quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A falsa isenção... e o carapááálida acredita que é isenção


“Na situação atual, cabe a nós exercer o papel dos partidos”

Editorial SUL 21

Artigo de análise publicado na quarta feira (7) em posição de destaque pelo jornal de maior circulação no Rio Grande do Sul e que é também o quarto maior do país se encerra com uma frase que pode ser considerada a síntese do posicionamento da grande imprensa brasileira a respeito da Ação Penal 470: “Se as urnas absolveram o PT, o escândalo do mensalão ainda precisa passar pelo crivo da Justiça”. Fica claro, assim, que, se não foi possível derrotar o PT nas urnas, a grande imprensa confia na possibilidade de que a Justiça faça agora o trabalho que ela não conseguiu fazer antes.
Mais clara do que a frase do analista do jornal gaúcho, só a fala da diretora-superintendente da empresa Folha da Manhã S. A., que edita a Folha de São Paulo e o portal Uol, e que é também presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), proferida, em alto e bom som, durante reunião ocorrida na sede da Fecomércio, em 18 de março de 2010, no início da última campanha eleitoral para a Presidência da República: “Na situação atual, em que os partidos de oposição estão muito fracos, cabe a nós dos jornais exercer o papel dos partidos”.
Sem que tivessem conseguido derrotar o PT nas urnas em 2002, 2006 e 2010 tentam agora derrota-los na Justiça e, para isto, lançam mão de todos os recursos de que dispõem: amplificam o escândalo, humilham os acusados, pressionam os juízes que julgarão o caso, escondem a existência de processos semelhantes que foram tratados de forma diferente pelo STF e pela própria mídia. A tendenciosidade do posicionamento é tal que o próprio ombudsman do jornal Folha de São Paulo, em sua coluna dominical de 5 de agosto e denominada “Silêncio, o réu vai falar”, fez as seguintes observações sobre a cobertura de seu veículo:
A Folha vem tentando manter a isenção (sic). Mesmo assim, na capa do caderno especial de domingo passado [29], definiu o mensalão como ‘o maior escândalo da história recente do país’, o que, além de ser um juízo de valor, é bastante questionável. O Collorgate não foi um episódio mais grave?
Nesse mesmo dia, uma reportagem em ‘Poder’ pretendia revelar a articulação dos políticos envolvidos quando estourou o caso. O título já dizia tudo: ‘A invenção do Caixa Dois’. Era a Folha dando um veredicto: um dos argumentos da defesa, o de que o dinheiro movimentado era sobra de campanha eleitoral que seria usada para quitar dívidas, não passa de uma armação.
Outro exemplo de mão pesada foi a reportagem de sexta-feira sobre o ministro José Antonio Dias Toffoli, pressionado a se declarar impedido. Começava assim: ‘Ex-advogado do PT, ex-assessor de um dos réus do mensalão e namorado de uma advogada que atuou no processo, o ministro do STF, Dias Toffoli decidiu participar do julgamento’.
O jornal só tem a ganhar se deixar o noticiário fora da torcida pela condenação. [...] Traduzir, interpretar, revelar bastidores, eleger com imparcialidade o mais importante, é o papel da reportagem, especialmente nos próximos dias, quando os advogados começarão a falar. Vamos ouvir o que os réus têm a dizer.
Pena que este procedimento de análise e crítica do próprio jornal não seja copiado pelos demais órgãos da grande imprensa brasileira. Ainda que a FSP empenhe-se em exercer, juntamente como a maioria dos grandes veículos de comunicação do país, o papel que deveria ser exercido pelos partidos políticos de oposição, louve-se, ao menos, o fato de que ela abra espaço em suas páginas para um ouvidor com tão alto grau de seriedade e com tanta coragem para criticar os excessos cometidos pela empresa que o contrata. Se os demais órgãos da grande imprensa copiassem também este procedimento da FSP ao menos poderíamos avaliar, com clareza, quão empenhados eles estão em derrotar o PT e em desgastar suas lideranças.
Que fique claro, por fim, que não se nega aqui que os órgãos de imprensa, quaisquer que sejam eles, possam assumir posturas politicamente engajadas. Este é um direito que lhes cabe e esta é uma postura que o Sul21 defende e adota. O que não podem fazer é eliminar o contraditório e embutir, de maneira sub-reptícia e sob a aparência de isenção, opiniões e posicionamentos nas notícias, reportagens e matérias analíticas. Opiniões e posicionamentos devem ser emitidos nos editoriais e nas matérias de opinião e, assim mesmo, somente quando se garante espaço equivalente para que os pontos de vista e as posições divergentes também possam ser emitidos. A falsa isenção, adotada como padrão pela maioria dos veículos da grande imprensa brasileira, constitui grave afronta à democracia e aos seus leitores.

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