sábado, 15 de fevereiro de 2014

Ei, copista! Meça suas palavras


Surra em gay, fogo em ônibus, preso em poste: a gente vê, a gente copia


Leonardo Sakamoto



Se algo causa impacto, é claro que será copiado.

E rapidamente, por conta da informação circulando em tempo real, seja via rádio e televisão, seja pela internet.

Manifestações ocupando ruas e avenidas levam a mais manifestações ocupando ruas e avenidas. O que é bom.

Mas imagens de homossexuais e transexuais apanhando na rua levam a mais homossexuais e transexuais apanhando na rua, de fogo em ônibus levam a mais fogo em ônibus e de gente sendo amarrada em postes levam a mais gente amarrada em postes. O que não é legal.

“Japonês, quer censurar a TV! Japonês quer censurar a internet!'' Afe… (suspiro)

Não estou jogando a culpa no mensageiro ou dizendo que o mimetismo é a causa, mas temos certa parcela de responsabilidade. E não falo por conta da banalização da violência. É a sua transmissão acrítica, como se notícias fossem neutras, não houvesse contexto social e todos os receptores da informação compartilhassem dos mesmos valores.

Não tenho muita esperança que conseguiremos em 2014 fomentar um debate crítico sobre a nossa sociedade. Aliás, começo a torcer para que o ano simplesmente passe logo. Pois o Brasil está virando arquibancada – mas em momento de briga de torcida organizada.

Então, você amigo internauta, amigo jornalista, não transmita ou repasse aberrações sem questionar, pelo amor de Buda. Lembre-se que o seu apoio a um ato idiota – seja objetivo ou por omissão – não muda sozinho a opinião das pessoas, mas unido a outros apoios ajuda a formar uma percepção sobre o assunto.

Em suma, toda pessoa que ajuda a inflar monstros ao longo dos anos ou se omitiu diante disso tem uma parcela de culpa no show de horrores e de vergonha alheia.

Não somos nós que vamos a público cometer agressões. Da mesma forma que não é a mão de pastores ou deputados que seguram a faca, o revólver ou a lâmpada fluorescente que atacam gays e lésbicas. Mas somos nós que, muitas vezes, na busca por audiência ou para encaixar um fato em nossa visão de mundo, tornamos a agressão banal, quase uma necessidade para restabelecer a ordem das coisas.

Então, como diria a minha avó, meça suas palavras.

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