terça-feira, 6 de novembro de 2012

Só que ainda dá tempo para mudar, sabem.


Pragmatismo político e a esquerda que deixou de ser

Por Carlos Curro, do blog Caia Na Real no SUL21
Aos meus amigos da “esquerda” pragmática, deixa eu tentar explicar mais uma vez as diferenças entres vocês e a verdadeira esquerda (explicação que, como de costume, será em vão – mas eu estou acostumado e treinando para ser mestre zen).
É o seguinte: só por que a gente às vezes concorda com o que não deve ser feito em hipótese alguma, e só por que a gente concorda que a direita conservadora é muito pior para o país, isso não significa que a gente vai concordar sobre o que deve ser feito (fins) nem como deve ser feito (meios), muito menos com as prioridades e os limites do que pode ser feito, a serem escolhidos nesse caminho.
Essas decisões precisam ser discutidas, avaliadas, e isso precisa ser feito democraticamente, apontando erros e acertos, evoluindo. Assumindo responsabilidades, pesando prós e contras não apenas em termos eleitorais, mas também em termos político-sociais mais amplos (dentro da sociedade civil).
É aí que mora o “detalhe”, meus amigos. Vocês nem querem DISCUTIR isso mais. O debate no “partido” é pra inglês ver – ou pra ingênuo acreditar. Toda crítica que venha da esquerda é ignorada e denunciada como “tola”. Como se vocês fossem gênios e nós, grandes imbecis que não conseguem enxergar o “jogo político”.
Então tá. Que incrível e surreal essa soberba “infalibilidade” de vocês.
Aí, quando no mundo real uma elite latifundiária – que vocês apoiam e que faz parte da coligação pragmática pela “governabilidade” – comete genocídio contra um povo indígena inocente (só para pegar um exemplo recente), o que acontece?
Somente após muita pressão da esquerda verdadeira - e após muita negação de responsabilidade por parte da militância governista, para justificar o injustificável -, então vocês finalmente resolvemcomeçar a correr atrás do prejuízo, e mesmo assim ainda tem pragmático dizendo que não havia nada que podia ter sido feito antes.
Tudo no melhor estilo conservador, retórico e arrogante de “resposta a crises”. Tudo sendo direcionado pelo subjetivo cálculo político imediatista, tornado objetivo pela “técnica da governabilidade”, esse dogma inquestionável para vocês.
E é nisso que somos muito, mas muito diferentes mesmo.
Com essas escolhas deterministas que vocês fazem, e atuando com risíveis profecias autorrealizáveis, o pragmatismo-reformista de vocês, lamentavelmente, fica a cada dia mais distante de qualquer projeto de esquerda.
Só que ainda dá tempo para mudar, sabem.
Abrindo espaço para discussão e para novas propostas, tenho convicção de que é possível manter os avanços sociais, expandi-los e acelerá-los no curto prazo, e ainda adotar um novo modelo de desenvolvimento sociocultural, um modelo justo, humano, onde o econômico não seja o centro, que respeite os direitos de todos, sem exceção, e sem cruéis promessas de “melhorismo” que sempre apontam para um futuro distante que nunca chega, condenando milhões à morte nesse caminho pragmático infeliz.
Mas a pergunta é: vocês querem mudar?
Querem tentar melhorar?
Parece que não.
Uma pena.

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