram Wilhelms, acabaram se metendo numa encrenca das grandes: a primeira guerra mundial, cujo desfecho todos nós conhecemos.

Mas depois da divisão da Alemanha em oriental e ocidental, que resultou na construção daquele muro horroroso que cercava a cidade de Berlim, incrustada no meio da Alemanha oriental, outras histórias passaram a compor a Crônica Alemã. Muitos escritores tiveram que produzir no exílio, outros permaneceram em solo comunista, cujas primeiras produções se baseavam em romances dedicados às tragédias da guerra e, também, temas que idealizavam o universo do trabalhador.

Nos anos 60 a produção literária passou a contar com obras mais realistas, que tentavam superar a dicotomia entre trabalho manual e intelectual. Mas foi Christa Wolf quem tematizou, pela primeira vez, a divisão alemã em O Céu Dividido (1963) e Jurek Becker se dedicou à crítica ao cotidiano da Alemanha oriental.

Na década seguinte ainda haveria o subjetivismo de Sarah Kirsch e Stefan Heyn, mas os anos que antecederam a queda, os não menos tumultuados anos 80, eram tempos em que a roqueira Nina Hagen frequentava um bar chamado Risiko e que o monomotor do jovem Mathias, de apenas 19 anos, pousou em plena praça vermelha, diante do Kremlin, num rasante que decepou as cabeças mais altas dos mais altos generais russos.

Naquela noite de sete de junho, o camaleão do rock subiu ao palco, que tinha como fundo o majestoso parlamento alemão – Reichstag, para fazer história. Eu e outros sessenta mil jovens nos espremíamos naquele gramado da Praça da República para ver e ouvir um Bowie que – presença de palco – parecia ter três metros de altura.

De repente a música parou, começou-se a ouvir um ruído que parecia uma espécie de protesto. A gritaria vinha do outro lado do muro, que ficava imediatamente atrás do Reichstag. No lado oriental, outra multidão ouvia Bowie, mas não podia vê-lo. Aos gritos de “O muro tem que sair” e “Nós também queremos ver”, pessoas eram contidas por soldados que não hesitaram em usar a força para tentar dissipar os fãs, que não se intimidaram.

Nesse instante, Bowie virou-se para o lado do muro e, antes de iniciar a próxima canção, disse: “Essa é pra vocês!”.

Cantou a clássica música que conta a história de dois amantes que se encontram no Muro de Berlim: “Heroes”. Todos nos sentimos heróis por um dia.

Tempos depois, se soube que havia equipamentos (caixas de som) virados, estrategicamente, para o lado oriental e também que no dia anterior, Mr. Bowie, havia se encontrado e articulado o ‘movimento’ com jovens alemães orientais. Ele não tinha ido a passeio.

Naquele dia, o muro começou a cair.

o encontro amigável do cambaleante tucano


'Menino de ouro' de Miami é amigo de Aécio




Por Altamiro Borges



No seu colunismo social para os amigos, a revista Época postou em seu site na semana passada: "De férias, Aécio passeia em Miami". A notinha apenas registrou que "o senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, está curtindo férias até domingo, dia 10, em Miami. Nesta quinta-feira (7), ele se encontrou com Felipe Massa, corredor de Fórmula 1. Os dois não se conheciam. O jantar de aproximação ocorreu na casa do deputado Alexandre Baldy e foi registrado nas redes sociais pela cunhada de Massa, Anna Carolina Bassi". A revista da famiglia Marinho, que na sua sanha antipetista adora investigar os "amigos de Lula", nem se deu ao trabalho de pesquisar quem é o tal deputado Alexandre Baldy, que cedeu a sua casa em Miami para o encontro amigável do cambaleante tucano.

Bastaria consultar a sua rival na briga pelo troféu de revista do esgoto no Brasil. Em agosto de 2014, a coluna Radar, da Veja, trouxe uma matéria sobre a "bancada de Cachoeira". Num dos trechos, ela ironiza: "A CPI que tentou apurar as tentáculos do bicheiro Carlinhos Cachoeira entre os corredores do poder público, em 2012, não conseguiu sepultar o desejo por ascensão de todos os investigados. Parte deles hoje disputa uma vaguinha nas casas legislativas do país. Ex-secretário de Indústria e Comércio de Marconi Perillo, Alexandre Baldy era tratado por Cachoeira pela alcunha de 'menino de ouro' e agora mira Brasília: disputa uma cadeira de deputado federal".

Com o apoio do governador tucano de Goiás, o "menino de ouro" do mafioso Carlinhos Cachoeira foi eleito deputado federal. Agora, no recesso parlamentar, ele curte a sua mansão em Miami, o paraíso da elite nativa, reunindo seus amigos mais íntimos. Talvez tente esfriar a cabeça, já que as denúncias envolvendo o seu nome seguem em alta. Em meados de 2015, a Justiça bloqueou os seus bens sob a acusação de improbidade administrativa. O jornal goiano Diário da Manhã deu detalhes da sentença em reportagem publicada em 15 de junho. Vale conferir alguns trechos:



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Justiça bloqueia R$ 622,9 milhões do deputado Baldy


Por Hélmiton Prateado e Daiana Petrof


A juíza Suelenita Soares Correia, da 2ª Vara da Fazenda Pública Estadual, decretou a indisponibilidade dos bens do deputado federal Alexandre Baldy (PSDB-GO), da Usina Panorama S/A e de outros citados em ação civil pública por ato de improbidade administrativa. A ação foi proposta pela promotora de Justiça Vilis Marra, da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público.

A Usina Panorama é uma destilaria de álcool e fabrica açúcar em Itumbiara, e conta com incentivo fiscal através do programa Produzir. Em inquérito civil público, a promotora descobriu que a empresa requereu um privilégio de deixar de gerar 500 empregos e em contrapartida propunha veicular propaganda do programa Produzir nas embalagens de açúcar que produz.

O deputado Alexandre Baldy era secretário da Indústria e Comércio à época em que a Usina Panorama requereu a extensão do benefício e votou favoravelmente ao pedido no Conselho Deliberativo do Produzir. Junto com ele votaram outros gestores que integravam o Conselho Deliberativo: Reinaldo Fonseca, Luiz Lopes de Lima, Luiz Antônio Maronezi, Pedro Ferreira Arantes e Neuza Maêve – todos também acionados na ação do Ministério Público e também com os bens bloqueados.

A ação descreve a sucessão de fatos sobre o acordo entre a Usina Panorama e os gestores do Programa Produzir, em que até mesmo a advocacia setorial da SIC opinou de forma contrária à concessão do aumento do incentivo e que existia a “impossibilidade legal de substituição do parâmetro de geração de 500 ou mais empregos por publicidade do Produzir nas embalagens utilizadas pela empresa”.

Mesmo alertados pela Secretaria da Fazenda e pela advocacia setorial da SIC, os gestores do Conselho do Fomentar decidiram pela concessão de novo financiamento, da ordem de R$ 375 milhões, para a Usina Panorama. “Ressalta-se que não obstante a proibição de se alterar o fator de desconto e ainda o fato de que a Usina Panorama S/A costumava utilizar tal expediente rotineiramente, o que demonstra não ter interesse em cumprir o avençado com o Estado de Goiás, mas que somente usa o benefício, ou seja, a verba pública originária do Fomentar, sem o menor interesse em cumprir com as condições que foram estipuladas para o seu ingresso no programa”.

Na decisão a juíza frisou que a indisponibilidade dos bens é uma medida de cautela, que se demorada a decisão pode ser de difícil reparação e que exige uma providência de urgência. A análise inicial do fato descrito pela promotora, segundo a magistrada, com base na documentação juntada, dá “indícios da prática dos ilícitos capitulados” na lei de improbidade administrativa.

Indisponibilidade

O bloqueio dos bens dos agentes responsáveis pelo suposto ato de improbidade administrativa é medida necessária, segundo a magistrada, “uma vez que após cientificados acerca da existência dessa ação, poderão os requeridos, visando furtarem-se às responsabilidades correspondentes desfazerem-se de seu patrimônio”.

A juíza determinou que sejam oficiados os cartórios de registros de imóveis de Goiânia para bloqueio dos bens e que se proceda até ao bloqueio de ativos financeiros, via on-line, até o limite de R$ 622,974 milhões.

A Usina Panorama S/A enviou expediente à Redação expondo suas considerações sobre a ação do Ministério Público. Os advogados ainda não haviam sido informados oficialmente que a Justiça aceitara a ação de modo direto, sem ouvir as partes citadas na ação, e determinado a indisponibilidade dos bens.

A reportagem tentou ouvir o deputado federal Alexandre Baldy sobre a decisão judicial. No telefone 8111-xxxx ele não atendeu e também não retornou a ligação. Não foi possível deixar recado na secretária eletrônica.



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Essa é a real história da tolice pré-fabricada entre nós


Jessé Souza, sobre a mídia brasileira: “É ela quem tira onda de neutra, quando apenas obedece ao dinheiro” e convoca a classe média às ruas




publicado em 11 de janeiro de 2016 às 12:31






A quem serve a classe média indignada?

MARCELO COELHO, na Folha

Trechos da entrevista com Jessé Souza, presidente do IPEA, que lançou “A Tolice da Inteligência Brasileira”:

Minha tese é a de que, no Brasil, o patrimonialismo serve para duas coisas bem práticas:

1) A primeira é demonizar o Estado como ineficiente e corrupto e permitir a privatização e a virtual mercantilização de todas as áreas da sociedade, mesmo o acesso à educação e à saúde, que não deveria depender da sorte de nascer em berço privilegiado;

2) Serve como uma espécie de “senha” de ocasião para que o 1% que controla o dinheiro, a política (via financiamento privado de eleições) e a mídia em geral possa mandar no Estado mesmo sem voto. Não é coincidência que tenha havido grossa corrupção em todos os governos, mas apenas com Getúlio, Jango, Lula e Dilma, governos com alguma preocupação com a maioria da população, é que a “senha” do patrimonialismo tenha sido acionada com sucesso. Somos ou não feitos de tolos?

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Como não se pode dizer que o que se quer é uma gorda taxa Selic e o acesso “privado” às riquezas brasileiras, como petróleo e ferro, para essa meia dúzia, então diz-se que é para acabar com o “mar de lama”, sempre só no Estado, se ocupado por partidos populares, e sempre seletivamente construído via mídia conservadora em associação com as instituições que querem aumentar seu poder relativo vendendo-se como “guardiãs da moralidade pública”.

É esse discurso que transforma milhões de pessoas inteligentes em tolas. Essa parcela da classe média conservadora é explorada por esse 1% que lhe vende os milagres da privatização brasileira: a pior e mais cara telefonia do globo, por exemplo, campeã de reclamações. De resto, todos os bens e serviços produzidos aqui são piores e mais caros. Mas dessa espoliação da classe média por um mercado superfaturado que vai para o bolso do 1% mais rico ninguém fala.

O filho do “coxinha” quer ter acesso a uma boa universidade pública, e o avô dele, quando está doente e o plano não paga, tem que ir ao SUS para doenças graves e tratamentos caros. Um Estado fraco só serve ao 1% mais rico que pode ficar ainda mais rico embolsando a Petrobras a preço de ocasião. O “coxinha” só é feito de tolo.

A classe média “coxinha” que sai às ruas tirando onda de campeã da moralidade, por sua vez, explora e rouba o tempo das classes excluídas a baixo preço para poupar o tempo do trabalho doméstico e investir em mais estudo e mais trabalho valorizado e rentável.

Luta de classes não é só cassetete na cabeça de trabalhador. É uma luta silenciosa e invisível (para a maioria) que implica monopólio de recursos para as classes privilegiadas e condenações à miséria eterna para a maioria dos 70% que não são da classe média ou do 1% mais rico. A fanfarra do patrimonialismo e da corrupção só do Estado serve, antes de tudo, para tornar essas lutas invisíveis.

*****

A estrutura de impostos no Brasil tem de ser efetivamente revista no sentido de evitar impostos indiretos em produtos e serviços e atingir mais a renda diferencial, e, muito especialmente, o patrimônio. Desse ponto de vista, ela [classe média] pode ter um pouco de razão.

Mas o ponto mais importante para a tolice da classe média é que o Estado funciona como arrecadador de impostos, antes de tudo, para bancar e garantir a drenagem de recursos arrecadados da sociedade como um todo para a meia dúzia de plutocratas que manda na economia, na política via financiamento de eleições e na mídia. O pagamento de juros para essa meia dúzia e seus colegas estrangeiros – o único aspecto que ninguém nem sequer pensa em cortar em ocasiões de crise – compromete, por exemplo, o investimento em educação e saúde de qualidade para todos.

O plutocrata vai aos EUA se operar se for preciso e manda o filho estudar em Miami ou na Suíça, como acontece realmente hoje em dia. A classe média que sai às ruas para apoiá-lo precisa do SUS quando a chapa esquenta e só conta com a universidade pública aqui mesmo para o filho. Ao mesmo tempo, paga os serviços e produtos mais caros e de menor qualidade relativa do globo no nosso mercado superfaturado. Esse “extra” também é um imposto que sai da classe média direto para o bolso da elite econômica. Mas dele nunca se fala.

Essa classe média, portanto, é espoliada pela elite por mecanismos tanto de Estado quanto de mercado, e é ela que depois sai às ruas para defender os interesses dessa mesma elite usando o espantalho seletivo da corrupção apenas estatal.

Essa é a real história da tolice pré-fabricada entre nós.

*****

O principal erro do PT para mim foi duplo e reflete sua dependência da narrativa liberal tão importante nele quanto em um partido conservador da elite como o PSDB. Esse foi um dos temas centrais do livro: mostrar que a ideologia liberal amesquinhada dominou também a dita “esquerda”, colonizando a tradição social-democrata ou socialista democrática.

O PT teria que ter criado uma narrativa independente mostrando a importância do passo a passo da ascensão social possível e mostrando as dificuldades também – sem cair, por exemplo, na fantasia da nova classe média, que gerou expectativas desmedidas.

Essa narrativa poderia ter sido uma versão politizada, mostrando a importância da política inclusiva e da “vontade política” para a mobilidade social, de modo a se contrapor à leitura individualista da ascensão social da religião evangélica.

Mas, para isso, teria sido necessário tocar no nó górdio da dominação social no Brasil, que é o papel de “partido político da elite” assumido pela imprensa conservadora desde o golpe contra Getúlio.

É ela, afinal, quem chama a classe média moralista e feita de tola às ruas e é ela que manipula seletivamente e a seu bel-prazer o tema da corrupção como única moeda dos conservadores para mascarar seus interesses mais mesquinhos em pseudointeresse geral. É ela quem tira onda de “neutra”, quando apenas obedece ao dinheiro.

O medo desse confronto foi a real causa do que agora acontece. Em uma sociedade midiática, onde toda informação vem de cima para baixo, tem que existir o contraditório, a opinião alternativa, senão o voto do eleitor não é esclarecido nem autônomo, ou seja, rigorosamente, não tem democracia.

Nesse sentido estamos mais perto da Coreia do Norte do que da Inglaterra ou da Alemanha. Confiar apenas nos “movimentos sociais” nesse contexto é ingenuidade. Esses movimentos também estão sob a égide do discurso único da mídia conservadora. Essa é para mim a real razão do fracasso relativo do projeto petista.


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Edemilson Paraná: Estão roubando seu tempo (e, assim, seu dinheiro)

domingo, 10 de janeiro de 2016

Mas não é Dona Mariza.


Lu Alckmin pode viajar tranquila que a mídia abafa




O caso aéreo de Lu é exemplar para entender a alma abjeta da imprensa. Se fosse a mulher de Lula, jornais se atirariam, em matilha, às denúncias.




Paulo Nogueira - Diário do Centro do Mundo








Acabo de dar uma vasculhada nos tuítes dos últimos dois dias de Ricardo Noblat.

Era um teste cujo resultado, a rigor, eu já conhecia.

Queria ver se ele tinha feito alguma menção aos vôos de Lu Alckmin patrocinados pelo contribuinte paulista.

Nada.

Escolhi Noblat porque, para mim, ela é a essência do jornalista que temos nas grandes empresas. O JP, o Jornalista Patronal, aquele que se empenha loucamente em produzir e reproduzir conteúdos que agradem os patrões.

O caso aéreo de Lu é exemplar para entender a alma abjeta da imprensa.

Se fosse a mulher de Lula, jornais e revistas se atirariam, em matilha, às denúncias.

Manchetes, primeiras páginas, capas, demorados minutos no Jornal Nacional. O público, ou vítima, seria bombardeado.

Mas não é Dona Mariza.

Sendo a mulher de Alckmin, ninguém repercute a história ou, muito menos, a aprofunda. A própria Folha, que deu, logo esquece, ao contrário do que faria se fosse Dona Mariza, ainda que o furo fosse da concorrência.

A mídia já não faz questão sequer de manter as aparências. É preciso ser definitivamente um analfabeto político para levá-la a sério.

Machado de Assis escreveu que o pior pecado depois do pecado é a publicação do pecado. Jornais e revistas usam essa lógica machadiana para encobrir os pecados dos amigos: não os publicam.

O problema é que, na Era Digital, a informação se espalha velozmente pelos sites progressistas e pelas redes sociais.

Quem perde é a sociedade com o comportamento delinquente da mídia.

Discussões importantes são perdidas. Por exemplo: faz sentido um Estado, mesmo sendo São Paulo, ter aviões e helicópteros para o transporte do governador?

Um governo que não pode pagar decentemente professores pode se dar a tal luxo?

Recentemente, o governo britânico conseguiu enfim aprovar a aquisição de um jato para uso do premiê e dos ministro. Uso a serviço, naturalmente, não aquilo que Lu Alckmin e Aécio fizeram com aviões mantidos por recursos públicos.

A argumentação contrária era que um avião para o governo seria um gesto ruim em tempos de austeridade e uma afronta à cultivada frugalidade britânica.

O governo teve que fazer contas para mostrar que economizaria dinheiro com um avião particular.

Foi uma batalha.

Enquanto isso, você fica sabendo, por vias tortas como a compulsão aérea da primeira dama de São Paulo, que o governo paulista tem uma frota aérea.

O Brasil necessita de um choque urgente de simplicidade e frugalidade para que excessos dessa natureza, e de muitas outras, sejam evitados.

A mídia poderia ajudar se fizesse um trabalho decente.

Mas o que ela faz é indecente.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

InfeliZmente, esse é o nosso Brasil?

Escola pública nos Estados Unidos é pior do que eu pensava.







Isso é um blog. O que está escrito é minha opinião, minha história e escrevo para ajudar as pessoas porque sei como é difícil mudar de país com crianças. Mas se busca informações mais oficiais, coloquei vários links no fim do texto.

Não sou daquelas pessoas que sonham em um dia morar nos Estados Unidos. Nunca me passou pela cabeça. Mas a vida tem seus movimentos e não controlamos tudo. Cá estou eu há mais de dois anos em Miami. (depois de ter passado 2 anos em NYC) Como já disse, meus filhos estão em duas escolas diferentes. Não por minha vontade, mas a vida, essa danada.

Quando meu filho entrou na escola pública que está agora (uma Charter School) eu fiquei muito triste como já disse, mas aquela parte otimista dizia em voz alta dentro de mim “vai dar tudo certo, escola pública nos Estados Unidos é legal, deixa de ser fresca”. Faz sete meses e já estamos terminando o ano letivo. Porque o calendário letivo aqui é uma loucura. Não existe um mês que não tenha um feriado. Fora os Teacher Planning Day (que significa dia sem aula) mais o recesso da primavera, o recesso do inverno e as férias de verão com mais de 2 meses. No fim, são 4 meses sem aula. Talvez isso explique a carga horária de 7 horas por dia e a quantidade de lição de casa. Quem dera se explicasse. O que explica é a política. A vontade de uma minoria fazer dinheiro em cima de uma maioria, nesse caso, as crianças. Uma longa história que não vou explorar aqui. Mas é contada nos jornais americanos, é só procurar.

Na escola Waldorf que meus filhos estavam antes, havia uma legião de americanos completamente contra o sistema de ensino local e principalmente as escolas públicas. Hoje eu entendo melhor essas pessoas. No Brasil escola Waldorf não é tão cheia de regras como aqui. Agora eu entendo. Entendo porque os pais assinam o documento que diz: Meu filho não vai assistir televisão, filme, nada de tecnologia. Agora eu entendo porque a maioria das festinhas não tinha doces. Refrigerante é uma palavra proibida. Essas pessoas tiveram a experiência de estar em um escola pública aqui e estavam chocadas, assustadas, pedindo socorro, exagerando para o outro lado para não correr o menor risco de encostar nesse lado que eu estou agora. Porque é muito feio.

Toda semana sai uma matéria em algum importante jornal sobre o absurdo e o tamanho do erro que está sendo cometido nas escolas públicas aqui. (os pais Waldorf estão sempre publicando) Acho interessante, leio e fico com esperança de que, quem sabe um dia, essas vozes serão ouvidas. É muita gente reclamando. E muitos movimentos surgindo também.

Nesse final de semana, li dois artigos que me chamaram a atenção e me fizeram decidir que não posso em sã consciência deixar meu filho nesse lugar. E aqui traduzo as partes que mais me tocaram:

“O problema da tensão pré testes é que na verdade as professoras estão em pânico porque seus salários dependem dos bons resultados dos alunos.”

“Nós fizemos os testes de exemplo em casa. E seria de se esperar que eu, uma mãe com 40 anos de idade, formada e cujo emprego é escrever para adultos, fosse capaz de fazer a prova para meu filho de 8 e 9 anos em alguns minutos sem precisar pensar “hum, espera, isso não é a resposta certa?!” Sim, eu deveria mas não foi o caso. Se eu posso afirmar que duas respostas estão corretas em uma pergunta, a prova é falha.”

“O sistema educacional diz que alunos de 5ª série terão 14 horas de testes. Quatorze. Isso me faz estremecer. Se você me dissesse que eu iria ter 14 horas de testes em um período de duas semanas, eu ia ficar louca. E você quer fazer isso com meu filho de 10/11 anos de idade? A mãe urso começa a dar o seu grito aqui. Isso é não dar às crianças um desenvolvimento apropriado. Ponto final.”

“O MCAT dura cerca de cinco horas e 10 minutos e você precisa fazer para entrar na faculdade de medicina. E o estado da Flórida acha que está tudo certo submeter nossos filhos pequenos a um teste de 14 horas estressantes e cansativas? Resposta fechada soa muito bem quando você diz isso rápido, mas isso significa que alguém ou alguma coisa tem que pontuar esse teste. Um professor, pago a uma quantidade mínima e um computador irão classificar o teste de perguntas fechadas. Não o professor do meu filho que ele vê todos os dias, mas um não-humano que está à procura de respostas automáticas?”

Esses trechos mostram o volume dos testes e a forma incorreta como eles são dados. As escolas públicas dependem financeiramente da nota dos alunos. Logo a pressão é toda em cima deles. Se os alunos vão bem, a escola vai bem. Acontece que os testes são criados por outras pessoas, que não os professores daqueles alunos. E também são avaliados externamente. O material escolar também é triste. Não explica nada. (E a empresa que produz fatura milhões) Os professores também não explicam nada. E no fim, em muitos testes o que conta é a velocidade da execução da prova. (já que são enormes) Por isso, ao invés de ensinar, eles massacram o conteúdo repetidamente para que o aluno faça rápido. E com isso, reduzem em muito o volume do conteúdo. Em matemática meu filho não aprendeu absolutamente NADA nesses meses na escola pública. Como diz um comediante aqui “era ótima aquela época onde falavam de Deus nas escolas, agora estão tirando tudo, tirando até o aprendizado.” Mas como assim: eles ficam 7 horas por dia na escola, sem recreio e aprendem pouco? Pois é, essa é a pergunta que venho me fazendo nos últimos meses.

Temos então estresse das provas, doces toda hora como prêmio, uma cantina que oferece uma comida que nas palavras do meu filho é “o filme de terror das comidas”. Acha que tá ruim? Pois ainda não falei o pior: A GRANDE MAIORIA DAS ESCOLAS PÚBLICAS AQUI NÃO TEM RECREIO. É isso mesmo. Não tem nenhum intervalo. Lembra aquela parte boa de ir para a escola? Não tem. É trabalho. Sem chance de conversar. Afinal você acha que uma professora (mal paga, coitada) vai aguentar mais de 30 alunos conversando em uma sala de aula por 7 horas? Não pode conversar, não pode levantar. As regras são muitas, são rígidas e eu estou tranquila com isso. Mas crianças precisam se mover! Ou no mínimo ter uma pausa. Me conta, você que tem o filho em uma escola pública aqui e que sai falando para todo brasileiro que a escola é uma beleza, você passa 7 horas trabalhando sem nenhum intervalo? Você consegue fazer isso e no fim de uma semana ainda ter saúde?

“Eles se tornaram máquinas que produzem informação ao contrário de ser crianças.” Disse uma mãe no programa de TV, NBC Today.

Claro, cada escola é diferente, então aqui apresento a lei:

Miami–Dade School Board exige que a escola dê 15 minutos de recreio 3 vezes por semana. Ou 20 minutos, 2 vezes por semana a partir do primeiro ano. (primeiro ano do fundamental, crianças com 6 ou 7 anos)

Mas além das 7 horas na escola, a lei diz: uma hora de lição por dia.

Isso é a lei. E nem sempre a lei é respeitada. Algumas escolas denominadas “as melhores” por causa, de novo, dos resultados nos testes não tem recreio nenhum. Zero. E em muitos casos a lição chega a durar 3, 4, 5 horas por dia se estende até o final de semana, feriados, até acabar com a paz na família. Se por um lado temos a imagem de que os americanos chegam em casa e jantam em família com os filhos, na vida real o que acontece é eles chegarem em casa e ajudarem os filhos na lição na mesa do jantar. Mas acredite, não tem nada de relaxante nessa cena.

Esse assunto tem me consumido nos últimos meses. Eu poderia escrever umas 10 páginas aqui contando os detalhes que vi e vivi. Excesso de competição (ranking para tudo), professores e crianças obesas e a reunião de pais é para falar de eventos e seus respectivos doces, falta de senso de comunidade, entre outros. Prefiro virar a página. Ontem matriculei meu filho na escola Montessori onde minha filha estuda. Não é uma maravilha, mas pelo menos eu acredito que vão garantir a saúde e integridade do meu filho dando meia hora de atividade física 4 dias por semana e meia hora de recreio todos os dias.

Para você que está se mudando ou pensa em se mudar para os Estados Unidos, leia muito, se informe, converse com americanos (que têm os filhos na escola HOJE porque essa loucura toda começou em 2005) e sinceramente desejo que encontre uma boa escola particular que você possa pagar.

O problema é meramente político. Não tem nada a ver com as pessoas que trabalham nas escolas. Arne Duncan, Secretária de Educação dos Estados Unidos escreveu no seu blog: “Testing issues today are sucking the oxygen out of the room in a lot of schools.” O Superintendente de Educação de Miami descreve o sistema atual como “too much, too far, too fast.”

Alguns links para quem quiser se informar sobre o assunto:

Our public education system is in deep distress.

Why schools are failing our boys.

Teacher spends two days as a student and is shocked at what she learns.

Why I can´t “in good conscience” leave my kids in public school.

Should elementary schools have recess? Some Florida parents fight for break.

Top 5 reasons why public schools are failing our children.

Ps: Para você que está com os filhos em uma escola Waldorf no Brasil mas está com vários probleminhas, deixa eu te contar uma coisa, isso não é nada. Fica tranquila/o.


Por Cris Leão




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Moro em Massachusetts e meu filho esta terminando o Kindergarten. Eu entendo sua revolta e concordo com muita coisa que voce falou nesse post. Ele ainda nao teve que participar desses novos testes mas eu tambem estou horrorizada, mas a boa noticia e que muita gente tambem esta. Quanto mais os pais se informarem e fizerem pressao nas escolas e nos politicos, mais rapido essa situacao vai ter que mudar. Eu concordo que e um problema politico mas acaba sendo tambem um reflexo da sociedade que preza a competicao, salario e consumo. Mas eu queria ressaltar que cada estado e diferente e cada escola e diferente. E que uma escola privada nao e automaticamente melhor que uma publica. Vale a pena pesquisar. Eu e meu marido levamos muito em consideracao a comunidade e as escolas quando escolhemos onde morar. Eu vejo familias trabalhando horrores pra pagar escola particular, mas nunca leem um livro com o filho ou o levam no parque ou sentam com ele pra conversar.
Enfim, cada caso e um caso. : )


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A gente ri com vontade de chorar...