quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

o jaguara come pepino azul? não? então...


ÁGUA AFOGA
A GLOBO


Tem razão o Nunca Dantes: é preciso colocar o pepino azul no seu devido lugar

Conversa Afiada





A Presidenta Dilma Rousseff denunciou a Globo (sem citá-la), ao se referir aos que anunciaram o apagão e, agora, com a chuva e a normalidade, se calam.

Eles não têm responsabilidade nenhuma sobre os estragos que causaram: no ânimo do consumidor, na especulação na Bolsa e no ânimo dos empresários.

O Gilberto Freire com “i”(*) e sua equipe de “jornalistas” – que, como diz o Mino, no Brasil, são piores que o patrão – podem fazer o que bem entendem.

Agora, com a chuva, disseminam mais pânico – e inflação.

Se chove pouco, pau no Governo.

Se chove muito, pau no Governo.

Pau no Governo.

A edição do “Bom (?) Dia Brasil”, um programa em consistente decadência, é uma amostra dessa filosofia de trabalho: pau no Governo, com chuva ou sem chuva.

Na edição sinistra dessa quinta-feira, o programa que ocupa posição decadente na métrica do Globope (do Globope !), dedicou 57 minutos ao (inexistente) aumento da inflação.

O aumento do preço do pepino azul em Conchinchina do Paraguaçu adquiriu dimensão nacional e por todo o país se espalhará.

Sobre o pepino azul e todos os outros produtos.

É a estratégia Golpista de se aproveitar de um fato regional, localizado, para, em rede nacional, aberta, que explora um bem publico, do povo, o espectro eletromagnético, instigar, provocar, alimentar a alta NACIONAL dos preços.

A própria Urubóloga, mestre em utilizar o bem público – o espectro eletromagnético – para prejudicar o público, a própria Urubóloga considerou que parte do problema se deve à chuva.

Chove muito, o preço do pepino azul de Conchinchina do Oeste pode aumentar.

É uma questão local, efêmera, sazonal – poderia ter dito ela: quem gosta de pepino azul o terá, em abundância.

Como diz o Nunca Dantes, está na hora de começar a ter canal de televisão, da CUT e do que for, para colocar o pepino azul no devido lugar.



Paulo Henrique Amorim


(*) Ali Kamel, o mais poderoso diretor de jornalismo da história da Globo (o ansioso blogueiro trabalhou com os outros três), deu-se de antropólogo e sociólogo com o livro “Não somos racistas”, onde propõe que o Brasil não tem maioria negra. Por isso, aqui, é conhecido como o Gilberto Freire com ï”. Conta-se que, um dia, D. Madalena, em Apipucos, admoestou o Mestre: Gilberto, essa carta está há muito tempo em cima da tua mesa e você não abre. Não é para mim, Madalena, respondeu o Mestre, carinhosamente. É para um Gilberto Freire com “i”.

a eficiência da tortura... estamos deslocando nossa humanidade para algum lugar longe da humanidade

Jornal emprestava carros para torturadores em 64
Colunista da Folha justifica tortura?


publicada quarta-feira, 27/02/2013 às 11:48 e atualizada quarta-feira, 27/02/2013 às 11:48


Escrevinhador


Para que serve a tortura?
Por Urariano Mota, no Direto da Redação

Nesta quinta-feira, Contardo Calligaris na Folha de São Paulo deu à sua coluna o mesmo título desta agora. Diz ele:

“O saco plástico do capitão Nascimento funciona. Os ‘interrogatórios’ brutais do agente Jack Bauer, na série “24 Horas”, funcionam. E, de fato, como lembra ‘A Hora Mais Escura’, de Kathryn Bigelow, que acaba de estrear, o afogamento forçado e repetido de suspeitos detidos em Guantánamo forneceu as informações que permitiram localizar e executar Osama bin Laden.

Nos EUA, na estreia do filme, alguns se indignaram, acusando-o de fazer apologia da tortura. Na verdade, o filme interroga e incomoda porque nos obriga a uma reflexão moral difícil e incerta: a tortura, nos interrogatórios, não é infrutuosa -se quisermos condená-la, teremos que produzir razões diferentes de sua inutilidade”.



Guerrilha brasileira explodiu carro da Folha, em represália ao apoio do jornal à ditadura

Antes de mais nada, vale ressaltar que há muito o cinema norte-americano naturaliza a tortura, a injustiça, a exclusão. Desde Hollywood ele tem sido sentinela avançado do modo capitalista, na propaganda dos valores da formação do homem norte-americano. De passagem, lembro um filme de Ford (sim, do grande Ford) em que John Wayne ouve a seguinte frase do empregado do hotel: “você e o cachorro sobem, mas o índio não”. O que dizer de 007, por exemplo, em sua cruzada contra os comunistas? O que falar dos mexicanos e índios, sempre pintados como bandidos desde a nossa infância? O que dizer da ausência de interioridade nos personagens negros que apareciam em seus filmes, sempre em posição subalterna ou de pianista para o amor do casal romântico?

O fundamental é que no fim do texto Calligaris conclui:

“Uma criança foi sequestrada e está encarcerada em um lugar onde ela tem ar para respirar por um tempo limitado. Você prendeu o sequestrador, o qual não diz onde está a criança sequestrada. Infelizmente, não existe (ainda) soro da verdade que funcione. A tortura poderia levá-lo a falar. Você faz o quê?”.

Esse é um recurso de justificativa da tortura é manjado. Seria algo como:

- Você é capaz de matar uma criança?

- Não, claro que não.

- E se a criança fosse uma terrorista?

- Crianças não são terroristas.

- E se ela estivesse domesticada, com lavagem cerebral, que a tornasse uma terrorista?

- Ainda assim, de modo algum eu a veria como uma terrorista.

- E se essa criança trouxesse o corpo cheio de bombas?

- Eu preferiria morrer a matá-la.

- E se essa criança, com o corpo de bombas, entrasse para explodir uma creche?

- Não sei.

- E se nessa creche estivessem os seus filhos e as pessoas que você ama?

- Neste caso…

E neste caso estariam justificados os fuzilamentos de meninos que atiram pedras em tanques de Israel. E neste caso, num desenvolvimento natural, estaria justificado até o assassinato dos que lutam contra a opressão, porque mais cedo ou mais tarde se tornarão terroristas. E para que não vejam nisto um exagero, citamos as palavras de Kenneth Roth, da Human Rights Watch: `Os defensores da tortura sempre citam o cenário da bomba-relógio. O problema é que tal situação é infinitamente elástica. Você começa aplicando a tortura em um suspeito de terrorismo, e logo estará aplicando-a em um vizinho dele` “.

É monstruoso, é um atestado absoluto do desprezo pela pessoa, que na mídia se discuta hoje não a moralidade da tortura, mas a sua eficiência. Esse deslocamento de humanidade – que sai da moral para descer no mais útil - é sintomático de que não basta mais ser brutais em segredo, na privacidade, escondido. Não. Há de se proclamar que princípios fundamentais da barbárie sejam fundamentos de cidadania. Assim como os defensores da ditadura têm a petulância de vir a público dizer que apenas se matavam terroristas, portanto, nada de mais; assim como o cão hidrófobo que leva o nome de Bolsonaro – e nesse particular, ele é da mesma raça e doença dos fascistas em geral – zomba sobre os cadáveres de socialistas, agora nas tevês, no cinema, passam à justificação moral da tortura.

Perigo à vista. Nós, os humanistas, temos adotado até aqui uma atitude passiva, ordeira, o que é um claro suicídio. Esse ar de bons-moços que andam pela violência como Cristo sobre as águas, além de suicídio, porque nos afundaremos todos, é, antes do desastre, um recolhimento da ética para os fundos que defecam.

Entendam. Longe está este colunista da valentia e poderosas forças. Mas nós que não sabemos atirar balas ou socos, temos que agir com as armas que a dura vida nos ensinou: escrevendo. E como temos sido omissos.




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também torço... não acredito em milagres, mas deus sabe como eu gostaria de acreditar


Procura-se um analista político “imparcial”

Posted by eduguim on 27/02/13 • Blog da Cidadania




Uma de minhas maiores frustrações é não poder encarar o que considero um dos maiores desafios do homem em qualquer época, o de ser capaz de analisar qualquer coisa com base exclusivamente nos fatos, sem deixar que suas idiossincrasias – desejos, ambições, preconceitos, rancores ou amores – interfiram.

Para explicar por que não posso encarar tal desafio, tomemos a política contemporânea no Brasil como exemplo. Antes de analista político, sou um cidadão. Escrevo um blog intitulado pelo conceito imperioso de exercício da Cidadania.

Ora, exercer a cidadania é, sobretudo, tomar partido de um conjunto de ideias e ideais a partir dos quais aquele cidadão acredita que conseguirá melhorar o seu país. E para fazer prevalecer esses valores em uma democracia, só através de partidos políticos. Sem eles, a democracia simplesmente não existe.

No caso da conjuntura política brasileira, na qual vige um clima maniqueísta entre “tucanos” e “petistas”, fica difícil ser “imparcial”. Basta ir a qualquer blog ou site político da internet e analisar os comentários. Há uma vontade de um lado destruir o outro.

Quantas vezes você leu que os “tucanalhas” ou os “petralhas” são o mal encarnado e precisam ser extirpados da vida da nação? Chegam a pregar a prisão daqueles de quem divergem. Em alguns casos, já vi pregarem até a exterminação física.

Entre a direita midiática e a centro-esquerda “petista” só falta haver enfrentamentos físicos nas ruas, coisa que já acontece em países como a Venezuela, por exemplo, onde as pessoas se atracam e até trocam tiros por política, sejam chavistas ou antichavistas.

Apesar da quase inviabilidade da “imparcialidade” em um quadro como esse, parcela imensa do jornalismo nacional vive de namoro com ela, amante que corteja o tempo todo mas que trai em cada viés parcial que tenta contrabandear em textos ou na oratória julgando que ninguém irá notar.

Não é nem culpa dos jornalistas. Muitos deles nem agem assim conscientemente. A culpa é do caráter escandalosamente parcial que os donos dos grandes órgãos de imprensa imprimem a eles. Essa parcialidade mal disfarçada exacerba os ânimos e cria um clima propício ao sectarismo.

Se a grande mídia abandonasse o engajamento político-partidário-ideológico ou se ao menos o reduzisse a níveis aceitáveis, este blogueiro enveredaria pela seara da imparcialidade, pois gostaria muito de provar a si mesmo que é capaz de ser imparcial.

Enquanto o milagre da tomada de consciência pela mídia não vem, se não posso ser imparcial ao menos quero, em benefício do leitor, esclarecer que tenho lado, sim. E recomendar que você que me lê desconfie de quem disser que não tem. Simplesmente porque essa pessoa estará tentando lhe passar a perna.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

pra não dizerem que só falo de flores


Obrigado por nada, FHC

Posted by eduguim on 26/02/13 • Blog da Cidadania




O primeiro dia útil da semana começou com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no ataque, no âmbito da antecipação da campanha eleitoral à Presidência que só ocorrerá no fim do ano que vem, portanto daqui a quase dois anos, e que está sendo abraçada pelos dois partidos que, mais uma vez, devem protagonizar a disputa: PT e PSDB.

FHC, talvez o político mais cara-de-pau de todos os tempos – mais até do que Paulo Maluf –, teve a coragem de dizer que a presidente Dilma Rousseff “cuspiu no prato que comeu”, ou seja, que os êxitos de seu governo e do de seu antecessor Lula se devem ao governo tucano (1995-2002).

O ex-presidente peessedebista tem lá seus motivos para apostar nesse discurso de que legou uma herança bendita que Lula e Dilma tentaram “usurpar”, como também teve coragem de afirmar junto à afirmação sobre “ingratidão”. Afinal, desde que deixou o poder conta com veículos de comunicação que tentam empurrar essa versão aos brasileiros, porém sem o menor êxito, do que são provas as três eleições presidenciais sucessivas que o PSDB perdeu desde que deixou o poder.

FHC aposta na proverbial falta de memória dos brasileiros. Assim sendo, vale revisitar um pouco a história recente do país para verificarmos em que situação ele estava ao fim do governo tucano, em 2002.

E como a imprensa que, segundo o colunista da Folha de São Paulo Janio de Freitas “Serviu de suporte político ao governo FHC”, diz que a situação falimentar do Brasil no último ano do governo dele se deveu ao “risco Lula”, investiguemos se foi isso mesmo.

No dia 4 de janeiro de 1999, pouco antes de uma das maiores hecatombes econômicas que o Brasil viveu, matéria da insuspeita Folha de São Paulo trazia no título a síntese do que fora o ano eleitoral de 1998, quando o então candidato à reeleição, Fernando Henrique Cardoso, venceu o pleito garantindo que, se não fosse reeleito, Lula é quem desvalorizaria o real.

O título da matéria assinada pelo igualmente insuspeito colunista da Folha Fernando Rodrigues era o seguinte: “Credibilidade do Brasil no exterior despenca em 1998” – assinantes da Folha podem conferir a íntegra do textoaqui.

O trecho abaixo traduz o estelionato eleitoral de que o Brasil fora alvo poucos meses antes, quando reelegeu FHC sem fazer a menor ideia de que tudo que ele prometera era mentira e de que o país estava quebrado.

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FOLHA DE SÃO PAULO

4 de janeiro de 1999

Credibilidade do Brasil no exterior despenca em 98

FERNANDO RODRIGUES

da Sucursal de Brasília

“(…) Há duas razões básicas para que os títulos do governo brasileiro tenham perdido tanto valor em 98. A primeira razão, e mais óbvia, é que as crises da Ásia e da Rússia deixaram os especuladores internacionais com medo de perder dinheiro também no Brasil. Por isso, passaram a vender os papéis brasileiros. Isso provocou a queda dos preços. Ao vender os papéis, os especuladores deixam implícito que acreditam cada vez menos na capacidade do Brasil de honrar seus compromissos (…)”


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As crises da Ásia e da Rússia foram crises de países que tinham problemas localizados em suas economias. Não era uma crise mundial da gravidade da que há hoje, que afeta o mundo inteiro e, sobretudo, os países ricos, que, àquela época, não tinham crise nenhuma, ao lado de países com economias organizadas como o Chile, que, entre tantos outros “emergentes”, não fora afetado.

Na verdade, o naufrágio da credibilidade do Brasil ao longo do ano em que FHC se reelegeu graças a mudança que promoveu nas regras do jogo com ele em andamento, obtendo do Congresso o direito de se recandidatar ao cargo sob denúncias de compra de votos de parlamentares que votaram a emenda constitucional que instituiu a reeleição, deveu-se ao fato de que, naquele 1998, o então presidente da República “segurou” a desvalorização do real, que se fazia desesperadamente necessária, a fim de não atrapalhar suas pretensões políticas.

O mundo inteiro sabia que a paridade de um para um que vigera desde 1994 entre o real e o dólar era uma farsa e que, a qualquer momento, FHC teria que fazer aquilo que, meses antes, dissera que Lula faria caso vencesse a eleição: ele teria que promover uma maxidesvalorização de nossa moeda que jogaria o país no fundo do poço.

Enquanto o desastre caminhava, o suporte político de que falou Janio de Freitas que a mídia deu a FHC continuava vendendo ilusões a um público que, a partir dali, começaria a se dar conta de que não deveria acreditar no que ela dizia. No mesmo dia da matéria acima, na mesma Folha, outro texto dizia que a evasão de divisas no dia anterior fora de “apenas” 153 milhões de dólares e acenava com um cenário róseo que, pouco depois, mostrar-se-ia uma falácia.

Abaixo, trecho de matéria que pode ser conferida na íntegra aqui.

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FOLHA DE SÃO PAULO

5 de janeiro de 1999

MERCADO FINANCEIRO

Evasão de divisas é de US$ 153 milhões

da Reportagem Local

O Brasil teve nova evasão de divisas ontem, mas de volume pouco preocupante, segundo especialistas. Até as 19h30, o fluxo cambial estava negativo em US$ 97 milhões pelo mercado de dólar comercial e financeiro e em mais US$ 56 milhões pelo flutuante, um segmento do turismo.

(…)

Segundo especialista, depois da forte evasão de dólares em dezembro [de 1998], de US$ 5,25 bilhões, o fluxo negativo em janeiro deve ser menor.

(…)

No ano passado, o fluxo cambial foi negativo em US$ 14,89 bilhões. As reservas cambiais, o caixa em moeda forte do país, iniciam o ano em US$ 35 bilhões, segundo estima o mercado. O Banco Central fala em US$ 38 bilhões.


Com o fraco saldo cambial negativo ontem, o dólar perdeu força contra o real. Nos mercados futuros, as projeções de desvalorização cambial para janeiro (contratos com vencimento em fevereiro) caíram de 1,28% na quarta-feira passada para 1,17% ontem.



Para Nicolas Balafas, do BNP Asset Management, o governo não vai precisar desvalorizar o real contra o dólar mais do que os 7,5% ou 8% previstos em 99.

(…)

“Ninguém espera uma saída de dólares muito forte neste mês. O mercado está otimista, apostando que o Congresso vai votar a favor da CPMF e do aumento da contribuição dos funcionários públicos federais à Previdência”, diz o especialista Manuel Maceira.


(…)

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Note, leitor, que, enquanto hoje você vê na Folha e no resto da imprensa oposicionista todo dia desgraças anunciadas que jamais se concretizam, àquela época, com o país afundando – como se veria em poucos dias – o tom era de otimismo.

Três dias depois, em 8 de janeiro de 1999, outra matéria – sempre da Folha, fonte escolhida para evitar questionamentos de tucanos quanto à “imparcialidade” das notícias –, outra matéria dá bem a dimensão da situação catastrófica com que FHC chegara ao segundo mandato.

O então governador de Minas Gerais, Itamar Franco, acabara de decretar moratória de seu Estado no âmbito de uma taxa básica de juros (Selic) que batia nos 30% (!!). Para acessar a íntegra da matéria, assinante da Folha pode clicar aqui. Veja, abaixo, trechos do texto.

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FOLHA DE SÃO PAULO

8 de janeiro de 1999

MERCADO FINANCEIRO



Futuros projetam taxas de juros maiores



da Reportagem Local



A moratória anunciada pelo governador de Minas Gerais, Itamar Franco, fez com que os mercados futuros na Bolsa Mercantil & de Futuros passassem a projetar juros e desvalorização cambial maiores para os próximos meses.

(…)

No ano passado, o medo de que o Brasil não honrasse seus compromissos, como fez a Rússia em agosto, provocou uma evasão de divisas de US$ 15 bilhões. Foi para conter a sangria de dólares que o governo subiu os juros do over, o mercado por um dia com títulos públicos, de 19% para 40% ao ano. Os juros do over estão em torno de 29% ao ano hoje.

Com a crise de credibilidade ganhando força agora, os juros vão cair com mais dificuldade. Por isso, na BM&F, os contratos para vencimento em abril passaram a projetar taxas de juros de 30,25% para março, contra os 28,59% de anteontem. A desvalorização cambial projetada para março passou de 1,26% para 1,48%.

(…)

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A situação do Brasil – causada exclusivamente pelo adiamento da desvalorização do real adotado por FHC para não atrapalhar sua reeleição – piorava a cada dia, a ponto de a esfrangalhada economia brasileira estar, então, “contaminando” outros países. Abaixo, matéria que mostra isso. A íntegra da matéria na Folha pode ser acessada aqui.

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FOLHA DE SÃO PAULO

13 de janeiro de 1999

Situação se reflete na Argentina

de Buenos Aires

A alta instabilidade na economia brasileira, acentuada há uma semana pela moratória do Estado de Minas Gerais, está se refletindo diretamente nos mercados argentinos, cujos temores se concentram em três pontos: desvalorização do real, renúncia da equipe econômica e fracasso do ajuste fiscal acordado com o FMI.

A Bolsa local, acompanhando o índice Bovespa, caiu 3,67% na segunda-feira e ontem teve nova queda de 3,48. As quedas dessa semana foram impulsionadas quando se soube que as reservas brasileiras chegariam a U$ 31 bilhões no final de janeiro, segundo informe divulgado pelo Citibank.

Os mais apressados já inventaram até um nome para o possível colapso do Brasil: “efeito carnaval”


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No mesmo dia, outra matéria já deixava ver que as tentativas da mídia de suavizar as notícias já não eram mais possíveis. O clima de pânico se acentuava. O Brasil estava quebrando, com fuga de dólares e sucessivos aumentos dos juros – íntegra da matéria abaixo (só para assinantes da Folha), aqui.

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FOLHA DE SÃO PAULO

13 de janeiro de 1999

MERCADO TENSO

Fuga de recursos para o exterior neste mês já chega a US$ 2 bi; nervosismo traz de volta o risco cambial

Saída de dólares e juro futuro se elevam

CRISTIANE PERINI LUCCHESI

da Reportagem Local

A sangria de dólares cresceu ontem e trouxe mais intranquilidade ao mercado financeiro. Até as 19h30, o fluxo estava negativo em aproximadamente US$ 1 bilhão. O mercado fecha às 21h30.

A Bolsa de Valores de São Paulo voltou a despencar, chegando a um passo do “circuit breaker”, mecanismo que interrompe os negócios toda vez que a queda atinge 10%. Fechou em baixa de 7,61%.

Os mercados futuros passaram a projetar juros e desvalorização cambial bem mais fortes no curto prazo. Para março, os juros anuais projetados pularam de 32,43% ao ano anteontem para 39,75% ao ano ontem. Hoje, os juros de referência para toda a economia estão em torno de 29% ao ano.

(…)


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Taxa de juros básica da economia chegando a 40%. Imaginem o que seria de Lula ou de Dilma se o país estivesse hoje em situação igual. Hoje, com juros em um dígito, centenas e centenas de bilhões de dólares de reserva e quase sem desemprego, a mídia trata a economia como se estivéssemos quebrando.

No mesmo dia 13 de janeiro de 1999 em que eram publicadas as matérias acima, o governo FHC tentou uma desvalorização controlada do real de 8,26%, que, como se sabe, o mercado rejeitaria, levando o Brasil a uma crise econômica sem precedentes, causada, exclusivamente, pela postergação de uma desvalorização da moeda que se fosse feita em 1998 não teria custado tão caro ao país.

A “feitiçaria” econômica do governo, porém, já não enganava mais ninguém. O economista Rudiger Dornbusch, 54, professor do mitológico MIT (Massachusetts Institute of Technology), dos EUA, disse que a nova política cambial do Brasil, com uma tal “banda diagonal endógena, era “um blefe”, e que FHC era “ineficiente”.

Abaixo, trecho da matéria da Folha contendo as críticas de Dornbusch, publicadas em um momento em que, apenas temporariamente, FHC começava a ser abandonado pela mídia. E isso algumas míseras semanas após o estelionato eleitoral que o reelegeu. A íntegra, assinante da Folha lê aqui.

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FOLHA DE SÃO PAULO

14 de janeiro de 1999

Para o professor, mudança só vai desafogar a pressão sobre as reservas

Nova política cambial é um “blefe”, afirma Dornbusch

ANTONIO CARLOS SEIDL

da Reportagem Local

O economista Rudiger Dornbusch, 54, professor do mitológico MIT (Massachusetts Institute of Technology), dos EUA, disse que a nova política cambial do Brasil é “um blefe”.

“Serve apenas para desafogar um pouco a pressão sobre as reservas brasileiras”, afirmou em entrevista, por telefone, à Folha.

Para Dornbusch, o fim da fuga de dólares do país depende do ajuste fiscal. “Um profundo ajuste fiscal, com um corte drástico de gastos, é a condição para a volta da confiança dos investidores.”

“O Brasil tem um presidente ineficiente, que só sabe gastar e tomar emprestado.”

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Enquanto isso, o grupo G7, que congregava os sete países mais ricos do mundo, falava em “derretimento” do Brasil, conforme noticiava a Folha aqui. Textualmente, a nota do grupo dizia: “É o longamente esperado derretimento do Brasil? Parece [que sim]“.

Chega a ser inacreditável que o presidente que produziu a notícia a seguir arrogue para si o soerguimento quase incrível do país que, em verdade, foi o ex-presidente Lula que logrou operar após reparar o desastre que o antecessor deixou. Matéria da Folha ainda de 14 de janeiro de 1999 anuncia: o “Mundo vive pânico com Brasil”. A íntegra, aqui. Abaixo, um trecho.

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FOLHA DE SÃO PAULO

14 de janeiro de 1999

BOLSAS

Ações caíram na Europa e na América após queda do real, puxadas por empresas que mantêm investimentos no país

Mundo vive pânico com Brasil



de Buenos Aires



As principais Bolsas do mundo tiveram ontem um dia de fortes baixas geradas pela desvalorização do câmbio no Brasil.

O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, terminou o dia com uma queda de 125,12 pontos, ou 1,32%, depois de chegar a cair 260 pontos em meia hora. A baixa abrupta foi decorrente da mudança cambial brasileira.

A Bolsa abriu o pregão às 9h locais (12h de Brasília), quando já havia sido mudado o comando do Banco Central e anunciada a desvalorização do real. Imediatamente, o índice Dow Jones recuou 260 pontos.

O índice eletrônico Nasdaq despencou 114,56 pontos.

Com a preocupação diante da situação brasileira e com medo de que a desvalorização atingisse outros mercados, os acionistas saíram vendendo papéis, num mecanismo conhecido como “efeito dominó”.

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Em tal situação de calamidade que o país vivia, a situação do mercado de trabalho, que do terceiro ano do primeiro governo FHC para frente já vinha sendo ruim, com queda dos salários e aumento do desemprego, atingia proporções catastróficas. A matéria da mesma Folha, com trecho logo abaixo e íntegra aqui, resume o sofrimento que a irresponsabilidade tucana trouxe ao país.

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FOLHA DE SÃO PAULO

15 de janeiro de 1999

ECONOMIA

Metalúrgica de Matão suspende a partir de hoje um dia de trabalho para gastar 16% menos em pagamentos

Bambozzi reduz carga horária e salários



da Folha Ribeirão



A metalúrgica Bambozzi, de Matão, vai parar a produção às sextas-feiras a partir de hoje e diminuiu o salário dos funcionários para reduzir gastos e enfrentar a crise.

A proposta de diminuição de carga horária e salários foi aprovada na terça-feira em assembléia com os trabalhadores.

A empresa tem 430 funcionários e espera economizar cerca de 16% do total da folha de pagamentos, que não foi divulgado.

(…)

Ribeirão

A metalúrgica Penha, de Ribeirão Preto, está trabalhando com redução de carga horária e salários desde setembro do ano passado.

Os 168 funcionários deixaram de trabalhar às sextas-feiras e a empresa passou a economizar cerca de 10% da folha de pagamento.

O Sindicato dos Metalúrgicos de Ribeirão Preto e Região não aprova a redução de salário.

(…)

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Lembre-se, leitor: o presidente que produziu isso é aquele que está se dizendo o verdadeiro responsável por tudo de bom que aconteceu ao longo do governo Lula, que encontrou o país nessa situação, que recebeu essa herança maldita.

E o “Efeito Brasil” continuava afetando o mundo. O sujeito que acusa Dilma de ser “mal-agradecida” ao governo “maravilhoso” que diz que fez é o mesmo que arrastou o mundo para os problemas que sua administração gerou por ter adiado uma medida (desvalorização do real) com vistas a conseguir mais um mandato.

A notícia da Folha também é de 15 de janeiro, pois o noticiário econômico, quando FHC governava, ocupava incontáveis páginas dos jornais todos os dias, só noticiando desgraças. Nessa matéria, com trecho reproduzido abaixo e íntegra aqui, o jornal relata que o “Efeito Brasil” continuava gerando pânico nos mercados.

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FOLHA DE SÃO PAULO

15 de janeiro de 1999

MERCADOS

Pregão passa o dia com tendência de queda e, para agravar a situação, senadores começam a julgar Clinton

‘Efeito Brasil’ faz Bolsa de NY cair 2,45%



de Nova York



O “efeito Brasil” fez a Bolsa de Nova York fechar o dia ontem em forte queda. O índice Dow Jones (que reúne as 30 ações mais negociadas) recuou 2,45%, fechando a 9.120,93 pontos.

A queda representa 226,63 pontos e anula todos os ganhos conquistados na Bolsa de Nova York neste ano.

O índice Dow Jones esteve em tendência de queda durante todo o dia de ontem.

O grande vilão foi o Brasil. Os investidores reagiram ao rebaixamento da dívida brasileira promovida pela agência de crédito Standart & Poor’s e à possibilidade de a crise atingir outros países latino-americanos.

O Brasil representa 45% do PIB (Produto Interno Bruto) da América Latina.

Durante o dia, Wall Street foi assolado por boatos vindos do Brasil. Eles diziam que o governo iria liberar o câmbio e que o real sofreria uma nova desvalorização.

Os investidores estavam preocupados também com a depreciação de papéis de companhias que mantêm negócios no Brasil. As multinacionais devem apresentar queda no faturamento, por causa da retração no mercado.

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O desastre na economia não parava de crescer. Uma das consequências da irresponsabilidade tucana foi o crescimento da dívida externa. Em 16 de janeiro de 1999, a Folha dá conta de que o endividamento do país, que peregrinava pelos países ricos com o pires na mão, crescera R$ 35,8 bilhões EM UMA SEMANA. Abaixo, trecho da matéria, com íntegra aqui.

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FOLHA DE SÃO PAULO

16 de janeiro de 1999

DESVALORIZAÇÃO

Dívida externa aumentou R$ 35,8 bi em uma semana e será problema para empresas, diz pesquisa da Sobeet

Real fraco reduz patrimônio

VANESSA ADACHI

da Reportagem Local

As empresas brasileiras terão grande trabalho para lidar com uma dívida externa que cresceu nada menos que R$ 35,8 bilhões em uma semana.

A desvalorização cambial acumulada na semana fez com que a dívida de US$ 140 bilhões do setor privado brasileiro saltasse, em reais, de R$ 169,4 bilhões para R$ 205,2 bilhões.

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A desorganização da economia que marcou a era FHC do seu terceiro ano até o último, como é óbvio, não deixaria o país impune. Todos, de ricos a pobres, comeram o pão que o diabo amassou, razão pela qual, desde que o país conduziu o PT ao poder, nunca mais os tucanos tiveram chance real em eleições para presidente.

Notícias como a que segue abaixo (íntegra aqui) e que dá conta de redução nas vendas de varejo de 30% no âmbito da crise brasileira ainda estão frescas na memória de uma parcela imensa e majoritária dos brasileiros. Só quem tem menos de vinte anos não sabe o que se passou neste país quando ele cometeu o desatino de colocar o PSDB e o DEM no poder.

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FOLHA DE SÃO PAULO

16 de janeiro de 1999

Lojas têm queda de até 30% nas vendas

FÁTIMA FERNANDES

da Reportagem Local

A confusão gerada no mercado brasileiro com a mudança da política cambial resultou ontem na paralisação dos negócios entre indústria e comércio e numa queda de 20% a 30% nas vendas de algumas grandes redes.

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Agora, a cereja do bolo. Atualmente, uma das colunistas da grande mídia tucana mais críticas do país que temos é Eliane Cantanhêde. Enquanto escrevo, reflito que as críticas acerbas que ela faz hoje a um governo que é aprovado pela imensa maioria por estar gerando emprego, renda e bem-estar social em nada lembram a condescendência que tinha com um governo que gerou o caos que você acaba de ler.

Compare, abaixo, o discurso dessa mulher hoje em relação ao governo, quando o país está indo de vento em popa, com o que adotou também para o governo quando o país estava arrasado. O tom dela é o que dominava a mídia. Não havia críticas ao governo e muito menos ao presidente da República. Muito menos os xingamentos feitos a Lula.

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FOLHA DE SÃO PAULO

17 de janeiro de 1999

O bode

ELIANE CANTANHÊDE



Brasília – A semana passada foi uma roleta-russa, e a que começa hoje é tão incerta quanto uma mesa de pôquer.

O câmbio rachou o governo, atraiu a ira de empresários, expulsou quadros como Pérsio Arida, alijou outros como José Serra. E o que estamos descobrindo? Que desvalorizar o real não está sendo um monstro tão monstruoso. Até agora, pelo menos.

Há um ano, as reservas estavam tão altas quanto a credibilidade do governo. Os governadores acabavam de renegociar suas dívidas. Os empresários ainda não estavam demitindo. Os partidos aliados já andavam se assanhando, mas mantinham uma certa compostura. A situação internacional tremelicava, mas se mantinha.

Com o tempo, deterioraram-se essas condições favoráveis, até se acenderem os sinais vermelhos. A evidente, inevitável, inexorável desvalorização acabou saindo no tapa, no último minuto. E insuficiente. Tanto que dois dias depois veio o câmbio livre.

Pois, vejam só, apesar de tudo isso o Brasil sobreviveu. A taxa ditada pelo mercado na sexta-feira (R$ 1,47) é bastante razoável. As Bolsas tiveram um pique espetacular, e com entrada de capital externo. A sangria de dólares caiu de quase US$ 1,8 bilhão na quinta para US$ 340 milhões na sexta. Já se fala até em liberar o câmbio de vez.

E mais: um novo aumento de juros foi descartado, e alguns setores, abatidos pela perversa competição dos importados, recuperam o ânimo. Há até alguma perspectiva de empregos.

Bem, estamos então no paraíso? A léguas e léguas disso. Há incertezas, dúvidas e um pânico renitente e justificável. O Brasil sacode mais do que avião em nuvem negra. E a famosa estabilidade continua instável.

Mas o secretário dos Direitos Humanos, José Gregori (que não é economista), resumiu: “Tiraram o bode da sala”. O bode era o câmbio, um erro que cresceu como elefante e se arrastou como tartaruga.

Agora é correr contra o tempo e corrigir outros muitos erros. Até porque o Brasil não aguenta mais. Nem nós.


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Quanto otimismo, não? Você acredita que essa criatura escreveu uma COMEMORAÇÃO?!! Que diferença para o pessimismo de hoje, quando qualquer boato ruim sobre a economia vira certeza e gera condenação do governo via acusações de incompetência etc. Não é à toa que o colunista da mesma Folha Janio de Freitas disse que a mídia foi “suporte político” de FHC.

Está claro o desastre que foi o governo do sujeito que está clamando para si a volta por cima que o Brasil daria na era Lula? Inflação e desemprego ascenderam nos anos seguintes à crise de 1998/1999. A renda caiu. A credibilidade do país era tão baixa que até a alternância no poder, em 2002, fez a economia derreter de novo.

A falta de investimentos que a má gestão de FHC gerou fez com que no penúltimo e no último ano daquele governo desastroso eclodisse um racionamento de energia elétrica que fez o país retroceder anos.

Contudo, o que de pior o governo FHC produziu foi o desemprego. Não foi à toa que José Serra, em sua candidatura a presidente em 2002, fez aquela propaganda eleitoral com uma multidão de homens vestidos com macacões de operários brandindo carteiras de trabalho. O desemprego estava em dois dígitos e subindo.

Para quem tiver dúvida de quanto o governo Lula e, depois, o governo Dilma melhoraram a vida dos brasileiros – que FHC piorou como poucos presidentes –, que veja, abaixo, o que ocorreu com o desemprego estratosférico herdado do ex-presidente tucano pelo ex-presidente petista.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Esse ano eu dei uma última chance ao Oscar


Esplendorosa Emmanuelle Riva, o Oscar é o que menos importa

Roubo e adaptação a partir de post de O homem que sabia demasiado.
O nome da atriz Emmanuelle Riva há de ficar nos anais da história do cinema com uma característica muito especial: a de ser lembrada para sempre pelos dois filmes notáveis que iniciaram e finalizaram a sua carreira: Hiroshima mon amour (1959) de Alain Resnais eAmor (2012) de Michael Haneke.
53 anos separam estes dois filmes, dois filmes que têm a palavra amor no título, dois filmes que abordam questões essenciais sobre a ascensão e o declínio do amor. É como se Emmanuelle Riva não tivesse feito mais filmes no intervalo entre estas duas películas. Fez, alguns até importantes. Mas serão Hiroshima mon amour e Amor os títulos que ficarão para sempre na memória de qualquer cinéfilo.
No filme de Alain Resnais, Riva tinha 32 anos, surgia no auge da sua esplendorosa sensualidade; no filme de Haneke, a atriz apresentou-se com respeitáveis 85 anos de idade. Mas é como se a mesma sensualidade, carisma e intensidade não se tivessem esfumado por um único segundo através dos anos. Não importa que Riva possa não ganhar o Oscar de melhor atriz. O seu legado é maior do que qualquer estatueta dourada.
Não sei como Riva, Haneke, Huppert e Trintignant cabem em 500px.

o contraponto do discurso único


A blogueira cubana e o fracasso da diplomacia da desintegração

Por Beto Almeida no SUL 21
A gira da blogueira cubana Yoane Sanchez pelo Brasil, tem se revelado, até o momento uma exitosa campanha de over exposição midiática dela, uma frágil tentativa de distorcer a gigantesca função histórica libertadora da Revolução Cubana e, também, numa fracassada operação da diplomacia da desintegração. Trata-se de uma ação geopolítica da direita para tentar impedir a crescente presença política de Cuba na América Latina e Caribe por meio de vários projetos de cooperação, mas sobretudo, pela criação da CELAC – Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, da qual Cuba é hoje presidente. Para isto, foram derrotados, pelos povos da região, todos os esforços da agressiva política dos EUA para isolar a ilha caribenha. Começo por reivindicar 1% do espaço midiático dado a ela, para discutir este outro ponto de vista.
Era previsível que a blogueira tivesse ampla cobertura da mídia. Cobertura marcada pela repetição de uma única tese e, na proporção inversa, pela negativa em informar sobre o que é exatamente a realidade de Cuba, a começar pela informação de que Cuba exerce a presidência da Celac. Isto, para um país que foi bloqueado, expulso da OEA, atacado militarmente pelos EUA, impedido de ter acesso pleno ao sistema financeiro internacional, representa, fundamentalmente, uma vitória de Cuba e da causa da integração latino-americana e caribenha. Obviamente, representa um fracasso de todos os países imperiais, de seus meios de comunicação e de personagens como Yoane Sanches, que, observa que seu discurso é de absoluta sintonia com os polos mais conservadores da sociedade brasileira, discurso que tem sido derrotado. O discurso dela e da mídia brasileira que o exalta, é o discurso que quer o fracasso da política externa brasileira de prioridade à integração com a América Latina.
 Biotecnologia: avanço técnico-científico
Seria muito informativo e educativo para o povo brasileiro se, na mesma proporção do oferecido à blogueira, também fosse dado espaço midiático aos cientistas cubanos para falar como um país pobre, em pouco mais de 50 anos de Revolucão, e sob bloqueio, conseguiu desenvolver uma indústria de biotecnologia das mais avançadas do mundo, com medicamentos de eficácia comprovada e sucesso internacional como o Óleo de Schostakovsky ( para a gastrite), o complexo para combater diabetes, a vacina contra o câncer de intestino (um laboratório dos EUA tentou comprar mas foi proibido pelo governo Bush), as vacinas contra a meningite, etc. Antes da Revolução, Cuba sequer possuía indústria farmacêutica; hoje exporta medicamentos, ciência, e médicos.
Países imperiais exportam soldados, armas, intervenções militares…. Esta mesma mídia brasileira que é sócia da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa, apoiadora de todas as ditaduras da região), também fez um grande estardalhaço para tentar impedir que o Brasil reatasse relações com Cuba em 1986, sob o Governo Sarney. Na época, o Brasil teve um surto de meningite e esta mesma mídia, que fez uma acirrada campanha para que o Brasil não comprasse as vacinas cubanas contra a meningite. Uma operação econômica e ideológica.
No primeiro caso, o Brasil tinha e ainda tem o seu setor de medicamentos quase totalmente controlado e ocupado por umas poucas multinacionais farmacêuticas, grandes anunciantes desta mídia, ambos lutando para não perder o controle do mercado para as vacinas cubanas, que o governo Sarney acabou importando em grande quantidade, apesar da pressão dos oligopólios. E era também uma operação ideológica, com a intenção de dizer que era impossível que uma ilha pequenina, cercada de hostilidades imperiais por todos os lados, pudesse, com poucos anos de socialização de sua economia, ter alcançado tal êxito técnico-científico, a ponto de transformar-se em exportadora de sofisticados medicamentos, enquanto o Brasil, uma economia muitas
vezes superior, era ainda dependente de sua importação.
Sarney e as vacinas cubanas.
A ruidosa campanha contra as vacinas cubanas na época – questionando até sua eficácia terapêutica, apesar dos reconhecimentos da Organização Mundial da Saúde – era uma desumana tentativa de intimidar o governo Sarney que, não apenas reatou com Cuba, mas começou a realizar um processo de intercâmbio comercial, científico e cultural com a Ilha. Vale citar, o ministro da Cultura de Sarney era o inesquecível Celso Furtado…. O discurso da mídia então, submisso aos ditames imperiais, queria também impedir a criação do Mercosul, cujo fortalecimento posterior e sua consolidação hoje, é algo que desagrada enormemente aos inimigos da integração, pois é evidente que um Mercosul cada vez mais forte e amplo, com a entrada da Venezuela e, proximamente, da Bolívia e do Equador, representa uma alternativa histórica real aos “Cem Anos de Solidão” de uma América Latina antes submissa e desunida e, agora, em processo de transformação , com governos populares e com uma cooperação cada vez maior com Cuba. Estamos abrindo as páginas dos Cem
Anos de Cooperação….
Desintegração e fracasso histórico
É este processo de integração crescente o alvo da passagem da blogueira por aqui e deste ponto de vista, revela-se um enorme fracasso. Ela se auto classificou como diplomata popular, mas é fácil perceber tratar-se de uma diplomata da desintegração. Como pano de fundo, o que ela e seus patrocinadores visam é obstaculizar a causa maior de nossas mais importantes lideranças históricas, a começar por Simon Bolívar, José Marti, Tiradentes, Abreu e Lima, Perón, Getúlio Vargas, Che Guevara, hoje continuados, concretamente, pelas políticas de integração implementadas pelos governos de Lula-Dilma, Fidel-Raul, Hugo Chávez, Evo Morales, Pepe Mujica, Nestor e Cristina Kirchner, Daniel Ortega e o recém reeleito Rafael Correa.
Dalai Lama
Personagens como Yoane Sanches são criados em determinados momentos, recebem as condições materiais e financeiras de circulação, publicidade e exaltação, mas produzem, concretamente, poucos resultados práticos. Citemos outro personagem fabricado para uma operação similar contra a Revolução Chinesa: Dalai Lama. Sustentado por anos e anos pelo Departamento de Estado dos EUA, que além do salário lhe garante o apartamento onde vive perto do Central Park de Nova York, e de uma jorrante publicação de seus livros, Dalai Lama revela-se um retumbante fracasso. Antes da Revolucão Chinesa, o Tibet era um regime feudal e escravocrata. O Brasil não foi o último país a abolir a escravidão, foi o Tibet, e por meio de uma revolução dirigida por Mao-Tse Tung e o Partido Comunista. Antes da vitória socialista, em 1949, a China era conhecida pela espantosa fome que levava milhões à morte a cada ano.
Além disso, havia todo tipo de doenças evitáveis, o povo sequer conhecia médicos. E era possível, nas feiras, comprar animais e mulheres como servas, já que não existiam direitos trabalhistas. Hoje, apesar das inúmeras giras de Dalai Lama pelo mundo, a China é conhecida por lançar uma nave tripulada ao espaço sideral, por ser a economia que mais cresce no mundo, que mais fabrica computadores e turbinas de energia solar, que lança satélites em parcerias com a Venezuela e o Brasil, que legalizou e socializou a acupuntura (antes de Mao era proibida) e que, em parceria com a Rússia e o Iran, está travando os planos da Otan de invadir e esquartejar a Síria. O que se houve falar de Dalai? A notícia mais recente é que ele estaria disposto a dialogar com as autoridades chinesas, contrariando seus patrocinadores. Vai ter que mudar-se do Central Park…..
Cuba inclusiva?
A blogueira falou em Brasília que quer uma Cuba mais inclusiva e plural. Se examinarmos a realidade cubana, especialmente as estatísticas elaboradas ou reconhecidas por instituições internacionais como a Organização Mundial da Saúde, a Unesco, a Unicef, a Organizaçao Panamericana de Saúde e se a mídia comercial, que tanta exalta a Yoanes, desse ao povo brasileiro o direito de conhecê-las, ficaria claro que é difícil apontar uma sociedade tão inclusiva como a cubana. A começar porque não existem nela crianças vagando pelas ruas, crianças fora da escola, crianças pedindo esmolas, nem crianças trabalhando.
A taxa de mortalidade infantil é INFERIOR àquela registrada nos EUA, onde, aliás, o trabalho infantil está em elevação, o que se agravou enormemente com o desemprego e a crise capitalista por lá, onde só os banqueiros e a indústria bélica foram salvos, como revela o Ocuppy Wall Street.
Não há um único hospital privado em Cuba, todo o atendimento é gratuito. Isto não é inclusão? Inclusive para os bombeiros e sobreviventes que trabalharam nas operações de resgate de corpos dos escombros das Torres Gêmeas, demolidas providencialmente pelos autoatentados de 11 de setembro de 2001, em Nova York. Estes bombeiros e sobreviventes, cidadãos norte-americanos, foram levados a Cuba pelo cineasta Michel Moore, pois não tinham planos de saúde nem tratamento médico nos EUA, embora tivessem sido condecorados com heróis. Em Cuba, foram atendidos gratuitamente nos hospitais mais avançados, os mesmos que já trataram, depois da eleição de Chávez, um total de 43 mil cidadãos venezuelanos. Se a blogueira tivesse visitado hospitais no Entorno de Brasília, teria uma ideia concreta do que é realmente a falta de inclusão……
Aliás, se o povo brasileiro pudesse ser informado, massivamente – digamos quecom 10 % do que a TV Globo mostra de baixarias do Big Brother, onde há até edificantes concursos de pum – sobre um único relatório da UNICEF em que se afirma que “Existem 200 milhões de crianças desnutridas no mundo hoje. Nenhuma delas é cubana!”, entenderia mais claramente os absurdos ditos por esta personagem.
Bloqueio
Houve um tempo em que os opositores de Cuba, inclusive a blogueira, diziam que o bloqueio dos EUA era apenas uma desculpa de Fidel para desviar a atenção dos problemas internos. Agora, quando o bloqueio recebe múltiplas condenações na ONU, sendo defendido apenas pelos EUA, e por razões óbvias de subordinação pelo Canadá, Israel e uma ilha desconhecida do Pacífico, sendo criticado, até mesmo, pelo New Iork Times e pela Revista Forbes, a bloqueira, foi orientada a mudar o discurso e já admite ser contrária a esta escandalosa violação dos direitos humanos do povo Cuba por parte da Casa Branca, proibindo à ilha uma simples operação comercial para a compra de aspirinas no mercado norte-americano.
Aliás, ela disse também ser a favor da libertação dos 5 heróis cubanos prisioneiros políticos nos EUA, por trabalharem na prevenção de atentados terroristas organizados em território da pátria de Jack London. Alertado por Fidel Castro, em carta entregue pelo genial Gabriel Garcia Marques, o presidente Bill Clinton, ao invés de fazer uso das informações para evitar atentados terroristas que estavam e organização, como os de Oklahoma ou os de 11 de setembro de 2001, preferiu…….. prender os cinco cidadãos cubanos.
Agora que até a blogueira já fala no fim do bloqueio, dando razão ao governo de Cuba, e também a Lula e Dilma que sempre se pronunciam em defesa da posição do governo cubano, vale comparar a situação vivida por Yoane Sanchez – que não está presa, comunica-se com o mundo inteiro a partir de Cuba ou fora dela, viajando por mais de 12 países para criticar a Revolução Cubana – com a situação do soldado norte-americano Bradley Manning, preso e torturado em prisão militar dos EUA, por ter revelado ao mundo, corajosa e generosamente, com a ajuda do Wikeleaks, os documentos sigilosos contendo os planos mais sinistros do imperialismo para atacar e desestabilizar vários> países e governos ao redor do mundo. Ou comparar com a situação de Mumia Abu Jamal, jornalista e militante negro, preso no Corredor da Morte nos EUA, condenado injustamente por um juiz racista que coleciona sentenças de pena de morte especialmente para negros, asiáticos, hispânicos e pobres que vivem por lá. O “delito” de Abu Jamal é escrever com coragem e talento sobre o regime discricionário vigente nos EUA, onde, há pouco, foi proibida a sintonia por satélite de canais de TV do Irã, desmascarando-se, assim, o falso discurso da liberdade de expressão reivindicado pela Casa Branca. Bom, eles já haviam proibido o ingresso de Charles Chaplin por lá…….
Medicina e humanismo
Tive a oportunidade de visitar a Escola Latino Americana de Medicina (ELAM), instalada numa antiga base naval desativada próximo a Havana e lá conversei com representantes dos mais de 500 estudantes negros estadunidenses, oriundos dos bairros pobres do Harlen ou do Brooklin. Eles me contaram que jamais teriam a oportunidade de se formarem em medicina nos EUA, sendo muito mais provável, pelas condições precárias de vida que tinham lá, que fossem recrutados pelo narcotráfico e terminassem presos. Ou mortos na juventude. Aliás, os EUA possuem a maior população carcerária do mundo… Em Cuba, estes jovens estão estudando, gratuitamente, para serem médicos.
Compartilhar o que tem, não o que sobra
Ante aos agressivos ataques do Pentágono e da Cia contra a Revolução Cubana, esta se defende, legitimamente, mas também reage com humanismo, oferecendo aos filhos pobres da pátria de Lincoln a possibilidade de escapar da criminalidade e servirem socialmente ao povo norte-americano, a quem se respeita em Cuba, a ponto que jamais se queimou uma bandeira dos EUA em território cubano. Enquanto a Casa Branca envia terroristas e guerra bacteriológica contra Cuba – como denunciou um ex-ministro da saúde dos EUA – Cuba envia médicos formados para o povo norte-americano! É a este país, que reparte seus modestos recursos orçamentários com outros povos, que a blogueira acusa de não ser inclusivo?
Vale lembrar o desastre do Furacão Katrina: enquanto a população negra e pobre estava abandonada em Nova Orleans, pelo governo de Bush, Cuba ofereceu o envio imediato de 1200 médicos para salvar vidas ali. Eles ficaram toda uma manhã posicionados no aeroporto de Havana esperando autorização da Casa Branca para embarcarem para os EUA. A autorização nunca veio. E a blogueira, que reivindica uma Cuba inclusiva, não toca no tema.
Cuba plural?
Houve um ano, 1984, em que a Unesco reconheceu ter Cuba batido um recorde na publicação de livros, que lá são vendidos a preços de um picolé ou menos. Foram 48 milhões de exemplares publicados naquele ano. Entre estas obras há Guimarães Rosa, com tiragem superior a 150 mil exemplares, quando no Brasil, com um indústria gráfica 50% ociosa, a tiragem padrão é de apenas 3 mil exemplares. Em Cuba há o mais amplo acesso à literatura universal, ao cinema internacional, o cinema é uma atividade popular, com ingressos baratos e salas cheias. Já foi produzida em Cuba uma rádio-novela sobre a Coluna Prestes, quando aqui ainda não há sequer projetos para uma grande produção cinematográfica sobre o tema
Como seria educativo se a presidenta do Instituto do Livro Cubano, Zuleika Romay, uma mulher negra e jovem, pudesse ter 5% do espaço televisivo que foi dado à blogueira para desprestigiar a Cuba, inclusive quando afirmou que concordaria com hospitais e escolas privadas na Ilha, o que revela seu pensamento nada inclusivo. Serviços privados só são acessíveis a quem paga, e na Cuba atacada pela mídia conservadora, a educação e a saúde são públicas e gratuitas. Milton Nascimento, numa turnê pela Ilha, sentiu-se mal e foi atendido por médicos em seu hotel. Ao final, quis pagar, recebendo como resposta que em Cuba saúde é um direito de todos e que isto não se vende.
Cuba, Brasil e Haiti
Quando a tragédia do terremoto assolou o Haiti – um geólogo cubano havia alertado, anos antes, que eram altíssimas as probabilidades de um terremoto com epicentro cerca de Porto Príncipe – os médicos cubanos já eram responsáveis há anos, praticamente, pelo o que havia restado de serviço de saúde ali ante tanta miséria construída pelos países imperiais que dão sustentação à blogueira. O Brasil também estava lá, com o maior número de soldados, que também realizam obras de infraestrutura. Mas, a partir do terremoto Brasil e Cuba passaram a colaborar mais centralmente na área da saúde, e, com um financiamento de 80 milhões de dólares do governo brasileiro, foram construídas instalações de saúde para o povo haitiano, no qual trabalham as centenas de cubanos que já estavam lá há anos, juntamente com médicos militares brasileiros. Como parte desta cooperação, além da saúde, o Batalhão de Engenharia do Exército está construindo a única hidrelétrica por lá, além de rodovias e pontes.
 Impublicável: cooperação sul-sul-sul
Em 2006, a Organização Mundial da Saúde, lançou um SOS Internacional: precisava de produção massiva, a preços baixos, de vacina contra meningite A e C para entregar a 23 países da África, onde vivem 430 milhões de seres humanos. Só uma empresa transnacional fabricava estas vacinas, mas devido à baixa lucratividade, reduziu sua fabricação colocando a África sob o risco de emergência sanitária. Só dois laboratórios públicos atenderam ao chamado da OMS: Instituto Finlay de Cuba e o Instituto Bio-Manguinhos do Brasil. Os dois se associaram para a criação da vacina Vax-MEN-AC, específica para os tipos de meningite que afetam a África. A cooperação Brasil-Cuba permitiu um preço 20 vezes menor do praticado pela transnacional e já foram produzidas e entregues 19 milhões de doses.
Esta é uma notícia impublicável nos grandes meios que abrem todo espaço à blogueira e que hiper divulgam as ações financiadas pela Fundação do Multibilionário Bill Gates, de impacto mínimo, conduzidas por operações de marketing de empresas privadas, aquelas que não se interessaram em atender ao apelo da OMS. Brasil e Cuba, com governos de orientação de esquerda, por meio de laboratórios públicos, fazem mais contra a meningite na África que as transnacionais e a fortuna de Bill Gates. A blogueira não fala nada disso no seu blog, nem nas suas entrevistas, mas pede uma Cuba mais inclusiva e plural……
Cuba, Brasil e Timor Leste
Em visita de trabalho ao Timor Leste, onde a TV Cidade Livre de Brasília e o Comitê de Brasiliense de Solidariedade ao Timor doaram os equipamentos de uma rádio comunitária às organizações educacionais locais, pude visitar, também, o alojamento de 400 médicos cubanos que lá trabalham em solidariedade ao povo maubere. Comentei a visita com o Presidente da República, Ramos-Horta, Prêmio Nobel da Paz, que recebia o Presidente Lula. Ele me contou que ter sido pressionado pelo Embaixador dos EUA lá a não receber os médicos de Cuba, oportunidade em que perguntou ao gringo: “Quantos médicos norte-americanos temos aqui?”. “Só um, o da embaixada!”, respondeu. “Pois então o povo do Timor é muito grato a Cuba e vai sim receber os médicos cubanos”, disse-lhe Horta.
O pensamento da blogueira é bastante sintonizado com o do embaixador gringo e certamente não considera inclusivo que na cooperação Brasil e Cuba, os 600 estudantes timorenses que serão formados em medicina na Ilha brevemente, antes de voltar ao Timor, façam estágio na Fundação Oswaldo Cruz, no Brasil, na área de medicina tropical.
Como se sabe, a cooperação não fica por aí. O Brasil está estudando a contratação de um numeroso contingente de médicos cubanos para, finalmente, levar serviços médicos a todos os municípios brasileiros, o que ainda não ocorre. Isso sem falar dos cerca 800 brasileiros, em sua maioria pobre, inclusive, uma centena de jovens do MST, que lá estão estudando medicina. Gratuitamente, pois Cuba, desde o início de sua Revolução, compartilha com outros povos não apenas o que lhe sobra, mas o que tem.
Complexo de Mariel: integração para todos crescerem
Não é casual que a blogueira tenha iniciado sua gira pelo Brasil, país que tem participação decisiva no mais importante projeto de infraestrutura em construção em Cuba hoje, o Complexo de Mariel. Será o maior porto de todo o Caribe, dinamizando a economia de toda a região, além contar com uma ferrovia, uma rodovia e uma mineradora. Os empréstimos do BNDES são da ordem de 1,2 bilhão de dólares. Desnecessário afirmar que, na prática significa, também, furar o bloqueio dos EUA contra Cuba, indicando apurada visão estratégica de Lula, e, além disso, uma ideia clara do que significa uma integração para que todos os países possam crescer juntos, reduzindo as assimetrias e comprovando a política de que só por meio da integração da América Latina e Caribe é possível constituir uma área alternativa de crescimento com distribuição de renda. A blogueira está na contramão deste projeto e é por isso que foi tratada como um troféu pela mídia oposicionista – e por seus seguidores – que tem visto este projeto ser derrotado nas urnas repetidas vezes, como recentemente no Equador, na Venezuela e na Bolívia, que recém nacionalizou os serviços portuários ante a negativa de investimentos de transnacionais espanholas.
Mandela: devemos o fim do apartheid a Cuba
Foram ouvidos muitos disparates durante a gira da blogueira no Brasil. Algumas manifestações normais e democráticas de jovens e estudantes contra sua presença, foram tratadas como se fossem violentas. Nenhum país é mais criticado no fluxo informativo internacional do que Cuba. Mas, o problema não são as críticas, elas são permitidas até à própria blogueira. A questão é a violência com que sempre foi tratada a Revolução Cubana desde o início pelo imperialismo, sendo obrigada a pagar um preço amargo, com muitas vidas ceifadas em atentados terroristas como o que derrubou o Avião da Cubana de Aviación, sendo seus autores confessos protegidos pelos governos dos EUA. Que também protege a blogueira.
Mas, entre todos os disparates, o mais surpreendente foi contorcionismo analítico de um editorialista do Estadão que chegou a fazer uma comparação, meio envergonhada é bem verdade, de Yoane Sanchez com Nelson Mandela. Diante do nível desta tentativa absurda de analogia, uma resposta grande com uma página da História. Cuba enviou cerca de 350 mil homens em mulheres para lutar em Angola em defesa da independência do país, invadido pelo exército racista da África do Sul, contando com o apoio dos EUA e com a oferta de Israel para que fosse atirada uma bomba nuclear sobre as tropas cubano-angolanas. A solidariedade cubana escreveu uma página inapagável na história moderna: Cuba foi o único povo a pegar em armas para lutar contra o apartheid, o mais brutal e criminoso regime político-social dos tempos modernos! Quando ocorre a vitória sobre as tropas racistas na Batalha de Cuito Cuanavale, Mandela, ao livrar-se dos 27 anos de prisão, cunhou uma frase que define com a energia de um raio, a função histórica de Cuba: “ A Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do Apartheid. Devemos isto a Cuba”.
Diante dos ataques da mídia contra Cuba, Dilma , em Havana, reagiu apontando os telhados de vidro dos que querem ser campeões em direitos humanos mas mantém um centro de torturas em Guantânamo e multiplica o assassinato de civis, inclusive crianças, por meio de seus drones macabros. Enquanto isto, o Brasil segue aprofundando sua cooperação com Cuba e consolidando a integração solidária e democrática por meio do Mercosul, da Unasul e da Celac, presidida por Cuba, com sua generosidade e humanismo, e sem a presença arrogante e imperial dos EUA. A diplomata da desintegração, aqui no Brasil, está fadada ao fracasso.
Beto Almeida é jornalista e Membro do Diretório da Telesur.

o jaguara vive pra mentir e criar um outro mundo em sua mente esquizofrênica


Carta abierta a Yoani Sánchez

Posted by eduguim no Blog da Cidadania





Estimada Señora Yoani María Sánchez Cordero,

Presente,

Vengo a su atención por ser bloguero cómo la señora, aunque desde Brasil, donde recién has estado, y por acompañar su exitoso trabajo en la Web y cómo personalidad internacional que ejerce fuerte influenza política en los grandes medios occidentales de orientación conservadora.

Mi texto, pues, quiere invitarla a reflexiones y quizás a que ofrezca respuestas.

Por primer, quiero lamentar una situación que has vivido en mi país. Nosotros, en Brasil, que entendemos que su trayectoria de vida necesita de aclaramientos en razón de ser usted una persona que produce críticas muy duras al modelo de sociedad cubano y que relata factos sobre el régimen de su país que muchas veces no se traducen en pruebas de lo que afirmas, con aquellas protestas perdimos la oportunidad de hacerle preguntas que nunca has contestado.

No comparto, así, de la visión de los que han planeado las protestas que has enfrentado en Brasil. Pienso yo que hemos perdido una gran oportunidad de no permitir que usted se escudara en disculpas para no contestar a las cuestiones importantes que hay para hacerle y que nunca han sido contestadas.

Cómo ya puedes haber imaginado, cuando hablo de cuestionamientos me refiero a un texto que ha sido muy difundido por todo el mundo y que muestra lo que mucha gente sospecha: que usted hace denuncias en contra el gobierno cubano y la realidad de su país para la cuales jamás has presentado pruebas.

Hablo, pues, de la entrevista que has dado hace algunos años al periodista francés Salim Lamrani.

Lamrani, en la apertura de su relato del encuentro que tuvieran ustedes en el Plaza Hotel de La Habana, anticipó lo que, en los años siguientes, mucha gente más ha comprobado, que, al contrario de lo que dices, su blog, Generación Y, puede ser visitado de cualquier computadora en la capital cubana, por lo menos.

Mientras los medios conservadores de Estados Unidos, América Latina y Europa reproducen su discurso y garantizan que hay un bloqueo digital a su página web por acción y decisión del gobierno cubano, hace rato (noviembre del 2012) un amigo, el periodista brasileño Altamiro Borges, ha visitado su país y dijo que no ha encontrado ninguna dificultad para visitar su blog.

Parece, pues, nada más que un cuento que la “terrible dictadura” que denuncias impida su trabajo, aunque eso sea el discurso arriba del el cual ha sido construido el personaje Yoani Sánchez.

Aquí, entonces, la primera cuestión: ¿usted sigue garantizando que el gobierno cubano impide que el pueblo de la isla visite su blog a través de bloqueo electrónico? Y más: ¿estás dispuesta a recibir una comisión que usted y sus opositores crean imparcial, ahí en La Habana, para registrar en video lo que resulta cuando se intenta hacerlo?

Otra cuestión, señora Yoani, dice respecto a la dureza del régimen que usted denuncia una vez tras otra. Lamrani relata que se ha encontrado con la señora en la recepción de un hotel de lujo en La Habana, el Plaza Hotel, de forma libre. Tanto es que, en el relato que hizo, la señora vino para la cita muy tranquila, de forma muy diversa de lo que se podría esperar de una “perseguida política”, que, al fin, es como se presenta usted.

Al menos es lo que dicen los grandes y ricos empresarios dueños de los grandes medios internacionales enemigos de Cuba que vienen siendo tan generosos con la señora al pagarle altas sumas por sus escritos. Pero lo que se ve, sobre todo cuando haces un tour como lo que estas haciendo por el mundo, no combina con el cuento de la dictadura que fustiga la heroína solitaria.

Lo que me parece más grave en su discurso, señora Yoani, es una denuncia hecha por usted hace algunos años, cuando dijiste al mundo que has sido “secuestrada” por agentes del gobierno cubano y, durante eso, has sido agredida con violencia física por ellos. Ahí, si, se podría ver un hecho propio de una dictadura.

Al haber pasado eso mismo que cuentas, Cuba seria la dictadura feroz que pintas y no la “dictablanda” de que hablan los barones de los medios brasileños cuando se refieren a la dictadura militar brasileña, en la cual, le garantizo, la señora no iba a poder escribir nada en contra ella y jamás mantener encuentros en hoteles de lujo para hablar mal del régimen.

Lo que pasa es que Lamrani le ha hecho una pregunta muy razonable y natural: ¿usted tiene pruebas de la acusación de que has sido “secuestrada” y “agredida” por el gobierno cubano?

En la oportunidad, no contestaste nada. Lamrani le pregunto si usted había sacado fotos de las heridas que le han causado los “agentes del gobierno”, pero lo que has dicho suena absurdo, falso y, delante del grave que es la denuncia, inaceptable.

Decir que tienes fotos de las heridas que le han infringido pero que recusas a mostrarlas porque las quiere guardar para presentarlas a “un tribunal”, es un chiste. Años han pasado y jamás has buscado la justicia de su país o de cualquier otro. Hiciste la denuncia y no fuiste buscar justicia.

¿Raro, verdad? Le da total derecho a hacerlo a quien quiera decir que se trata de una trampa.

Una pregunta más, pues: ¿nunca vas a buscar justicia para lo que, siendo verdad, es un crimen hediondo? Y si no vas, ¿por qué no lo hará?

Quien tiene interés por su activismo político sabe de todas esas cuestiones y muchas otras más. Podría pasar horas escribiendo todo lo que cuestionan sobre su discurso político, pero la verdad es que si usted tiene la intención de hacer con que sea respectada no solamente por los ricos empresarios enemigos del régimen cubano, pero también por las personas que quieren solamente la verdad, podrías empezar contestando a esas pocas cuestiones.

Nosotros, en Brasil, creemos que algunos de nuestros compatriotas han desperdiciado la oportunidad de hacerle preguntas que nunca has contestado. Así, si dices que ahora estas dispuesta a hacerlo, yo y otros compañeros queremos viajar a Cuba para entrevistarla, cuando termines el recorrido que haces por el mundo para denunciar al gobierno de su país.

Así, en espera de sus noticias me despido,

Muy atentamente,

Eduardo Guimarães

domingo, 24 de fevereiro de 2013

jaguara, não gosta de números? ah, só de fofoca... mas não quer saber do dinheiro dessa moça cubana... ah


ATUALIZAÇÃO:
LULILMA 10 VS 0 FHC


Nao fosse o o PiG, esses tucanos de São Paulo não passavam de Resende.

Conversa Afiada






Saiu no Valor, o PiG (*) cheiroso:




(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

a maioria dos veículos de comunicação abriu mão de fazer jornalismo

Lançamento
“Maioria da imprensa abriu mão de fazer jornalismo no julgamento do mensalão”


publicada sexta-feira, 22/02/2013 às 17:55 e atualizada sexta-feira, 22/02/2013 às 17:55

Escrevinhador


Por Gabriel Bonis, na CartaCapital

Na cobertura do julgamento do “mensalão”, o jornalista Paulo Moreira Leite foi uma das poucas vozes dissidentes na imprensa brasileira. Em seu blog, então hospedado no site da revista Época, o ex-diretor de Veja, Diário de S.Paulo e da própria Época, cobriu o tema, em suas palavras, de forma “crítica e desconfiada”, evitando o tom meramente condenatório sobre os réus e analisando também as contradições do Supremo Tribunal Federal no caso. “A maioria dos veículos de comunicação abriu mão de fazer jornalismo durante o julgamento e cobriu como se não tivesse mais nada a ser demonstrado”, diz a CartaCapital nesta entrevista. “Esse tipo de senso crítico [ao julgamento] tem valor quando se baseia em fatos, não tem a ver com ser do contra ou a favor.”

Os textos publicados no blog durante o julgamento e outros inéditos se transformaram no livro A outra história do Mensalão – As contradições de um julgamento político (Geração Editorial, 353 págs., R$ 34,90), lançado na terça-feira 19. O trabalho chega às livrarias com uma tiragem acima da média no Brasil, em um mercado aquecido por ao menos outras duas recentes obras sobre o tema.

“Isso mostra como as pessoas ainda querem entender o que aconteceu. Elas vão ler e reler o que conhecem sobre o caso. Querem refletir mais profundamente, porque não foi um julgamento qualquer. A sua repercussão sobre a Justiça e a política brasileira ainda precisa ser avaliada.”

CartaCapital: O seu blog se destacou por uma cobertura mais independente. Como foi a recepção? Recebeu muitas críticas negativas?
Paulo Moreira Leite: A recepção foi boa e a audiência cresceu muito, às vezes 500%. As pessoas não necessariamente concordavam com o que eu escrevia, mas sentiam que expressava um ponto de vista importante para o debate. Falava com leitores curiosos, com espírito crítico bastante acentuado e que não acreditavam em tudo o que ouviam.

CC: Essa abordagem diferente da mídia em geral foi algo importante na cobertura deste caso?
PML: Sim. Esse tipo de senso crítico tem valor quando se baseia em fatos, não tem a ver com ser do contra ou a favor. No caso, quando se lê os documentos disponíveis, o relatório da Polícia Federal sobre o caso anexado no processo, se conversa com a defesa e vê as alegações finais das partes, percebe-se que é um processo com contradições. Está longe de ser uma denúncia amarrada. É uma questão intelectual e profissional do jornalista examinar, pensar e não ter receio de desagradar quem quer que seja desde que esteja convencido, como estou, de que está expressando a verdade.

CC: Houve alguma pressão editorial em relação ao conteúdo do blog?
PML: Não. Mas tenho certeza que não expressava a posição unânime de leitores. No meu blog, há muitos comentários agressivos. No entanto, ele cresceu e virou uma referência no debate.

CC: O fato de ser um blog ajudou no enfoque escolhido para a cobertura?
PML: O blog permite que as pessoas compartilhem o que leram de forma instantânea. Isso é importante, torna a leitura focada, pois vai ler quem quiser saber sobre aquele assunto. Mas não sei se haveria mais ou menos eco se fossem outras mídias, como um grande jornal ou televisão.

CC: Pouco tempo após o fim do julgamento já há alguns grandes lançamentos de livros sobre o caso. O que o senhor acha dessa tendência?
PML: Esse mercado mostra como as pessoas ainda querem entender o que aconteceu. Elas vão ler e reler o que conhecem sobre o caso. Querem refletir mais profundamente, porque não foi um julgamento qualquer. A sua repercussão sobre a Justiça e a política brasileira ainda precisa ser avaliada.

CC: No prefácio do seu livro, Jânio de Freitas diz que parte dos jornalistas que cobriram o caso “enveredaram por práticas que passaram do texto próprio de comentário jornalístico para o texto típico da finalidade politica, foram textos de indisfarçável facciosismo”. O senhor concorda com isso?
PML: A maioria dos jornalistas e veículos de imprensa achou que estava tudo demonstrado e que a culpa de todos estava provada, como se não houvesse um trabalho para fazer sobre o julgamento, a qualidade das provas ou da acusação – que era muito mais frágil do que as pessoas supunham. A imprensa assistiu ao julgamento e contratou advogados, que muitas vezes tiveram papel mais importante que os repórteres. Algo engraçado, pois as pessoas leem o jornal para ver uma investigação, uma apuração. E a maioria dos veículos de comunicação abriu mão de fazer jornalismo durante o julgamento, cobriram o caso como se não tivesse mais nada a ser demonstrado. Mas, ao ver os autos em busca do contraditório, não ó que aparece. O que a Polícia Federal investigou é diferente daquilo que o Ministério Público aponta. Para o MPF e Joaquim Barbosa [relator do caso no STF] os empréstimos do Banco Rural ao PT, que José Genoíno assinou, eram fraudulentos. A PF investigou e concluiu que eram verdadeiros e a partir deles saiu dinheiro para o esquema. E isso muda muito a história.

CC: Qual foi a maior contradição do julgamento?
PML: São várias, mas a maior é apontar a tese de que o mensalão era um sistema de compra de votos e não conseguir indicar um único caso concreto em que se comparam votos. Não foi preciso comprar votos para apoiar nenhuma das reformas do governo, que passaram com larga margem, inclusive com o voto da oposição. No caso da Previdência, que era uma continuidade de uma reforma do governo do PSDB, o bloco governista era tão forte que o governo excluiu petistas que se recusaram a votar na reforma.

CC: O que precisa ser desmistificado neste julgamento?
PML: Banqueiros foram condenados a penas duríssimas, mas nenhum deles concentra o poder econômico do Brasil. Não é o Banco Rural que detém o poder financeiro do País, é um banco secundário. Os políticos que foram condenados são historicamente perseguidos pelo aparelho policial, seja no regime militar ou agora. Não são os homens públicos e poderosos. São pessoas de um governo específico, que representa uma força social específica. Os banqueiros de ponta que apareceram com grandes operações no ‘mensalão’, e que participaram das privatizações, não foram sequer levados a julgamentos ou no mínimo arrolados.



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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

E lá foi o tio...


O dia em que meu avô enfrentou a ditadura

Milton Ribeiro



Quartel Militar de Cruz Alta

Para meus filhos Bárbara e Bernardo Ribeiro

Desde minha perspectiva, meu avô João Cunha, pai de minha mãe, sempre foi um homem muito velho. Nascido em 1888, tornou-se pai de minha progenitora em idade madura, aos 39 anos, idade na qual eu, por exemplo, já tinha dois filhos. Quando nasci, ele já ia pelos 69 anos. Viveu até os 81, idade suficiente para que eu mantivesse bastante contato com seu Mal de Alzheimer. Porém, em 1º de abril de 1964, aos 76 anos, o velho João Nepomuceno Cunha teve uma dessas janelas de lucidez que ocorrem aos que não estão no estágio terminal da doença. Naquele dia, ele compreendeu perfeitamente que o país fora vítima de um Golpe Militar. E resolveu agir para impedi-lo.

Vestido de pijamas, saiu de casa sem que minha vó notasse e dirigiu-se ao quartel mais próximo. Importante dizer que a família de minha mãe é de Cruz Alta e, a algumas quadras da casa de meus avós, havia um enorme quartel, ao menos na minha ótica infantil. Para lá foi meu avô. Então, com gestos enérgicos, iniciou aos berros um violento discurso. Chamou os militares à ordem com as palavras fortes que fazem parte do folclore familiar e que iniciavam assim:

– Parasitas da nação!

E depois passou a desafiar os milicos, sempre aos gritos. O pessoal do quartel ficou em dúvida se deveria prender meu avô. Na verdade, prendê-lo era complicado. Em primeiro lugar, por ser um velho doente; depois, por ser uma figura muito conhecida e respeitada na cidade. Além de ser o construtor de muitíssimas das casas de açorianos da cidade, ele fora um importante maçom, tendo chegado ao mais alto grau na organização. Na época, ser maçom era dispor de uma inesgotável reserva moral…

O comandante do quartel resolveu ligar para meu tio João Cunha Filho, dando-lhe um ultimato.

– O seu pai está aqui na frente do quartel acusando os militares de quererem entregar o país aos americanos e outras bobagens.

– Como? O Sr. tem certeza que é ele?

– Sim, ele está vestindo pijamas e já tem uma plateia de imbecis ouvindo, aplaudindo e rindo de nós. Nós teremos que tomar providências, a menos que o Sr. venha AGORA a fim de levá-lo para casa.

E lá foi meu tio, em pânico, salvar seu velho pai das garras dos militares. Enfiou-o em seu carro sob vaias dos populares que queriam ver e ouvir mais.

É mais ou menos essa a história que corre em minha família. Um momento de glória para todos nós.