sexta-feira, 28 de junho de 2013

Um Partido da Transformação?


“Estamos devendo muito ao povo brasileiro”



Não mexemos na estrutura deste Estado, que continua sendo uma cidadela dos grandes interesses econômicos e culturais, afirma Olívio Dutra

Brasil de Fato

23/01/2013

Daniel Cassol

de Porto Alegre (RS)



O ex-governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra. Foto: Carlos Kilian/ALESC


Desde quando criticou as “más com­panhias” que teriam levado o PT a enve­redar pelos caminhos ortodoxos da po­lítica, Olívio Dutra vem sendo uma das vozes internas críticas ao processo de inflexão conservadora do próprio parti­do. Fundador do partido, primeiro prefeito petista em Porto Alegre, governa­dor do Rio Grande do Sul entre 1999 e 2002 e ministro das Cidades no primei­ro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Olívio Dutra faz um ba­lanço realista dos dez anos de PT no go­verno federal.



“Não mexemos na estrutura deste Es­tado, que continua sendo uma cidade­la dos grandes interesses econômicos e culturais”, afirma. Em entrevista ao Brasil de Fato, Olívio, que esteve pre­sente no lançamento do jornal durante o Fórum Social Mundial em janeiro de 2003, em Porto Alegre, reconhece os limites da gestão petista, que começou naquele mesmo mês. “Temos uma gran­de dívida pela frente, mesmo que tenha­mos conquistado melhores condições de vida e de protagonismo político de mi­lhões de brasileiros“, reconhece, defen­dendo que o partido e a esquerda reto­mem o debate sobre as transformações necessárias na sociedade brasileira.

Além de um balanço dos últimos dez anos, o ex-governador gaúcho apontou os limites da experiência petista, os de­safios da esquerda e não deixou de refor­çar sua posição sobre a postura do parti­do em relação ao “mensalão”: “O PT ja­mais poderia ter feito isso mas pode, da­qui para frente, se assumir como partido da transformação e não da conciliação”.



Brasil de Fato – O Brasil de Fato foi lançado em janeiro de 2003, logo após a posse de Lula, durante o Fórum Social Mundial. O primeiro número do jornal trazia uma entrevista com o economista Celso Furtado e a manchete: “É preciso coragem para mudar o Brasil”. Passados dez anos do projeto do PT no poder, houve necessária coragem para as mudanças profundas no Brasil?

Olívio Dutra – Lembro de um cidadão da Bossoroca (cidade gaúcha das Mis­sões, terra natal de Olívio) que tinha 90 e tantos anos e dizia: “Coragem não me falta, me falta ar”. Não faltou coragem nos dois mandatos do Lula e neste que está se desenrolando com a Dilma. Mas é bem verdade que não rompemos com conjunturas adversas. Acabamos con­temporizando sob a alegação da gover­nabilidade, tendo que construir uma maioria não programática no Congres­so, tanto no primeiro quanto no segun­do governo do Lula, e até mesmo ago­ra. Mesmo havendo coragem para en­frentar os desafios de um país tão gran­de e com desigualdades imensas, esta maioria não programática sempre pu­xou para baixo a execução de um pro-grama que enfrentasse com radicalida­de situações de desigualdade que pe­nalizam milhões de brasileiros. Então, penso que coragem não faltou.

E políti­ca evidentemente se faz com coragem, mas também com clareza dos objeti­vos. Por isso, penso que ainda há mui­to o que fazer. Estamos devendo muito ao povo brasileiro, mesmo que tenha­mos conquistados direitos sociais, me­lhor distribuição da renda, oportunida­de de emprego e trabalho regular. Mas não fizemos, por exemplo, a reforma agrária com a radicalidade necessária. Com a maioria que constituímos, não fizemos nenhuma das reformas funda­mentais do Estado. Temos uma grande dívida pela frente, mesmo que tenha­mos conquistado melhores condições de vida e de protagonismo político de milhões de brasileiros.

Como o senhor mesmo diz, apesar dos avanços nas áreas econômica e social, os governos Lula e Dilma não enfrentaram questões estruturais. Foi por causa da governabilidade ou o projeto do PT no poder acabou sendo não enfrentar estes temas?

Sou um dos fundadores do PT e até hoje não vi nenhuma instância do par­tido se decidir por um projeto que fi­que estacionário ou que se condicione às conjunturas. Se isso está andando, é por conta de alguns setores que estão se contemplando com o que já se conquis­tou. Se pensamos que dialogar com am­plos setores da sociedade brasileira é suficiente, que isso abre espaços e reduz pressões, o projeto vai ficando, na sua realização, cada vez mais longe. O ho­rizonte vai ficando mais distante. E isso sem ter tido uma discussão.

Qual é o papel de um partido de esquerda e do so­cialismo democrático em sendo governo e tendo representação política para en­frentar um Estado que não é o que aco­lhe um projeto de transformação social? Não mexemos na estrutura deste Es­tado, que continua sendo uma cidade­la dos grandes interesses econômicos e culturais. As elites se sentem muito con­trariadas em terem tido a fraqueza de deixar o povo brasileiro eleger um me­talúrgico para a Presidência da Repúbli­ca, e agora uma mulher que vem de uma luta que não é a luta que eles sempre pa­trocinaram. Mas isso não os impede de continuar tendo poder. Porque poder não é apenas estar no governo. O prota­gonismo do povo brasileiro ainda preci­sa ser estimulado, provocado. Nós che­gamos no governo e de certa forma con­temporizamos com as coisas.

Os movi­mentos sociais têm presença nos conse­lhos aqui e acolá, mas isso garante força para os movimentos sociais e mobiliza­ção ampla que um governo de transfor­mação precisa ter na base da sociedade para poder avançar? Isso não temos res­pondido como partido. Aliás, qual o pro­jeto que a esquerda brasileira tem para o país, não apenas para ganhar eleições? Como a esquerda vê o Brasil e a possibi­lidade de transformá-lo? E estabelecer entre si compromissos e poder alternar­se por dentro da esquerda, e não a es­querda disputar esta ou aquela eleição e depois ter que fazer negociações em que o seu projeto se estilhaça e o horizon­te da transformação fica cada vez mais distante.

O PT é o maior partido de es­querda do país e não nasceu de gabine­tes, mas está cada vez mais dependente destes nichos de poder dentro de um Es­tado que está longe de ter esse controle público e popular efetivo. E estamos ge­rindo esse Estado. É uma discussão sé­ria que precisamos nos debruçar sobre ela. O PT tem que fazer a obrigação de fazer isso. Não esgotou este projeto na medida em que não se tornar um parti­do da acomodação e se mantiver como partido da transformação.


O senhor defende a necessidade de a esquerda, não só o PT, discutir o que quer para o Brasil.

O PT aceitou o jogo democrático, mas a democracia não é estática, é um pro­cesso. Temos que estabelecer formas de ir desmontando a lógica do Estado que funciona bem para poucos e mal para a maioria. Temos que discutir como agir por dentro do Estado, em um processo democrático, mas não perdendo o obje­tivo estratégico de ganhar força na base da sociedade, semear transformações. Não temos que sair com um tijolo em cada mão, ou dando murro em ponta de faca, mas temos que ter consciência que o partido tem de ser uma escola política. Pode haver uma alternância entre as fi­guras dos diferentes partidos de esquer­da, desde que haja um compromisso de sequência do projeto de transforma­ção, e não de acomodação. Nosso parti­do tem que tirar lições dos governos que já exercemos, mas não ficar se autoelo­giando e nem se remoendo. Há uma rea­lidade a ser enfrentada. E é preciso ter povo mobilizado constantemente, não como massa de manobra, mas para for-mar uma base de sustentação.

O senhor acredita que ainda haja espaço para isso no PT? O senhor e outros dirigentes vêm defendo uma retomada de velhas tradições do PT, mas não é ilusório imaginar que o partido voltar a ser algo que já não é mais?

Eu não prego este retorno, mas tam­bém afirmo que, sem raízes, uma árvore não tem tronco com seiva sufi ciente pa­ra sustentar a galharia lá em cima. E es­sas raízes são as lutas sociais e popula­res, de um período histórico importante do país, no qual se originou esse ambien­te de fundação do PT. A conjuntura mun­dial é desafiadora. Vamos buscar apenas nos adaptar? Não é uma oportunidade de darmos um salto? O PT tem que debater isso.

As instâncias partidárias afrouxa­ram-se de tal maneira que inclusive tive­mos pessoas importantes do PT que co­meteram políticas que não se diferen­ciam das políticas tradicionais que sem­pre condenamos, sob alegação da gover­nabilidade e essas coisas todas. Isso não pode ser culpa apenas desta ou daque­la figura, mas as estruturas partidárias não estavam suficientemente atentas ou atuantes, e se criaram essas situações em que as pessoas pensavam que podiam fa­zer ou desfazer coisas que depois se jus­tificariam pelos objetivos. E isso levou a essa situação que estamos sofrendo, que é a Ação Penal 470, o chamado mensa­lão, que não pode ser o objetivo do nosso debate ficar remoendo, acusando aqui ou ali, mas se superando.

Achar que pode­mos comprar e vender opinião, comprar e vender posições, comprar e vender vo­tos, isso é o pior da política, que tem des­graçado o povo brasileiro e desqualifica­do as instituições políticas. O PT jamais poderia ter feito isso mas pode, daqui para frente, se assumir como partido da transformação e não da conciliação.


Apesar das críticas ao julgamento do mensalão, o governador gaúcho Tarso Genro vem afirmando em artigos que o partido deve mudar de agenda. É o que o senhor está dizendo também?

O partido não deve ficar se justificando, mas não deve também colocar a ca­beça no chão como avestruz. Tem que assumir que houve erros de conduta po­lítica. Não é condenar Fulano ou Bel­trano, mas assumir que em uma situa­ção tal, as instâncias do partido não fo­ram capazes de não se deixar aprovar por condutas assim. E ir adiante, evi­dentemente. Penso que a política para nós tem que ser a construção do bem comum, com protagonismo das pesso­as. O Estado, para funcionar bem, tem que estar sob controle público efetivo. Esse é um objetivo, colocar o Estado sob controle da sociedade. E para isso é pre­ciso ter espaço para os movimentos so­ciais, instigá-los dentro da sua autono­mia. Um governo tem limites para exe­cutar coisas, mas não pode submeter os movimentos sociais a esses limites que tem na institucionalidade.

O Brasil de Fato foi lançado durante o Fórum Social Mundial. O balanço que o senhor faz do FSM e das coisas que aconteceram no Brasil e na América Latina nestes dez anos é otimista ou pessimista?

É realista. Há avanços importantes, que não fossem as edições do FSM não teriam acontecido. Agora, há coisas que poderiam ter ido mais longe. O FSM também não pode ficar atrelado e depen­dente de governos, mesmo que sejam go­vernos sérios e comprometidos com as lutas sociais. O Fórum tem que ter for-mas de fazer com que suas deliberações ecoem nas instâncias supranacionais, nos organismos internacionais. O fato de o FSM ter perdido um pouco do foco, porque se mundializou, passou a aconte­cer em diferentes locais e depois ter en­contros maiores, continentais, para de­pois ter um encontro global, tem que ser revisto, para não se perder.

E qual o balanço realista que o senhor faz da imprensa alternativa brasileira neste período?

Cresceu muito, eu penso. Temos mui­tos veículos alternativos, mas qual é o conteúdo, o que estão provocando? Pen-so que esse florescimento de uma im­prensa alternativa é um caminho im­portante para enfrentar os grandes gru­pos econômicos que lidam com a infor­mação. É preciso ter uma miríade de fon­tes alternativas de informação e comuni­cação. Mas precisam ter uma visão, não é cada uma no seu território, na sua ca­tegoria, é preciso ter uma visão de como as coisas se relacionam, se interligam. E isso também é papel dos partidos polí­ticos, instigar essas relações e a qualifi­cação da intervenção. Temos um gover­no com problemas sérios na relação com os grandes grupos econômicos e a gran­de mídia.

A grande mídia se alimenta das contas de publicidade do governo e das empresas públicas. Enquanto isso, pa­ra jornais e veículos alternativos sobram migalhas. São questões políticas e preci­sam ser encaradas. Isto é uma dívida que ainda não saldamos.

terça-feira, 25 de junho de 2013

ocê já parou pra pensar, e se...

Motivos da crise
Stédile: o capital dominou as cidades


publicada terça-feira, 25/06/2013 às 15:29 e atualizada terça-feira, 25/06/2013 às 15:45


Escrevinhador


do Brasil de Fato



1. Como você analisa as recentes manifestações que vem sacudindo o Brasil nas ultimas semanas? Qual é base econômica para elas terem acontecido?

Há muitas avaliações de porque estão ocorrendo estas manifestações. Me somo à analise da professora Erminia Maricato, que é nossa maior especialista em temas urbanos e já atuou no Ministério das cidades na gestão Olivio Dutra. Ela defende a tese de que há uma crise urbana instalada nas cidades brasileiras provocadas por essa etapa do capitalismo financeiro. Houve uma enorme especulação imobiliária que elevou os preços dos alugueis e do terrenos em 150% nos últimos três anos. O capital financiou sem nenhum controle governamental, a venda de automóveis, para enviar dinheiro pro exterior e transformou nosso transito um caos. E nos últimos dez anos não houve investimento em transporte publico. O programa habitacional “Minha casa, minha vida” empurrou os pobres para as periferias, sem condições de infra-estrutura. Tudo isso gerou uma crise estrutural em que as pessoas estão vivendo num inferno, nas grandes cidades, perdendo, três quatro horas por dia no transito, quando poderiam estar com a família, estudando ou tendo atividades culturais. Somado a isso, a péssima qualidade dos serviços públicos em especial na saúde e mesmo na educação, desde a escola fundamental, ensino médio, em que os estudantes saem sem saber fazer uma redação. E o ensino superior virou loja de vendas de diplomas a prestações, onde estão 70% dos estudantes universitários.

2. E do ponto de vista político, por que aconteceu?

Os quinze anos de neoliberalismo e mais os últimos dez anos de um governo de composição de classes transformou a forma de fazer política em refém apenas dos interesses do capital. Os partidos ficaram velhos em suas praticas e se transformaram em meras siglas que aglutinam, em sua maioria, oportunistas para ascender a cargos públicos ou disputar recursos públicos para seus interesses. Toda juventude nascida depois das “Diretas já” não teve oportunidade de participar em política. Hoje, para disputar qualquer cargo, por exemplo, de vereador o sujeito precisa ter mais de um milhão de reais, deputado custa ao redor de dez milhões. Os capitalistas pagam e depois os políticos obedecem.

A juventude está de saco cheio dessa forma de fazer política burguesa, mercantil. Mas o mais grave foi que os partidos da esquerda institucional, todos eles, se moldaram a esses métodos. Envelheceram e se burocratizaram. E portanto gerou na juventude uma ojeriza à forma dos partidos atuarem. E eles têm razão. A juventude não é apolítica, ao contrario, tanto é que levou a política para as ruas, mesmo sem ter consciência do seu significado. Mas está dizendo que não agüenta mais assistir na televisão essas práticas políticas, que sequestraram o voto das pessoas, baseadas na mentira e na manipulação. E os partidos de esquerda precisam reaprender que seu papel é organizar a luta social e politizar a classe trabalhadora. Senão cairão na vala comum…da história.


3. E porque as manifestações eclodiram somente agora?

Provavelmente tenha sido a soma de diversos fatores de caráter da psicologia de massas, do que de alguma decisão política planejada. Somou-se todo o clima que comentei, mais as denúncias de superfaturamento das obras dos estádios, que é um acinte ao povo. Vejam alguns episódios. A rede Globo recebeu do governo do estado do Rio e da prefeitura 20 milhões de reais de dinheiro publico, para organizar o showzinho de apenas duas horas, do sorteio dos jogos da Copa das Confederações. O estádio de Brasília custou 1,4 bilhões e não tem ônibus na cidade! A ditadura explícita e as maracutaias que a FIFA/CBF impuseram e os governos se submeteram. A reinauguração do Maracanã foi um tapa no povo brasileiro. As fotos eram claras, no maior templo do futebol mundial não havia nenhum negro ou mestiço! E aí o aumento das tarifas de ônibus, foi apenas a faísca para ascender o sentimento generalizado de revolta, de indignação. A gasolina para a faísca veio do governo Alkmin que, protegido pela mídia que ele financia e acostumado a bater no povo impunemente, como fez no Pinheirinho, e em outros despejos rurais e urbanos, jogou sua polícia para a barbárie. Aí todo mundo reagiu.

Ainda bem que a juventude acordou. E nisso houve o mérito do Movimento Passe Livre, que soube capitalizar essa insatisfação popular e organizou os protestos na hora certa.


4.Por que a classe trabalhadora ainda não foi à rua?

É verdade, a classe trabalhadora ainda não foi para a rua. Quem está na rua são os filhos da classe média, da classe média baixa, e também alguns jovens do que o André Singer chamaria de sub-proletariado, que estudam e trabalham no setor de serviços, que melhoraram as condições de consumo, mas querem ser ouvidos. Esses últimos apareceram mais em outras capitais e nas periferias.

A redução da tarifa interessava muito a todo povo e esse foi o acerto do Movimento passe livre, soube convocar mobilizações em nome dos interesses do povo. E o povo apoiou as manifestações e isso está expresso nos índices de popularidade dos jovens, sobretudo quando foram reprimidos.

A classe trabalhadora demora a se mover, mas quando se move, afeta diretamente ao capital. Coisa que ainda não começou acontecer. Acho que as organizações que fazem a mediação com a classe trabalhadora ainda não compreenderam o momento e estão um pouco tímidas. Mas a classe, como classe, acho que esta disposta a também lutar. Veja que o numero de greves por melhorias salariais já recuperou os padrões da década de 80. Acho que é apenas uma questão de tempo, e se as mediações acertarem nas bandeiras que possam motivar a classe a se mexer. Nos últimos dias, já se percebe que em algumas cidades menores e nas periferias das grandes cidades já começam a ter manifestações com bandeiras de reivindicações bem localizadas. E isso é muito importante.


4. E vocês do MST e dos camponeses também não se mexeram ainda…

É verdade. Nas capitais onde temos assentamentos e agricultores familiares mais próximos já estamos participando. E inclusive sou testemunho de que fomos muito bem recebidos com nossa bandeira vermelha e com nossa reivindicação de Reforma Agrária e alimentos saudáveis e baratos para todo povo. Acho que nas próximas semanas poderá haver uma adesão maior, inclusive realizando manifestações dos camponeses nas rodovias e municípios do interior. Na nossa militância está todo mundo doido para entrar na briga e se mobilizar. Espero que também se mexam logo….

5. Qual é, na sua opinião, a origem da violência que tem acontecido em algumas manifestações?

Primeiro vamos relativizar. A burguesia através de suas televisões tem usado a tática de assustar o povo colocando apenas a propaganda dos baderneiros e quebra-quebra. São minoritários e insignificantes diante das milhares de pessoas que se mobilizaram. Para a direita, interessa colocar no imaginário da população que isso é apenas bagunça e no final, se tiver caos, colocar a culpa no governo e exigir a presença das forças armadas. Espero que o governo não cometa essa besteira de chamar a guarda nacional e as forças armadas para reprimir as manifestações. É tudo o que a direita sonha!

Quem está provocando as cenas de violência é a forma de intervenção da Policia Militar. A PM foi preparada desde a ditadura militar para tratar o povo sempre como inimigo. E nos estados governados pelos tucanos (SP, RJ e MG), ainda tem a promessa de impunidade.

Há grupos direitistas organizados com orientação de fazer provocações e saques. Em são Paulo atuaram grupos fascistas. E leões de chácaras contratados. No Rio de Janeiro atuaram as milícias organizadas que protegem seus políticos conservadores. E claro, há também um substrato de lumpesinato que aparece em qualquer mobilização popular, seja nos estádios, carnaval, até em festa de igreja, tentando tirar seus proveitos.


6. Há então uma luta de classes nas ruas ou é apenas a juventude manifestando sua indignação?

É claro que há uma luta de classes na rua. Embora ainda concentrada na disputa ideológica. E o que é mais grave, a própria juventude mobilizada, por sua origem de classe, não tem consciência de que está participando de uma luta ideológica. Vejam, eles estão fazendo política da melhor forma possível, nas ruas. E aí escrevem nos cartazes: somos contra os partidos e a política? E por isso tem sido tão difusa as mensagens nos cartazes. Está ocorrendo em cada cidade, em cada manifestação, uma disputa ideológica permanente da luta dos interesses de classes. Os jovens estão sendo disputados pelas idéias da direita e pela esquerda. Pelos capitalistas e pela classe trabalhadora.

Por outro lado, são evidentes os sinais da direita muito bem articulada, e de seus serviços de inteligência, que usam a internet, se escondem atrás das máscaras e procuram criar ondas de boatos e opiniões pela internet. De repente uma mensagem estranha alcança milhares de mensagens. E aí se passa a difundir o resultado como se ela fosse a expressão da maioria. Esses mecanismos de manipulação foram usados pela CIA e o departamento de estado Estadunidense, na primavera árabe, na tentativa de desestabilização da Venezuela, na guerra da Síria. E é claro que eles estão operando aqui também para alcançar os seus objetivos.


7. E quais são os objetivos da direita e suas propostas?


A classe dominante, os capitalistas, os interesses do império Estadunidense e seus porta-vozes ideológicos que aparecem na televisão todos os dias, tem um grande objetivo: Desgastar ao máximo o governo Dilma, enfraquecer as formas organizativas da classe trabalhadora, derrotar qualquer proposta de mudanças estruturais na sociedade brasileira e ganhar as eleições de 2014 para recompor uma hegemonia total no comando do estado brasileiro, que agora está em disputa.

Para alcançar esses objetivos, eles estão ainda tateando, alternando suas táticas. Às vezes provocam a violência, para desfocar os objetivos dos jovens. Às vezes colocam nos cartazes dos jovens a sua mensagem. Por exemplo, a manifestação do sábado, embora pequena, em são Paulo, foi totalmente manipulada por setores direitistas que pautaram apenas a luta contra a PEC 37, com cartazes estranhamente iguais e palavras de ordem iguais. Certamente a maioria dos jovens nem sabem do que se trata. E é um tema secundário para o povo, mas a direita está tentando levantar as bandeiras da moralidade, como fez a UDN em tempos passados. Isso que já estão fazendo no congresso, logo logo, vão levar às ruas.

Tenho visto nas redes sociais controladas pela direita, que suas bandeiras, alem da PEC 37, são: Saída do Renan do senado; CPI e transparência dos gastos da COPA; declarar a corrupção crime hediondo e fim do foro especial para os políticos. Já os grupos mais fascistas ensaiam FORA DILMA e abaixo-assinados pelo impechment. Felizmente essas bandeiras não tem nada ver com as condições de vida das massas, ainda que elas possam ser manipuladas pela mídia. E objetivamente podem ser um tiro no pé. Afinal, é a burguesia brasileira, seus empresários e políticos que são os maiores corruptos e corruptores. Quem se apropriou dos gastos exagerados da copa? A rede Globo e as empreiteiras!


9.Quais os desafios que estão colocados para a classe trabalhadora e as organizações populares e partidos de esquerda?

Os desafios são muitos. Primeiro devemos ter consciência da natureza dessas manifestações, e irmos todos para a rua, disputar corações e mentes para politizar essa juventude que não tem experiência da luta de classes. Segundo, a classe trabalhadora precisa se mover. Ir para a rua, manifestar-se nas fábricas, campos e construções, como diria Geraldo Vandré. Levantar suas demandas para resolver os problemas concretos da classe, do ponto de vista econômico e político. Terceiro, precisamos explicar para o povo quem são os principais inimigos do povo. E agora são os bancos, as empresas transnacionais que tomaram conta de nossa economia, os latifundiários do agronegócio, os especuladores.

Precisamos tomar a iniciativa de pautar o debate na sociedade e exigir a aprovação do projeto de redução da jornada de trabalho para 40 horas; exigir que a prioridade de investimentos públicos seja em saúde, educação, reforma agrária. Mas para isso o governo precisa cortar juros e deslocar os recursos do superávit primário, aqueles 200 bilhões que todo ano vão para apenas 20 mil ricos, rentistas, credores de uma divida interna que nunca fizemos, deslocar para investimentos produtivos e sociais. E é isso que a luta de classes coloca para o governo Dilma: os recursos públicos irão para a burguesia rentista ou para resolver os problemas do povo?

Aprovar em regime de urgência para que vigore nas próximas eleições uma reforma política de fôlego, que no mínimo institua o financiamento público exclusivo da campanha. Direito a revogação de mandatos e plebiscitos populares auto-convocados.

Precisamos de uma reforma tributária que volte a cobrar ICms das exportações primárias e penalize a riqueza dos ricos, e amenize os impostos dos pobres, que são os que mais pagam.

Precisamos que o governo suspenda os leilões do petróleo e todas as concessões privatizantes de minérios e outras áreas publicas. De nada adianta aplicar todo royalties do petróleo em educação, se os royalties representarão apenas 8% da renda petroleira, e os 92% irão para as empresas transnacionais que vão ficar com o petróleo nos leilões!

Uma reforma urbana estrutural, que volte a priorizar o transporte publico, de qualidade e com tarifa zero. Já está provado que não é caro e nem difícil instituir transporte gratuito para as massas das capitais. E controlar a especulação imobiliária.

E finalmente, precisamos aproveitar e aprovar o projeto da conferência nacional de comunicação, amplamente representativa, de democratização dos meios de comunicação. Para acabar com o monopólio da Globo, e para que o povo e suas organizações populares tenham amplo acesso a se comunicar, criar seus próprios meios de comunicação, com recursos públicos. Ouvi de diversos movimentos da juventude que estão articulando as marchas, que talvez essa seja a única bandeira que unifica a todos: abaixo o monopólio da Globo!

Mas para que essas bandeiras tenham ressonância na sociedade e pressionem o governo e os políticos, somente acontecerá se a classe trabalhadora se mover.


1O. O que o governo deveria fazer agora?

Espero que o governo tenha a sensibilidade e a inteligência de aproveitar esse apoio, esse clamor que vem das ruas, que é apenas uma síntese de uma consciência difusa na sociedade, que é hora de mudar. E mudar a favor do povo. E para isso o governo precisa enfrentar a classe dominante, em todos os aspectos. Enfrentar a burguesia rentista, deslocando os pagamentos de juros para investimentos em áreas que resolvam os problemas do povo. Promover logo as reformas políticas, tributárias. Encaminhar a aprovação do projeto de democratização dos meios de comunicação.

Criar mecanismos para investimento pesados em transporte público, que encaminhem para a tarifa zero. Acelerar a reforma agrária e um plano de produção de alimentos saídos para o mercado interno.

Garantir logo a aplicação de 10% do PIB em recursos públicos para a educação em todos os níveis, desde as cirandas infantis nas grandes cidades, ensino fundamental de qualidade até a universalização do acesso dos jovens a universidade publica.

Sem isso, haverá uma decepção e o governo entregará para a direita a iniciativa das bandeiras, que levarão a novas manifestações, visando desgastar o governo até as eleições de 2014. É hora do governo aliar-se ao povo, ou pagar a fatura no futuro.


11. E que perspectivas essas mobilizações podem levar para o país nos próximos meses?


Tudo ainda é uma incógnita. Porque os jovens e as massas estão em disputa. Por isso que as forças populares e os partidos de esquerda precisam colocar todas suas energias, para ir para a rua. Manifestar-se, colocar as bandeiras de luta de reformas que interessam ao povo. Porque a direita vai fazer a mesma coisa e colocar as suas bandeiras, conservadoras, atrasadas, de criminalização e estigmatização das idéias de mudanças sociais. Estamos em plena batalha ideológica, que ninguém sabe ainda qual será o resultado. Em cada cidade, cada manifestação, precisamos disputar corações e mentes. E quem ficar de fora, ficará de fora da história.



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a grobobo quer o vizinho sentado no controle, não quer o vizinho pensando...


A GLOBO ESCULACHA A POLÍTICA
E NÃO QUER REFORMÁ-LA


Se reformar, a soberania popular se torna mais legitima, musculosa, representa melhor os interesses do povo. Plebiscito, Constituinte exclusiva, não !

Conversa Afiada





A questão do plebiscito e da Constituinte exclusiva para a reforma política e eleitoral expôs a monumental hipocrisia da Big House.

A Big House gosta do povo nas ruas, para derrubar a Dilma.

Para ir a um plebiscito, jamais !

Nessa dialética, Fernando Henrique é o Tartufo em sua mais cristalina essência.

E a Globo ?

Nenhum instrumento da Big House esculacha mais a Política e os Políticos do que a Globo.

Mais que o Supremo do Gilmar.

O Alexandre Maluf Garcia, na verdade, é o mais inofensivo nesse ataque implacável: ficou manjado.

Denúncias de aumentos de salários, maracutaias generalizadas, escândalo do painel, Emenda Tio Patinhas, falta ao serviço, corrupção deslavada…

Mas, na hora de convocar o plebiscito que o Presidente do Supremo parece preferir, aí, não !

Para que reformar a Política e a a forma de eleger os Políticos ?

Não, deixa como está a patifaria emplumada.

Por que a tartufice, amigo navegante Ricardo ?

A Globo esculacha a política e os políticos para desqualificar a representação popular, a soberania popular, a única que legítima a Democracia e as Leis.

A Globo tenta tirar um pedaço da soberania popular, reduzir seu tamanho.

E, com isso, transferir o controle o Estado para ela, Globo, seus colonistas (*) e especialistas – aqueles multi-embusteiros que entendem nada de tudo.

A Globo esculacha a Política e os Políticos, porque, assim, ela desloca o poder para os economistas dos bancos, que preferem as atas do Banco Central a qualquer Constituição.

E levar o poder ao Supremo Tribunal Federal, onde, em última instância, planeja dar um Golpe Paraguaio.

Agora, Ricardo, na hora de fazer a reforma do que ela condena, aí, não !

Se reformar piora !

Se melhorar fica ruim.

Se reformar, a soberania popular se torna mais legítima, musculosa, representa melhor os interesses do povo.

Plebiscito, Constituinte exclusiva, não !

A Globo, a bordo de iluminados helicópteros, com microfones encapuzados, estimula a anomia.

Para derrubar a Dilma diante um Congresso impotente.

E os bancos e o Supremo, no pelotão da frente, assumem o controle.

É o que a Globo e os tartufos maiores e menores querem, Ricardo.

Paulo Henrique Amorim


(*) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

domingo, 23 de junho de 2013

o primeiro movimento sério de cidadania digital

A chance de se implantar a democracia digital


Autor:  Luis Nassif
Coluna Econômica
Esgotada a fase das passeatas e manifestações públicas, com algumas recaídas aqui e ali, o país entrará na fase do pós-manifestações.
Então, haverá desafio para estadista nenhum botar defeito. Quem entender os novos tempos, se consagrará; quem não entender, estará fora do jogo.
***
Qualquer estratégia política não pode ignorar as características dos novos tempos:
  1. O campo político, doravante, é o online, as redes sociais. São as novas ágoras, as praças púbicas das democracias gregas. Não dá para fugir da arena.
  2. As decisões políticas de gabinete estão definitivamente superadas. O país já avançou com a Lei de Transparência, que expõe alguns dados a posteriori. Terá que começar a trabalhar com formas de democracia direta.
  3. O cidadão entrou, finalmente, no centro das políticas públicas. Na segunda-feira, por exemplo, no embalo das manifestações, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) anunciará uma comissão de juristas para trabalhar a Lei de Proteção aos Direitos do Usuário de Serviços Públicos. É típica reação civilizatória contra um dos pontos centrais de abuso, a ausência de Estado na regulação dos serviços públicos.
  4. O atual arcabouço político-partidário envelheceu irreversivelmente. Não haverá como fugir ao tema central da reforma política, definindo formas que eliminem, de vez, os financiamentos privados de campanha.
  5. É hora de se repensar a questão da militarização da Polícia Militar.
***
A presidente da República Dilma Rousseff tem a faca e o queijo na mão. Se tiver discernimento, as manifestações poderão se constituir no empurrão definitivo para lançar o país em uma nova etapa da democracia.
Há um roteiro à vista, a ser protagonizado por Dilma.
O primeiro passo é radicalizar uma iniciativa sua, a Lei da Transparência – que obriga todos os órgãos públicos a disponibilizarem dados na Internet. Já existem experiências no Brasil e no mundo, sobre o uso inteligente das redes sociais para fiscalização de obras e serviços públicos.
***
Tome-se o caso dos transportes urbanos em São Paulo. Embora atropelado pelos fatos, o prefeito Fernando Haddad é um dos políticos com cabeça mais aberta para participação popular.
Ora, aproveite o impulso dado pelo Movimento Passe Livre e exponha todos os dados das empresas de transporte à fiscalização das redes sociais. Coloque os GPs dos ônibus, as rotas seguidas, o número de passageiros de cada trajeto, os dados do trajeto, as planilhas de custos e peça a parceria da rapaziada, ensinando como analisar os dados e como disciplinar as empresas.
***
Já existem ferramentas tecnológicas para monitoramento de obras públicas, para análises de contratos, para montar fóruns de discussão, para captar os sentimentos nas redes sociais. Através de um sistema de redes, o governo não ficará prisioneiro de indicadores que, muitas vezes, servem de biombo para esconder funcionários relapsos.
Sem rompantes, Dilma abriu os dados públicos com a Lei de Transparência. É hora de avançar e expor os sistemas de decisão aos olhos das redes sociais.
A crise, se bem interpretada, poderá permitir ao Brasil montar o primeiro movimento sério de cidadania digital.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O rio chamado luta de classes


Não há um “movimento” em disputa, mas uma multidão sequestrada por fascistas



Por Marco Aurélio Weissheimer no SUL 21


O que começou como uma grande mobilização social contra o aumento das passagens de ônibus e em defesa de um transporte público de qualidade está descambando a olhos vistos para um experimento social incontrolável com características fascistas que não podem mais ser desprezadas. A quem interessa uma massa disforme na rua, “contra tudo o que está aí”, sem representantes, que diz não ter direção, em confronto permanente com a polícia, infiltrada por grupos interessados em promover quebradeiras, saques, ataques a prédios públicos e privados, ataques contra sedes de partidos políticos e a militantes de partidos, sindicatos e outros movimentos sociais? Certamente não interessa à ainda frágil e imperfeita democracia brasileira. Frágil e imperfeita, mas uma democracia. Neste momento, não é demasiado lembrar o que isso significa.

Uma democracia, entre outras coisas, significa existência de partidos, de representantes eleitos pelo voto popular, do debate político como espaço de articulação e mediação das demandas da sociedade, do direito de livre expressão, de livre manifestação, de ir e vir. Na noite de quinta-feira, todos esses traços constitutivos da democracia foram ameaçados e atacados, de diversas formas, em várias cidades do país. Houve violência policial? Houve. Mas aconteceram muitas outras coisas, não menos graves e potencializadoras dessa violência: ataques e expulsão de militantes de esquerda das manifestações, ataques a sedes de partidos políticos, a instituições públicas. Uma imagem marcante dessa onda de irracionalidade: os focos de incêndio na sede do Itamaraty, em Brasília. Essa imagem basta para ilustrar a gravidade da situação.

Não foram apenas militantes do PT que foram agredidos e expulsos de manifestações. O mesmo se repetiu, em várias cidades do país, com militantes do PSOL, do PSTU, do MST e pessoas que representavam apenas a si mesmas e portavam alguma bandeira ou camiseta de seu partido ou organização. Em Porto Alegre, as sedes do PT e do PMDB foram atacadas. Em Recife, cerca de 200 pessoas foram expulsas da manifestação. Militantes do MST e de partidos apanharam. O prédio da prefeitura da cidade foi atacado. Militantes do MST também apanharam em São Paulo e no Rio de Janeiro, entre outras cidades. Em São Paulo, algumas dessas agressões foram feitas por pessoas armadas com facas. E quem promoveu todas essas agressões e ataques. Ninguém sabe ao certo, pois os agressores agiram sob o manto do anonimato propiciado pela multidão. Sabemos a identidade de quem apanhou, mas não de quem bateu.

Desde logo, cabe reconhecer que os dirigentes dos partidos, dos governos e dos meios de comunicação têm uma grande dose de responsabilidade pelo que está acontecendo. Temos aí dois fenômenos que se retroalimentam: o rebaixamento da política à esfera do pragmatismo mais rasteiro e a criminalização midiática da política que coloca tudo e todos no mesmo saco, ocultando da população benefícios diários que são resultados de políticas públicas de qualidade que ajudam a vida das pessoas. Há uma grande dose de responsabilidade a ser compartilhada por todos esses agentes. A eternamente adiada Reforma Política não pode mais esperar. Em um momento grave e difícil da história do país, o Congresso Nacional não está em funcionando. É sintomático não ter ocorrido a nenhum dos nossos representantes eleitos pelo voto convocar uma sessão extraordinária ou algo do tipo para conversar sobre o que está acontecendo.

Dito isso, é preciso ter clareza que todos esses problemas só poderão ser resolvidos com mais democracia e não com menos. O rebaixamento da política à esfera do pragmatismo rasteiro exige partidos melhores e um voto mais esclarecido. A criminalização da política, dos partidos, sindicatos e movimentos sociais exige meios de comunicação mais responsáveis e menos comprometidos com grandes interesses privados. Não são apenas “os partidos” e “os políticos” que estão sendo confrontados nas ruas. É a institucionalidade brasileira como um todo e os meios de comunicação são parte indissociável dessa institucionalidade. Não é a toa que jornalistas, equipamentos e prédios de meios de comunicação estão sendo alvos de ataques também. Mas não teremos meios de comunicação melhores agredindo jornalistas, incendiando veículos de emissoras ou atacando prédios de empresas jornalísticas.

Uma certa onda de irracionalidade atravessa esse conjunto de ameaças e agressões, afetando inclusive militantes, dirigentes políticos e ativistas sociais experimentados que demoraram para perceber o monstro informe que estava se formando. E muitos ainda não perceberam. Após as primeiras grandes manifestações que começaram a pipocar por todo o país, alimentou-se a ilusão de que havia um “movimento em disputa” nas ruas. O que aconteceu na noite de quinta-feira mostra claramente que não há “um movimento” a ser disputado. O que há é uma multidão disforme e descontrolada, arrastando-se pelas ruas e tendo alvos bem definidos: instituições públicas, prédios públicos, equipamentos públicos, sedes de partidos, jornalistas, meios de comunicação. Os militantes e ativistas de organizações que tentaram começar a fazer essa disputa na noite de quinta foram repelidos, expelidos e agredidos. Talvez isso ajude a clarear as mentes e a desarmar um pouco os espíritos para o que está acontecendo.

Não é apenas a democracia, de modo geral, que está sob ameaça. Há algo chamado luta de classes, que muita gente jura que não existe, que está em curso. Não é à toa que militantes do PT, do PSOL, do PSTU, do MST e de outras organizações de esquerda apanharam e foram expulsos de diversas manifestações ontem. Com todas as suas imperfeições, erros, limites e contradições, o ciclo de governos da última década e em outros países da América Latina provocou muitas mudanças na estrutura de poder. Não provocou todas as necessárias e esse é, aliás, um dos fatores que alimentam a explosão social atual. Mas muitos interesses de classe foram contrariados e esses interesses não desistiram de retornar ao poder plenamente. Tem diante de si uma oportunidade de ouro.

Como jornalista, militante político de esquerda e cidadão, já firmei uma convicção a respeito do que está acontecendo. Uma multidão cuja direção (rumo) passou a ser atacar instituições públicas, sem representantes, infiltrada por grupos de extrema-direita, que rejeita partidos políticos e hostiliza manifestantes de esquerda, não só não me representa como passa a ser algo a ser combatido politicamente. Ou alguém acha que setores das forças armadas e da direita brasileira estão assistindo a tudo isso de braços cruzados?

Será que está acontecendo 1964 2.0? Quem viver verá... Dilma, Não é hora de recuar!


What is this, “companheiro”?


21 de Jun de 2013 | 17:45




Recebi e copio aqui um texto da maior importância, que deve ser lido por todos os que ainda duvidam da presença de grupos organizados de provocadores e por gente contrária ao Brasil que se aproveita dos desejos generosos que movem os jovens que estão se manifestando em todo o Brasil.

Tem boi na linha. #changebrazil? Qual seus interesses?

“Quanto mais pessoas colocarem pressão sobre o Brasil, mais rápido o Brasil terá que se dobrar” Diz porta-voz anônimo do movimento ChangeBrazil

Nem tudo que está acontecendo parece ser espontâneo. Qualquer pessoa que já tenha trabalhado com planejamento de campanha publicitária, especialmente online, sabe que algo assim é possível. Não é tão diferente de planejar o lançamento de um filme ou turnê para o público jovem.

Há um movimento na internet, que surgiu no dia 14 de junho, voltado principalmente para jovens, chamado #changebrazil (surgiu assim mesmo, em inglês). Em português o nome do movimento é Muda Brasil. Esse movimento postou vídeos, aparentemente espontâneos, que foram vistos por mais de 1 milhão de pessoas, a maioria deles jovens (muitos secundaristas) que estão indo para as manifestações em clima de festa e máscara V de Vingança.

Na quinta-feira, dia 13 de junho a polícia de Geraldo Alckmin (PSDB) reprimiu de forma violenta manifestantes do Movimento Passe Livre, cidadãos e jornalistas. Logo no dia seguinte a grande imprensa passou a defender o movimento e surgiu um vídeo, em inglês, com legendas em inglês, que se intitulava “Please Help us” (Por favor, nos ajude). O vídeo, com um narrador com visual rebelde (alguém sabe quem ele é?) que já foi visto por mais de 1 milhão e 300 mil pessoas, passa rapidamente sobre tarifa de ônibus, critica a mídia e estimula aos jovens o ódio contras os políticos, enaltece o STF e estimula quem ver o vídeo a espalhá-lo e debater o assunto na internet. Sugiro que quem não entende o clima da juventude no protesto ou que tem ilusões de que eles são de esquerda, o assista. http://youtu.be/AIBYEXLGdSg

O vídeo parece simples, mas a iluminação e fundo é profissional, foi feito em estúdio, e se prestar atenção, verá que o manifestantes (alguém o conhece?) de inglês perfeito, está lendo um teleprompter. O vídeo é feito em inglês, mas a maioria dos comentários é de brasileiros. Não há acessos a estatísticas. O vídeo foi feito e visto provavelmente por brasileiros, jovens, de classe média e alta que falam inglês. Fala da Copa do Mundo (preste atenção: todos falarão). E termina dizendo que “o povo é mais forte que aqueles eleitos para governá-los”.

Que movimento pelo Passe Livre faria um vídeo em inglês ? Que é esse sujeito? Quem pagou essa produção, feita em estúdio com teleprompter? http://youtu.be/AIBYEXLGdSg

As dicas sobre quem ele é o que as pessoas que estão por trás disso querem estão no segundo vídeo, postado durante as manifestações de segunda-feira. Este fala em português. Carregado de sotaque, celebra a tomada do Congresso Nacional por “protestantes” (sic). Esse vídeo foi menos visto, mas não pouco visto, são 66 mil pessoas. http://youtu.be/z-naoGBSX9Y Ele dá parabéns pela manifestação, pelas pessoas mostrarem que “amam” seu país. E segue para dar instruções. Cita as hashtags #changebrazil e o #brazilacordou. Diz que o público não pode se desconcentrar nisso pelo gol do Neymar, ou pelo BBB. Diz que não devem falar de outros assuntos. Mas ao mesmo tempo a mensagem é vazia além de “Muda Brasil”. Ele se refere sempre sobre o que acontece como isso. E no minuto 2:06 ele diz para as pessoas fazerem o material para o exterior porque “quanto mais pessoas colocarem pressão sobre o Brasil, mais rápido o Brasil terá que se dobrar”.

Que movimento é esse que quer mudar o Brasil fazendo ele se dobrar?

Ele mistura nas pautas do seu “movimento coisas que todos defendem, como contra a corrupção, e mais verbas para saúde e educação. Talvez por “coincidência” as mesmas pautas centrais, com a mesma linha de discurso foi postada em um vídeo suspostamente feito pelo grupo Anonymous justamente quando as tarifas iam baixar para propor novas causas. Ele já foi visto por 1 milhão e 400 mil pessoas http://youtu.be/v5iSn76I2xs Importante lembrar que como os vídeos do Anonymous usam imagem padrão e voz falada por digitada pelo Google, e são postadas em contas do Youtube aleatórias qualquer um pode fazer um vídeo se dizendo Anonymous.

O nosso amigo de sotaque não é o único vídeo que veio de fora. Já ficou famoso o vídeo de uma menina bonitinha, Carla Dauden, uma brasileira que mora em Los Angeles, falando contra a Copa do Mundo. Na descrição do vídeo ela diz que tinha feito o vídeo antes dos protestos (talvez para justificar a produção apurada), mas postou no dia 17 de junho . Carla diz Mais de 2 milhões de pessoas o viram. De novo, em inglês com legendas. Pretensamente para o exterior, mas de novo a maioria dos comentários é brasileiro. Ou seja, são para jovens que falam inglês. Diz mentiras como que os custos do evento teriam sido 30 bilhões de dólares, o que parece que os estádios custaram isso. Quando na verdade os custos reais são 28 bilhões de dólares, a maior parte em obras de mobilidade urbana, não estádios – veja o vídeo aqui http://youtu.be/ZApBgNQgKPU Mas quem está checando acusações?

Prestem atenção. A soma de apenas esses 3 vídeos somente deu 5 milhões de visualizações no Youtube.

Dê uma busca por changebrazil ou Muda Brasil, o nome dos vídeos em português do “movimento” que quer dobrar o Brasil no Youtube, e descubra você mesmo. Será que está acontecendo um 1964 2.0?

“Quanto mais pessoas colocarem pressão sobre o Brasil, mais rápido o Brasil terá que se dobrar” Diz porta-voz anônimo do movimento ChangeBrazil

Nem tudo que está acontecendo parece ser espontâneo. Qualquer pessoa que já tenha trabalhado com planejamento de campanha publicitária, especialmente online, sabe que algo assim é possível. Não é tão diferente de planejar o lançamento de um filme ou turnê para o público jovem.

Há um movimento na internet, que surgiu no dia 14 de junho, voltado principalmente para jovens, chamado #changebrazil (surgiu assim mesmo, em inglês). Em português o nome do movimento é Muda Brasil. Esse movimento postou vídeos, aparentemente espontâneos, que foram vistos por mais de 1 milhão de pessoas, a maioria deles jovens (muitos secundaristas) que estão indo para as manifestações em clima de festa e máscara V de Vingança.

Na quinta-feira, dia 13 de junho a polícia de Geraldo Alckmin (PSDB) reprimiu de forma violenta manifestantes do Movimento Passe Livre, cidadãos e jornalistas. Logo no dia seguinte a grande imprensa passou a defender o movimento e surgiu um vídeo, em inglês, com legendas em inglês, que se intitulava “Please Help us” (Por favor, nos ajude). O vídeo, com um narrador com visual rebelde (alguém sabe quem ele é?) que já foi visto por mais de 1 milhão e 300 mil pessoas, passa rapidamente sobre tarifa de ônibus, critica a mídia e estimula aos jovens o ódio contras os políticos, enaltece o STF e estimula quem ver o vídeo a espalhá-lo e debater o assunto na internet. Sugiro que quem não entende o clima da juventude no protesto ou que tem ilusões de que eles são de esquerda, o assista. http://youtu.be/AIBYEXLGdSg

O vídeo parece simples, mas a iluminação e fundo é profissional, foi feito em estúdio, e se prestar atenção, verá que o manifestantes (alguém o conhece?) de inglês perfeito, está lendo um teleprompter. O vídeo é feito em inglês, mas a maioria dos comentários é de brasileiros. Não há acessos a estatísticas. O vídeo foi feito e visto provavelmente por brasileiros, jovens, de classe média e alta que falam inglês. Fala da Copa do Mundo (preste atenção: todos falarão). E termina dizendo que “o povo é mais forte que aqueles eleitos para governá-los”.

Que movimento pelo Passe Livre faria um vídeo em inglês ? Que é esse sujeito? Quem pagou essa produção, feita em estúdio com teleprompter? http://youtu.be/AIBYEXLGdSg

As dicas sobre quem ele é o que as pessoas que estão por trás disso querem estão no segundo vídeo, postado durante as manifestações de segunda-feira. Este fala em português. Carregado de sotaque, celebra a tomada do Congresso Nacional por “protestantes” (sic). Esse vídeo foi menos visto, mas não pouco visto, são 66 mil pessoas. http://youtu.be/z-naoGBSX9Y Ele dá parabéns pela manifestação, pelas pessoas mostrarem que “amam” seu país. E segue para dar instruções. Cita as hashtags #changebrazil e o #brazilacordou. Diz que o público não pode se desconcentrar nisso pelo gol do Neymar, ou pelo BBB. Diz que não devem falar de outros assuntos. Mas ao mesmo tempo a mensagem é vazia além de “Muda Brasil”. Ele se refere sempre sobre o que acontece como isso. E no minuto 2:06 ele diz para as pessoas fazerem o material para o exterior porque “quanto mais pessoas colocarem pressão sobre o Brasil, mais rápido o Brasil terá que se dobrar”.

Que movimento é esse que quer mudar o Brasil fazendo ele se dobrar?

Ele mistura nas pautas do seu “movimento coisas que todos defendem, como contra a corrupção, e mais verbas para saúde e educação. Talvez por “coincidência” as mesmas pautas centrais, com a mesma linha de discurso foi postada em um vídeo suspostamente feito pelo grupo Anonymous justamente quando as tarifas iam baixar para propor novas causas. Ele já foi visto por 1 milhão e 400 mil pessoas http://youtu.be/v5iSn76I2xs Importante lembrar que como os vídeos do Anonymous usam imagem padrão e voz falada por digitada pelo Google, e são postadas em contas do Youtube aleatórias qualquer um pode fazer um vídeo se dizendo Anonymous.

O nosso amigo de sotaque não é o único vídeo que veio de fora. Já ficou famoso o vídeo de uma menina bonitinha, Carla Dauden, uma brasileira que mora em Los Angeles, falando contra a Copa do Mundo. Na descrição do vídeo ela diz que tinha feito o vídeo antes dos protestos (talvez para justificar a produção apurada), mas postou no dia 17 de junho . Carla diz Mais de 2 milhões de pessoas o viram. De novo, em inglês com legendas. Pretensamente para o exterior, mas de novo a maioria dos comentários é brasileiro. Ou seja, são para jovens que falam inglês. Diz mentiras como que os custos do evento teriam sido 30 bilhões de dólares, o que parece que os estádios custaram isso. Quando na verdade os custos reais são 28 bilhões de dólares, a maior parte em obras de mobilidade urbana, não estádios – veja o vídeo aqui http://youtu.be/ZApBgNQgKPU Mas quem está checando acusações?

Prestem atenção. A soma de apenas esses 3 vídeos somente deu 5 milhões de visualizações no Youtube.

Dê uma busca por changebrazil ou Muda Brasil, o nome dos vídeos em português do “movimento” que quer dobrar o Brasil no Youtube, e descubra você mesmo. Será que está acontecendo um 1964 2.0?

Por: Fernando Brito

quinta-feira, 20 de junho de 2013

a "revolução" na tela da Globo, como tentaram na Venezuela


A revolta dos bem nascidos e a “revolução” na tela da Globo






Por Davis Sena Filho — BlogPalavra Livre


Vamos à pergunta que não quer calar e à dúvida que está no ar: o sistema midiático de negócios privados é a favor das manifestações de estudantes, mas por que nunca apoia as greves, por exemplo, dos servidores públicos, dos bancários, dos rodoviários, dos médicos e dos professores? E agora vamos a outra pergunta que também teima em não calar: por que a imprensa corporativa e alienígena sempre atacou, com veemência, intolerância e preconceito os partidos trabalhistas, além de distorcer a realidade de praticamente todos os movimentos da sociedade organizada e que lutam há décadas por seus direitos constitucionais e civis?


Dou como exemplo os Movimentos dos Trabalhadores Sem-Teto, Sem-Terra e dos indígenas, somente para explicitar esses, porque existem milhares de grupos sociais que lutam diuturnamente para conquistar uma vida de melhor qualidade e que não são ouvidos e muito menos reconhecidos como força da sociedade pelos grupos econômicos midiáticos, que, conservadores, recusam-se a ouvir e a dar voz aos trabalhadores, aos índios e aos despossuídos, bem como combatem e distorcem os objetivos de suas legítimas reivindicações.


Então, por que a Rede Globo e todos os grupos de mídia eletrônica e impressa que seguem a agenda econômica e financeira dos interesses do capitalismo internacional apoiaram incondicionalmente o movimento dos estudantes, inclusive incitando-o, ao vivo, a ocupar espaços públicos, como a Ponte Rio-Niterói, o que, evidentemente, é o fim da picada e a falta de total responsabilidade por parte dos donos, dos diretores e dos jornalistas da Globo, que estão a apagar o incêndio com gasolina, pois não é necessário ser um gênio para perceber que um conflito no decorrer de um trajeto como o de uma ponte de grandeza monumental certamente pode acabar em tragédia.


Dito isto, vamos à resposta: a imprensa, as mídias de caráter hegemônico e, portanto, monopolistas, apoiaram o movimento dos estudantes por oito motivos: 1- Se partidarizaram e são de oposição aos governos trabalhistas; 2- Ano que vem tem eleições presidenciais e o PSDB está enfraquecido; 3- As Organizações(?) Globo e seus principais parceiros midiáticos não querem que os eventos esportivos (Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíadas) sejam um sucesso para o País e o seu povo, mas apenas um sucesso para os seus bolsos e cofres, com inserções de propaganda ao preço de R$ 400 milhões no horário nobre, ao tempo em que desqualifica e desconstrói os eventos esportivos no Jornal Nacional, no Bom Dia Brasil e incessantemente na Globo News e até mesmo no canal SporTv; 4- Quem trouxe os megaeventos para o Brasil foi o ex-presidente trabalhista Lula, cuja administração efetivou as conquistas sociais, e, para o desgosto da direita, as evidenciou internacionalmente; 5- A presidenta trabalhista Dilma Rousseff é a mandatária herdeira de Lula e, oficialmente, a anfitriã dos jogos; 6- A imprensa de direita e de tradição histórica golpista está de olho nas eleições de 2014 e não vai permitir que Dilma Rousseff, eventual candidata a presidente do PT, colha os frutos da Copa; e 7- O movimento dos estudantes é conservador, sem objetivos concretos e se diz “apolítico”, sendo que não existem manifestações e protestos apolíticos, pois ninguém é ingênuo, nem mesmo os “ingênuos” que se dizem “contra a corrupção”, como se a grande maioria dos trabalhadores e das pessoas em geral não o fossem; e 8- A Globo sabe que o movimento é conservador e por causa disto apoia os protestantes, porém, se for necessário e perceber que não vai ser alvo de retaliações e protestos, vai, seguramente, retomar as críticas à moda Arnaldo Jabor, que ofendeu desrespeitosamente os estudantes e depois recebeu uma ordem de algum dos irmãos Marinho para se retratar, porque nas ruas muitos cantavam “O povo não é bobo; abaixo a Rede Globo!”


Trata-se de uma manifestação, irrefragavelmente, solta e com episódios de violência explícita, que fez a Globo, logo no início dos protestos, volto a repetir, escancarar os dentes do establishment e rosnar, propagar seu discurso moralista tradicional, que faz da palavra “ordem” uma espécie de ultimato antes de bombardear com seu canhão midiático aqueles que tal empresa “global” considera como grupos ou pessoas que possam colocar em “perigo” os seus interesses políticos, bem como os interesses das grandes corporações que têm a Globo como sua porta-voz e ferramenta de propaganda de combate aos movimentos sociais desde 1965 quando ela foi criada em plena ditadura militar.


A Globo medrou, pois ciente de que poderia ser alvo dos manifestantes, recuou, retirou sua logomarca dos microfones dos repórteres e passou a cobrir os eventos de helicóptero, bem longe do povo que ela diz gostar todos os dias no RJ TV e em seus jornais similares nos estados outros da Federação, pois, arrogante e presunçosa, quer fazer a vez dos prefeitos e das autoridades eleitas, pois sua intenção é desconstruir os políticos, desqualificar a política e, por intermédio desse processo draconiano, efetivar o domínio político e econômico das corporações privadas sobre o estado nacional.


A Globo quer governar no lugar dos eleitos, e, esperta e malandra, aderiu ao movimento estudantil vazio de propósitos, porque sem pauta, sem coordenação e perigosamente “apolítico”, como afirmam muitos dos estudantes. Quando grupos ou pessoas ou multidões são contrários à politica, que é a essência natural dos entes humanos e das sociedades, resta o caminho perigoso e violento do fascismo, pois com a falta de uma referência que sirva de ponte entre os poderes e a sociedade, quem vai ocupar esse vácuo de poder vão ser os fascistas, os fundamentalistas do mercado e os aventureiros. Essas realidades se repetiram muitas vezes na história da humanidade. Não é novidade. Ponto.


E os empresários como ficam? Qual é a responsabilidade deles? E as caixas pretas que escondem e acobertam todas as mazelas do sistema de transportes em todas as grandes e médias cidades, que movimentam bilhões de reais e não apresentam à sociedade, de forma transparente, os lucros, os dividendos e os gastos. A imprensa comercial e privada praticamente não questiona esse segmento empresarial. Por quê? É cúmplice? Afinal, a revista Veja, a Última Flor do Fáscio, foi cúmplice e parceira do bicheiro Carlinhos Cachoeira, que a Folha de S. Paulo, o diário que emprestava os seus carros para carregar presos da ditadura militar, insistia em chamar o bicheiro de empresário. E os governantes? Eles vão rever os custos, no que é relativo à responsabilidade dos empresários, além de mudar a relação institucional com esses magnatas dos transportes? Quem viver verá.


O Ministério Público, que atualmente se preocupa em fazer política partidária e embargar obras importantes para o desenvolvimento do País, e, consequentemente, não exerce condignamente a sua função e trabalho, resolveu se mexer. Até então não denunciava, com a ênfase necessária, os desmandos de mandatários e de empresários, no que tange a defender o povo dos maus serviços do transporte público e da ganância dos empresários que atuam nesse setor. Esse meio é uma máfia poderosa, influente e violenta e que financia fortemente as campanhas eleitorais. Todo mundo sabe disso. Até os recém-nascidos e os idiotas por convicção.


Entretanto, o Ministério Público aparentemente não se mexia e somente agora anuncia que vai exigir, em nome do povo, satisfações aos empresários e às prefeituras municipais. É que o MP, com representações em todos os estados — leia-se Procuradoria Geral da República (PGR) — do procurador Roberto Gurgel, antes desses protestos, estava a se preocupar com a PEC 37, ou seja, a PGR está preocupada, e há muito tempo, em fazer politica e não trabalha pelos interesses e desejos do povo brasileiro, que talvez tal instituição os considere ordinários, simples, de rotina ou do dia a dia, e essas realidades devem deixar certos promotores ou procuradores deprimidos, aborrecidos, fragorosamente entediados, e por isto e por causa disto muitos deles preferiram fazer politica, em âmbito federal, para que suas vidas se tornassem mais emblemáticas, emocionantes, aventureiras, além de favorecerem, evidentemente, o espectro em que grande parte desses promotores agem e atuam: o campo político da direita.


O Movimento Passe Livre (MPL) não iniciou suas atividades hoje e nem ontem. Ele existe há anos e nunca foi levado a sério pela imprensa e muito menos pela maioria dos estudantes da classe média tradicional e média alta, que não se locomovem de ônibus, trens ou metrô, pois a maioria anda de carros e veículos escolares. São jovens que compõem a parte da classe média oportunista politicamente, pois despolitizada, rancorosa e colonizada, que tem ódio da ascensão social dos pobres, dos negros, dos recentemente incluídos e que vota em partidos conservadores e consomem os produtos editoriais da mídia conservadora e velhaca. Igualzinho aos seus pais. A mesma mídia de mercado que combatia o Movimento Passe Livre nos tempos do ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, aliado na época dos políticos do PSDB paulista. O MPL era escondido pela imprensa imperialista e desqualificado pelos seus jornalistas pagos para pensar o que seus patrões pensam.

O pau está a quebrar nas ruas das capitais brasileiras, e a polícia não pode intervir sem ser alvo de críticas açodadas para preservar o patrimônio público, mesmo quando em perigo de ser depredado, não pelos estudantes e, sim, pelos vândalos rebeldes sem causa. Opino sobre as ações policiais especificamente no concerne ao aspecto legal, que fique claro a quem lê este artigo, pois sou contra, terminantemente, a qualquer violência praticada pelo estado contra os estudantes.


Contudo, ocorrem saques, pichações, roubos, furtos, assaltos, depredações de lojas e agressões físicas. A própria imprensa aliada dos protestos mostra e ameniza os crimes, que não devem ser amenizados, porque se fossem levados a efeito pelos movimentos sociais que, ao contrário dessas manifestações, tem agenda política e lutam por seus direitos há décadas, a exemplo do MST, a imprensa burguesa e as instituições e os órgãos de repressão do estado já estavam, sem sombra de dúvida, a criticar açodadamente e a reprimir duramente aqueles que, porventura, ousassem quebrar as vidraças ou tocar em algum caixa eletrônico de uma agência de banco. É verdade ou não é? Sua consciência decide.


Há quase duas semanas os jovens que se relacionam pela internet ou pelas redes sociais realizaram a primeira manifestação das muitas que se sucederam em todo o País. Tais protestos se transformaram, ratifico mais uma vez, em grandes eventos heterogêneos, politicamente e ideologicamente primitivos, desorganizados, com vândalos infiltrados e pessoas, como se comprovou depois, que se mostraram alheias às reivindicações. Os pleitos se transformaram em uma miscelânea de contestações, na verdade um emaranhado de gritos de ordens e de cartazes, que não condizem com os propósitos e os objetivos iniciais das manifestações de ruas contra o aumento de R$ 0,20 das tarifas de ônibus. Os prefeitos recuaram, abriram-se ao diálogo, mostraram as planilhas e informaram que o orçamento vai ter de ser modificado, a fim de atender as reivindicações dos estudantes. Haverá uma reengenharia e considero que a sociedade brasileira já sabe disso.


O Brasil avançou, e muito, em suas conquistas sociais e econômicas. É visível e palpável e somente não reconhece quem não quer enxergar, por motivos ideológicos, partidários, culturais, de ordem preconceituosa, de classe social, que leva à intolerância política e, por seu turno, à contestação vazia, porque falta uma agenda que elenque as reivindicações e que prevê também a abertura de diálogo, de maneira democrática e respeitosa. Não adianta os reacionários de plantão apostarem no golpismo, tão a caráter das classes privilegiadas, que querem impedir a distribuição de renda e de riqueza. Não é de bom alvitre as classes média tradicional e alta, frequentadoras há mais de cem anos de universidades federais e estaduais reeditarem a Marcha da Família com Deus e pela Liberdade, porque a que está a acontecer é maior, com maior tempo de duração e não tem, insisto, uma ainda uma agenda política para debater o Brasil e dialogar com consciência, com seus interlocutores, que são e têm de ser as autoridades eleitas e não a os donos e os seus empregados do sistema midiático privado.


O MPL foi questionado por vários grupos extremistas, à esquerda e à direita, que apostaram e ainda apostam em rompimento institucional para favorecer a oposição partidária ao Governo trabalhista. A oposição (PSDB, DEM, PPS e PSOL) que neste momento está enfraquecida, porque não tem programa de governo, projeto de País, enfim, propostas para o povo brasileiro. Em 2014, veremos se a corrente politica democrática que está no poder e mudou o Brasil para melhor tem ainda fôlego para vencer as eleições. Do contrário, a oposição tucana assume a Presidência, com o apoio dos barões proprietários do sistema midiático, dos setores ricos e rentistas inconformados com os juros mais baixos e, inapelavelmente, com o apoio da classe média conservadora, cujos filhos estão nas ruas, pois portadora dos valores e dos princípios das classes dominantes. Todos os países brigam, ou seja, disputam duramente para ter em suas terras eventos internacionais, que, evidentemente, proporcionam inúmeros benefícios em infraestrutura, sociais e econômicos. Não tem como ser diferente. Torna-se imperativo ter muito espírito de porco para não compreender essas questões, que inclusive transformam o Brasil em um País ainda mais internacional. O tempo mostrará, pois ele é o senhor da razão.


A Copa das Confederações já é um sucesso de público e o retorno financeiro vai se concretizar. A Copa do Mundo de 2014 vai ser uma das melhores. A Globo vai encher a burra de dinheiro, bem como os seus anunciantes, e, malandramente, no Jornal Nacional, vai dizer que os eventos são e serão um fracasso, ainda mais no Governo do PT. Só não dá mais para dizer que o Brasil não sabe construir estádios. Quando essa gente viu os estádios prontos ficou furiosa, porque não imaginava tanta competência. Eles torcem contra o Brasil e tergiversam, distorcem, manipulam e disfarçam seus desprezos e rancores e desamores. Vários grupos e em diferentes capitais gritavam: “Foda-se o Brasil”! Afirmo novamente: todos os países disputam duramente para ter em suas terras eventos esportivos internacionais. Aqui no Brasil é o contrário. O complexo de vira-lata, o DNA de escravagista e a alma subserviente e colonizada impedem, definitivamente, que essa gente reconheça o Brasil e os direitos de seu povo. Vamos ver que tem mais garrafas para vender em 2014. A maioria do povo trabalhador que vota na Dilma, definitivamente, não está a ocupar as ruas. Só não vale golpe de estado midiático, a "revolução" na tela da Globo, como tentaram na Venezuela.

Seis anos após o Brasil ser confirmado como sede da Copa do Mundo de 2014, as pessoas resolvem protestar somente agora, e exatamente no decorrer dos jogos da Copa das Confederações? Por quê? Não houve tempo para combinar pela internet? Os manifestantes acham que falam pelo Brasil profundo e pelo povo? Esses jovens que se dizem apolíticos e cuja pauta era a passagem do transporte público e depois passaram a ter mil pautas incongruentes e incoerentes, como se fosse o “Samba do Crioulo Doido”, de Sérgio Porto, tem de ser ouvidos, pois são cidadãos brasileiros, mas, sobretudo, não falam em nome do povo brasileiro, que elegeu a presidenta Dilma Rousseff, porque seria muita presunção.


Além disso, se os partidos e outras associações e agremiações quiserem participar das manifestações, os líderes do MPL têm de aceitar e não querer um movimento sectário, afinal o PT, por exemplo, é um partido orgânico, inserido na sociedade, e, inquestionavelmente, foi forjado nas ruas e nas fábricas e universidades. Ou esses rapazes e moças pensam que as passeatas começaram a ocorrer no Brasil na semana passada? Sugiro que o MPL convide os políticos do PSDB e do DEM, além de seus aliados da Globo, para também participar das manifestações. O problema é saber se eles vão aceitar caminhar nas ruas. Eu duvido. O melhor é citar a conhecidíssima frase de Hamlet: "Há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia". É isso aí

Que as manifestações não sejam passageiras! Nem sejam desvirtuadas!

Política
Yuri Franco: Direita quer diluir reivindicações para não pagar a conta

Viomundo

publicado em 20 de junho de 2013 às 10:49






As pautas justas dos atos e como resistir à tentativa de desvirtuá-las

por Yuri Soares Franco*

Nos últimos dias o Brasil tem sido sacudido por manifestações em diversas cidades. Como centelha inicial está a questão do transporte público, causadas pelo aumento da tarifa do transporte coletivo em várias cidades. Esta é uma reivindicação justíssima, e inclusive a revogação dos aumentos é apenas uma pauta imediata. Há uma discussão antiga e profunda sobre a questão do financiamento do transporte coletivo, que hoje serve basicamente como ferramenta de lucro de alguns empresários.

Ao irem às ruas, surgiram também críticas decorrentes da violência policial. A Polícia Militar, como a conhecemos hoje, foi construída ao longo do tempo para ser exatamente isso: instrumento de controle da população e de defesa da propriedade. Isso também não é exclusividade do Brasil. Recentemente, ao ser questionado sobre a repressão violenta da polícia aos manifestantes na Turquia, o primeiro ministro turco respondeu que sua polícia utilizava os mesmos mecanismos repressivos que a polícia dos Estados Unidos e dos países europeus. Nesse ponto, ele tinha razão.

Infelizmente a mídia e a direita (o que é um pleonasmo), após inicialmente chamarem os manifestantes de vândalos e baderneiros, resolveram fazer uma virada espetacular de opinião e passaram a apoiá-los.

O problema é que esse apoio tem um objetivo muito claro: diluir as bandeiras legítimas dos movimentos ao mesmo tempo em que tentam inserir as suas pautas reacionárias e tentam capitalizar o movimento para os seus objetivos sórdidos.

Esta virada foi sendo colocada quando a seguinte palavras de ordem foi sendo posta: “não é por centavos”. A partir do momento em que a pauta principal e inicial do movimento foi sendo escanteada, abriu-se espaço para que todo tipo de pauta fosse incluída: “contra isso tudo que está aí”, “contra a corrupção” de maneira vaga e despolitizada, “contra os impostos”, e até as mais recentes que já circulam nas redes sociais, como “contra a ditadura gay” e “pelo impeachment da Dilma”.

Os slogans também foram sendo usados de forma a despolitizar. O pior deles é “O gigante acordou”**. Este slogan é complicadíssimo. Carregado de ufanismo, ele simplesmente tenta jogar para a vala do esquecimento os séculos de lutas e resistências do povo brasileiro: os índios e suas guerras de resistência, os negros e seus quilombos, os movimentos feministas e suas marchas, a classe trabalhadora e suas greves, os trabalhadores rurais e suas ocupações, o movimento estudantil e suas manifestações…

Para os setores reacionários nenhuma dessas lutas vale, já que sempre estiveram do outro lado, dos exploradores, da elite.

Há um discurso nestes setores, de que “é necessário acabar com o pão e circo”. Precisamos rechaçar fortemente esse discurso, pois o que eles chamam de “política do pão e circo” são os avanços que tivemos nos últimos anos. Eles querem acabar com as políticas sociais de distribuição de renda, com as cotas sociais e raciais, com a política de valorização do salário mínimo e da massa salarial da classe trabalhadora em geral, com os direitos trabalhistas que as empregadas domésticas ganharam recentemente.

Dentro dos palácios temos os governantes, que não souberam negociar e até o momento ainda se mostram atônitos. Utilizam argumentos técnicos, quando o seu papel é fazer política, em outras palavras, procurar meios para atender às pautas populares. Não é possível governar apenas com gestão sem discutir os rumos da sociedade.

Há também uma demanda reprimida da população por participação. Esse sistema político atual, com financiamento privado, favorece a corrupção, uma vez que os financiadores das campanhas cobram depois o retorno dos seus “investimentos”. Também afasta a população das decisões relevantes das cidades, dos estados e do país. É preciso então discutir uma profunda reforma política, que dê voz e espaço aos setores excluídos da política institucional.

Como resistir à tentativa de sequestro dos atos?

Precisamos primeiramente compreender que a gênese desses movimentos é progressista e tem como pautas problemas concretos da vida das pessoas. No entanto há uma operação da mídia e da direita de desvirtuá-los e transformar os manifestantes em massa de manobra para setores da elite que não pretendem avançar, mas sim retroceder nos direitos da maioria da população.

É preciso que os manifestantes “antigos”, que já estão nas lutas e nas ruas há muito tempo em defesa das pautas progressistas, se somem aos atos e disputem sua linha, para que o tom seja pela conquista de novos direitos, sem abrir mão do que já foi conquistado.

Para os manifestantes novos: sejam bem-vindos à luta!

A única compreensão que eu lhes peço é que entendam o motivo que torna impossível “todos darmos as mãos por uma causa só, independente das diferenças”. Há, como sempre houve, a necessidade que alguém perca para que alguém possa ganhar.

Para termos passagens mais baratas e transporte de qualidade é preciso que o dinheiro saia de algum lugar: ou dos governos (o que seria trocar seis por meia dúzia), ou diminuir os lucros dos empresários do setor e aumentar impostos dos usuários de transporte individual (carros). Para conquistarmos direitos para a população LGBT precisaremos derrotar os fundamentalistas. Para democratizarmos as comunicações precisaremos derrotar a grande mídia, para termos melhores salários e condições de trabalho precisaremos derrotar os empresários, para termos mais dinheiro precisaremos derrotar os banqueiros que lucram em cima de nós com seus juros, e por aí segue…

Creio que o meio para defender os atos e os movimentos da intromissão de pautas reacionárias nesse momento é a restrição das nossas pautas nos atos. Precisamos realizar atos como sendo claramente contra os aumentos e em defesa de um novo modelo de transporte público e de qualidade.

Há diversas pautas progressistas igualmente importantes, como o combate ao projeto de lei da “cura gay” aprovado nesta terça-feira (18/06) pelo Feliciano na CDHM da Câmara dos Deputados, a Reforma Política, a democratização dos meios de comunicação, o combate à PEC37 (que restringe os poderes de investigação do Ministério Público), dentre tantas outras.

Se pulverizarmos as pautas em poucas manifestações “genéricas”, estaremos ajudando a fazer o que a mídia e a direita tanto querem: caracterizar o movimento como difuso e aberto à qualquer pauta, e já percebemos que onde cabe qualquer pauta, cabem também as pautas dos nossos adversários.

É necessário organizarmos atos para cada uma dessas pautas, aproveitando o momento político para acumular força, organicidade e visibilidade para as nossas lutas, que certamente não terminarão em uma ou duas semanas.

Que as manifestações não sejam passageiras!


*Historiador pela Universidade de Brasília

**PS do Viomundo: Investiga-se se #ogiganteacordou, propagado pela TV Globo no jogo entre Brasil e México, ontem, em Fortaleza, tem relação direta ou indireta com gente da oposição.

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Tarso Genro ouve dúvidas e reivindicações de ativistas e setores da mídia




Foto: Caco Argemi/Palácio Piratini


Débora Fogliatto no SUL 21

Representantes de movimentos sociais e de setores da mídia dialogaram com o governador Tarso Genro nesta quinta-feira (20), no Palácio Piratini. Na edição do Governo Escuta com o tema “O que dizem as ruas?”, ativistas do Rio Grande do Sul e, através de teleconferência, de diversos lugares do país, trouxeram suas reivindicações e expuseram seus pontos de vista. Eles foram ouvidos pelo governador e pelos secretários Vinícius Wu, da Secretaria-Geral de Governo, que mediou o encontro, e Marcelo Danéris, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Rio Grande do Sul. O debate também foi transmitido pela internet e contou com a participação de internautas pelas redes sociais.

Estiveram presentes presencialmente o jornalista Marco Weissheimer, do blog RSUrgente e colunista doSul21; Marcelo Branco, ativista digital; Fernanda Quevedo, do Fora do Eixo; Rodrigo Barcellos, membro do Bloco de Luta pelo Transporte Público; Igor Natusch, editor do Sul21; Fernando Costa, membro do Defesa Pública da Alegria, e o jornalista Gabriel Galli. Foram convidados via hangout o editor da Carta Capital, Lino Bocchini, o estudante da UFF/RJ Luiz Felipe Garcez; Bruno Torturra, membro do Existe Amor em SP; Vitor Vidal, do Movimento Passe Livre de Fortaleza; e Roger Ruan, estudante de Geografia do Instituto Federal do Pará.

O primeiro a expor seu ponto de vista foi o jornalista Marco Weissheimer, que abordou a questão das polícias militares e do crescimento das agendas fundamentalistas no Brasil. Ele acredita que existem atualmente algumas pautas que representam um retrocesso nos direitos humanos e colocam em risco os movimentos sociais, como “o projeto esdrúxulo da cura gay”. “Me parece que as recentes manifestações representam a oportunidade para discutirmos também esses riscos”, sugeriu.



Foto: Caco Argemi/Palácio Piratini

Pela internet, Bruno Torturra falou de São Paulo a respeito do papel decisivo do cidadão conectado, que se tornou “um verdadeiro repórter” das manifestações. Da mesma forma, Marcelo Branco também citou a importância das redes sociais nos movimentos, adquirindo a elas o poder de articulação das manifestações modernas. “Existem características em comum (das manifestações atuais) com outros movimentos, como as manifestações de 2011 na Tunísia, na Espanha, em Wall Street. São movimentos de massa nas ruas, são indivíduos multimídia conectados em rede, sem organizações representativas”, opinou. Torturra mencionou outra semelhança entre “todas as primaveras do mundo”: a brutalidade policial e a crise da credibilidade dos meios de comunicação. Ele questionou se isso poderia tornar urgente a reforma política e a democratização da mídia.

Luiz Felipe falou do Rio de Janeiro, lembrando também das ações da Polícia Militar nas favelas. “Aqui no RJ e em todo o Brasil sabemos que a juventude das favelas é criminalizada. A polícia precisa passar por uma desmilitarização urgente”, afirmou. Marcelo mencionou também a violência policial, desde o episódio em que manifestantes protestaram contra o Tatu Bola e foram reprimidos brutalmente. A respeito da ação da Brigada Militar nesse ato e nos recentes protestos, o governador respondeu que o estado está se esforçando para que haja uma nova formação na entidade. “Isso está sendo construído, mas não muda de um dia para o outro. Os embates às vezes são provocados por erro da organização policia, eu admito, como aconteceu no episódio do Tatu Bola. Mas os manifestantes precisam entender que o policial não está ali para agredi-lo”, afirmou Tarso.

Uma das vítimas de violência policial no último protesto que tomou as ruas da capital, na última segunda-feira (17), o jornalista Gabriel Galli deu seu depoimento, relatando ter sido agredido pela Polícia Militar e ter tido seu cartão de memória do celular confiscado. “Eu e meu companheiro fomos sumariamente agredidos pela PM numa abordagem clara de censura, no momento em que estávamos gravando uma ação de dois policiais militares que espancavam uma pessoa”, contou. O governador afirmou a importância de ouvir relatos como o dele e de que isso seja apurado para que os responsáveis sejam identificados. Questionado a respeito da atuação da Brigada Militar nos protestos desta quinta-feira (20), Tarso admitiu que “lamentavelmente” não pode garantir que a BM agirá sem violência. “Não temos o controle direto isso. Mas garanto que essa é a nossa orientação”. Ele ainda disse que a Brigada irá distribuir panfletos que pedem a colaboração dos manifestantes para que não haja violência nos protestos de hoje.

O integrante do Bloco de Luta pelo Transporte Público, Rodrigo Barcellos, afirmou que a criminalização dos movimentos sociais é fruto da “criminalização da pobreza”. “A polícia continua a ser violenta com os pobres, os pretos, todos os dias nas vilas. A gente não sabe, e acho que o governador também não, como é a formação desses brigadianos”, opinou. Os participantes defenderam o fim da Polícia Militar no país, proposta inclusive por uma PEC do petista Raul Pont. O governador afirmou ser a favor da medida, mas lamentou que o governo “não tenha maioria” para aprová-la. Ele pediu que pessoas que sejam agredidas se dispunham a “dialogar com os operadores”.



Foto: Caco Argemi/Palácio Piratini

A respeito das manifestações, o governador demonstrou preocupação sobre as pautas dos movimentos. “Tem muita gente que olha (para os protestos) como uma oportunidade para transitar suas teses direitistas”, alertou. O editor doSul21, Igor Natusch, defendeu que sejam apresentadas soluções mais imediatas para problemas pontuais. “Não podemos usar o fato de que existem muitos discursos para dizer que não se sabe o que se quer. Seria interessante no caso do transporte público se o governo dissesse como transformar o transporte em um direito fundamental, e não ferramenta de lucro”, expôs. Da mesma forma, Luiz Felipe também trouxe esse assunto, criticando a mídia, que estaria tentando pautar o movimento a seu interesse. Rodrigo criticou a mudança no caráter dos protestos iniciados pelo aumento das tarifas de ônibus. “Queremos tarifa zero, e não serão os meios de comunicação da direita que mudarão nossas pautas”, declarou.

Em relação às grandes empresas de comunicação, Tarso foi questionado a respeito da ação da Brigada Militar para proteger o prédio do jornal Zero Hora durante o último protesto. “O dever da polícia é defender pessoas que estejam com possibilidade de ser ameaçadas. Se tivemos ameaça a qualquer prédio que coloque em risco a integridade de pessoas que estão lá, precisamos proteger as pessoas que estão lá”, esclareceu.

O governador sustentou acreditar que a democracia ocidental está passando por três crises, que são: de representação política, dos partidos políticos e do modo de vida dentro do sistema capitalista “consumista e predatório”. De acordo com ele, o “capital financeiro capturou o estado”. Ele defendeu uma profunda reforma política com mecanismos de participação direta da sociedade. O fato de que as pessoas precisam sair de casa de manhã cedo e irem “esmagadas em um ônibus” para o trabalho representa o modo de vida “carente e angustiante” gerado pela sociedade de consumo.

O editor da Carta Capital, Lino Bocchini, disse que o PT pode tirar proveito da situação atual. “Não vai mais ser possível fazer acordo com todo mundo. Não se pode estar bem com fazendeiro e com índio, com bancada evangélica e movimentos sociais. O PT sempre esteve do lado das ruas, e tem uma oportunidade de voltar a sua origem”, defendeu.

Marcelo Danéris, secretário do CDS, disse que há uma crise de representatividade e um processo de criminalização do partidos. Iniciativas como esse diálogo são uma forma de repensar esse sistema de modelo, garantiu. Tarso propôs a construção de um organismo, virtual ou real, em que se possa canalizar as críticas para aperfeiçoar o trabalho. “Acho que as informações que chegam para o senhor, governador, não são totais. Mas acho que foi inédito o que aconteceu aqui, no Brasil e talvez no mundo”, afirmou Marcelo Branco.