domingo, 30 de setembro de 2012

É preciso desconstruir uma a uma as do carapááálida...


Gilmar Mendes não confirma acusações contra Lula e MPF pede fim de investigação

Foto: Carlos Humberto / SCO/ STF
Os procuradores não encontraram fundamento em acusação contra ex-presidente Lula feita por Gilmar Mendes | Foto: Carlos Humberto / SCO/ STF
O Ministério Público Federal no Distrito Federal (MPF-DF) recomendou dar fim a mais uma apuração requisitada pela oposição ao governo federal com base em reportagem da revista Veja. Desta vez, os procuradores não encontraram fundamento em texto no qual a publicação do Grupo Abril acusava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de solicitar ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes o adiamento do julgamento da Ação Penal 470, o mensalão.
Chamado a apresentar informações sobre a versão da revista, Mendes não sustentou a história de Lula fez um pedido neste sentido quando os dois se encontraram no escritório em Brasília de Nelson Jobim, ex-ministro do STF e da Defesa, em maio. Segundo nota divulgada pelo MPF, foram apresentados dois pedidos oficiais ao magistrado. “Ambos os documentos estão sem resposta até a presente data”, diz o comunicado, que acrescenta: “Nas declarações dadas pelo ministro, o Ministério Público não detectou um pedido específico de Lula no sentido de ver adiado o julgamento do mensalão.”
O pedido de investigação foi apresentado por representantes da oposição no Congresso: os senadores Álvaro Dias (PSDB-PR), Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), José Agripino Maia (DEM-RN) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e os deputados Rubens Bueno (PPS-PR) e Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP). Eles queriam que o ex-presidente sofresse processo por coação, tráfico de influência e corrupção ativa.
O Ministério Público esclarece que Jobim voltou a desmentir em depoimento a versão da revista ao assegurar que “em nenhum momento o ex-presidente solicitou ou sugeriu ao ministro Gilmar que atuasse no sentido de obter o adiamento do julgamento do mensalão” e que “o ex-presidente apenas ouviu a conversa sobre o início do julgamento do mensalão, não tendo dela participado”.
Já no fim de semana de divulgação da reportagem Jobim veio a público dizer que não houve um diálogo como o divulgado por Veja. Segundo a revista, Lula sugeriu o adiamento do início do julgamento no STF em troca proteção a Mendes na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, que poderia trazer à tona relações do ministro do Supremo com a quadrilha de exploração de jogos de azar.
Em comunicado emitido à época pelo Instituto Lula, o ex-presidente manifestou “indignação” com a reportagem deVeja.  “Luiz Inácio Lula da Silva jamais interferiu ou tentou interferir nas decisões do Supremo ou da Procuradoria Geral da República em relação à ação penal do chamado mensalão, ou a qualquer outro assunto da alçada do Judiciário ou do Ministério Público, nos oito anos em que foi presidente da República”, indicava o comunicado.

E isso não é uma ofensa, é o pressuposto básico do capitalismo


Chafariz no comício é consequência da privatização do espaço público

Somos andando



Hoje, 27 de setembro, a dez dias das eleições municipais de 2012, tivemos comício da Frente Popular no Largo Glênio Peres, Centro de Porto Alegre. Para quem não é daqui, o Glênio Peres é aquele espaço público que serve, no dia a dia, de passagem para milhares de pessoas, mas que também é palco de manifestações populares, de feiras de agricultura familiar, de ocupação. Um espaço do povo.

Nem tanto.

No meio do comício, enquanto falava a ministra da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, militantes receberam uma visita inesperada. Água. E ela não vinha do céu, mas do chão. A novidade anunciada tempos atrás pela Prefeitura, ocupada por José Fortunati desde que José Fogaça renunciou para se candidatar sem sucesso ao governo do estado, mostrou pela primeira vez claramente o prejuízo que causa.

O chafariz – pontos de água espalhados em uma linha quase reta – está em espaço público, mas foi colocado pela Coca-Cola. A privatização do espaço tem consequências bem graves, e diz muito da forma de administrar a cidade – bem diferente da administração popular. Consequências que vão bem além dos militantes molhados, do outro que caiu ao tropeçar tentando escapar da água e do material de campanha encharcado.

Prefiro não apostar na possibilidade de os correligionários do prefeito Fortunati serem tão contra o espírito democrático a ponto de ligar os chafarizes de propósito. E na verdade não importam muito as desculpas que a Prefeitura possa dar (segundo a Rádio Guaíba, o coordenador do programa Viva o Centro, Glênio Bohrer, disse haver um acordo para que não fossem ligados durante o comício e que desconfia de sabotagem, mas poderiam dizer que ligava automático, sabotagem, acidente, responsabilidade da empresa, não importa). Não importa, porque só têm duas opções: ou o chafariz é responsabilidade da Prefeitura ou da Coca-Cola. O fato é que estamos falando de um espaço público, que deixou de ser.

No momento em que a Prefeitura entrega nas mãos de empresas privadas a recuperação e a administração de lugares do povo, ela está dando um recado claro: esse espaço deixou de ser do cidadão. Ela sujeita os habitantes do município às vontades de uma entidade que se move em função do lucro. E isso não é uma ofensa, é o pressuposto básico do capitalismo, cujo espírito, segundo Max Weber, é não simplesmente o lucro, mas a acumulação de dinheiro. Exatamente o oposto do que deveria ser o pressuposto de uma administração pública, que seria o de prover o bem estar da comunidade.

É esse modelo que vamos deixar ocupar o Paço Municipal mais uma vez?

esse é o herói do carapááálida? o exemplo que a mídia ousa esconder?

Fácil como bater em bêbado


Posted by eduguim on 29/09/12 • Blog da Cidadania






A excitação da direita brasileira com o julgamento do mensalão assemelha-se à que provocam as drogas pesadas. Dopados pelo noticiário, alguns próceres – e outros nem tanto – da oposição demo-tucana se atracam com colunistas amestrados da grande imprensa em uma orgia delirante de análises sem base na realidade.

As declarações de um senador-playboy mineiro – que vive mais em botecos cariocas do que em seu colégio eleitoral ou no próprio Senado – sobre o ex-presidente Lula e o PT, são de fazer rir.

Quem chamou Lula de “chefe de facção”, tentando fazer um trocadilho pobre com o fato de alguns membros de seu partido estarem sendo alvo de um linchamento por juízes acovardados do Supremo, pertence à parcela do PSDB que está envolvida em um caso de corrupção que, como se sabe, deu origem àquele pelo qual “o PT” estaria sendo julgado.

Tucano de Minas criticando o PT por envolvimento com Marcos Valério?! Só pode ser piada…

O fato é que o povo brasileiro está dando uma banana para o circo oposicionista-midiático armado em torno do julgamento do mensalão, conforme pesquisas de opinião revelam. A popularidade do governo Dilma, dela mesma e do ex-presidente Lula nunca estiveram tão altas.

Recentemente, sondagens do eleitorado detectaram que 70% dos brasileiros querem que Lula se recandidate a presidente no lugar de Dilma. Outras mostram que 79% julgam que o governo Lula foi igual ou melhor do que o de Dilma, que é aprovado por 62%.

Como se não bastasse, 81% dos eleitores da cidade mais conservadora do país (São Paulo) declaram ao Datafolha que não irão pautar seus votos na próxima eleição com base no julgamento em curso no STF. Se é assim nessa cidade, imagine, leitor, como deve ser no resto do Brasil.

Lula deveria responder a Aécio Neves? Poderia. Seria fácil demais. Afinal, esse sujeito está sempre sendo flagrado cambaleando pelos botecos cariocas, vive sendo detido em blitz policiais por dirigir bêbado e os relatos sobre envolvimento com drogas se sucedem.


Responder o quê a um cinqüentão que age como adolescente? Responder o quê a alguém que talvez nem estivesse sóbrio quando atacou um dos políticos mais amados e respeitados (pelo povo e pela comunidade internacional) da história brasileira? Brigar com Aécio é fácil como bater em bêbado. Por isso não vale a pena.



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Assista, abaixo, a vídeo que mostra quem é o sujeito que chamou Lula de “chefe de facção”




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Imaginem se fosse o Lula o escândalo que a "imprensa" estaria fazendo, que grande escândalo seria... não sei o que é pior, se um ingênuo desinformado ou um canalha mal-intencionado

sábado, 29 de setembro de 2012

uma sociedade conservadora, safada e corrupta...


Céli Pinto: “Enfrentamos um processo de glorificação da despolitização”


Entrevistei ontem (27) para a próxima edição do Adverso, publicação da Adufrgs Sindical (Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior de Porto Alegre) a cientista política Céli Pinto, professora do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Na entrevista (disponibilizarei o link aqui assim que a entrevista for publicada), Céli Pinto analisa a atual conjuntura política do país a partir de três processos que vem ocorrendo simultaneamente: o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), as eleições municipais e os trabalhos da Comissão da Verdade para investigar os crimes da ditadura.
A professora da UFRGS critica o processo de espetacularização do julgamento em curso no STF e identifica um preocupante quadro de esquizofrenia política no país com a degradação do quadro partidário, advertindo para os riscos da campanha sistemática contra a política e contra os políticos. Céli Pinto enxerga no horizonte uma configuração paradoxal que define como “o pior dos mundos”. Se por um lado os governos Lula e Dilma trazem consigo enormes avanços sociais, no plano de valores parece haver um avanço conservador:
“Há uma falta de vontade política de enfrentar mais de frente as forças conservadoras deste país. Essas forças conservadores ganham, por um lado, com o crescimento econômico e o aumento de consumo, e, por outro, há um avanço de valores conservadores, de avanço de valores das igrejas pentecostais e da igreja católica, dando o tom do que pode e do que não pode no país. Então, temos uma combinação que é o pior dos mundos. E esse pior dos mundos não é contra o desenvolvimento social. Nem a Igreja Católica nem os pentecostais são contra o aumento do consumo e de emprego. Muito menos a burguesia brasileira, desde que não haja aumento de poder das pessoas, que divida um pouco a imensa concentração de poder que há neste país”.
Como agravante, temos ainda uma campanha midiática diária e sistemática contra a política e os políticos, descrita assim por Céli Pinto:
“Enfrentamos um processo de despolitização e até de glorificação da despolitização que afirma que o que é político é ruim e o que não é político é bom. Esse discurso vem sendo repetido incessantemente, dia e noite. Em sempre disse para meus alunos e em entrevistas que eu não acreditava que a grande mídia dominava corações e mentes em lugar nenhum do mundo e muito menos no Brasil; que se dominasse o Lula não teria sido presidente da República ou o Olívio não teria sido governador aqui no Rio Grande do Sul. Mas, neste momento, eu acho que há uma influência sim, muito mais espalhada, menos política, mais na escala de valores, que está muito entranhada nas pessoas. Você pega um táxi, vai a um consultório, conversa com as pessoas e quase todas estão falando mal da política e dos políticos. Esse discurso é repetido à exaustão diariamente na mídia: os políticos são corruptos, não são sérios, não trabalham”.
Integrante da Comissão Estadual da Verdade no Rio Grande do Sul, ela define um dos principais objetivos desse trabalho: “queremos contar a história de quem foi preso, torturado, morto ou desaparecido e também apontar quem torturou e matou. Queremos mostrar que a tortura, a morte, o desaparecimento e a humilhação não foram exceções, mas sim uma política de Estado”.
FotoBruna Cabrera/Especial Palácio Piratini

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Ministério da Cultura e as novas possibilidades


Cultura: a carta dos movimentos a Marta Suplicy

Que propostas foram apresentadas à ministra, em 20/9. Por que elas abrem nova avenida para a cultura política da autonomia
Uma grande inovação política pode ter ocorrido em 20 de setembro, quando os movimentos sociais da Cultura reuniram-se com a nova ministra da área, Marta Suplicy. O encontro permite ter esperanças na recuperação de um ministério extremamente inovador, durante o governo Lula – porém opaco, nos últimos dois anos. Mas seu alcance vai além. Ele abre novas janelas para a ação dos movimentos que reclamam a autonomia e a reinvenção da política, mas que não abrem mão de exercer influência sobre o Estado desde já. E marca um contraste brutal entre a ação da sociedade civil organizada e o das grandes empresas e lobbies – acostumados a colonizar o poder; fazê-lo agir segundo seus interesses privados; cultivar os sigilos comprometedores, o tráfico de influências e múltiplas formas de corrupção.
Tão logo toma posse, qualquer governante é cercado de aconchegos e ameaças, pelos grupos de pressão. O processo nunca é transparente. Por um lado, há projetos mirabolantes, propostas, reuniões com assessores, insinuações sobre financiamento de campanhas eleitorais futuras. Por outro, sinais de que, caso contrariados, os grupos econômicos serão capaz de reagir. A mídia é peça-chave no processo. “O usineiro faz barulho com orgulho de produtor”, notou Chico Buarque há anos. Às autoridades que se submetem, serve-se os holofotes da fama; às que destoam, as portas do inferno.
A reivindicação de autonomia, expressa pela sociedade civil há tempo, procura romper com este processo. Indica que política vai muito além dos gabinetes e das eleições: implica atitudes e atos assumidos a todo momento e que começam, desde já, a produzir transformações.
Mas como resolver a equação delicadíssima das relações com o poder instituído? Desprezá-lo – o que permite ao capital colonizá-lo com facilidade ainda maior? Resignar-se a suas regras, aceitando e aderindo a relações anti-democráticas, na esperança de mudá-las num horizonte cada vez mais distante e inatingível?
Construído a partir de uma iniciativa da rede Fora do Eixo, o encontro dos movimentos da Cultura com a nova ministra oferece uma nova resposta. E se a sociedade civil, mantendo explicitamente sua autonomia, dialogar com o poder de forma aberta? Em si mesma, a atitude representa uma ruptura: obriga o Estado a praticar uma democracia e transparência há muito esquecidas – e provavelmente mortais, para os interesses que procuram colonizar a política. Basta imaginar o que ocorreria, por exemplo, se fossem públicos os debates sobre como aplicar, em cada cidade, os recursos destinados a Transportes, Segurança, Urbanização ou Educação. Como se sustentariam, à luz do dia, as decisões tomadas, sempre a portas fechadas, para favorecer a minoria que tem carros, vive em bairros “nobres” e se julga “culta”?
A iniciativa que pode construir um novo MinC materializou-se num grande fato político e num documento, entregue à ministra Marta Suplicy e reproduzido abaixo. Vale a pena conhecê-lo. Sinaliza algo também novo. Dispostos a reivindicar abertamente diante do Estado e a conservar sua autonomia, os movimentos sociais elevam o nível do debate e resgatam uma dimensão que a política nunca deveria ter perdido: a polêmica indispensável à construção democrática do futuro comum.
Como reagirão, diante da carta abaixo, os interesses encastelados nas relações tradicionais entre Estado e Cultura? Seria instrutivo (e delicioso…) vê-los apresentar, de público, seus argumentos… (A.M.)

CARTA DO MOVIMENTO SOCIAL DAS CULTURAS
Prezada Ministra Marta Suplicy,
Sua posse significa para nós a possibilidade de recuperar a grandeza e relevância na ação do Ministério da Cultura. Sua trajetória política como prefeita, ministra e senadora nos abre enormes possibilidades de avanço. Oportunidade de recuperar, na área cultural, o sentido de mudança que marcou a eleição de um operário e uma mulher como presidentes. Sentido de uma nova importância estratégica para a cultura que redefiniu a ação do Estado, desde a eleição do ex-presidente Lula – e que tem no governo da presidente Dilma a possibilidade ir além.
Em todas as áreas sociais, mas na cultura em especial, o governo Lula ampliou a ação do poder público, tornando-a abrangente e complexa. E também definiu um novo lugar da sociedade. Envolvendo-nos a todos na co-responsabilidade de formulação e gestão das políticas, deu um salto nas relações entre governo e sociedade civil. Em especial na cultura, o governo passou a se relacionar com dezenas de milhares de projetos, grupos e movimentos culturais. Os mais de 4000 pontos, pontões e pontinhos são apenas 10% das parcerias estabelecidas. Acreditamos que esta amplitude é um dado positivo não apenas para nós, do campo cultural, mas para a qualidade do desenvolvimento que queremos para o Brasil.
Consideramos que a gestão de Ana de Hollanda (e sua equipe de Secretários e presidentes) foi marcada por ausência de diálogo, interrupção de política públicas, omissão frente aos grandes temas e conservadorismo político. Focado na indústria cultural tradicional, nas belas artes, o MinC perdeu significado social, político e cultural. Regredindo para uma ideia elitista de cultura, a gestão Hollanda dedicou-se surpreendentemente a negar o que havia sido contruído em oito anos. A nova gestão herda agora muitos destes nós e desafios.
No vácuo deixado pelo MinC, os movimentos culturais ocuparam o vazio não apenas para resistir, mas para levar adiante a agenda da cultura. Desse ponto de vista, muito avançamos em lucidez e na capacidade de defender agendas que unem a maior paret do setor cultural.
Acreditamos que sua posse encerra este ciclo. E por isso defendemos que os programas e ações precisam não apenas ser retomados, mas fortalecidos, ampliados e atualizados. A sociedade quer voltar a formular junto ao MinC, sobretudo, para abrir novas portas e caminhos não desbravados.
O Ministério da Cultura que queremos precisa ter as portas abertas, ser republicano, posicionando a cultura acima de interesse partidários, armadilhas tecnocráticas ou lobbies (muito oriundos do próprio mundo da cultura) que tentam minar a ação pública.
Assim ouvimos com alegria o chamado da Ministra ao diálogo e à construção de uma agenda. Respeitosamente, nós, movimentos da cultura, artistas, produtores culturais, intelectuais, grupos culturais, pontos de cultura, povos de terreiro apresentamos algumas propostas. Agendas que encontram base no Plano Nacional de Cultura (2010), na II Conferência Nacional de Cultura.
1- É preciso destravar agenda da modernização da Lei de Direitos Autorais e da fiscalização da gestão coletiva, em especial do ECAD. Se de um lado, artistas são fragilizados pelo atual sistema. De outro, o compartilhamento do conhecimento, a internet e a inovação são ameaçadas por uma legislação anacrônica de direito autoral.
2- A lei Rouanet continua gerando enormes distorções e concentrações de recurso público. Por isso, é fundamental a reforma imediata no financiamento da cultura, com a tramitação e posterior sanção do Procultura e do Vale-Cultura. É preciso recuperar a presença do MinC no Congresso Nacional: seja para o acompanhamento do MinC na tramitação dos projetos de lei da cultura, seja para garantir o mínimo de 20% de investimento privado em cada projeto cultural. É preciso retomar a parceria com as Estatais, para editais mais democráticos e transparentes.
3 – É preciso garantir o apoio do MinC à Internet Livre, ao Marco Civil da Internet, às redes sociais e culturais, a retomada do espaço de promoção da cultura digital, ativamente, por meio de políticas que já foram desenhadas nas edições dos Fóruns de Cultura Digital.
4- Retomar o fomento à diversidade cultural, com especial atenção aos indígenas, aos pontos de cultura, quilombolas, povos de terreiro, griôs, e seus projetos culturais. Estudar a possibilidade de reverter o decreto de desmantelamento (em 2012) da Secretaria de Diversidade Cultural, responsável por esta agenda. Com Lula, ultrapassamos o redutor modelo da Identidade (herdeiro do positivismo, do nacionalismo e do militarismo). Hoje nossa grande pauta internacional é a Diversidade Cultural, no qual a identidade não é percebida como conjunto homogêneo, mas como rico agrupamento de signos. Desejamos a retomada vigorosa de políticas para indígenas, ciganos, GLBT, infância, terceira idade.
5- É necessário urgentemente destravar e ampliar o Programa Cultura Viva. Os pontos de cultura estão há dois anos em permanente asfixia administrativa promovida pelo MinC. É preciso interromper o interminável ciclo de “avaliação” do programa, iniciado em 2011, que não levou a lugar algum e desmobilizou a sociedade.
6- As artes precisam de políticas mais efetivas. É preciso desprovincianizar a Funarte, dando a ela um caráter nacional, plural, e capaz de desenvolver políticas fundamentais na área de música, artes visuais, cênicas. É preciso mudar a sede para Brasília. A Funarte não pode ser apenas uma gestora de equipamentos, mas comandar as políticas nacionais de artes. As políticas do MinC precisa ter alcance nacional e buscar combater as desigualdades regionais. Suas instituições devem ter sede em Brasília, na capital federal.
7- É fundamental a mudança de rumo da Secretaria do Audiovisual e sua reorientação para trabalhar em todas as suas dimensões criativas, técnicas e de preservação do audiovisual. Retomar a agenda das TV públicas, e a interface com a agenda da comunicação. É necessário recuperar programas que foram interrompidos de forma arbitrária, como o DOC-TV Brasil.
8- Recuperar a capacidade articulação do MinC com outros ministérios da áreas social. Educação sem cultura é ensino, saúde sem cultura é remediação, segurança sem cultura é repressão, desenvolvimento social sem cultura é assistencialismo. A ação da praças de esporte e cultura tem sido conduzidas sem qualquer transparência.
9- Distanciar o MinC de lobbies privados que agenciam a Lei Rouanet e operam a partir do ECAD. Promover uma política de fomento sem atendimento prioritário de partidos, clientelas ou dos grandes operadores de incentivo fiscal. As reformas da Lei Rouanet e do Direito Autoral, devem ser feitas a partir de uma visão de conjunto.
10 – Sanear a Biblioteca Nacional, garantindo que essa importante instituição cumpra sua missão de guarda e disponibilidade do acervo. Sugerimos um novo locus de coordenação da política de leitura, dentro do MinC, para que a política seja a mais ampla. Sanear a política de livro e leitura de lobbies de editoras e livreiros.
11- Garantir transparência na gestão do IBRAM e atualizar o Iphan. As políticas para museus não podem ignorar a demanda de acervos de artes visuais no Brasil.
12- A Ancine se transformou numa mega agência de regulação de conteúdo. Manter a agência reguladora distante de lobbies de produtores cinematográficos, garantindo sua eficiência e interesse público.
A partir desses considerandos, o movimento social das culturas se dispõe a construir conjuntamente uma agenda de trabalho como o #NovoMinC.
Brasília, 20 de setembro de 2012

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

España: Viva o capital neoliberal e irresponsável, desumano


Garçom ganha repercussão ao impedir que policiais entrassem em bar na Espanha

"Herói é cada pessoa que luta por seus direitos", diz Alberto Casillas Asenjo, que ajudou manifestantes ameaçados pelas forças policiais durante protestos na Espanhac
"Herói é cada pessoa que luta por seus direitos", diz Alberto Casillas Asenjo | Foto: Reprodução
SUL 21

Um garçom de um bar em Madri, na Espanha, obteve repercussão mundial ao impedir na terça-feira (26) que uma tropa de choque local chegasse até manifestantes que estavam refugiados no bar em que ele trabalha. As fotos de Alberto Casillas Asenjo barrando a polícia tornaram-se virais no Facebook e no Twitter.
Assenjo trabalha em um bar que fica em frente ao Museu do Prado, perto da Praça Netuno. Ele relata que um manifestante ferido se refugiou no estabelecimento e ele escutou uma ordem pela polícia para prender o rapaz. Nesse momento ele enfrentou a polícia e disse que não iriam entrar. “Acho que houve um excesso de força policial terrível”, conta o garçom ao Huffington Post.
Segundo o jornal, os momentos de tensão no bar se estenderam por meia hora. Em relação ao fato de usuários das redes sociais terem o chamado de “herói”, Asenjo comentou: “Herói é cada pessoa que luta por seus direitos”.
Veja cenas do garçom a partir do quarto minuto do vídeo abaixo: 

Eu assinei

O STF e o "Mensalão"
Manifesto exige ‘legalidade’ e repudia ‘linchamento’: julgamento ou espetáculo?


publicada terça-feira, 25/09/2012 às 22:52 e atualizada quarta-feira, 26/09/2012 às 12:07

Escrevinhador



por Rodrigo Vianna

Depois do fracasso do golpe contra Chavez, em 2002, a tática dos conservadores mudou. Em Honduras, o golpe teve aparência de legalidade. No Paraguai, o caminho foi o mesmo. E no Brasil? Não chega a ser golpe o que vemos no Supremo Tribunal Federal. Mas é um ensaio. Ministros do STF emparedados pela mídia. Magistrados que invertem a lógica e afrontam a Constituição, exigindo que réus comprovem sua inocência. Entramos na era da “presunção da culpa”. E, pra completar, um julgamento marcado – e fatiado – para coincidir com as eleições. Coincidências?

Não se trata de negar os atos ilícitos praticados por gente do PT e “partidos aliados”. Erraram, que sejam punidos. Mas e o Mensalão tucano, muito anterior: por que não foi a julgamento até hoje? E o escândalo do Cachoeira: por que o Procurador Geral sentou em cima da investigação que atingia líder e governador da oposição, além de jornalistas da revista mais suja do Brasil?

O País precisa ficar atento. Os golpes do século XXI não são mais liderados por generais. Mas tramados em redações e TVs, com apoio de políticos de oposição. Se o golpe do delegado não deu certo em 2006, e o golpe da bolinha de papel fracassou em 2010, avança-se para uma técnica mais sutil.

Diante desse ensaio de “golpe institucional”, a sociedade reage. Confira abaixo oa Carta ao povo brasileiro, que pede o óbvio: o STF precisa agir como Poder Judiciário, e não como um órgão a serviço da oposição midiática.

Para assinar a carta, envie um e-mail para cartaabertaadesoes@gmail.com

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CARTA ABERTA AO POVO BRASILEIRO

Desde o dia 02 de agosto o Supremo Tribunal Federal julga a ação penal 470, também conhecida como processo do mensalão. Parte da cobertura na mídia e até mesmo reações públicas que atribuem aos ministros o papel de heróis nos causam preocupação.

Somos contra a transformação do julgamento em espetáculo, sob o risco de se exigir – e alcançar – condenações por uma falsa e forçada exemplaridade. Repudiamos o linchamento público e defendemos a presunção da inocência.

A defesa da legalidade é primordial. Nós, abaixo assinados, confiamos que os Senhores Ministros, membros do Supremo Tribunal Federal, saberão conduzir esse julgamento até o fim sob o crivo do contraditório e à luz suprema da Constituição.


Fernando Morais, jornalista e escritor

Hildegard Angel, jornalista

Luiz Carlos Barreto, produtor cinematográfico

Olgária Matos, filósofa, professora universitária Unifesp

Abelardo Blanco, cientista politico, publicitário

Adilson Monteiro Alves, sociólogo

Adriano Pilatti, professor de direito PUC/RJ

Afonso Celso Lana Leite, professor universitário UFU

Alceu Valença, músico

Alcides Nogueira, escritor

Aldimar Assis, advogado

Altamiro Borges, jornalista

Amélia Cohn, socióloga, professora Faculdade de Medicina USP

Ana Carolina Lopes, fotógrafa

Ana Corbisier, pesquisadora

Ana Fonseca, economista, professora universitária

Ana Helena Tavares, jornalista

Ana Maria dos Santos, advogada

Ana Maria Freire, escritora

André Borges, escritor e poeta

André Klotzel, cineasta

André Medalha e Almada, designer

André Tokarski, presidente da UJS – União da Juventude Socialista

Antonio Abujamra, ator

Antonio Carlos Fon, jornalista

Antonio Celso Ferreira, historiador, professor Unesp/Assis

Antonio Gilson Brigagão, jornalista e diretor teatral

Antonio Grassi, ator

Antonio Ibañez Ruiz, educador, professor universitário UNB

Antonio Pitanga, ator

Armando Freitas Filho, poeta

Arnaldo Carrilho, servidor público aposentado

Artur Henrique, sindicalista, secretário relações internacionais da CUT para as Américas

Artur Scavone, jornalista

Aton Fon Filho, advogado

Beatriz Cintra Labaki, socióloga

Beilton Freire da Rocha, médico

Benedito Prezia , antropólogo e escritor

Bernadette Figueiredo, professora

Betinho Duarte, administrador de empresa

Bruno Barreto, cineasta

Carlos Azevedo, jornalista

Carlos Duarte, advogado

Carlos Eduardo Niemeyer – Fotógrafo

Carlos Enrique Ruiz Ferreira, professor, coordenador assuntos institucionais e internacionais da UEPB

Carlos Roberto Pittoli, advogado

Carlos Walter Porto-Gonçalves, geografo, professor universitario UFF

Carlota Boto, pedagoga e professora da FEUSP

Carolina Abreu

Ceci Juruá, economista

Cecilia Boal, psicanalista

Célio Turino, historiador, gestor cultural

Celso Frateschi, ator

Celso Horta, jornalista

Cenise Monte Vicente, psicóloga, ex-diretora do UNICEF/SP

Christina Iuppen, professora

Clara Charf, militante feminista

Claudio Adão, jogador de futebol

Claudio Kahns, cineasta

Cloves dos Santos Araújo, advogado, professor universitário UNEB

Consuelo de Castro, dramaturga

Cristiane Souza de Oliveira

Daniel Tendler, cineasta

David Farias, artista plástico, escultor e pintor

Dayse Souza, psicóloga

Débora Duboc, atriz

Derlei Catarina de Lucca, professora

Domingos Fernandes, jornalista

Drauzio Gonzaga, professor universitário UFRJ

Dulce Maia de Souza, ambientalista

Dulce Pandolfi, historiadora, pesquisadora CPDOC/FGV

Edmilson José Valentim dos Santos, engenheiro

Eduardo Ebendinger, ator

Edvaldo Antonio de Almeida, jornalista

Eide Barbosa, gestora de pessoas

Eleonora Rosset, psicanalista

Emiliano José, jornalista e escritor

Emir Sader, sociólogo, professor universitário UERJ

Eneida Cintra Labaki, historiadora

Ercílio Tranjan, publicitário

Eric Nepomuceno, jornalista e escritor

Ernesto Tzirulnik, advogado

Erotildes Medeiros, jornalista

Eugenio Staub, empresário

Fabio Dutra, estudante de direito USP

Fabio Roberto Gaspar, advogado

Felipe Lindoso, produtor cultural

Fernando Nogueira da Costa, economista, professor universitário Unicamp

Fernando Sá, cientista político

Fernando Soares Campos, servidor público

Fidel Samora B.P. Diniz, músico

Flora Gil, produtora cultural

Francis Bogossian, engenheiro, Academia Nacional de Educação e Academia Nacional de Engenharia

Gabriel Cohn, sociólogo, professor USP

Gabriel Landi Fazzio, estudante de direito USP

Gabriel Pereira Mendes Azevedo Borges, estudante de direito USP

Gabriel Priolli, jornalista

Gabriela Shizue S. de Araujo, advogada

Galeano Bertoncini, cirugião dentista

Gaudêncio Frigoto, educador, professor universitário UERJ

Gegê, vice-presidente nacional da CMP – Central de Movimentos Populares

Giane Alvares Ambrósio Alvares, advogada

Gilson Caroni, sociólogo, professor universitário Faculdades Integradas Hélio Alonso/RJ

Gisela Gorovitz, empresária e advogada

Glaucia Camargos, produtora de cinema

Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista, professor da FSP/USP

Guilherme Silva Rossi, estudante de direito USP

Heloísa Fernandes, socióloga, professora USP e ENFF

Hugo Carvana, ator e cineasta

Humberto de Carvalho Motta, estudante universitário

Ícaro C. Martins, cineasta

Idacil Amarilho, administrador

Iná Camargo, professora universitária USP

Iolanda Toshie Ide, professora universitária aposentada Unesp/Marília

Isa Grispun Ferraz, cineasta

Ivan Seixas, presidente do Condepe – Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana

Ivo Rosset, empresário

Ivone Macedo Arantes, arquiteta

Ivy Farias, jornalista

Izabel de Sena, professora universitária, Sarah Lawrence College, NY

Izaias Almada, escritor

Jacy Afonso de Melo, secretário de organização da CUT Nacional

Jane Argollo, coordenadora de Ponto de Cultura

Jessie Jane Vieira, historiadora, professora da UFRJ

Jesus Chediak, jornalista

João Antonio de Moraes, sindicalista, coordenador geral da FUP – Federação Única dos Petroleiros

João Antonio Felício, sindicalista, secretário de relações internacinais da CUT

João Carlos Martins, pianista e maestro

João Feres, cientista político

João Jorge Rodrigues dos Santos, advogado e presidente do Grupo Olodum

João Lopes de Melo

João Paulo Possa Terra, estudante de direito USP

João Pedro Stédile, presidente nacional do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

João Quartim de Morais, cientista político, professor universitário Unicamp

Jorge Ferreira, empresário

Jorge Mautner, cantor e escritor

José Antonio Fernando Ferrari, antiquário

José Arrabal, professor, jornalista e escritor

José Carlos Asbeg, cineasta

José Carlos Henrique, arquiteto

José Carlos Tórtima, advogado

José Fernando Pinto da Costa, presidente do grupo educacional Uniesp

José Ibrahim, líder sindical

José Luiz Del Roio, escritor

José Marcelo, pastor batista

Josefhina Bacariça, educadora popular em Direitos Humanos

Julia Barreto, produtora cinematográfica

Julio Cesar Senra Barros, interlocutor social

Jun Nakabayashi, cientista político

Juvandia Moreira, sindicalista, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região

Ladislau Dowbor, economista, professor universitário PUC/SP

Laio Correia Morais, estudante de direito USP

Laurindo Leal Filho, jornalista e sociólogo, professor universitário USP

Lauro Cesar Muniz, dramaturgo

Levi Bucalem Ferrari, escritor e professor de ciências políticas

Lia Ribeiro, jornalista

Lincoln Secco, historiador, professor universitário USP

Lorena Moroni Girão Barroso, servidora pública federal

Lucas Yanagizawa Paes de Almeida Nogueira Pinto, estudante de psicologia

Lucy Barreto, produtora cinematográfica

Luiz Carlos Bresser Pereira, economista, professor FGV

Luiz Edgard Cartaxo de Arruda Junior, memorialista

Luiz Fenelon P. Barbosa, economista

Luiz Fernando Lobo, artista

Luiz Gonzaga Belluzzo, economista, professor universitário Unicamp

Luiz Pinguelli Rosa, professor da UFRJ

Maia Aguilera Franklin de Matos, estudante de direito USP

Maira Machado Frota Pinheiro, estudante de direito/USP

Malu Alves Ferreira, jornalista

Manoel Cyrillo de Oliveira Netto, publicitário

Marcelo Carvalho Ferraz, arquiteto

Marcelo Santiago, cineasta

Marcílio de Freitas, professor da UFAM

Márcio Souza, escritor

Marcionila Fernandes, professora, pró-reitora de pós-graduação e pesquisa da UEPB

Marco Albertim, jornalista

Marco Antonio Marques da Silva, desembargador

Marco Aurélio Belém Purini, estudante de direito USP

Marco Aurélio de Carvalho, advogado

Marco Piva, jornalista e empresário da área de comunicações

Marcos José de Oliveira Lima Filho, doutorando em Direito da UFPB

Marcus Robson Nascimento Costa

Maria Carmelita A. C. de Gusmão, professora

Maria das Dores Nascimento, advogada

Maria do Socorro Diogenes, professora

Maria Guadalupe Garcia, socióloga

Maria Izabel Calil Stamato, psicóloga, Universidade Católica de Santos

Maria José Silveira, escritora

Maria Luiza de Carvalho, aposentada

Maria Luiza Quaresma Tonelli, professora e advogada

Maria Victoria Benevides, socióloga, professora universitária USP

Mariano de Siqueira Neto, desembargador aposentado

Marilene Correa da Silva Freitas, professora da UFAM

Marília Cintra Labaki, secretária

Marília Guimarães, escritora, Comitê Internacional de intelectuais e artistas em defesa da humanidade

Mário Cordeiro de Carvalho Junior, professor da FAF/UERJ

Marlene Alves, professora, reitora da UEPB

Marly Zavar, coreógrafa

Marta Nehring, cineasta

Marta Rubia de Rezende, economista

Martha Alencar, cineasta

Maryse Farhi, economista, professora universitária

Matheus Toledo Ribas, estudante de direito USP

Michel Chebel Labaki Jr.

Michel Haradom, empresário, presidente da FERSOL

Mirian Duailibe, empresária e educadora

Ney de Mello Almada, desembargador aposentado

Nilson Rodrigues, produtor cultural

Noeli Tejera Lisbôa, jornalista

Oscar Niemeyer, arquiteto

Otavio Augusto Oliveira de Moraes, estudante de economia PUC/SP

Otávio Facuri Sanches de Paiva, estudante de direito USP

Pablo Gentili, educador, professor universitário UERJ, FLACSO

Paula Barreto, produtora cinematográfica

Paulo Baccarin, procurador da Câmara Municipal de São Paulo

Paulo Betti, ator

Paulo Roberto Feldmann, professor universitário, USP, presidente da Sabra Consultores

Paulo Thiago, cineasta

Pedro Gabriel Lopes, estudante de direito USP

Pedro Igor Mantoan, estudante de direito USP

Pedro Rogério Moreira, jornalista

Pedro Viana Martinez, estudante de direito USP

Raul de Carvalho, pesquisador

Regina Novaes, socióloga/RJ

Regina Orsi, historiadora

Renato Afonso Gonçalves, advogado

Renato Tapajós, cineasta

René Louis de Carvalho, professor universitário UFRJ

Ricardo Gebrim, advogado

Ricardo Kotscho, jornalista

Ricardo Miranda, cineasta

Ricardo Musse, filósofo, professor USP

Ricardo Vilas, músico

Ricardo Zarattini Filho, engenheiro

Risomar Fassanaro, poetisa e jornalista

Roberto Gervitz, cineasta

Rodrigo Frateschi, advogado

Ronaldo Cramer, professor de direito PUC/RJ

Rose Nogueira, jornalista

Rubens Leão Rego, professor Unicamp

Sandra Magalhães, produtora cultural

Sebastião Velasco e Cruz, cientista político, professor universitário Unicamp

Sérgio Ferreira, médico

Sergio Amadeu da Silveira, sociólogo e professor da UFABC

Sergio Caldieri, jornalista

Sérgio Mamberti, ator

Sergio Mileto, empresário, presidente da Alampyme – Associação Latino Americana de Pequenos Empresários

Sérgio Muniz, cineasta

Sérgio Nobre, sindicalista, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

Sérgio Ricardo, cantor

Sérgio Vampre, advogado

Silvio Da Rin, cineasta

Tatiana Tiemi Akashi, estudante de direito USP

Teresinha Reis Pinto, biomédica e pedagoga Consultora UNESCO

Tereza Trautman, cineasta

Theotônio dos Santos, economista

Tizuka Yamasaki, cineasta

Tullo Vigevani, professor Unesp/Marília

Urariano Mota, escritor e jornalista

Vagner Freitas de Moraes, sindicalista, presidente nacional da CUT – Central Única dos Trabalhadores

Valter Uzzo, advogado

Venicio Artur de Lima, jornalista e sociólogo

Vera Lúca Niemeyer

Vera Maria Chalmers, professora universitária Unicamp

Verônica Toste, professora universitária IESP/UERJ

Vitor Fernando Campos Leite, estudante de direito USP

Vitor Quarenta, estudante de direito Unesp/Franca

Vladimir Sacchetta, jornalista e produtor cultural

Wadih Damous, advogado/RJ

Walnice Nogueira Galvão, professora de literatura comparada USP

Walquikia Leão Rego, professora Unicamp

Zé de Abreu, ator



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eh, eh! ...dois pesos e várias medidas..."guenta" Brasil!!!!segura a sua in justiça generalizada...


Gurgel sugere arquivar ação contra deputado que recebeu de Cachoeira

publicado em 24 de setembro de 2012 às 23:53


“Foi igual a ganhar na loteria”, diz Stepan sobre arquivamento

Ao comemorar parecer da PGR pelo arquivamento do inquérito a que responde no STF, deputado diz ter tirado “peso das costas”. Ele afirma que não se arrepende da amizade com Cachoeira e já admite rever decisão de deixar a política

POR EDSON SARDINHA | 24/09/2012 17:31, no Congresso em Foco

Stepan afirma que não sabia das atividades ilegais de Cachoeira quando lhe pediu empréstimo
Para o deputado Stepan Nercessian (PPS-RJ), a decisão da Procuradoria-Geral da República de recomendar o arquivamento do inquérito a que ele responde no Supremo Tribunal Federal (STF) teve o sabor de “ganhar na loteria” e de uma “nova reeleição”. Investigado por suas relações com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, Stepan diz estar se sentindo “aliviado” e “anistiado” com o parecer enviado na sexta-feira (21) passada pelo procurador-geral, Roberto Gurgel, ao ministro Ricardo Lewandoswki, relator do seu caso no Supremo.

“Foi uma das melhores notícias de toda a minha vida. Estava esperando com muita ansiedade o desfecho, independentemente de qual fosse. Era angustiante ficar no limbo das coisas. Recebi com muita alegria, era como se estivesse sendo reeleito. Tirou um peso das minhas costas”, declarou o deputado ao Congresso em Foco. “Foi igual ganhar na loteria”, acrescentou o parlamentar, que também é ator de teatro, cinema e televisão.

O deputado é investigado por corrupção passiva em razão de suas ligações com Cachoeira, de quem recebeu R$ 175 mil. Segundo Stepan, R$ 160 mil se referiam a um empréstimo, já saldado, para a compra de um apartamento. O restante foi usado na compra de ingressos para o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, sustenta o parlamentar. Ele afirma que mantinha apenas uma amizade, há duas décadas, com o contraventor, preso na Operação Monte Carlo.

Por praxe, o Supremo costuma acolher o parecer da Procuradoria-Geral da República quando a recomendação é pelo arquivamento. Segundo a assessoria da PGR, Gurgel não viu indícios de crime na relação do parlamentar com Cachoeira. Em entrevista ao Congresso em Foco, Stepan diz não se arrepender da amizade e reafirma que não sabia dos negócios do contraventor.

Responsabilidade

“Fiquei triste, mas jamais negarei minha relação de amizade. A gente não pode se arrepender de amizades de jeito nenhum. Lamento a situação em que ele está, preso há esse tempo todo. Ele vai responder como todos devem responder a tudo. Todos têm sua responsabilidade”, disse. “Os empréstimos foram feitos nos trâmites normais. Tenho certeza de que não cometi crime algum. Pedi empréstimo a um amigo que tinha várias empresas. Mas não sabia nada dos negócios dele. Ele era muito reservado”, acrescentou.

Stepan, que chegou a dizer que deixaria a política assim que teve seu nome associado ao caso Cachoeira, já admite rever sua decisão. “Deus queira que eu possa continuar trabalhando. O tempo é que vai dizer. Gostaria imensamente de continuar. Tem muita coisa para rolar. Quero me dedicar aos dois anos de mandato que me restam para saber o que vai acontecer. Tomei uma ducha de água fria na paixão que sempre tive pela política. Preciso me recuperar disso”, afirmou.

Ele conta que tirou uma grande lição desse episódio: “Quando você está num cargo público, tem de ser como a mulher de César, tem que não só ser honesto como mostrar ser honesto. Porque isso pode ser usado contra você e ser mal interpretado. Tem de tomar cuidado, mas não significa que vou abrir mão do meu jeito de ser. Estava me sentindo até proibido de rir”.

Leia a íntegra da entrevista de Stepan Nercessian:

Congresso em Foco – O que representa, para o senhor, o pedido de arquivamento de seu inquérito pelo procurador-geral da República no caso Cachoeira?

Stepan Nercessian – Foi uma das melhores notícias de toda a minha vida. Estava esperando com muita ansiedade o desfecho, independentemente de qual fosse. Era angustiante ficar no limbo das coisas. Recebi com muita alegria, era como se estivesse sendo reeleito. Tirou um peso das minhas costas. É algo que mexe com a gente. Só ontem vi a notícia no Congresso em Foco. Foi igual a ganhar na loteria. A sensação de alívio foi tão grande que me fez sentir que estava sofrendo até mais do que imaginava. Fui beber cerveja no botequim com uma sensação muito boa. É muito importante, nesse momento em que o Judiciário está sendo aplaudido pelas pessoas, que o Ministério Público tenha chegado a essa conclusão. É uma sensação de anistia e alívio.

O que mudou, na sua vida, nesse período de investigação?

Não mudei nada, do começo da ação até hoje. Sempre me coloquei à disposição de todos, da Justiça, da CPI e do Conselho de Ética. Expus logo todas as provas que eu tinha. A partir daí, foi tudo muito angustiante, uma saga, porque não tenho outra coisa na vida, a não ser o nome. Politicamente, foi como se eu, que nunca tive nada, tivesse perdido tudo. Não tenho cargos, não exerço essa política. Fui eleito com meu nome, com minha história, minhas posições políticas. Sempre estive do outro lado. Não sou um fundamentalista, mas sempre me coloquei à disposição de fazer política com ética. De repente, apareci no lançamento desse escândalo. Não fui um personagem que chegou depois do capitulo 100. Meu nome serviu de lançamento. Foram cinco ou seis noites seguidas no Jornal Nacional, sem que soubéssemos da dimensão que tinha essa coisa toda.

Que lições o senhor tira desse episódio todo?

Nunca tive dois comportamentos na vida. Nunca criei a imagem de que sou um artista assim ou um político assado. Sempre agi com naturalidade. Quando você está num cargo público, tem de ser como a mulher de César, tem que não só ser honesto como mostrar ser honesto. Porque isso pode ser usado contra você e ser mal interpretado. Tem de tomar cuidado, mas não significa que vou abrir mão do meu jeito de ser. Estava me sentindo até proibido de rir. Quando você responde a um negócio desses, é como se você tivesse de parar de beber porque não tem mais direito. Eu entrava na rede social para falar de futebol, aí vinha uma avalanche de agressividade no twitter. As pessoas se sentem imediatamente no direito de tratar você feito um lixo. Felizmente, fora isso, não me faltou, em momento algum, incentivo e apoio.

Apoio de quem, por exemplo?
Fiquei emocionado com a quantidade de pessoas na Câmara que imediatamente se solidarizaram comigo no sentido de demonstrar confiança absoluta na minha versão dos fatos. Gostaria de citar nominalmente o Psol, que apresentou denúncia contra todo mundo, mas não apresentou contra mim por me conhecer. Lideranças do PT vieram falar comigo e disseram que, apesar de eu estar na oposição, tinham um olhar especial em relação a mim. Assim que tive meu nome citado, o ministro (do Esporte) Aldo Rebelo logo me telefonou. Disse que estava à disposição para prestar depoimento, em qualquer instância, para dizer quem eu sou.

Vocês são amigos?
Nunca tivemos amizade pessoal, mas é uma amizade política porque há uma relação de confiança.  Isso tudo me ajudou demais a passar por esse período. Mesmo na Comissão de Educação e Cultura, fui eleito presidente da Subcomissão Permanente de Cultura, uma demonstração grande de como as pessoas estavam separando as coisas.

O senhor se arrepende de ter mantido relação com o Cachoeira?

Fiquei triste, mas jamais negarei minha relação de amizade. A gente não pode se arrepender de amizades de jeito nenhum. Lamento a situação em que ele está, preso há esse tempo todo. Ele vai responder como todos devem responder a tudo. Todos têm sua responsabilidade. Fui vereador por seis anos aqui no Rio. Fui eleito vice-presidente da Câmara Municipal, com 51 votos de todos os vereadores, quando meu partido só tinha duas cadeiras. Fui eleito por causa da amizade. Nesse período, assassinaram três ou quatro vereadores envolvidos com crimes, uns três vereadores foram presos. Convivi com todos eles ali dentro, mas nunca me envolvi com esse pessoal.

O senhor pediu empréstimo a ele, mas não sabia dos negócios do Cachoeira?

Os empréstimos foram feitos nos trâmites normais. Tenho certeza de que não cometi crime algum. Pedi empréstimo a um amigo que tinha várias empresas. Mas não sabia nada dos negócios dele. Ele era muito reservado. Acredito que tenha sido uma grande demonstração de amizade e respeito da parte dele não me contar nada, porque nunca tivemos conversa sobre essas coisas. Falávamos do Botafogo, de amenidades. Por ser goiano, tenho uma quantidade enorme de amigos em Goiás. Na última vez que estive em Goiânia, sentei num bar e, em menos de duas horas, tinha umas 20 pessoas na mesa.

O senhor chegou a dizer que deixaria a política assim que o caso estourou. Mantém essa posição?
Deus queira que eu possa continuar trabalhando. O tempo é que vai dizer. Gostaria imensamente de continuar. Sei que não vai ser no mesmo volume, mas espero que boa parte da imprensa divulgue o pedido de arquivamento numa proporção aproximada à da divulgação da abertura das investigações. Outro dia encontrei uma senhora com lágrimas nos olhos, que me disse ter ficado decepcionada ao ver meu nome nisso, porque votava em mim há três eleições e me achava diferente. E ela não sabia exatamente qual era a acusação que havia contra mim. Tem muita coisa para rolar. Quero me dedicar aos dois anos de mandato que me restam para saber o que vai acontecer. Tomei uma ducha de água fria na paixão que sempre tive pela política. Preciso me recuperar disso. Por conta desse negócio, fiquei afastado da campanha municipal, que é um momento em que todo deputado que pretende se eleger dá apoio a candidatos a vereador e prefeito. Dancei nisso este ano. Eu mesmo resolvi me afastar, não pedir voto para os outros, até para não prejudicar as pessoas que queria ajudar. Estava me sentindo alijado do processo.

Que avaliação o senhor faz do trabalho da CPI do Cachoeira, que suspendeu seus trabalhos às vésperas das eleições, quando se voltava mais para as doações da Delta?
Sempre se disse que esta era uma CPI diferente, que começava de onde as outras terminavam. Ela partiu de uma investigação. O que vejo é o seguinte: ela foi para um lado que não era a intenção inicial. A CPI foi criada para investigar o envolvimento de pessoas públicas e empresas com o Carlinhos Cachoeira. Agora, parece que estão com dificuldade porque entraram na Delta. Isso atravancou tudo. É como se tivesse quase que abrir outra CPI. Pode ser que as pessoas estejam fazendo coisas que surpreendam todo mundo. Mas acho que as investigações vão esfriar depois das eleições.  Acho que, terminadas as eleições, a tendência é a CPI despolitizar mais e centrar na investigação. Perdeu-se muito tempo nessa briga política, em vez de ser mais técnica. Depois das eleições, a CPI precisará dar uma guinada, até para dar uma satisfação à sociedade.
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terça-feira, 25 de setembro de 2012

a demonização dos personagens políticos


A repetição da história


Autor: 
 
Coluna Econômica
São significativas as semelhanças entre os tempos atuais e o período pré-64, que levou à queda de Jango e ao início do regime militar e mesmo o período 1954, que levou ao suicídio de Getúlio Vargas.
Os tempos são outros, é verdade, e há pelo menos duas diferenças fundamentais descartando a possibilidade de um mesmo desfecho: uma  economia sob controle e uma presidência exercida na sua plenitude, sem vácuo de poder.
***
Tirando essas diferenças, a dança é a mesma.
A falta de perspectivas da oposição em assumir o poder, ou em desenvolver um discurso propositivo, leva-a a explorar caminhos não-eleitorais.
Parte-se, então, para duas estratégias de desestabilização  – ambas em pacto com a chamada grande mídia.
Uma, a demonização dos personagens políticos. Antes do seu suicídio, Vargas foi submetido a uma campanha implacável, inclusive com ataques à sua honra pessoal – que, depois, revelaram-se falsos.
No quadro atual, sem espaço para criticar a presidente Dilma Rousseff, a mídia – especialmente a revista Veja – move uma campanha implacável contra Lula. Chegou  ao cúmulo de ameaçar com uma entrevista supostamente gravada (e não divulgada) de Marcos Valério, como se Valério tivesse qualquer credibilidade.
Surpreendente foi a participação de FHC, em artigo no Estadão, sustentando que o julgamento do “mensalão” marca uma nova era na política. Até agora, o único caso documentado de compra de votos foi no episódio da votação da emenda da reeleição – que beneficiou o próprio FHC.
***
A segunda estratégia tem sido a de levantar o fantasma da guerra fria. Mesmo sabendo que Jango jamais foi comunista (aliás, o personagem que mais admirava era o presidente norte-americano John Kennedy) durante meses e meses levantou-se o “perigo vermelho” como ameaça.
Grande intelectual, oposicionista, membro da banda de música da UDN, em 1963 Afonso Arino escreveu um artigo descrevendo o momento. Nele, mencionava o anacronismo de (em 1963!) se falar de guerra fria, logo depois de Kennedy e Kruschev terem apertado as mãos. E dizia que, mesmo sendo anacronismo, esse tipo de campanha acabaria levando à queda do governo pelo meio militar, devido à falta de pulso de Jango, na condução do governo.
***
O modelo de atuação da velha mídia é o mesmo de 1964, com a diferença de que hoje em dia não há vácuo de poder, como com Jango.
Primeiro, buscam-se personalidades, pessoas que detenham algum ativo público (como jornalistas, intelectuais, artistas etc.). Depois, abre-se a demanda por comentaristas ferozes. Para se habilitar à visibilidade ofertada, os candidatos precisam se superar na ferocidade dos ataques.
Poetas esquecidos, críticos de música, acadêmicos atrás de visibilidade, jornalistas, empenham-se em uma batalha similar às arenas romanas, onde a vitória não será do mais analítico, ponderado, sábio, mas do que souber melhor agredir o inimigo. É a grande noite do cachorro louco, uma selvageria sem paralelo nas últimas duas décadas.
Com sua postura de não se restringir ao julgamento do “mensalão” em si, mas permitir provocações à presidente da República e a partidos, o STF não cumpre seu papel.
Aliás, o STF do pós-golpe foi muito mais democrático do que o atual Supremo.

A diplomacia da Dilma não se desviou


DILMA DESAFIA
OBAMA NA ONU


A diplomacia da Dilma não se desviou da régua e do compasso do Nunca Dantes.

Conversa Afiada



A régua e o compasso são outros


Na abertura da 67ª Assembléia da ONU, a Presidenta Dilma Rousseff decepcionou os que achavam que ela ia rever a política externa de Celso Amorim e do Nunca Dantes, os que, com destemor e competência, romperam com a Diplomacia da Dependência, a do tirar os sapatos ao entrar nos Estados Unidos.

Dilma desafiou Obama e seus interlocutores no PiG (*) – clique aqui para ler “Correa enfrenta a “Globo e a Globo enfrenta o Governo”.

Dilma criticou a política monetária americana de inundar o mercado de liquidez, para valorizar moedas como o Real e prejudicar as exportações de países emergentes.

Dilma desafiou os Estados Unidos a chamar de “protecionismo” as medidas de legítima defesa que o Brasil adota, amparado pelas normas da Organização Mundial do Comércio.

Dilma desafiou os Governos da Europa – leia-se Angela Merkel – e a ortodoxia neolibelista (**), que se vale da ortodoxia para sepultar a própria recuperação da economia.

Dilma avisou Obama que não há solução militar na Síria.

E condenou a ajuda (americana) à oposição na Síria.

(Ainda que tenha condenado veementemente a violência cometida pelo Governo da Síria contra velhos e crianças.)

Dilma criticou os que difundem a islamofobia.

Da mesma forma que condenou o atentado terrorista que matou o embaixador americano na Líbia.

Dilma desafiou Obama ao lembrar que, sem a integração completa do Estado Palestino à comunidade internacional e à ONU, não haverá paz com Israel.

Dilma desafiou Obama a modernizar o Conselho de Segurança da ONU, já que a ilegitimidade do CS serve para dar aparencia de normalidade a ações de guerra – como a americana no Iraque – praticadas à revelia do Direito Internacional.

Dilma defendeu (sem se referir diretamente) o ato de expulsar o Paraguai do Mercosul, por causa do Golpe perpetrado com a mão do PiG (*) e a toga do Supremo (do Paraguai).

(As expressões aí mais fortes são do ansioso blogueiro e, não, dela – PHA.)

Dilma desafiou Obama ao condenar o bloqueio econômico a Cuba.

A diplomacia da Dilma não se desviou da régua e do compasso do Nunca Dantes.

Dilma não traiu: por isso, não será poupada da fúria Golpista.



Em tempo: assista o vídeo do discruso da presidenta


Paulo Henrique Amorim


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

o terrorista financeiro compra ou vende


O texto que agitou a Espanha

Coluna do Futebol no SUL 21
Escritor espanhol, autor de livros de sucesso (El Desorden de tu NombreLa Soledad era esto, entre outros), jornalista, o espanhol de Valência Juan José Millás, 66 anos, agitou a Espanha e boa parte da Europa ao publicar em agosto uma coluna (veja abaixo) sobre a crise atual e duramente crítica ao sistema capitalista.
Virou o texto mais lido do jornal El País, ganhou espaço nas redes sociais, passou a ser divulgado por leitores comuns, ganhou debates. Millás fala da crise espanhola e sobre o torniquete manejado pelo banco europeu que sufoca o país, mas é um texto que serve para todo o mundo – inclusive para países que não sofrem tanto com a crise.
Há algum tempo, criticar o capitalismo era quase proibido. Qualquer restrição sempre era rebatida com aquela velha bobagem de que o crítico era de esquerda, comunista, agitador e mais alguns anacronismos. Felizmente, a crise ensinou que nenhum sistema está livre de críticas e de distorções – como Millás mostra na sua coluna.
Vale a pena ler com atenção o texto que peço licença a Millás (foto) para reproduzir, com orgulho, aqui no blog:
Um canhão pelo cu
Se percebemos bem – e não é fácil, porque somos um bocado tontos -, a economia financeira é a economia real do senhor feudal sobre o servo, do amo sobre o escravo, da metrópole sobre a colónia, do capitalista manchesteriano sobre o trabalhador explorado. A economia financeira é o inimigo da classe da economia real, com a qual brinca como um porco ocidental com corpo de criança num bordel asiático.
Esse porco filho da puta pode, por exemplo, fazer com que a tua produção de trigo se valorize ou desvalorize dois anos antes de sequer ser semeada. Na verdade, pode comprar-te, sem que tu saibas da operação, uma colheita inexistente e vendê-la a um terceiro, que a venderá a um quarto e este a um quinto, e pode conseguir, de acordo com os seus interesses, que durante esse processo delirante o preço desse trigo quimérico dispare ou se afunde sem que tu ganhes mais caso suba, apesar de te deixar na merda se descer.
Se o preço baixar demasiado, talvez não te compense semear, mas ficarás endividado sem ter o que comer ou beber para o resto da tua vida e podes até ser preso ou condenado à forca por isso, dependendo da região geográfica em que estejas – e não há nenhuma segura. É disso que trata a economia financeira.
Para exemplificar, estamos a falar da colheita de um indivíduo, mas o que o porco filho da puta compra geralmente é um país inteiro e ao preço da chuva, um país com todos os cidadãos dentro, digamos que com gente real que se levanta realmente às seis da manhã e se deita à meia-noite. Um país que, da perspetiva do terrorista financeiro, não é mais do que um jogo de tabuleiro no qual um conjunto de bonecos Playmobil andam de um lado para o outro como se movem os peões no Jogo da Glória.
A primeira operação do terrorista financeiro sobre a sua vítima é a do terrorista convencional: o tiro na nuca. Ou seja, retira-lhe todo o caráter de pessoa, coisifica-a. Uma vez convertida em coisa, pouco importa se tem filhos ou pais, se acordou com febre, se está a divorciar-se ou se não dormiu porque está a preparar-se para uma competição. Nada disso conta para a economia financeira ou para o terrorista económico que acaba de pôr o dedo sobre o mapa, sobre um país – este, por acaso -, e diz “compro” ou “vendo” com a impunidade com que se joga Monopólio e se compra ou vende propriedades imobiliárias a fingir.
Quando o terrorista financeiro compra ou vende, converte em irreal o trabalho genuíno dos milhares ou milhões de pessoas que antes de irem trabalhar deixaram na creche pública – onde estas ainda existem – os filhos, também eles produto de consumo desse exército de cabrões protegidos pelos governos de meio mundo mas sobreprotegidos, desde logo, por essa coisa a que chamamos Europa ou União Europeia ou, mais simplesmente, Alemanha, para cujos cofres estão a ser desviados neste preciso momento, enquanto lê estas linhas, milhares de milhões de euros que estavam nos nossos cofres.
E não são desviados num movimento racional, justo ou legítimo, são-no num movimento especulativo promovido por Merkel com a cumplicidade de todos os governos da chamada zona euro.
Tu e eu, com a nossa febre, os nossos filhos sem creche ou sem trabalho, o nosso pai doente e sem ajudas, com os nossos sofrimentos morais ou as nossas alegrias sentimentais, tu e eu já fomos coisificados por Draghi, por Lagarde, por Merkel, já não temos as qualidades humanas que nos tornam dignos da empatia dos nossos semelhantes. Somos simples mercadoria que pode ser expulsa do lar de idosos, do hospital, da escola pública, tornámo-nos algo desprezível, como esse pobre tipo a quem o terrorista, por antonomásia, está prestes a dar um tiro na nuca em nome de Deus ou da pátria.
A ti e a mim, estão a pôr nos vagões do trem uma bomba diária chamada prémio de risco, por exemplo, ou juros a sete anos, em nome da economia financeira. Avançamos com ruturas diárias, massacres diários, e há autores materiais desses atentados e responsáveis intelectuais dessas ações terroristas que passam impunes entre outras razões porque os terroristas vão a eleições e até ganham, e porque há atrás deles importantes grupos mediáticos que legitimam os movimentos especulativos de que somos vítimas.
A economia financeira, se começamos a perceber, significa que quem te comprou aquela colheita inexistente era um cabrão com os documentos certos. Terias tu liberdade para não vender? De forma alguma. Tê-la-ia comprado ao teu vizinho ou ao vizinho deste. A atividade principal da economia financeira consiste em alterar o preço das coisas, crime proibido quando acontece em pequena escala, mas encorajado pelas autoridades quando os valores são tamanhos que transbordam dos gráficos.
Aqui se modifica o preço das nossas vidas todos os dias sem que ninguém resolva o problema, ou mais, enviando as autoridades para cima de quem tenta fazê-lo. E, por Deus, as autoridades empenham-se a fundo para proteger esse filho da puta que te vendeu, recorrendo a um esquema legalmente permitido, um produto financeiro, ou seja, um objeto irreal no qual tu investiste, na melhor das hipóteses, toda a poupança real da tua vida. Vendeu fumaça, o grande porco, apoiado pelas leis do Estado que são as leis da economia financeira, já que estão ao seu serviço.
Na economia real, para que uma alface nasça, há que semeá-la e cuidar dela e dar-lhe o tempo necessário para se desenvolver. Depois, há que a colher, claro, e embalar e distribuir e faturar a 30, 60 ou 90 dias. Uma quantidade imensa de tempo e de energia para obter uns cêntimos que terás de dividir com o Estado, através dos impostos, para pagar os serviços comuns que agora nos são retirados porque a economia financeira tropeçou e há que tirá-la do buraco. A economia financeira não se contenta com a mais-valia do capitalismo clássico, precisa também do nosso sangue e está nele, por isso brinca com a nossa saúde pública e com a nossa educação e com a nossa justiça da mesma forma que um terrorista doentio, passo a redundância, brinca enfiando o cano da sua pistola no rabo do sequestrado.
Há já quatro anos que nos metem esse cano pelo rabo. E com a cumplicidade dos nossos difusores das ideias neoliberais.
Do blog mariomarcos.wordpress.com

a história do RS e seus mitos pouco gloriosos


Juremir: “Muitos comemoram a Revolução mas não conhecem sua história”


Juremir Machado da Silva publicou "História Regional da Infâmia" em 2010 | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Samir Oliveira no SUL 21
O jornalista e historiador Juremir Machado da Silva publicou em 2010 o livro “História Regional da Infâmia”, no qual relata, através de documentos, uma série de fatos pouco divulgados sobre a Revolução Farroupilha. Dentre eles, o de que ela foi financiada com a venda de negros.
Nesta entrevista ao Sul21, Juremir fala sobre as constatações do livro e o processo de mitificação que se deu em cima da história da revolução. “Os republicanos positivistas tinham noção de que uma identidade se constrói a partir de um mito fundador. Era preciso uma mitologia época para construir essa unidade”, explica.
Bastante criticado por expor visões “pouco gloriosas” sobre a Revolução Farroupilha – um dos principais elementos na construção da imagem do gaúcho brasileiro -, o jornalista conta que muitos historiadores deixam de pesquisar o tema por causa da repercussão negativa e hostil de seus trabalhos no Rio Grande do Sul. “Recebi e-mails e torpedos de pessoas dizendo que iam me capar. Senti hostilidade em muitas situações”, comenta.
“Ninguém tinha dito que a Revolução Farroupilha se financiou com a venda de negros no Uruguai”
Sul21 – Como surgiu a ideia de escrever “A História Regional da Infâmia”?
Juremir Machado – Por muitas razões. Uma delas é a inconformidade com esse culto tradicionalista mal embasado em fatos históricos. Como fiz faculdade de História, tinha acompanhado desde sempre as polêmicas provocadas, primeiro, pelo Tau Golim. Em seguida, por Moacyr Flores, Mário Maestri, Décio Freitas… Todos os historiadores que mexeram com isso foram muito atacados, criticados e, às vezes, até estigmatizados. Mas em determinado momento me veio a ideia de fazer um livro, na medida em que comecei a encontrar documentos que me pareciam interessantes. Um grande amigo meu, Luiz Carlos Carneiro, que tinha sido meu professor de História no cursinho universitário, lá por 1980, tinha se tornado diretor do Arquivo Histórico do RS, que tinha todo o acervo sobre a Revolução Farroupilha. Então pude fazer a pesquisa com toda a tranquilidade. E as pessoas que trabalhavam lá me ajudaram muito fazendo transcrição de documentos.
Sul21 – Quanto tempo durou a pesquisa?
Juremir - Eu li toda a bibliografia existente e fui às fontes. Li mais de 15 mil documentos e trabalhei com mais de 12 pessoas. Foram três anos de pesquisa com estagiários, bolsistas de iniciação científica, pessoas que contratei em Pelotas, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre. Debulhamos 15 mil documentos, alguns que nunca tinham sido trabalhados.
Sul21 – Que tipo de reações o livro provocou?
Juremir - Meu livro provoca dois tipos de polêmica: aqueles que dizem que tudo é falso e que eu preciso estudar mais; e aqueles que dizem que o livro não traz nada de novo. Isso é falso. É claro que o livro não parte de coisas que ninguém nunca tinha examinado, mas aprofunda muitas dessas coisas e descobre coisas novas. Eu chamo de documento infame toda a documentação referente ao financiamento da Revolução Farroupilha, à compra de munição, de fardamento, de alimentação com a venda de escravos no Uruguai. Ninguém tinha dito que, em determinado momento, por obra de Domingos José de Almeida, a Revolução Farroupilha se financiou com a venda de negros no Uruguai. Em algum momento se falou que teriam vendido alguns negros para comprar uma impressora para o jornal “O Povo”. A venda de negros para financiar a revolução gerou, inclusive, um processo judicial. Depois que deixou de ser ministro da Fazenda, Domingos José de Almeida entrou na Justiça da República pedindo o ressarcimento de tudo o que tinha investido. Ele detalha, briga, insulta e polemiza. Quer de volta o dinheiro dos negros que vendeu. Ele dá os nomes e todas as informações sobre as vendas.

"Meu livro provoca dois tipos de polêmica: aqueles que dizem que tudo é falso e que eu preciso estudar mais; e aqueles que dizem que o livro não traz nada de novo. Isso é falso" | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Sul21 – Como era a relação dos líderes da revolução com os negros? Havia uma retórica pretensamente abolicionista e uma prática diferente?
Juremir – Todos eram proprietários de escravos e viviam em uma sociedade escravista. Então eles podiam ser escravistas, seriam simplesmente homens de seu tempo. Mas em outros lugares estavam acontecendo revoltas pela libertação dos negros, como no Maranhão. No Uruguai e na Argentina, o processo de libertação dos negros estava muito mais acelerado. Era um tempo de escravismo, mas não da mesma maneira em todos os lugares. Falamos de Rivera e de Rosas como se fossem caudilhos hediondos, mas eles eram muito mais avançados, progressistas e iluministas. Nossos fazendeiros gostavam de se aliar com eles, mas tinham medo das coisas que eles faziam, como reforma agrária e libertação de negros. Eles eram muito mais adiantados e “perigosos” nesse sentido.
“Os farroupilhas não eram abolicionista e não pretendiam ser. Só queriam usar os negros”
Sul21 – Há o mito consagrado de que os farroupilhas eram abolicionistas.
Juremir - Não, eles não eram. Talvez um ou dois tivessem algum ardor nesse sentido. Mas a maioria não era. Eles prometeram liberdade para os negros dos adversários que aceitassem ser incorporados como soldados. Era uma forma de atrair mão de obra militar. Mas os escravos dos próprios farroupilhas continuaram nas fazendas trabalhando para que eles pudessem fazer a guerra. Quando a Revolução acabou e eles voltaram para casa, continuaram escravistas. Quando Bento Gonçalves morre, deixa um inventário com 53 escravos aos seus herdeiros. Escravos valiam muito. Ele morreu rico, com terras, fazendas e escravos. Quando fizeram, em Alegrete, o texto da Constituição, ela não previa a libertação dos escravos. Se eles tivessem vencido e a Constituição entrado em vigor, o Rio Grande do Sul continuaria sendo uma sociedade escravista. Eles não tinham nada de abolicionistas. Claro, em determinado momento, com a mão de obra militar minguando – principalmente quando o Império começou a mandar mais gente -, tiveram de recorrer aos negros dos adversários. O Domingos José de Almeida, além de ter vendido seus negros ao Uruguai para financiar a revolução, para ele mesmo se sustentar como ministro da Fazenda e cérebro da revolução, continuava alugando outros negros no Uruguai e vivendo das rendas desse aluguel. Os negros trabalhavam no Uruguai para que ele pudesse ser o chefe revolucionário. Existem muitos exemplos de situações mais adiantadas de libertação de escravos. No Brasil, no Uruguai, na Argentina, no Chile… Simón Bolivar tinha libertado os escravos. A libertação de escravos estava acontecendo com frequência. Rivera fez isso e nós não. Os farroupilhas não eram abolicionista e não pretendiam ser. Só queriam usar os negros.

"Muitos historiadores reconhecem que houve traição em Porongos, mas não demonstram como isso ocorreu. A maior parte pula essa etapa" | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Sul21 – Teve o episódio da batalha de Porongos…
Juremir - É curioso… Muitos historiadores reconhecem que houve traição em Porongos, mas não demonstram como isso ocorreu. A maior parte dos historiadores que examina Porongos pula essa etapa. Em determinado momento essa traição era negada. Como os líderes farroupilhas tinham prometido liberdade aos negros dos adversários, com o fim da revolução começam a ficar preocupados e receosos de que os negros possam querer se vingar caso isso não ocorra. Era um contingente expressivo de escravos. Então os líderes farroupilhas estavam numa contradição, já que esses negros pertenciam a adeptos dos imperiais, que os queriam de volta. Foi aí que veio aquela ideia “maravilhosa” de diminuir esse contingente ao máximo e fazer um pacto para eliminá-los. A cilada de Porongos chega a ser simplória. Os negros foram realmente desarmados e dizimados. Canabarro recebeu o aviso de um possível ataque e desarmou os homens, foi tudo muito preparado. Um outro aspecto que o meu livro vai adiante é em relação ao destino dos negros farrapos. Nem todos morreram. Sobraram alguns deles. Uns escaparam, conseguiram fugir a cavalo, e muitos caíram prisioneiros. Sempre se discutiu o que teriam feito com esses negros. Os farroupilhas dizem que Caxias libertou todos, incorporou ao Exército e conferiu a eles uma condição quase de enobrecimento. E alguns diziam que eles tinham sido enviados para o Rio de Janeiro, para a fazenda imperial Santa Cruz.
Sul21 – O que aconteceu?
Juremir - Fui atrás e consegui documentos mostrando para onde eles foram. Eles foram entregues pelos farroupilhas e foram transportados. Consegui documentos sobre como eles foram transportados, até com o nome do navio. Eles foram para o Rio de Janeiro, para o arsenal da Marinha.
“A Revolução Farroupilha foi feita pela Farsul da época com os métodos das Farc”
Sul21 – Politicamente, havia alguma unidade entre os líderes da revolução? 
Juremir - Era um saco de gatos. Antes de 1835 havia gente que oscilava. Bento Gonçalves, por exemplo, era um monarquista, não era republicano. Neto não era republicano. Bento Gonçalves tinha pendores para fazer uma associação com o Uruguai. Ele se relacionava com o Rivera e pensava, volta e meia, em uma perspectiva de junção com o Uruguai. Mas também não era algo muito convicto. Em 1834 aconteceu a principal causa da Revolução Farroupilha: um surto de carrapatos que devorou o gado. Os fazendeiros ficaram com um prejuízo enorme e fizeram exatamente como os pecuaristas fazem hoje em dia: quiseram repassar o prejuízo ao Império. Mas essa ajuda do governo central não vinha. Por outro lado, havia um contexto de muitos militares no Rio Grande do Sul. Em 1831, quando Dom Pedro I abdicou, muitos militares foram mandados para cá, numa espécie de geladeira, porque tinham se insubordinado. Então se juntam esses militares cansados e insatisfeitos com os fazendeiros que se sentiam prejudicados pelo Império. No começo das conspirações, eles só desejam que o Império atenda às suas reivindicações. Alguns querem ver reconstituída sua dignidade militar e serem transferidos para outros lugares. Nossos fazendeiros queriam atendimento às suas reivindicações econômicas. O movimento vai ganhando vida e eles não conseguem mais recuar. Em determinado momento, surge a perspectiva da República, que nenhum dos líderes tinha em mente. No meu livro, publico uma carta que Neto enviou aos vereadores de Pelotas. Ele, que tinha proclamado a República, disse “não sou republicano”. Eles não eram republicanos, mas aos poucos foram sendo empurrados para aquela situação e acabaram proclamando uma República que o Império nunca reconheceu. Para o Império, sempre se tratou apenas de uma província rebelada.
Sul21 – E por que a guerra durou tanto tempo?
Juremir - Quando os liberais estavam no poder, no período regencial, eles, no fundo, gostavam dessa gente daqui. Eles não queriam mandar muito efetivo para cá e deixaram a Revolução correr. Quando finalmente Dom Pedro II ganha a maioridade e os conservadores assumem o poder e passam a ter o primeiro ministro, eles enviam muito efetivo para o Rio Grande do Sul. Então por volta de 1842 já está liquidada a fatura. A revolução se transforma em uma guerra de guerrilhas. Os farroupilhas começam a fugir para todos os lados e, de vez em quando, fazem algumas emboscadas. Quando a coisa ficava muito pesada, todo mundo se refugiava no Uruguai. Foi uma guerra de guerrilhas na qual o exército imperial ficava atrás dos rebeldes e, de vez em quando, tinha algum combate. Houve muito pouco combate e morreu pouca gente. Em dez anos de guerra, morreram 2,9 mil pessoas. Morria mais gente de gripe do que de guerra. Passava meses sem que houvesse combate. Claro que houve momentos de heroísmo e momentos de infâmia absoluta, com estupro, degola, sequestro e execução sumária. É por isso que eu digo que a Revolução Farroupilha foi feita pela Farsul da época com os métodos das Farc. Do ponto de vista ideológico, eles eram a Farsul da época, com uma ideologia liberal incipiente. Eram proprietários rurais em defesa dos seus interesses. E utilizavam os métodos que hoje se condena nas Farc: sequestro, apropriação do gado e das terras alheias.

"Um dos grandes problemas da Revolução Farroupilha foi a corrupção", aponta jornalista e pesquisador gaúcho | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Sul21 – Em seu livro, o senhor também aponta casos de corrupção entre os líderes farroupilhas.
Juremir – Quando eles se reúnem em Alegrete para fazer a Constituição, estavam totalmente rompidos. Antonio Vicente da Fontoura pertencia à chamada minoria. Ele havia sido ministro da Fazenda, sucedendo Domingos José de Almeida. Quando ele assumiu o Ministério, constatou que a corrupção corria solta. Ele descreve isso fartamente em seu diálogo e os historiadores nunca quiseram dar muita atenção. Os farroupilhas pegavam a fazenda de um adversário e arrendavam e o lucro desse arrendamento desaparecia. Até Neto foi acusado por Antonio Vicente da Fontoura de ter desaparecido com dinheiro. Um dos grandes problemas da Revolução Farroupilha foi a corrupção. Eles brigaram e se separaram por causa disso. O duelo entre Bento Gonçalves e Onofre Pires tinha na sua base acusações de corrupção.
“Os cariocas acham esse negócio de Semana Farroupilha quase ridículo, uma espécie de carnaval a cavalo”
Sul21 – Como se pautaram as relações dos farroupilhas com as lideranças uruguaias e argentinas? Havia, de fato, a intenção de se criar uma república que anexasse o território do Uruguai e algumas províncias da Argentina?
Juremir – Quando viram que Rivera estava libertando escravos e que tinha propensões à reforma agrária, a parceria deixou de ser interessante. A Revolução Farroupilha foi uma espécie de golpe militar. Esse golpe militar sofreu muita influência platina. Houve muita influência desses caudilhos uruguaios e argentinos. Mas depois houve momentos de aproximação e de separação. Essas alianças só não prosperaram definitivamente porque os líderes farroupilhas eram muito mais conservadores que os caudilhos uruguaios e argentinos. Rivera queria uma revolução benéfica para a população uruguaia. Bento Gonçalves e sua turma só entraram em ação por causa dos seus interesses particulares.
Sul21 – Como se deu a construção dos mitos em cima da Revolução Farroupilha?
Juremir - São várias etapas. Uma delas é quando Julio de Castilhos e os republicanos positivistas estão trabalhando pela construção da República no Rio Grande do Sul. Julio de Castilhos vai estudar direito em São Paulo e manda uma carta dizendo que é preciso estudar aquela guerra civil, porque ela poderia servir de fundamento para o que hoje nós chamaríamos de construção de uma identidade regional. Na época, a Revolução Farroupilha era chamada de guerra civil. Esses republicanos positivistas tinham bem a noção de que uma identidade se constrói a partir de um mito fundador. Então era preciso uma mitologia épica para construir essa unidade. Isso foi fartamente explorado. Depois, historiadores como Varela e Alfredo Ferreira Rodrigues ajudaram a construir uma ideia épica de revolução, influenciados pela perspectiva histórica dominante no século XIX. Nos anos 1930, os militares ligados ao Instituto Histórico e Geográfico fazem, em plena Era Vargas, uma recuperação dos fatos com interesse cívico de engrandecimento das atitudes militares. O interessante é que a Revolução Farroupilha foi feita por militares e escrita por militares.
Sul21 – E qual o papel dos historiadores na desmistificação da revolução?
Juremir – Os grandes historiadores estão desmistificando a Revolução Farroupilha. Nomes como Tau Golin, Moacyr Flores, Mário Maestri, Sandra Pesavento, Margeret Bakos, Décio Freitas… Moacyr Flores talvez seja aquele que trabalhou mais intensamente a Revolução Farroupilha. O livro “O Modelo Político dos Farrapos” é um marco na desmistificação. Tau Golin fez uma espécie de panfleto que teve muito impacto, questionando se Bento Gonçalves seria herói ou ladrão. Margaret Bakos trouxe muitos dados sobre a condição do negro na Revolução Farroupilha. São esses os caras que realmente têm escrito coisas importantes sobre a Revolução Farroupilha. Se fosse na França, esse pessoal estaria sendo destacado. Mas aqui é o inverso. Talvez porque o Rio Grande do Sul, como qualquer lugar, precisa de um mito fundador. E o que tem à mão é esse. A história, nesse sentido, estraga um pouco este prazer. Os fatos históricos não confirmam toda essa grandeza.
Sul21 – O que significa hoje comemorar a Revolução Farroupilha?
Juremir – Vale lembrar que a comemoração da Semana Farroupilha, tal qual a fazemos hoje, começa em dezembro de 1964. É uma obra da ditadura militar. O patriotismo servia muito bem nessa época. Acho muito interessante a ideia de que essas pessoas se reúnem para comemorar outra coisa. Comemoram um ideal de vida agropastoril, uma nostalgia da vida no campo, quando éramos realmente gaúchos e tínhamos estâncias. Há também o gosto de estar junto, de conviver e ter algo a compartilhar – algo que o sociólogo francês Michel Maffesoli chama de “tribalismo”. Esse fenômeno pode estar no escotismo, numa torcida de futebol, ou nesse congraçamento anual onde todos se encontram e brincam um pouco de casinha, como dizia Flávio Alcaraz Gomes. A Revolução Farroupilha surge como uma espécie de cimento para fortificar esse interesse de estar junto. Mas ela também tem um componente ideológico conservador. Muitos dos que estão comemorando a Revolução Farroupilha não conhecem grande coisa da sua história. Se for examinar no detalhe, eles não sabem. Conhecem a cartilha do Movimento Tradicionalista Gaúcho, que só destaca aquilo que exclusivamente lhes convém.

Juremir: "muitos dos que comemoram a Revolução Farroupilha não conhecem grande coisa da sua história. Conhecem a cartilha do MTG" | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Sul21 – Qual o papel da mídia na consolidação do mito?
Juremir – A mídia precisa adular esse público para poder fidelizá-lo. É uma estratégia de marketing que reforça os mitos e dificulta a desconstrução feita pelos historiadores. O interesse da mídia nessa questão é meramente comercial. É uma estratégia de reforço de algo que é caro ao público. Ninguém quer brigar com boa parte do Rio Grande do Sul. É melhor dar uma adulada e deixar os universitários e acadêmicos falarem outras coisas. Se o público está feliz, por que estragar o prazer? Além de tudo, a mídia é conservadora. Muitas vezes os jornalistas compartilham esses valores e acreditam nessas histórias porque foram formados nessa matriz. Tudo isso entra no mesmo caldeirão e, ano a ano, as vozes dos historiadores ficam praticamente inaudíveis.
Sul21 – O Rio Grande do Sul tem uma relação mais intensa com seus mitos do que outras regiões do país?
Juremir – Talvez, até pelo tipo de construção história do Rio Grande do Sul, com tantas guerras de fronteira. Vários movimentos e situações se aproveitaram disso: a República, os anos Vargas, a ditadura militar e o crescimento do movimento tradicionalista.
Sul21 – Isso contribui para uma imagem mais arrogante do Rio Grande do Sul nos outros estados brasileiros?
Juremir – Isso é algo que só nós enxergamos. Os cariocas acham esse negócio de Semana Farroupilha quase ridículo, uma espécie de carnaval a cavalo.
Sul21 – E o nosso hino? Cantamos um hino que fala em uma “ímpia e injusta guerra”. 
Juremir – Nosso hino é racista, ainda por cima, quando diz que “povo que não tem virtude acaba por ser escravo”. É um insulto àqueles que lutaram com os farroupilhas e foram atraídos a eles com a promessa de liberdade.
Sul21 – Até hoje, o senhor ainda recebe críticas por causa do livro?
Juremir – Alguns historiadores preferem se afastar desse tema. Cansam de brigar e ouvir insultos. Eu mesmo sofri todo tipo de desqualificação. Diziam que eu não sou historiador e que o meu livro só requenta outras informações. Na época que saiu o livro, a Farsul ameaçou me processar, até por um mal entendido. Acharam que eu tinha dito que a Farsul tinha os métodos das Farc. O que eu disse, na verdade, foi que os farroupilhas tinham a ideologia da Farsul e os métodos das Farc. Recebi e-mails e torpedos de pessoas dizendo que iam me capar. Senti hostilidade em muitas situações. Já perdi a conta do número de insultos que recebi por e-mail, Twitter e Facebook. O maior insulto é a tentativa permanente de desqualificação do teu trabalho.