domingo, 27 de abril de 2014

Ayrton entre o garoto e o profissional

GP da Vaidade no Roda Viva


Há 28 anos, Senna ainda era um garoto, e Galvão Bueno já se encantava com sua própria pessoa. 

por Nirlando Beirão — publicado 27/04/2014 11:14






Ayrton, aos 26 anos, no Roda Viva: entre o prazer e o perigo


Aos 26 anos de idade, Ayrton Senna era um ser humano. Mas Galvão Bueno já tinha deixado de ser. Homenagem ao piloto, morto há duas décadas em Imola, na Itália, a reedição do Roda Viva de 15 de dezembro de 1986 derrubou certas versões e reiterou outras. O tempo é um revisor implacável.

Foi comovente rever, 28 anos atrás, um Ayrton descontraído, conduzido por uma sinceridade jovial e por uma espontaneidade carregada de simpatia – aquele combustível de humanidade que iria turbinar o mito para além da tragédia. Em 1986, ele ainda não chegara ao título mundial, mas já pisara no pódio dos campeões por quatro vezes. Na entrevista, Ayrton alterna-se entre o garoto para quem pilotar é uma vocação brincalhona e o profissional que já sentia na pele o calor da competição e do perigo. Sempre risonho – muito diferente daquele Senna que viria depois, sujeito emburrado e terrivelmente ranzinza.

Observar a bancada dos entrevistadores do Roda Viva de 1986 foi também altamente pedagógico. Galvão Bueno já era integralmente o que é, incapaz de ouvir o que dizem a seu redor, o tagarela encantado com suas próprias palavras – e ali, desesperado em demonstrar uma suposta intimidade com o ídolo. É bom que a Cultura embarque mais assiduamente na maré das reedições.
Decididamente, antes de virar um horário de programa político (às segundas, às 22 horas), o Roda Viva teve momentos melhores.

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ocê credita em coincidência? a polícia lê Veja


Intimado pela Polícia, humorista Rafucko depõe vestido de Willian Bonner e de meia-calça


O Dia


Artista fenômeno da internet prestou esclarecimentos na sede da Polícia Civil sobre a atuação em protestos, em processo disciplinar contra delegado do caso Amarildo



Humorista protestou contra intimação após depoimento na sede da Polícia Civil. Foto: Felipe Martins


A Corregedoria da Polícia Civil ouviu na tarde desta quinta-feira o humorista e ativista LGBT Rafael Puetter, o Rafucko. Fenômeno da internet com mais de um milhão de acessos de seus vídeos no Youtube, ele foi intimado a prestar esclarecimentos sobre a participação em um protesto artístico realizado em novembro do ano passado no Centro do Rio. Para ironizar a intimação, Rafucko compareceu à sede da Civil vestido de Wiliam Bonner da cintura para cima e uma meia-calça arrastão.

O humorista depôs como testemunha em um processo disciplinar da Polícia Civil contra o delegado Orlando Zaconne. Então titular da 15ª DP(Gávea), ele foi o responsável por desmontar a versão de que o pedreiro Amarildo, morto na Rocinha, teria ligação com o tráfico. Em novembro do ano passado, Rafucko comandou uma manifestação artística assistida por Zaconne cujo ‘ponto alto foi a premiação do manequim da Toulon como maior ato de vandalismo’, conforme o artista escreveu em seu site. A loja da grife foi depredada meses antes, em julho do ano passado, durante manifestação contra o então governador Sérgio Cabral.

O articulista Reinaldo Azevedo, da revista Veja, acusou Rafucko de ter usado manequim roubado da Toulon na apresentação. Azevedo acusou o delegado de praticar o crime de prevaricação, por não prender o artista que estaria usando peça roubada da loja de roupas.

Ao sair da sede da Civil, Rafucko contou que se recusou a responder às perguntas do delegado Felipe Bittencourt do Valle e negou ter usado objeto fruto de roubo na manifestação: “Eu me recusei a explicar uma performance artística. Quem é Reinaldo Azevedo? Eles tinham que investigar é se ele toma tarja preta antes de me chamar aqui. Baseado em que ele pode afirmar que eu usei algo roubado? Acho perigoso a polícia se basear nele para investigar qualquer coisa”, declarou.

Rafucko justificou o traje usado para ir à sede da Polícia Civil: “Eu prefiro achar que tudo isso é uma grande piada. Eu já faço uma sátira ao William Bonner nos meus vídeos, então aproveitei para vir aqui com o personagem que é uma crítica, uma ridicularização da mídia”, disse.



Ao sair da delegacia, Rafucko discursa contra a atuação do governo para integrantes da mídia alternativa e fãs. Foto: Felipe Martins


“É bem assustador que eu tenha que perder uma tarde aqui. Deve ter algo mais importante para ser investigado. Tem uma coisa muito ruim, muito estranha e muito circense acontecendo. A sensação é de que estamos numa democracia muito frágil, se é que estamos numa democracia”, completou.

Não é a primeira vez que Rafucko presta esclarecimentos à polícia. Durante mais uma manifestação no mês de julho do ano passado, acabou detido por policiais militares. Em um vídeo divulgado no Youtube dias após o protesto, o humorista afirma que foi preso pelos PMs com provas falsas. Segundo Rafucko, os policiais colocaram pedras portuguesas dentro da camisa que ele usava para forjar o crime de depredação de patrimônio público. Ele foi levado à 14ª DP (Leblon) e liberado ainda no mesmo dia.

Em seus últimos vídeos, ele vem criticando de forma ferina a atuação da polícia nos protestos que ocorrem na cidade desde junho do ano passado, as respostas do ex-governador do Rio Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes às reivindicações dos manifestantes e a forma como os protestos são noticiados nos veículos de comunicação.

Procurada pela reportagem do BLOG LGBT, a Polícia Civil informou que houve um erro material na expedição do documento enviado ao artista, que deveria ser um convite e não uma intimação.

ocê credita em coincidência? eitaeitão


O torturador Malhães e as coincidências da morte

27 de abril de 2014


A vida é mesmo cheia de coincidências. No passado recente, muitos inimigos da ditadura militar brasileira morreram providencialmente do coração. Até o presidente João Goulart foi vítima de um infarto do miocárdio.

A moda ainda não acabou. O coronel torturador Paulo Malhães deu com a língua dentes, revelou os mais sórdidos segredos da tortura do regime militar e, um mês depois, coincidentemente, apareceu de bico calado para sempre.

Causa da morte: infarto.

Um providencial grupo de assaltantes invadiu o sítio do carrasco, deu-lhe um calor e ele apagou. A mulher da vítima conta que os assaltantes recebiam ordem por telefone para matá-lo, como se fosse uma encomenda ou uma missão.

Pura coincidência.

Malhães sabia demais e andava abrindo o coração. Um homem assim é uma bomba-relógio. Pode explodir a qualquer momento. Quem sabe demais, por ter servido ao pior, fica melhor de boca fechada para a eternidade. Mas é claro que falar em queima de arquivo é apenas uma hipótese. Já se fala também que seria vingança da família de algum torturado por ele.

Só há uma verdade nisso tudo: o homem que sabia demais nunca mais fará depoimento em comissões da verdade.

Acabou-se.

Quantos não estarão aliviados?

quinta-feira, 17 de abril de 2014

e do DARF, nada... nadica de nada! milhões em silêncio!


Globo acusa blogueiros para apoiar Sardemberg e Merval

Posted by eduguim on 16/04/14 • Blog da Cidadania






A esta altura, o público da blogosfera já leu vários posts de outros blogs sobre entrevista que o jornal O Globo propôs aos blogueiros que entrevistaram o ex-presidente Lula na semana passada (8/4). À diferença de alguns de meus colegas, aceitei dar uma longa entrevista ao jornal.

As repórteres Bárbara Marcolini e Thais Lobo procuraram a blogueira Conceição Lemes e os seus colegas Altamiro Borges, Eduardo Guimarães, Fernando Brito, Kiko Nogueira, Marco Weissheimer, Miguel do Rosário, Renato Rovai, Rodrigo Vianna. Só eu, Rovai, Miguel e Kiko concordamos em falar. Os outros preferiram não dar entrevista ou publicaram as respostas em seus blogs.

Os amigos que não quiseram dar a entrevista previram o que este que aceitou constatou ser fato, mas que também sabia que aconteceria. A matéria teve o objetivo claro de desqualificar os blogueiros que entrevistaram Lula. Só que, à diferença do que O Globo fez em 2010, quando deu uma página inteira de sua edição impressa para nos desancar, desta vez o jornal pelo menos resolveu dar voz aos que, em verdade, são seus adversários políticos.

Optei por dar essa entrevista porque, em minha visão, prefiro debater com os adversários mesmo quando eles mais atacam do que debatem. Mesmo sabendo que não dariam espaço a tudo que falei, mesmo sabendo que distorceriam fatos.

Por exemplo: a repórter de O Globo diz que a entrevista coletiva com Lula foi “definida por Eduardo Guimarães como uma conversa entre camaradas”. Não é verdade. Na transcrição da entrevista que publico abaixo – editada como a do Globo, porque é ainda mais longa do que figura aqui – fica claro que quem definiu a entrevista como “entre camaradas” foi a entrevistadora. Eu apenas disse que não me opunha à definição dela.

Outro exemplo: a matéria de O Globo cita que este e outros blogs têm banners das prefeituras de Guarulhos e/ou de São Paulo para induzir o leitor a crer que por conta desses banners eu e meus colegas temos e divulgamos opiniões favoráveis ao PT, a Lula e ao governo Dilma, ainda que todos os blogs citados já tenham feito críticas a eles. Porém, a matéria oculta minha informação de que o banner está aqui há quinze dias e é o primeiro de algum órgão público que aparece por aqui em 9 anos de existência desta página.

Essa linha de ataque que tenta nos acusar de sermos subornados para dizer o que dizemos sobre política, porém, tem uma outra origem além do desconforto que as opiniões dos blogueiros e de Lula causaram na autoproclamada “grande imprensa”.

O leitor irá notar que a repórter que me entrevistou levanta o assunto da acusação que os jornalistas Carlos Alberto Sardemberg e Merval Pereira fizeram na CBN aos blogueiros que entrevistaram Lula, justamente a acusação de que somos “financiados por órgãos públicos”, insinuando, escancaradamente, que é por isso que pensamos como pensamos.

A repórter chega a debater sobre esse e outros com este que escreve tentando fazer prevalecer a teoria de que não houve acusação dos dois comentaristas da CBN, acusação que o jornal tenta comprovar com a matéria que publicou em seu caderno digital Globo A Mais, acessível só por assinantes de O Globo.

A pergunta específica da repórter sobre a calúnia dos dois colegas aos blogueiros e o tom acusatório da matéria por conta de publicidade oficial permite a este que escreve inferir, tanto quanto inferiu sobre várias coisas O Globo, que este a fez a matéria sobre blogueiros para referendar a acusação de Sardemberg e Merval, entre outras razões.

Enfim, caberá ao leitor decidir o que pensa. Abaixo, a transcrição da maior parte da entrevista, com muitos trechos omitidos pela edição, trechos que se contrapõem à acusação não tão velada que o jornal O Globo fez a mim e aos meus colegas blogueiros. E para não imitar o Globo, este Blog publica, também, a sua matéria em questão.

Primeiro, a transcrição da gravação que fiz da entrevista que dei à repórter Bárbara Marcolini. É uma leitura longa, foram 56 minutos de conversa, gastei horas para transcrever, mas garanto que valerá a pena. Em seguida, a matéria de o Globo, intitulada “A entrevista dos camaradas”.

Boa leitura.


—–

Eduardo – Então, Bárbara…

O Globo – Você está falando no “viva voz”?

Eduardo Guimarães – É, porque fica mais prático, para mim, porque estou falando e escrevendo.

O Globo – Ah, então está legal. Eu queria que você falasse um pouquinho, primeiro, de você. Eu li no seu blog que você fala que é comerciante…

Eduardo Guimarães – É, na verdade eu sou representante comercial…

O Globo – Ah, é? Qual é a sua área de atuação, qual é o meio que você trabalha?

Eduardo Guimarães – Eu trabalho com indústrias brasileiras, eu represento indústrias brasileiras na América Latina e na África. Então eu viajo a Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai, Uruguai, Colômbia, Venezuela… Já estive acho que umas vinte vezes em cada país, já estive em Angola, na África do Sul, em Moçambique… Eu sou comissionado e, na verdade, também implanto departamentos de exportação em pequenas empresas, gente que quer exportar e não sabe como e, assim, abro mercado e faço, também, a parte comercial. São contratos com prazo determinado. Eu vivo disso.

O Globo – Que indústrias são? Que tipo de indústria?

Eduardo Guimarães – Tem vários materiais, mas, aí, eu prefiro não misturar as empresas para as quais eu trabalho com o meu trabalho como blogueiro.

O Globo – Mas só me explica qual é a matéria-prima, alguma coisa assim, para eu ter uma noção melhor…

Eduardo Guimarães – Ramo de construção de estradas, também partes para produtos agrícolas…

O Globo – E há quanto tempo você tem o blog?

Eduardo Guimarães – O blog foi fundado em fevereiro de 2005 no UOL e, em maio de 2010, passei a ter o meu domínio próprio, que é o blogdacidadania.com.br.

[...]

O Globo – Eu li um pouco sobre você, parece que você começou escrevendo cartas para as seções de cartas de leitores dos jornais.

Eduardo Guimarães - Sim, em 1992, mais ou menos.

Eu leio jornais desde os 13 anos; imagine que eu tenho 55. E digo a você que dos 13 anos até hoje deve ter tido algum dia que não li jornal, mas não me lembro qual foi esse dia nem quantos dias foram, mas, seguramente, é um número infinitesimal de dias.

A partir de 92 ou 93… Eu lia muito o Estadão, que era um hábito de família, e comecei a escrever cartas com as minhas opiniões e aí, um belo dia, publicaram e eu disse, “Nossa, eu tenho condição de, sei lá, participar do debate público”.

Aí comecei a escrever muito, para o Estadão. Na Eleição de 2000, que a Marta disputou com o Maluf, cheguei a ter, no Estadão, carta minha publicada quase todo dia…

O Globo – É mesmo?

Eduardo Guimarães – É que, naquele ano, acho que pela primeira vez na história o Estadão ficou a favor do PT. Porque [o adversário de Marta] era o Maluf, que tinha destruído São Paulo. O Estadão apoiou o Maluf contra a Erundina, mas aí acabou com São Paulo e o Estadão ficou a favor da Marta. Foi um negócio muito doido…

O Globo – E você sempre foi mais voltado para o PT?

Eduardo Guimarães – Em 1989, no primeiro turno, votei no Mário Covas porque eu achava o PT muito radical; fiquei muito irritado com o PT por não ter assinado a Constituição de 88. Aquilo me irritou profundamente porque o Brasil precisava evoluir daquele período autoritário e, aí, o PT vai lá e não assina a Constituição…

Achava o PT muito radical. Aquela voz do Lula, também achava o Lula muito radical. Aí o Covas não passou para o segundo turno, passaram Lula e Collor e, aí, vou ser bem sincero com você: para mim o Collor tinha o que ele era escrito na testa. Aí eu falei: não tem jeito, é o Lula. E aí começou aquela baixaria em cima dele, colocaram a filha dele [na TV]…

Fiquei ao lado do PT de uma forma que foi… Eu sempre achei que as coisas que são feitas contra o PT e contra o Lula sempre foram de um nível muito errado, muito baixo, muito desleal dos adversários. Por exemplo, a ficha falsa da Dilma, que foi publicada na Folha de São Paulo. A Folha de São Paulo abriu espaço para um sujeito acusar o Lula de ter tentado estuprar um garoto na cela [do DOPS, em que ficou preso durante a ditadura]. Uma coisa sem comprovação, nem nada…

A gente sabe que a Míriam [Cordeiro], a ex-namorada do Lula, mãe da Lurian, foi sustentada pelo Collor por anos. Foi para a TV e mentia sobre o relacionamento, a mulher foi comprada pelo Collor. E a mídia fez um trabalho, na cobertura daquela eleição, muito ruim.

A partir dos anos seguintes eu fiquei bastante contrariado, cada vez mais contrariado, até que comecei a escrever para jornal, sempre nessa linha, mas sempre de forma autônoma, nunca me filiei ao PT, nunca me aproximei do PT de maneira nenhuma. Mas, em 2005, eu já escrevia no Observatório da Imprensa críticas à mídia. E aí começou o escândalo do mensalão.

Eu estava até fora do Brasil e vi o tom do noticiário e falei: “eu acho que esse noticiário está muito enviesado. Tudo bem, tem uma denúncia, aí. Vamos apurar. Mas pelo que estou lendo, aqui, já há uma condenação. Eu quero ver apuração de tudo isso”.

Eu escrevia, naquele tempo, como leitor, para a Folha, para o Estadão. Para O Globo não escrevia. Não me lembro de que escrevesse para o Globo… Mais para os jornais de São Paulo.

Só que, ali, senti que a minha opinião, criticando a postura dos jornais, não foi aceita e pararam de publicar minhas cartas. Aí comecei a fazer o trabalho no Blog.

O Globo – Como é que surgiu o Movimento dos Sem Mídia?

Eduardo Guimarães – O Movimento dos Sem Mídia surgiu em 2007. O ministro Ricardo Lewandowski estava em Brasília e tinha uma repórter da Folha, cujo nome me escapa, e essa repórter flagrou Lewandowski falando ao telefone, dizendo que o STF tinha aceitado o indiciamento do Dirceu com a faca no pescoço colocada pela mídia.

Nesse momento, escrevi um post – meu blog ainda estava no UOL – dizendo o seguinte: “isso é muito grave porque, se a Justiça brasileira pode ser pressionada pela mídia a condenar, isso é uma ameaça a qualquer um de nós.

Meu blog era muito pequeno, à época. Tinha bem menos leitores. A gente cogitou fazer uma vaquinha para colocar uma matéria paga nos jornais – isso, eu com os meus leitores, os comentaristas; a gente conversava, eu conversava com os comentaristas. Mas concluímos que não ia adiantar, poderiam não aceitar [a matéria paga].

Eu falei: “quer saber de uma coisa? Eu vou pegar um megafone e vou lá na frente da Folha e vou falar. Eu estava muito preocupado com a Justiça. Isso saiu na Folha de São Paulo: um ministro do Supremo dizendo que a Suprema Corte de Justiça do país foi coagida a tomar uma decisão que a imprensa queria (?).

É assustador. Acho que deveria assustar qualquer cidadão. Então, nesse momento, escrevo no Blog que vou comprar um megafone e vou para a frente de um jornal qualquer – e aí acabamos escolhendo a Folha – para dizer aquilo que não é possível dizer como leitor, porque, naquele período – 2007, quando havia um clima político conturbado –, estava difícil conseguir espaço como leitor, escrevendo para jornal, e você não via matérias da mídia que divergissem de uma linha anti-Lula, anti-PT.

Eu sempre brincava no Blog dizendo o seguinte: que pessoas que tinham opiniões como a minha eram pessoas como os sem-terra, eram pessoas sem-mídia. Ai eu falei: “um dia vou fundar um movimento dos sem-mídia, um movimento análogo ao dos sem-terra, o movimento dos sem-mídia”.

Nós nos encontramos na frente da Folha. Gente que eu não conhecia. Apareceram mais de 200 pessoas. E fizemos um ato diante da Folha. 15 de setembro de 2007. Escrevi um manifesto, publiquei no Blog e li ao megafone diante da Folha. Aquele monte de gente… Fomos para a Praça Princesa Isabel, ali perto da Barão de Limeira, fizemos uma reunião e falamos: “vamos fundar um movimento dos sem-mídia”.

Fundamos uma ONG, mas acabamos fundando a ONG só em cartório, não tem CNPJ, tem no Estatuto que não aceita dinheiro público, nunca bati na porta de lugar nenhum [pedindo dinheiro]. Não tem nem sede, não tem verba.

O Globo – – Eu gostaria de entender. Eu fiz uma pesquisa na internet e encontrei um site que não tinha muita coisa. Eu queria entender um pouquinho como é a atuação desse movimento.

Eduardo Guimarães – Na verdade é um movimento meio virtual, porque não tem uma organização, não tem nada. As pessoas enviaram fichas de filiação, mas eu nunca constituí uma figura jurídica. As pessoas entram no Blog, comentam…

Fiz várias representações ao Ministério Público em nome do Movimento dos Sem Mídia e em meu nome. Por exemplo, naquele caso da febre amarela, de 2008, quando estava saindo na mídia que haveria risco de ter uma epidemia de febre amarela urbana no Brasil, que era uma coisa que não acontecia havia sessenta anos.

Veja bem: até janeiro de janeiro de 2008, morreram 10 pessoas no Brasil por reação adversa à vacina da febre amarela. Pessoas que tomaram a vacina, a vacina fez mal e as pessoas morreram.

Você sabe quantas pessoas morreram no Brasil em 2008 por reação adversa à vacina? Mais dez. Exatamente em um mês, dobrou [o número de] mortes por reação adversa à vacina ocorrido desde que a vacina foi inventada.

Por que aconteceu isso? Devido ao alarmismo da mídia. Teve uma colunista de jornal que escreveu: “Vá se vacinar antes que seja tarde. O Lula está dizendo que não tem epidemia, mas o Lula está protegido e você não está”.

Teve muita gente que entrou três vezes na fila da vacina e você sabe como é efeito de vacina: você inocula um vírus enfraquecido da doença para que o seu organismo crie anticorpos. Só que se você toma três doses de vacina você contrai febre amarela. Essas pessoas [que se sobre vacinaram] entraram em choque anafilático.

Ao fim de janeiro de 2008, havia mais gente doente por reação adversa à vacina do que por febre amarela. Aí, eu fiz essa representação ao Ministério Público Federal, ela foi aceita com base em um artigo da Lei de Imprensa [vigente à época], crime de alarma social. E esse processo foi rolando, o Ministério Público pediu informações ao Ministério da Saúde, mas, como se tornou uma tônica nos governos do PT, sempre houve muito medo de comprar briga e o Ministério da Saúde ficou sentado em cima até que caiu a Lei de Imprensa e o negócio acabou arquivado, não deu em nada.

Morreram dez pessoas, mas conheço duas que morreram por tomar a vacina sem pretender viajar a regiões de risco.

Houve outras [representações]. Por exemplo: na eleição de 2010, o Datafolha começou a acusar o instituto Sensus de fraudar a pesquisa [de intenção de voto] em favor da Dilma. Do outro lado, acusavam o Datafolha de fraudar a pesquisa em favor do Serra. O que fiz foi uma representação à Procuradora Geral Eleitoral dizendo o seguinte: “como está na lei eleitoral que falsificar pesquisas é crime, então investigue-se todo mundo – Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi”.

Mandei [a representação] para a doutora Sandra Cureau e ela determinou a abertura de investigação na Polícia Federal. Depois de um ano e pouco, acho que quase dois anos, a Polícia Federal me chamou [e disse]: “olha, nós estamos com isso aqui, mas a gente não sabe o que fazer”. E [a investigação] acabou arquivada.

Eu criei o Blog da Cidadania porque [...] o cidadão tem o seu poder. Tem os seus direitos, tem as suas prerrogativas, além dos seus deveres. E uma herança da ditadura militar é a de que nós, brasileiros, sempre achamos que é perigoso falar, você pode se ferrar. [Isso acontece] porque nós passamos vinte anos em um país em que você não podia falar o que pensava.

Noto que, até hoje, continua. Muita, muita gente tem medo de dizer o que pensa. Muita gente… Então, criei esse Blog para mostrar às pessoas que isso não está certo, que a gente tem que dizer [o que pensa], tem que participar…

Há uma única coisa que eu não faço – e não porque eu recomende aos outros que não façam, mas digo que não faço porque não serve para mim. Eu não me filio a partido político porque, realmente, acho que não serve para mim. O político precisa ser uma pessoa que tenha um certo jogo de cintura e eu sou um cara que falo muito o que penso, então acho que não seria um bom político. Iria dar uma de Ciro Gomes e iria falar demais.

O Globo – Voltando, um pouquinho, à entrevista coletiva do Lula. O que você achou dos blogueiros que foram convidados para participar da entrevista?

Eduardo Guimarães – Na verdade, foram convidados – acho que – mais uns três blogueiros. Uma é a Conceição Oliveira, uma professora de História da USP, que estava adoentada. E teve mais duas pessoas que não me lembro quais são, que não puderam comparecer.

Os outros que estavam lá são pessoas que conheci nesses anos todos e que são excelentes pessoas. Alguns eu conheço mais, outros eu conheço menos.

A Conceição Lemes é uma grande jornalista, uma repórter fantástica, com quem fiz uma amizade muito boa.

O Miro, o Altamiro Borges, é um grande cara, uma pessoa séria, um grande jornalista. Gosto muito dele.

O Fernando Brito eu conheço pouco, mas a gente sabe que ele assessorou o Brizola. É um sujeito que tem um valor inegável.

Miguel do Rosário também não conheço tanto, mas conheço há muito tempo. Não proximamente, porque ele é do Rio, mas é um rapaz que escreve muito bem, tem um texto maravilhoso.

O Marco Weissheimer, lá do Sul 21, pouco conheço, mas gosto muito, leio o Marco, acho muito competente.

Quem mais?

O Rodrigo Vianna é um amigo, fizemos uma grande amizade.

O Renato Rovai também é um amigo.

Enfim, acho que estavam muito bem representados os blogueiros, ali. Evidentemente que não dá para fazer uma entrevista com 30, 40 blogueiros, então eles escolheram aqueles que têm um pouco mais de visibilidade.

No meu caso, não sou jornalista, não sou nada, sou só um representante comercial [...] Acontece que sou um apaixonado pelo idioma e aprendi a escrever direitinho. Lógico que [meu texto] não é perfeito, mas gente que entende do traçado diz que meu texto é razoável e acho que talvez por isso e pela visão que adquiri da política, porque passei a minha vida me interessando por política [...] Não só por política, mas, também, por economia e história.

Talvez por isso eu tenha conseguido fazer meu Blog ganhar alguma visibilidade. Mas muitas vezes quando me vejo em meio a jornalistas tarimbados, pergunto-me: “nossa, que estou fazendo aqui? O que estou fazendo aqui entrevistando Lula?”. E foi a segunda vez, porque o entrevistei também em 2010.

Mas eu não sou a melhor pessoa para dizer por que eu fui escolhido…

O Globo – Isso é o que eu ia lhe perguntar: por que você acha que foi escolhido?

Eduardo Guimarães – Evidentemente que o Lula deu uma entrevista para pessoas que o apoiam. Eu nunca neguei que apoio o Lula. Eu não escondo minhas preferências políticas. Apoio o Lula desde 1989.

Vou ser bem sincero com você: já vi edições do programa Roda Viva idênticas à entrevista que fizemos com o Lula. Posso conseguir para você entrevista com José Serra no Roda Viva idêntica à que foi feita com o Lula – o clima de camaradagem, sem perguntas incômodas, inclusive com os entrevistadores batendo nos adversários [de Lula]. Isso é público, está na internet.

O Globo – Você admite, então, que a entrevista foi entre camaradas?

Eduardo Guimarães – Mas isso é óbvio. Nenhum de nós está negando que foi uma entrevista entre camaradas porque, na verdade, nós fomos perscrutar a opinião do Lula sobre temas que interessam ao nosso público. Ninguém teve a pretensão de ser isento porque eu sempre digo que não existe jornalista isento, existe jornalista mentiroso.

Ninguém é isento. Eu espero que esta minha sugestão figure no material [que O Globo iria publicar]: se você pegar um programa que está em uma tevê pública como o Roda Viva, de entrevistas como de um Fernando Henrique Cardoso, de um José Serra, você não vai achar diferença alguma da entrevista que nós fizemos com o Lula.

Qual é a diferença? Primeiro, não foi em uma concessão pública que a entrevista aos blogueiros foi dada. Segunda diferença: os “camaradas”, como você disse, eles assumem que são camaradas. Eu nunca me disse isento [...] Escrevo isso todo dia no meu Blog. Como é que algum de nós teria a desonestidade intelectual de nos dizermos isentos, de não termos opinião política?

Primeiro porque isso não existe e segundo porque é claro, nós defendemos um projeto político, eu falo para os meus leitores, eu não sou jornalista, eu sou um cidadão comum que estou exercendo o meu direito de opinar e de difundir a minha opinião.

Isso é jornalismo? Eu uso uma linguagem jornalística. Isso, estou falando [sobre] o meu caso. Os outros são jornalistas, mas eles têm posicionamento político assim como O Globo tem posicionamento político, o SBT, a Folha, o Estadão…

Aliás, o Estadão tem um posicionamento político claro. Inclusive, nas últimas campanhas eleitorais ele tem declarado seu voto.

O Globo – Agora, como é que, na sua opinião, fica a imagem da mídia alternativa? Ela tenta construir a imagem de ser uma mídia plural, que abrange todos os assuntos, que dá margem a todas as opiniões… Como é que fica a imagem da mídia alternativa quando um evento como uma entrevista coletiva do Lula tem como entrevistadores apenas blogueiros, como você mesmo disse, que são favoráveis ao Lula?

[...]

Eduardo Guimarães – Não é mídia alternativa, porque nós estamos fazendo uma confusão, aí. Você tem um grupo de blogueiros que integram a mídia alternativa, mas a mídia alternativa eu não vejo ela se dizendo apartidária. Todos os veículos mais importantes da mídia alternativa, eles se dizem de esquerda.

Sobre a pluralidade, é o seguinte: eu, por exemplo, entrevistaria o José Serra, se ele me desse entrevista.

Agora, eu pergunto a você: é melhor uma mídia que assume as suas preferências políticas e informa o leitor que apoia o Lula do que…

O Globo – A mídia alternativa, então, se restringe a blogs de esquerda?

Eduardo Guimarães – Não… Você pergunta se a mídia alternativa se restringe a blogs de esquerda?

O Globo – É isso que você está me dizendo…

Eduardo Guimarães – Não, eu não disse isso a você. Eu disse que a mídia alternativa é muito mais ampla. Agora, quem foi entrevistar o Lula foram blogs de esquerda. Mas você tem mais coisas na mídia alternativa. Você tem, inclusive, na mídia alternativa, sites que são contra o PT, mas que são de esquerda.

Por exemplo: veículos ligados ao PSOL. Eles são oposição ao PT. Acho que é “Correio do Brasil”… Tem um site que é do Plínio de Arruda Sampaio que bate no PT direto. Você tem os sites, as revistas que têm críticas ao governo Dilma, têm críticas ao Lula, têm críticas ao PT, na mídia alternativa, e têm críticas à mídia tradicional.

Agora, eu desafio o jornal O Globo a nós compararmos duas entrevistas: uma, de um expoente do PSDB – um José Serra, um Fernando Henrique – ao Roda Viva e outra, a entrevista com o Lula [aos blogueiros] e vamos ver se essa dureza jornalística que se prega que seja usada contra o PT é usada, também, contra o PSDB…

O Globo – Não é dureza jornalística. Eu estou só lhe questionando sobre esse papel da mídia alternativa, que deveria ser um lugar onde todos têm voz e, aí, em um evento como uma entrevista com o Lula, só os blogs de esquerda participam. Cadê, justamente, essa pluralidade da mídia [alternativa]? Eu queria saber isso, porque é uma coisa que todo mundo ficou se questionando.

Eduardo Guimarães – Mas, agora, eu lhe pergunto. Agora, quem ficou curioso fui eu. Quando foi que programas da grande mídia, programas das tevês, convidaram blogueiros de esquerda para entrevistar alguém?

O Globo – Não, não estou falando de programas de TV. A gente está falando da entrevista do Lula especificamente…

Eduardo Guimarães – Mas, aí, nós vamos ficar naquela mesma situação da CPI da Petrobrás, se vai investigar o metrô ou não vai investigar o metrô. Então, quer dizer, eu quero falar é do seu escândalo, não quero falar do meu. É muito conveniente….

O Globo – É porque a minha matéria é sobre entrevista do Lula. Não tem nada a ver com Roda Viva, não tem que ficar falando sobre isso. Mas vamos voltar…

Eduardo Guimarães – Ué, mas eu estou lhe dando uma resposta. Você me perguntou como é que fica a mídia alternativa diante de uma falta de pluralidade na entrevista. Eu falo: a mídia alternativa como a mídia tradicional. Só que com o diferencial de que nós não estamos fazendo essa entrevista em uma concessão pública e não escondemos as nossas preferências, que é muito mais honesto.

Então, o público, o leitor, o espectador, ganha com a mídia alternativa em honestidade porque não estamos nos dizendo isentos, nós não estamos mentindo para o público dizendo que somos isentos…

É isso.

O Globo – Qual foi, na sua opinião, o ponto mais relevante da entrevista, o que lhe chamou mais a atenção?

Eduardo Guimarães – Olha, acho que o mais importante da entrevista – e que teve maior repercussão – foi o Lula dar uma visão ao PT e ao governo de que é preciso travar o debate político. Não dá para o PT ficar calado, encurralado, porque isso tem efeitos eleitorais e nós estamos em ano eleitoral.

Está se tentando, em ano eleitoral, investigar escândalos, denúncias contra A e não investigar contra B. Ou, pelo menos, publicizar investigações contra A e ocultar contra B. Então, o que Lula disse de mais importante na entrevista acho que foi o recado ao PT, à própria Petrobrás e ao próprio governo de que é preciso travar o debate político. Não é ataque, não é impedir CPI, até porque, neste governo teve muito mais investigação do que no governo do PSDB. Se você for ver no meu blog, publiquei uma matéria no domingo mostrando como o PSDB enterrou a CPI da corrupção em 2001. Dito, inclusive, pela grande mídia, que ele fez isso.

O PSDB nunca deixou investigar nada. Manteve, por oito anos, o mesmo procurador-geral da República. Com o PT, os procuradores-gerais da República indicados pelo Lula e pela Dilma foram duríssimos com o PT. O escândalo do mensalão é produto da absoluta liberdade que têm para investigar a Polícia Federal, o Ministério Público na era PT.

Acho que foi muito importante e, inclusive, não vejo, aí, a pretensão do Lula de tutelar a presidente de maneira nenhuma porque, se ele a tutelasse, ela não teria seguido caminhos diferentes. Qual foi o caminho diferente? Por exemplo, a Dilma nunca abriu o Palácio a uma entrevista de blogueiros. Ela manteve uma distância total dos blogueiros, da mídia alternativa.

Pelo contrário, a primeira coisa que a Dilma fez, quando assumiu, foi ir à festa da Folha de São Paulo – festa de 90 anos da Folha de São Paulo –, em seguida ela foi fazer um omelete na Ana Maria Braga e nunca teve essa aproximação, qualquer aproximação, com aquilo que você chama de mídia alternativa…

O Globo – Você se ressente um pouco disso?

Eduardo Guimarães – Não!

O Globo – A Dilma não poderia dar…

Eduardo Guimarães – Não!

O Globo – Dar uma atenção maior, um status maior para essa turma de blogueiros que apoia o governo dela?

Eduardo Guimarães – Não. Eu já lhe digo não. Eu acho que a Dilma tentou um caminho. Qual foi o caminho que ela tentou? Na minha visão, ela achava que aquelas dificuldades do Lula com a mídia, que permearam o seu governo, foram decorrentes – e isso é uma expressão minha –, eu acho que ela via aquilo como uma briga de machos. Picuinha. Uma coisa que não precisaria existir e que, se ela não entrasse pelo mesmo caminho, teria uma relação mais tranquila com a mídia e, na verdade, não foi isso que aconteceu. Basta a gente ligar [a TV] no Jornal Nacional e ver que só se fala da Petrobrás enquanto você tem um escândalo, aqui em São Paulo, com muito mais provas, que já está em estado adiantado de investigação, que envolve políticos.

Por exemplo: responsabilizam a Dilma pela compra da refinaria de Pasadena, mas eu nunca vi responsabilizarem, na grande mídia, o Geraldo Alckmin e o José Serra – com o mesmo ímpeto – pelo cartel que teve no metrô. E dificilmente, raramente, aparece o nome de um político. E nunca foi atribuído [nada aos tucanos] diretamente.

Você sabe que o José Serra foi denunciado por um procurador do Ministério Público Estadual [de São Paulo], um tal de Milani, e disso só saiu uma matéria pequenininha no Estadão. Se ele fosse do PT, saía no Jornal Nacional.

Esse procurador acabou entregando a denúncia contra o Serra ao procurador-geral do Estado e eu não sei que fim levou isso. Parece que foi engavetado, também. Porque esse procurador-geral do Estado foi o segundo da listra tríplice [que o MP faz e envia ao governador para que escolha novos procuradores-gerais do Estado], escolhido pelo Alckmin, e não levou para frente.

Mas você imagina se o Lula fosse indiciado ou fosse denunciado… Aliás, ele foi denunciado por procuradores [do MP] e isso saiu no Jornal Nacional, saiu em tudo quanto é lugar. O mesmo aconteceu com o Serra e não saiu em lugar nenhum. Saiu uma matéria pequenininha só no Estadão.

O que acontece com a Dilma é que acho que ela tentou um caminho, talvez por inexperiência.

Eu não me ressinto, não.

[...]

Leitores perguntam: por que a Dilma não corta as verbas da Globo? Eu falo: porque a Dilma não é dona do dinheiro [das verbas de publicidade]. Os recursos públicos têm que ser usados da melhor forma. A verba de publicidade tem que ser usada da forma mais eficiente. Como é que você vai deixar de anunciar na Globo? O dinheiro não é do PT, o dinheiro é do povo.

Eu acho que a Dilma tentou um caminho mais republicano possível, uma melhor relação [com a mídia] possível. Ela mantém essa relação, porque ela deixa de responder muita coisa. Só que eu acho que é um equívoco político dela, mas é um direito dela. Não há por que se ressentir de maneira nenhuma.

Até porque, a nossa repercussão [dos blogueiros], diante da grande mídia, é pequena. Mas, evidentemente, como eu sempre digo: há meio século, foi dado um golpe de Estado no Brasil porque só os grandes jornais falavam, só falava O Globo, só falava o Estadão, só falava a Folha da Manhã.

Hoje, esse golpe não aconteceria da mesma forma porque você tem uma mídia que faz aquele trabalho de formiguinha, mas que vai se espalhando. Por que é que toda ditadura, quando se instala, trata de silenciar a imprensa, ela trata de silenciar qualquer voz dissonante? Porque a informação, a palavra, ela é como – e é uma má imagem – uma infecção que se alastra.

Se você deixar surgir algum contraditório, em algum lugar, se não sufocar esse contraditório ele vai crescer. E é o que tem acontecido. Você veja que vira e mexe se vê colunistas de grandes jornais atacar blogs que ninguém sabe quem são.

Sempre fica aquela coisa de que são pagos pelo governo, são pagos pelo governo, são pagos pelo governo… Eu nunca recebi dinheiro nenhum do governo.

O Globo – Voltando aos colunistas, você fala daquele áudio do Sardemberg com o Merval, né?

Eduardo Guimarães – É.

O Globo – Ele fala que “muitos daqueles ali são pagos pelo governo”, mas, em nenhum momento, ele cita nenhum blogueiro. Por que você se ofendeu tanto?

Eduardo Guimarães – Vamos supor que duas repórteres estejam fazendo matéria sobre a entrevista do Lula: a Bárbara e a Thaís. Aí eu digo: aquelas repórteres que estão fazendo a matéria sobre a entrevista do Lula são pagas pelo José Serra ou pelo Alckmin. Eu não preciso citar a Bárbara ou a Thaís. Ao falar “aquelas repórteres que estão fazendo aquela matéria”, estou levantando suspeita sobre as duas. O Sardemberg disse: “Aqueles blogueiros são financiados com dinheiro de órgãos públicos”…

O Globo – Ele disse “alguns deles”…

Eduardo Guimarães – Não, o Sardemberg não falou “alguns”. Quem falou alguns foi o Merval. Disse assim: “Alguns são pagos, outros são militantes mesmo. Tem de tudo, ali”. Ele disse…

O Globo – É um grupo bem maior do que só eu e a Thaís. Vocês eram nove.

Eduardo Guimarães – Mas não importa. São nove pessoas. Se você não disser quem são as pessoas é pior ainda, porque você levanta dúvida sobre todo mundo. Era melhor que ele dissesse: “Olha, o Eduardo Guimarães é pago para dizer o que ele diz”.

Eu tenho esse Blog há nove anos. Quinze dias atrás a Prefeitura de Guarulhos me procurou e pediu para colocar um banner no meu Blog. Esse banner está lá há quinze dias. Foi a primeira vez em nove anos que aconteceu [de um órgão público pôr um banner no Blog].

[...]

Então eu vejo um jornal, acho que “O Povo”, colocar uma matéria dizendo assim: “Ah, você veja, eles têm banner da Prefeitura de Guarulhos”! Porque a Prefeitura de Guarulhos é do PT, então ele já faz o link de que como a Prefeitura de Guarulhos é do PT já veio uma ordem de Brasília para a Prefeitura anunciar no meu Blog, sendo que eu digo a mesma coisa há nove anos…

O Globo – A Prefeitura de Guarulhos paga alguma coisa por esse anúncio?

Eduardo Guimarães - Paga. Vai pagar, não pagou ainda.

Todo mundo sabe que isso é pago. Eles me ofereceram a publicidade e eu aceitei. Agora, o meu blog foi fundado em 2005. Nunca teve publicidade oficial. Teve agora e não sei se vai continuar. Tomara que continue, porque se eles estão me propondo acho que deve ser legal.

O Globo – Agora, o seu Blog não é a sua fonte de renda?

Eduardo Guimarães – Não, o meu Blog não me dá dinheiro. Alguns leitores contribuem, dão 20 reais, dão 30 reais, dão 50 reais. Você vê que eu não tenho nem publicidade do Google. Eu não vivo do Blog. Não dá para viver do Blog. Eu nem jornalista sou. Pelo contrário, estou gastando com o Blog. Tenho dois servidores dedicados [para mantê-lo no ar] e aquilo custa bem carinho, mas os leitores ajudam.

Só que não cobre [as despesas]. Outro dia fiz uma entrevista com o presidente do sindicato dos médicos do Ceará, que comandou aquele ataque aos médicos cubanos. Eu liguei no celular do cara, lá no Ceará. Fiquei quarenta minutos com ele no telefone. Do meu telefone fixo para o celular dele. Vem uma baita conta. É lógico que não faço isso todo mês, senão estou lascado.

[...]

Será que essa matéria é para dizer que o Lula nos paga para a gente dizer que a gente é pago para falar o que a gente fala dele? É por aí?

O Globo – Olha…

Eduardo Guimarães – Precisa achar esse link? Não dá para se admitir que um cidadão tenha um ponto de vista e honestamente ele defenda aquele ponto de vista de frente, de peito aberto, exercendo a sua cidadania?!

O Globo – Eduardo, em momento algum eu disse que estou procurando qualquer ligação sua com qualquer pessoa. Estou querendo somente saber quem é você, como é o seu trabalho, como você começou a atuar como blogueiro…

Eduardo Guimarães – Não tem problema, Bárbara.

[...]
—–
Perguntas por escrito
Ao fim da entrevista gravada, a repórter enviou-me três perguntas por escrito que respondi, mas que não aparecem na matéria que ela me enviou por e-mail.
O GLOBO - Por que você acha que foi escolhido para a entrevista?
RESPOSTA: Seguramente não foi pela minha opinião política, porque há centenas de blogueiros com opinião igual. Acho que os que fizeram a escolha procuraram escolher os blogs nos quais a repercussão seria mais efetiva.
O GLOBO - O que você acha do movimento Volta Lula? 
RESPOSTA: Acho equivocado. Lula é o primeiro a rejeitar a possibilidade de se candidatar em lugar de Dilma e esse seria, inclusive, um erro político, pois daria margem a acharem que Lula fez uma má escolha de sua sucessora.
O GLOBO - Que nota você daria ao governo Dilma? Por quê?
RESPOSTA: Dilma fez um grande governo. Conseguiu manter os brasileiros a salvo da grande depressão que se espalhou pelo mundo a partir de 2008. No Brasil de 2011 a 2014, os salários subiram muito, o desemprego despencou, a desigualdade continuou caindo. Só não dou 10 a Dilma porque ela não enviou ao Congresso o Marco Regulatório das Comunicações, um arcabouço legal que existe até em países comunistas como os Estados Unidos, por exemplo.
—–
Reportagem do caderno digital Globo A Mais, de O Globo de 16 de abril de 2014

por que o DARF continua em silêncio! meu Deus, milhões em silêncio!


Macartismo comercial: Globo intimida anunciantes da Fórum




Por Renato Rovai

abril 17, 2014 11:59

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Acima, Merval e seus “camaradas”

Repórteres do jornal O Globo procuraram ontem quase todos os anunciantes da Fórum neste momento. Mas teve um que eles não procuraram, porque como são “repórteres” de O Globo não dava pra fazer o serviço completo e corretamente. E as perguntas eram em tom de interrogatório policial. Na linha do “por que vocês anunciam num veículo como este?” e o “o que vocês ganham anunciando num veículo como este?”

O Globo inaugurou dessa forma o macartismo comercial. Como não consegue controlar a internet a ponto de nos tirar do ar, como não consegue impedir que nossos veículos parem de crescer e se tornem cada mais importantes, como só perdem espaço no espectro comunicacional, vão tentar nos sufocar pelo bolso. Eles realmente não nos conhecem…

Tudo isso começou por conta da entrevista com o ex-presidente Lula. Vários blogueiros já trataram do assunto. Se o amigo não conhece a história pode dar uma geral lendo no Escrevinhador, no Viomundo, no BlogdaCidadania, no Tijolaço, no Cafezinho e no Marco Aurélio.

Após uma insinuação de Merval e Sardenberg na Rádio CBN de que os blogueiros (ou “alguns” como prefere a jornalista Barbara Marcolini) que foram a entrevista com Lula são corruptos, O Globo decidiu colocar duas de suas mais “importantes” jornalistas investigativas em campo para apurar mais sobre os “camaradas” que entrevistaram o ex-presidente na semana passada. A matéria foi publicada hoje. E o Edu Guimarães a colocou no seu blogue. Eu prefiro poupar meus leitores…

Na apuração, a imaginativa repórter Thais Lobo descobriu que este blogueiro, por exemplo, é doutorando em Comunicação pela UFABC, mestre pela USP, tem 28 anos de profissão e alguns livros publicados. Que já trabalhou em diversos veículos de comunicação, incluindo as organizações Globo, e que também é professor de Jornalismo na considerada por muitos rankings como a melhor faculdade do Brasil, a Cásper Líbero. Mas eis que na matéria apareço como um sujeito que trabalhou com política no “Diário de São Bernardo”. A imaginativa repórter precisava colocar a palavra São Bernardo em algum momento do texto talvez para me tornar mais “camarada” de Lula. E aí inventou um jornal que eu nunca ouvi falar para dizer que trabalhei nele. Eu trabalhei no Diário do Grande ABC, que existe e não é fruto da imaginação de globetes. Alvissaras. O Globo é mesmo Fantástico….

Mas ela precisava também mostrar que sou um castrista fanático. No meu texto sobre o evento publicado no blogue, referindo-me à quantidade de tempo que o presidente falou, 3h30, disse que ele teria se comportado como um Fidel Castro. Mas a Thais deu um jeito e cortou a frase no meio para parecer outra coisa, ou seja, algo mais revolucionário. Querida Thais, cortar frases ao meio é um recurso tão impressionantemente infantil de manipulação de discurso que nem entre a malandragem jornalística ele é mais aceito.

Mas a Thais me gravou por 22m50s. E eu também a gravei. E a avisei disso antes e também na hora que começamos a conversa. Fiz assim porque prezo minha profissão e não gravo nem malandro e nem jornalista de O Globo clandestinamente. Sempre fiz todas as minhas apurações às claras. Entre outras coisas entreguei a ela os números de audiência do site da Fórum. Ou seja, os 5 milhões de page views ao mês. E fui generoso. Dei a fonte pra ela checar a informação, o ComScore, que é utilizado pelas agências de publicidade para direcionar investimentos no digital.

Essa audiência nos coloca hoje entre os sites mais lidos do Brasil de informação e análise política. E anunciar na Fórum é ótimo, barato e muito melhor do que jogar dinheiro fora em veículos sem credibilidade e reputação. Tanto que a Fórum em pesquisa realizada pela Revista Imprensa ficou em segundo lugar entre as revistas com maior engajamento em redes no Brasil. Anunciar na Fórum é algo defensável sob todos os aspectos técnicos. Nosso CPM (Thais, você sabe o que é isso?) é honestíssimo.

Mas o mais interessante de tudo isso é que O Globo botou a Thais atrás de mim porque o Sardenberg e o Merval podem ser processados pelo Eduardo Guimarães por terem insinuado que os blogueiros que foram entrevistar o Lula são corruptos. O Edu já está processando o Gilmar Mendes, pra ele não custa nada levar o Merval e o Sardenberg às barras de um tribunal. Eu sou menos de judicializar as coisas. Tô querendo que eles parem de colocar repórteres jovens que estão buscando se tornar “confiáveis” na estrutura interna para nos perseguirem e topem um papo de frente. Eu quero debater comunicação pública e jornalismo. Mas se eles preferirem posso discutir financiamento e sonegação na área de comunicação (que tal falar de Darfs?). E topo fazê-lo em qualquer lugar e qualquer hora. Minha formação é democrática. E ao mesmo tempo é de alguém que não se esconde atrás dos ombros dos outros. Se tiver que cutucar o Merval e o Sardenberg, vou eu. Não mando recados e nem recadistas. São os bambambans da balacacheta, então bora lá. Marquem hora e local. E levem a platéia. Eu não tenho medo nem da Globo e nem dos seus assalariados. E a Fórum não vai deixar de fazer seu jornalismo sério e respeitado porque a empresa do Jardim Botânico tá botando gente que paga para ficar ligando para nossos anunciantes e fazendo interrogatório.

PS: Ao dar a entrevista para O Globo sabia que ela seria manipulada, por isso gravei. Mas ao mesmo tempo fiz questão de falar porque não tenho nada a esconder. E sempre gosto de resolver as coisas assim, às claras e na lata. Será que o Merval e o Sardenberg tem coragem de atender um repórter da Fórum? Hein, hein…

PS 2: as entrevistas que realizei com Lula foram todas públicas e transmitidas ao vivo por que as que o jornalista Merval Pereira realiza com o cônsul dos EUA só são reveladas pelo Wikileaks?

e o DARF... silêncio! milhões em silêncio!

QUEM MANDOU O GLOBO
SE METER COM A CONCEIÇÃO ?​


Compare currículo da Conceição com o do Kamel, amigo navegante …​


Conversa Afiada




Depois do Fernando Brito e do Rodrigo Viana, agora foi a vez de a Conceição Lemes tratar o Globo Overseas como merece – a tapa, com luva cirúrgica:



CONCEIÇÃO LEMES, 33 ANOS DE ESTRADA: RESPOSTA EM PÚBLICO A O GLOBO



Nessa segunda-feira 13, uma repórter de O Globo enviou-nos um e-mail:

“Estou fazendo uma matéria sobre a entrevista que o ex-presidente Lula concedeu a blogueiros na semana passada. Gostaria de conversar contigo por telefone”.

Pedi que enviasse as perguntas por e-mail. Hoje, às 12h27 elas foram encaminhadas:




Nada contra a repórter. Embora não a conheça, respeito-a profissionalmente como colega.

Já a empresa para a qual trabalha, não merece a nossa consideração.

Com essas perguntas aos blogueiros, O Globo parece estar com saudades da ditadura, quando apresentava como verdadeira a versão dos órgãos de repressão. Exemplo disso foi a da prisão, tortura e assassinato de Raul Amaro Nin Ferreira, em 1971, no Rio de Janeiro.

Com essas perguntas, O Globo parece querer promover uma caça aos blogueiros progressistas. Um macartismo à brasileira.

O marcartismo, como todos sabem, consistiu num movimento que vigorou nos EUA do final da década de 1940 até meados da década de 1950. Caracterizou-se por intensa patrulha anticomunista, perseguição política e dersrespeito aos direitos civis.

O interrogatório emblemático daqueles tempos nos EUA:

Mr. Willis: Well, are you now, or have you ever been, a member of the Communist Party? (Bem, você é agora ou já foi membro do Partido Comunista?)

A sensação com as perguntas de O Globo é que voltamos à ditadura. Agora, a ditadura midiática das Organizações Globo. É como estivéssemos sendo colocados numa sala de interrogatório.

Afinal, qual o objetivo de saber se pertencemos a algum partido político?

Será que O Globo faria essa pergunta aos jornalistas de direita, travestidos de neutros, que rezam pela sua cartilha?

E se fossemos nós, blogueiros progressistas, que fizessemos essas perguntas aos jornalistas de O Globo?

Imediatamente, seríamos tachados de antidemocratas, cerceadores da liberdade de expressão, chavistas e outros mantras do gênero.

Como um grupo empresarial que cresceu graças aos bons serviços prestados à ditadura civil-militar tem moral de questionar ideologicamente os blogueiros que participaram da entrevista coletiva?

Liberdade de imprensa e de expressão vale só para direita e para a esquerda, não?

Como uma empresa que tem no seu histórico o colaboracionismo com a ditadura, o caso pró-Consult, o debate editado do Collor vs Lula, ter sido contra a campanha Pelas Diretas, pode se arvorar em ditar normas de bom Jornalismo e ética?

Como uma empresa que deve R$ 900 milhões ao fisco tem moral para questionar outros brasileiros?

Como um grupo empresarial que recebe, disparadamente, a maior fatia da publicidade do governo federal pode criticar os poucos blogs que recebem alguma propaganda governamental?

O Viomundo, repetimos, não aceita propaganda dos governos federal, estaduais e municipais. É uma opção nossa. Mas respeitamos quem recebe. É um direito.

No Viomundo, não temos nada a esconder. Só não admitimos que as Organizações Globo, incluindo O Globo, com todo o seu histórico, se arvorem no direito de fiscalizar a blogosfera.

Por isso, eu Conceição Lemes, que representei o Viomundo na coletiva, não respondi a O Globo. Preferi responder aos nossos milhares de leitores. Diretamente. E em público.

Seguem as perguntas de O Globo e as minhas respostas.


Qual a sua formação acadêmica?
Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).


Qual a sua atuação profissional antes do blog? Já cobriu política por outros veículos?
Sou editora do Viomundo, onde faço política, direitos humanos, movimentos sociais. Toco ainda o nosso Blog da Saúde.

No início da carreira, fiz um pouco de tudo: economia, política, revistas femininas, rádio…

Há 33 anos atuo principalmente como jornalista especializada em saúde, tendo ganho mais de 20 prêmios por reportagens nessa área. Entre eles, o Esso de Informação Científica, o José Reis de Jornalismo Científico, concedido pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), e o Sheila Cortopassi de Direitos Humanos na área de Comunicação, outorgado pela Associação para Prevenção e Tratamento da Aids e Saúde Preventiva (APTA) com apoio do Unicef.

Conquistei também vários prêmios Abril de Jornalismo, a maioria por matérias publicadas na revista Saúde!, da qual foi repórter, editora-assistente, editora e redatora-chefe.

Em 1995, fui premiada pela reportagem “Aids — A Distância entre Intenção e Gesto”, publicada pela revista Playboy. O projeto que desenvolvi para essa matéria foi selecionado para apresentação oral na 10ª Conferência Internacional de Aids, realizada em 1994 no Japão.

Pela primeira vez um jornalista brasileiro teve o seu trabalho aprovado para esse congresso. Concorri com cerca de 5 mil trabalhos enviados por pesquisadores de todo o mundo. Aproximadamente 300 foram escolhidos para apresentação oral, sendo apenas dez de investigadores brasileiros. Entre eles, o meu. Em consequência, fui ao Japão como consultora da Organização Mundial da Saúde.

Tenho oito livros publicados na área.

O mais recente, lançado em 2010, é Saúde – A hora é agora, em parceria com o professor Mílton de Arruda Martins, titular de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP, e o médico Mario Ferreira Júnior, coordenador de Centro de Promoção de Saúde do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Em 2003/2004, foi a vez da coleção Urologia Sem Segredos, da Sociedade Brasileira de Urologia, destinada ao público em geral.

Os primeiros livros foram em 1995. Um deles, o Olha a pressão!, em parceira com o médico Artur Beltrame Ribeiro.

O outro foi a adaptação e texto da edição brasileira do livro Tratamento Clínico da Infecção pelo HIV, do professor John G. Bartlett, da Universidade Johns Hopkins, nos EUA. A tradução e supervisão científica são do médico Drauzio Varella.


Você é filiada a algum partido político?
Não sou nem nunca fui filiada a qualquer partido político.

Mas me estranha muito uma empresa que apoiou a ditadura, cresceu devido a benesses do regime e hoje se alinhe com todos os espectros da direita brasileira, questione a filiação partidária de um jornalista.

Quer dizer de direita, tudo bem, e de esquerda, não?

Como você definiria os “blogueiros progressistas”? Existe uma linha política?

Somos de esquerda.

Defendemos:

Melhor distribuição da renda no país.

Reforma agrária.

Os movimentos sociais por melhores condições de moradia, trabalho, defesa do meio ambiente, saúde e educação.

Regulamentação dos meios de comunicação.

Valorização do salário mínimo.

Política de cotas raciais nas universidades.

Direitos reprodutivos e sexuais das mulheres brasileiras.

Combate à discriminação e promoção dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais

Imposto sobre grandes fortunas.

Financiamento público de campanha.

Reforma política.

Fortalecimento da Petrobras.

Sistema Único de Saúde.


Como você foi chamada para a entrevista? Recebeu alguma ajuda de custo do instituto?
Por e-mail. Nenhuma ajuda.


O que você achou da seleção de blogueiros para a entrevista? Incluiria, por exemplo, representantes da mídia ninja ou blogueiros “de oposição”, como Reinaldo Azevedo?
O Instituto Lula tem o direito de chamar para entrevistar o ex-presidente quem ele quiser.

Engraçado O Globo perguntar isso. De manhã à madrugada, de domingo a domingo, todos os veículos das Organizações Globo privilegiam, ostensivamente, sem o menor pundonor, vozes do conservadorismo brasileiro e internacional. Pior é que travestido de uma falsa neutralidade.

Por que O Globo pode chamar quem quiser e o ex-presidente Lula, não?

Por que as Organizações Globo não dão espaços iguais à esquerda e à direita, garantindo a pluralidade de opiniões?

No dia em que as Organizações Globo garantirem efetivamente a pluralidade de opiniões, respeitando a verdade factual, aí, sim, seus profissionais poderão questionar os nomes escolhidos por Lula.


Qual foi o ponto mais relevante da entrevista para você?
Ter falado três horas e meia com os blogueiros. Uma conversa em que nenhum assunto foi proibido. Tivemos liberdade plena de perguntar o que queríamos. Uma lição de democracia.


O instituto arcou com os seus custos de deslocamento?
Não. Fui de táxi. Paguei do meu próprio bolso.


Por que você acredita ter sido escolhida para a entrevista?
Quantos jornalistas brasileiros têm o meu currículo profissional? Quantos repórteres da mídia tradicional e da blogosfera produziram tantos furos jornalísticos quanto nós no Viomundo nos últimos cinco anos?

Por isso, deixo essa pergunta para você e os leitores do Viomundo responder.


O que você acha do movimento “Volta Lula”?
Quem tem de achar é a população e os militantes dos partidos da base de apoio do governo.

Sou apenas repórter. Cabe a mim, portanto, retratar o que presencio.


Qual nota você daria ao governo Dilma? Por quê?
O Globo tem fetiche por nota. Quem tem de dar a nota é o eleitorado. Sou repórter e minha opinião neste caso é irrelevante. A não ser que O Globo pretenda usá-la para fazer o que costuma fazer: manipular informação com objetivos políticos, em defesa de interesses da direita brasileira.

terça-feira, 15 de abril de 2014

A nova piada, mas do DARF... nada! Silêncio!

Jogo Sujo
Globo, que não mostrou o DARF, tenta intimidar blogueiros por causa de Lula


publicada segunda-feira, 14/04/2014 às 23:00 e atualizada segunda-feira, 14/04/2014 às 23:21


Escrevinhador


“proponho à Redação de “O Globo” uma troca singela: dou entrevista e respondo tudo o que quiserem saber, desde que a família Marinho (que ficou bilionária graças a uma concessão pública) apresente o famoso DARF e esclareça se pagou (ou não) a suposta dívida com a Receita Federal.”

por Rodrigo Vianna

Não devo um tostão em impostos. Não sei se as “Organizações Globo” podem dizer o mesmo.

 

Roberto Marinho: braços dados com a ditadura

O fato é que os bilionários da família Marinho estão incomodados, e querem intimidar os blogueiros. É uma batalha descomunal. Eu – que batuco meus textos num escritório improvisado no fundo de casa – de repente virei tema de “reportagem” de um império midiático com centenas de jornalistas Brasil afora?

Vejam só. Na tarde de segunda-feira (14/abril), fui procurado por uma suposta jornalista de “O Globo”, que me enviou a singela mensagem: “Prezado Rodrigo, Sou repórter do jornal O Globo e estou fazendo uma matéria sobre a entrevista coletiva do ex-presidente Lula com blogueiros na semana passada. Nós poderíamos conversar por telefone? Atenciosamente, Barbara Marcolini -Jornal O Globo”.

Curioso que o jornal conservador da zona sul carioca tenha levado uma semana para se interessar pelo tema, não? A entrevista de Lula aos blogueiros foi um sucesso enorme, gerando manchetes Brasil afora. A imprensa velha passou recibo. Ficou furiosa.

Editoriais, comentários na TV e rádio, colunistas conservadores: muitos se mobilizaram para atacar os blogueiros “sujos”. Alguns ataques vieram com acusações graves: fomos acusados de ser “financiados” pelo governo federal. E os mais incomodados parecem ser os colunistas das chamadas “Organizações Globo”.

Nada disso é por acaso. Trabalhei na Globo. Sei como essas coisas são. Quando jornal, TV, internet e rádio da família Marinho começam a bater na mesma tecla – ao mesmo tempo – é porque há uma ordem superior, uma determinação do patrão (ou de seus prepostos) para ir fundo naquele assunto.

Pedi que a repórter Barbara me enviasse as perguntas por escrito. Tenho pela repórter (a quem não conheço) respeito profissional. Mas considero “O Globo” e as “Organizações Globo” adversários. E sei que os prepostos da família Marinho me tratam como inimigo. Pessoa de minha família foi demitida da TV Globo, em 2010, depois que passei a assumir um posicionamento político claro em meu blog. Eles chegam a esse nível. São vingativos. Por isso, não há hipótese de responder nada a “O Globo” – a não ser por escrito.

Até as 21h, as perguntas de Barbara não vieram. Mas eu soube que outros blogueiros também foram procurados por jornalistas de “O Globo” – com a mesma pauta: a entrevista de Lula. Pelo menos 3 repórteres diferentes do jornal foram mobilizados na Operação. Objetivo era estabelecer vinculações “comprometedoras” entre os blogueiros e determinadas empresas, entidades e/ou governo (veja aqui a resposta do Fernando Brito, do Tijolaço, à tentativa de intimidação).

Mas não era só isso. Uma das repórteres globais chegou a perguntar a um blogueiro (a entrevista está gravada) se ele tinha filiação partidária. Sim, o macartismo da Globo avançou até esse ponto.

Trata-se de uma Operação para intimidar aqueles que nos últimos anos – ainda que de forma limitada – criaram um contraponto ao poder da velha mídia. Os barões da imprensa velhaca não se conformam com o fato de meia dúzia de blogueiros “sujos” oferecerem uma outra narrativa ao Brasil. A Globo, a Abril e a Folha seguem a ter imenso poder. Mas já não falam sozinhas.

Seria bom que soubessem: com essa tentativa de cerco, em vez de intimidar, vão mobilizar ainda mais blogueiros e internautas.

A Globo não tem estatura moral para cobrar explicações de ninguém. Vamos relembrar alguns episódios recentes:

- a Globo foi acusada de sonegar impostos (mais de 1 bilhão em valores atualizados – clique aqui para saber mais), e até hoje não esclareceu o episódio;

- o processo fiscal em que a Globo era investigada por bilionária sonegação “sumiu” (na verdade, teria sido roubado) de uma agência da Receita Federal no Rio, e a Globo até hoje não explicou o caso;

- um diretor da Globo, Ali Kamel, processa pelos menos 6 blogueiros (entre eles este escrevinhador), numa tentativa clara de intimidação judicial, de calar as vozes que em 2006 e 2010 ajudaram a desmascarar a tentativa da Globo de interferir no processo eleitoral;

- por fim, a Globo (estou falando só da TV) recebeu quase 6 bilhões do governo federal nos últimos anos – como mostra a tabela abaixo, publicada pelo VioMundo e pelo jornalista Fernando Rodrigues.




E essa mesma Globo de 6 bilhões em recursos públicos (recursos dos seus, dos meus impostos!) quer acusar blogueiros de serem “financiados” pelo governo?!

É piada.

De minha parte, sou jornalista profissional. Vivo do trabalho como repórter de TV. Já vendi minha força de trabalho para a “Folha”, a “TV Cultura”, a “TV Globo” – e hoje sou repórter na “TV Record”. Jamais vendi meu cérebro para nenhum patrão. Tenho posições políticas claras. Públicas. E por conta delas comprei briga com a Globo em 2006 – deixando a emissora.

Não vejo nada de anormal em blogs e sites sem vinculação com a velha mídia pleitearem publicidade. Mas, felizmente, não preciso disso para seguir travando o bom combate. Nunca entrei na SECOM do governo federal para tratar de dinheiro. E nem em qualquer outra secretaria de Comunicação Brasil afora.

Minha questão é política. Encaro o debate de forma aberta – jamais de braços dados com ditadores, ou beneficiado por acordos obscuros com embaixadas e governos estrangeiros. O Escrevinhadornão tem em seu currículo: TimeLife, apoio a uma ditadura assassina, escândalo Proconsult contra Brizola em 82, manipulação da cobertura das Diretas-Já, edição criminosa do debate Lula/Collor em 89, combate ao Bolsa-Família, oposição às quotas para negros, tentativa de transformar bolinha de papel num míssil em 2010…

Os gastos mensais para manter meu blog hoje são de aproximadamente 2,5 mil reais. Conto com anúncios do Google (valores irrisórios) e com a colaboração de leitores, e ainda tiro dinheiro do meu bolso para cobrir as despesas. Em 6 anos, devo ter recebido 6 anúncios pontuais de governos ou entidades sindicais. Nenhum deles por mais de um mês. Nenhum deles superior a 2 mil reais (ou seja, no total os anúncios não chegaram a 15 mil reais em quase 6 anos – contra despesas de aproximadamente 150 mil no mesmo período).

Tenho lutado para que os blogueiros se organizem, façam parcerias com empresas ou criem associações para disputar, sim, o direito a participar do bolo publicitário – inclusive as verbas oficiais, que ajudaram a família Marinho a ficar bilionária nos últimos anos.

Aliás, proponho à Redação de “O Globo” uma troca singela: dou entrevista e respondo tudo o que quiserem saber, desde que a família Marinho (que ficou bilionária graças a uma concessão pública) abra suas contas e apresente o famoso DARF – esclarecendo se pagou (ou não) a suposta dívida com a Receita Federal.

Que tal, Bárbara? Passa a sugestão pros seus chefes aí!




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domingo, 13 de abril de 2014

As Veias Abertas


Eduardo Galeano: “Para mim, essa prosa da esquerda tradicional é pesadíssima”

Por Redação Revista Fórum 
abril 12, 2014 





Na Bienal de Brasília, escritor falou a respeito de sua obra mais famosa, As Veias Abertas da América Latina, e sobre o ofício da escrita. “Minha única ambição é ser um escritor capaz de reproduzir a esperança, a razão e a falta de razão deste mundo louco que ninguém sabe para onde vai”

Por Alex Rodrigues, da Agência Brasil

Vencedor de vários prêmios internacionais e com obras traduzidas em diversos idiomas, defensor de propostas contestadoras e frequentemente associado a ideias políticas de esquerda, o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano disse ontem (11), em Brasília (DF), que não voltaria a ler As Veias Abertas da América Latina, seu livro mais conhecido.

“Eu não seria capaz de ler o livro de novo. Para mim, essa prosa da esquerda tradicional é pesadíssima. Meu físico [atual] não aguentaria. Eu cairia desmaiado”, brincou Galeano, que tem 73 anos, O escritor disse que, em todo o mundo, experiências de partidos políticos de esquerda no poder “às vezes deram certo, às vezes não, mas muitas vezes foram demolidas como castigo por estarem certas, o que deu margem a golpes de Estado, ditaduras militares e períodos prolongados de terror, com sacrifícios humanos e crimes horrorosos cometidos em nome da paz social e do progresso”. E, segundo ele, em alguns períodos, “é a esquerda que comete erros gravíssimos”.

Ainda sobre As Veias Abertas da América Latina, Galeano explicou que foi o resultado da tentativa de um jovem de 18 anos de escrever um livro sobre economia política sem conhecer devidamente o tema. “Eu não tinha a formação necessária. Não estou arrependido de tê-lo escrito, mas foi uma etapa que, para mim, está superada.”

Autor internacional homenageado pela 2ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, que começa hoje (11), em Brasília, o escritor disse que, embora algumas das questões abordadas nesse livro continuem “se desenvolvendo e se repetindo”, a realidade mundial mudou muito desde que a obra chegou às livrarias. Hoje, Galeano confessa que não tem interesse em reescrevê-lo ou atualizá-lo.

“A realidade mudou muito. Eu mudei muito. Meus espaços de penetração na realidade cresceram tanto fora, quanto dentro de mim. Dentro de mim, eles cresceram na medida em que eu ia escrevendo novos livros, me redescobrindo, vendo que a realidade não é só aquela em que eu acreditava”,ressaltou o escritor.

“A realidade é muito mais complexa justamente porque a condição humana é diversa. Alguns setores políticos próximos a mim achavam que tal diversidade era uma heresia. Ainda hoje há sobreviventes dessa espécie que acham que toda a diversidade é uma ameaça. Por sorte, não é. Ou seria justa a exigência do sistema dominante de poder que, em escala mundial, nos obriga a uma eleição muito restrita, ridiculamente mesquinha, e nos convida a elegermos como preferimos morrer: de fome ou de aborrecimento”, detalhou Galeano.

O escritor negou a intenção de concorrer a uma vaga no Parlamento uruguaio, o que chegou a ser anunciado pela imprensa local. Garantindo que sua maior ambição é a literatura, Galeano disse que não serve para a carreira política. “Minha única ambição é ser um escritor capaz de reproduzir a esperança, a razão e a falta de razão deste mundo louco que ninguém sabe para onde vai. Ser capaz de entrar nessa realidade que parece ser incompreensível. Isso é algo muito difícil que já me consome todo o tempo.”

Acusando o cansaço da viagem ao Brasil, o escritor evitou responder a algumas perguntas, como o que achava das manifestações populares que tomaram as ruas brasileiras em junho do ano passado; sobre as críticas à realização da Copa do Mundo no Brasil – “este é um tema muito delicado, sobre o qual não é possível se manifestar tão facilmente” – e sobre a persistência de muitas das mazelas apontadas em As Veias Abertas da América Latina. Galeano falou bem do presidente uruguaio José Mujica – “todos o querem” – e brincou com o episódio em que o falecido presidente venezuelano Hugo Chávez presenteou o presidente norte-americano Barack Obama com um exemplar de As Veias Abertas da América Latina.

Aos risos, Galeano disse que nenhum dos dois políticos tinha condições de entender o conteúdo do livro. “Chávez teve a melhor intenção do mundo, mas deu a Obama um livro escrito numa língua que o presidente norte-americano não conhece. Isso foi um gesto generoso, mas também cruel”, disse ele. Sobre outra de suas paixões, o futebol, preferiu não arriscar um prognóstico para a Copa do Mundo. “Não acredito nos profetas. Nem nos bíblicos, que dirá nos esportivos. Assim, o melhor é calar a boca e esperar.”

quinta-feira, 10 de abril de 2014

receitas de vida simples e recomendáveis


O grande segredo de Lula

Posted by eduguim on 09/04/14

Blog da Cidadania






A primeira vez em que entrevistei Lula foi em 24 de novembro de 2010, no Palácio do Planalto, a pouco mais de um mês de ele deixar a Presidência. Aquela entrevista marcou o fim de uma era em que a mídia e a oposição demo-tucana eram enfrentadas diuturnamente pelo então presidente.

Desde o avanço conservador viabilizado pelo escândalo do mensalão a partir de 2005, Lula passou a travar um forte debate retórico com seus adversários e não parou até o último dia de seu governo. Resultado: deixou o Planalto com mais de 80% de aprovação.

Apesar de tolhido pela liturgia do cargo, naquela entrevista de algumas poucas horas em 2010 Lula travou mais debate político com seus adversários do que a presidente Dilma em 3 anos e 3 meses.

Da posse de Dilma em diante, porém, o governo federal tratou de tentar estabelecer uma convivência “civilizada” com os adversários.

Já no primeiro mês de 2011 a presidente foi à festa de 90 anos do jornal Folha de São Paulo, depois foi ao programa Ana Maria Braga e nunca mais objetou qualquer ataque da mídia ao seu governo.

Ao longo de seu primeiro ano, Dilma assistiu a mídia derrubar uma série de ministros, um a um. Em alguns casos, como o do comunista Orlando Silva, então ministro do Esporte, houve grave injustiça. Nem uma única denúncia da mídia contra ele se comprovou.

Não estou criticando Dilma. Acho que ela fez muito pelo país. Só quem sabe quanto sofreram outros povos com a crise econômica internacional é capaz de avaliar como ela foi competente ao longo dos últimos três anos e tanto; impediu os brasileiros de pagarem a conta de uma crise que pôs o mundo de joelhos.

Em minha opinião, Dilma fez um governo igual ao que Lula teria feito se tivesse permanecido no cargo. Aliás, talvez ela tenha ido ainda mais para a esquerda do que ele. Ousou mais, inclusive. Até pelas condições que herdou do antecessor…

É doloroso ver a mídia tentar carimbar na testa de Dilma a pecha de “incompetente” após ela ter impedido que os brasileiros pagassem o custo de uma crise desse quilate. Gerou uma quantidade imensa de empregos, os salários continuaram subindo, a inflação se manteve sob controle, conduziu com brilhantismo o primeiro leilão do pré-sal.

A despeito disso tudo, Dilma não desfruta da mesma boa situação de Lula em termos de popularidade. Simplesmente porque Dilma não é Lula. Aliás, só Lula é Lula.

Dilma não é política, é uma técnica. Debutou em eleições em 2010. E o fez com igual brilhantismo. Mas Dilma não rebate o alarmismo e o pessimismo como Lula fazia. Não se comunica com o povo, com os movimentos sociais, mantém-se focada apenas na governança.

Dilma é uma gerente.

Gerenciar o governo é necessário. Claro que, sendo presidente, ocupando um cargo político, essa gerência tem que ser temperada com uma pitada de política e isso ela faz. E saberá fazer mais, quando chegar a hora. Até porque, já fez em 2010. E com muito menos tarimba do que tem hoje.

Na última terça-feira, porém, Lula entrou em campo. Deu entrevista a blogueiros, entre os quais este que escreve. Só que, desta vez, liberto da liturgia do cargo de presidente, ele falou tudo que tinha entalado na garganta, provocado pelos blogueiros que o arguiram.




Neste ano eleitoral, pois, Lula fará o que Dilma não pode – por ser presidente – e o que pode mas não tem toda aquela habilidade para fazer.

Lula, mais uma vez, colocará em campo a sua tonitruante popularidade e, assim, será, de novo, fiador da presidente junto aos que pedem que ele volte por não quererem votar nela, por razões variadas.

Nesta segunda entrevista com o presidente emérito da República Luiz Inácio Lula da Silva, porém, pude obter dele o que não obtivera em 2010: descobri o segredo de sua exitosa trajetória política.

Lula foi arguido de todas as formas e sobre uma miríade de temas propostos pelos blogueiros na entrevista de cerca de três horas que lhes concedeu no Instituto que leva seu nome – e que o leitor poderá conferir ao fim deste post.

Não irei, porém, reproduzir, ponto a ponto, suas respostas. Isso já foi feito à exaustão por uma imensidão de jornalistas.

A entrevista teve uma enorme repercussão. Chegou a ter o link da transmissão por streaming veiculado em manchete principal dos maiores portais da internet (UOL, G1, Estadão etc.). Muitos viram e relatos do que ocorreu não faltaram.

Quero ficar, pois, na percepção que consegui extrair da figura humana de Lula quatro anos após a primeira oportunidade que tive para tanto.

Finalmente descobri o grande segredo de Lula, que lhe permitiu chegar aonde chegou: ele não tem ódio. Lula não se deixa embriagar pelo rancor. Ele se diverte com os ataques que recebe, mas não nutre sentimentos negativos.

Muito disso se deve ao fato de que não perde tempo com leituras das “reportagens”, dos editoriais, das colunas que pouco encerram além de opinião, mesmo quando prometem fatos e não opiniões.

Os blogueiros conversamos com Lula por mais de quatro horas, desde que chegamos ao seu Instituto até a hora em que ele nos deixou. Ninguém se cansou. Pelo contrário: ele tempera suas falas com bom humor, conta “causos” envolvendo desde chefes de Estado das maiores potências até os dos menores países dando a todos a mesma importância.

Ficamos sabendo, por exemplo, que o ex-ditador egípcio Hosni Mubarak era uma figura detestada por todos nos encontros de chefes de Estado. Antipático, arrogante. Lula nunca gostou dele, quem, inclusive, isolava-se de seus pares. Chegava, discursava e se mandava.

O que me surpreende em Lula, porém, é a forma como se refere aos que o atacam há décadas com todo ímpeto possível e imaginável. E mesmo aos que não o atacam diretamente, mas atacam.

Vejam o caso de Joaquim Barbosa. Não há raiva. Lula se limita a dizer que, sob os critérios que usou para indicá-lo para o STF – ser o jurista negro com melhor qualificação para o cargo de ministro daquela Corte –, repetiria a indicação.

E manda uma espécie de aviso ao escolhido: seu comportamento é de sua exclusiva responsabilidade.

Sem se deixar contaminar pelo ódio que lhe dedicam, Lula preserva sua capacidade de raciocínio – e, de quebra, até uma elogiável generosidade para com os seus detratores.

Com a alma leve é mais fácil fazer escolhas, traçar estratégias, refletir muito antes de agir – aliás, outra tática de Lula para as decisões políticas exitosas que tomou ao longo da parte de sua vida em que venceu o preconceito e se elegeu.

As receitas de vida de Lula são simples e recomendáveis. E as receitas políticas, idem. Ele recomenda ao governo que não deixe as críticas à gestão sem resposta, que rebata cada distorção. Inclusive, dá a mesma receita à Petrobrás. Já deu, pois, todas as dicas. Falta o governo assimilá-las.


*

Confira, abaixo, a íntegra da entrevista de Lula a blogueiros






terça-feira, 8 de abril de 2014

o problema não é a pesquisa, o problema? esses 26%!

Denúncias
Katarina Peixoto: Problema não é a pesquisa, é o poder do macho sobre a fêmea

publicado em 6 de abril de 2014 às 20:51

Viomundo




O problema não é a pesquisa, é o poder (II)

A revelação mais assombrosa da pesquisa veio com a reação a um índice corrigido que, em si mesmo, não representa qualquer alteração ao quadro apresentado.

por Katarina Peixoto, em Carta Maior

Na semana que passou, dois temas mobilizaram o país: os 50 anos do golpe civil-militar que instaurou a última ditadura e a pesquisa do IPEA sobre a tolerância com a delinquência sexista contra mulheres e gays.

Menos de uma semana após a divulgação da pesquisa, no dia 04 último, o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas veio a público divulgar a correção em dois índices, que teriam sido publicados de maneira invertida: um relativo à tolerância com o abuso doméstico do parceiro sobre a parceira, e outro, à afirmação de intenção delinquente de abusar mulheres que usam decote ou algo parecido.

A pesquisa e sua correção, pelo IPEA, revelaram um quadro macabro de disposição, mais do que tolerância, à delinquência sexista, e a correção de dois índices divulgados originariamente reforçaram, de maneira inaudita, a distância que ainda nos separa da democracia no Brasil, hoje. A revelação mais assombrosa da pesquisa veio com a reação a um índice corrigido que, em si mesmo, não representa qualquer alteração ao conjunto do quadro perceptivo apresentado. Esta reação explica a nitidez de nossas disposições autoritárias que seguem ameaçando a democracia.

Então, 26% estão dispostos a estuprar mulher que usa decote e isto é motivo de piada, quer dizer, a cada 4 brasileiros, 1 é um estuprador confesso e isto é irrelevante! E 65% consideram que mulher que apanha e segue com o parceiro gosta de apanhar e isto também é irrelevante.

Pior: o instituto que repôs os números nesses índices é irrelevante! Por quê? Como é isso de ter tanta gente a se dizer e se reivindicar de esquerda, republicanos, esclarecidos, que conseguem rir disso, denunciar a pesquisa, e não o horror que nos assola, a todos?

Num país que segue matando milhares de mulheres por ano, tratadas como delinquentes se tiverem gravidez indesejada, este desprezo por uma retificação honesta, que revela antes de qualquer outra coisa probidade administrativa e funcional, mereceria ele mesmo uma investigação.

Num dia, a democracia é celebrada contra a ditadura. No outro, ter um quarto de brasileiros como estupradores confessos diante de um decote é motivo de piada.

Num dia, denúncia contra a corrupção, no outro, deboche de uma instituição pública que retifica um dado, dando provas de probidade administrativa inconteste.

Pior do que ver um ou outro adolescente com ódio machista e hormônios mal educados a bradar vídeos com apologia ao crime, é ver gente que se pensa de esquerda menosprezando, pelo silêncio retumbante, a revelação de que, para a maioria dos brasileiros, casais gays não podem adotar crianças, e mulheres que apanham e seguem com o parceiro gostam de apanhar.

Também é digna de nota a melancólica observação da falta de limites éticos dos que desprezam esse quadro de tolerância com delitos dessa magnitude civilizatória, em nome de pestilentas disputas por poder. Ditaduras sempre são gratas à mesquinhez.

Quantos institutos, inclusive universitários, já vieram a público retificar suas avaliações antirrepublicanas e decisões avessas a qualquer legalidade? Com que frequência estamos acostumados a lidar com a realidade brutal e dificilmente apreendida, pela via institucional, da violência contra meninas e adolescentes, dentro de suas famílias?

Eu escrevi um texto sobre a pesquisa do IPEA (O problema não é o decote, é o poder) em que afirmo o vínculo político determinante na relação entre os dois dos índices que tiveram seus números divulgados de modo inverso. Nada tenho a mudar no que escrevi: a pesquisa sobre a tolerância com a violência contra nós é uma pesquisa que denota, com rara consistência, a barbárie machista expressa no delírio místico e perverso da naturalização do poder do macho sobre a fêmea.

O conjunto dos dados da pesquisa, que em nada sai abalado pela retificação de dois números, segue autorizando a seguinte afirmação: o problema não é o decote, é o poder. Para 64% dos brasileiros, mulher não pode mandar. É por isso que 26% podem estuprar. Os 26% não contradizem coisa alguma, e poderiam, caso o Instituto de Pesquisa fosse desonesto, ser ocultados. Eles revelam, pode-se inferir do conjunto da obra, uma hipocrisia. Então, quem manda é o macho, mulher que apanha e segue casada gosta, gays não podem adotar, briga entre casais se resolve dentro de casa (e a mulher que não toma providências externas – suprema crueldade – gosta de apanhar).

Pesquisas de percepção são fotografias borradas. Borradas como a memória, como imagens de corpos rasgados e costurados, com laudos fabricados e corpos desaparecidos, como a lembrança daquela tentativa de estupro que não se pôde denunciar, como aquele espancamento que foi denegado, como aquela agressão de histeria e de obscurantismo, que ninguém respeitou. Em cada dado capturado, há um mundo perdido e um mundo encontrado. E entre ambos há a memória, a história e, eventualmente, um diagnóstico.

A pesquisa do IPEA, na semana em que se lembrou do quanto a democracia pode ser frágil e ameaçada, é ela mesma uma denúncia, do quão frágeis e capengas, desonestos e mesquinhos, violentos e tolerantes com a violência, podemos ser.

De todas as revelações, choros e velas da semana que passou, esta foi e é a mais hedionda. Esta pesquisa mostrou por que Paulo Malhães sai andando na rua, por que há milhares de mulheres lutando pela vida agora, em UTIs de hospitais públicos, com infecções causadas por curetagens imundas, por que instituições que admitem erros são atacadas, em vez de respeitadas. Borrada é a nossa memória da tortura, da barbárie, do estupro como arma de silenciamento e humilhação. Borrada é a percepção que organiza todas as formas cotidianas de assédio, de violação sobre a imagem mesma daquilo que vestimos, falamos, expressamos.

Esse caráter turvo contrasta com a nitidez, desgraçada e despudoramente explícita, da nossa tolerância e aceitação com a vigência desses delitos. O problema não é a pesquisa, é a nossa resistência cotidiana à democracia. Isso o que foi revelado e isso é o dramático e triste, em todo esse episódio.


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