segunda-feira, 2 de julho de 2012

Vila Mimosa


Os dois lados do patrimônio cultural Vila Mimosa

Rachel Duarte no SUL 21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Os vitrais verdes cuidadosamente colocados pelo arquiteto significam mais que uma bela fachada para a restaurada Casa das Artes Vila Mimosa, em Canoas. O mosaico formado junto à transparência dos vidros das janelas é a identidade visual da propaganda de um empreendimento imobiliário construído no mesmo terreno do recém inaugurado equipamento cultural da cidade.
Duas torres com 150 apartamentos serão entregues à população em agosto. O condomínio luxuoso e o casarão de valor histórico para os canoenses se misturam até no nome. “Condomínio Vila Mimosa”. Um não pôde existir sem o outro. A preservação da casa pertencente ao casal Frederico Guilherme Ludwig e dona Mimosa é fruto de negociações de duas gestões municipais com a empreiteira que comprou a área dos antigos proprietários. Processo que gerou disputa judicial também com o movimento ambientalista, já que no local em que hoje imponentes torres estão erguidas existia um bolsão centenário de vida natural. Um amplo bosque com mata nativa foi derrubado e as poucas árvores preservadas estão misturadas à arquitetura neoclássica da casa de artes.
Antes e depois | Fotos: ONG Villa Mimosa
O início das negociações entre o município e a construtora Goldstein Cyrella se deu no final de 2008, quando a gestão era do médico Marcos Ronchetti (PSDB). O sucessor e atual prefeito Jairo Jorge (PT) defendeu que o projeto original continha exigências de políticas compensatórias insuficientes por parte do município e, em 2009, formou uma comissão que segurou a construção do condomínio para apresentação de novas diretrizes por parte da empreiteira.
A pressão popular era para que o prefeito, que ainda não tinha concedido a licença definitiva para a construção dos prédios, recuasse com toda a negociação feita no passado e preservasse toda a chácara. Porém, as vendas já haviam avançado e os futuros moradores já tinham adquirido os primeiros imóveis.
Foto: Casa Villa Mimosa/Arquivo
A ONG Vila Mimosa realizou protestos no local, abraços públicos à Vila Mimosa e ingressou com ação judicial. Porém, a causa foi ganha pela prefeitura e a licença concedida. Mas as compensações foram ajustadas. À construtora coube o transplante de árvores nativas e a permanência de uma área maior de vegetação do que o previsto no projeto original. De 366, 198 permaneceram intocáveis e para cada árvore, das 115 retiradas, foram plantadas cerca de 10 em diversos pontos da cidade, o que resulta em um total de 1.290 novas árvores.
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Todas foram gravadas no Registro de Imóveis. Outra modificação do projeto foi na fachada, que restringiu a construção dos prédios de forma recuada e com muros que não tapassem a vegetação, além de gradil para substituir o muro que separaria os prédios do restante da área. Hoje, ao invés de um belo salão de vendas, a casa de dona Mimosa está de pé e aguardando os visitantes, que poderão ser os vizinhos do outro lado da cerca. Os futuros moradores já estiveram na Casa das Artes Vila Mimosa e projetam inscrever os filhos nas aulas de dança e música.
Nas cláusulas de compensações feitas entre a Prefeitura de Canoas e a empreiteira também foram firmados compromissos da construtora garantir a reforma de outros espaços culturais da cidade.
 A antiga casa de descanso se transforma no novo equipamento cultural
A Vila Mimosa é um dos prédios mais antigos existentes na zona urbana de Canoas. Em 1904, quando Canoas ainda era um lugar de veraneio, o contador Frederico Guilherme Ludwig mandou construir uma residência que seria para descanso. Mas acabou vindo morar com a esposa, dona Mimosa. No local, de um lado funcionava um armazém de secos e molhados, e de outro, a primeira loja de fazendas e armarinhos da cidade. Era o sustento da família.
Foto: Casa Villa Mimosa/Arquivo
Em 1923 foram realizadas as primeiras ampliações na estrutura da casa que foi depois habitada até 1999 por um dos filhos do casal, o médico Victor Hugo Ludwig, e sua família.
A casa tem 23 peças. Com a revitalização, o local agora possui uma biblioteca, estúdio para gravações e espaço de convivência entre artistas e população. Os equipamentos para o estúdio ainda estão sendo adquiridos pela Prefeitura de Canoas e o espaço deverá o segundo no estado com piano.
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
No térreo há uma sala de exposições, a biblioteca, um futuro café, cozinha, área administrativa e um estúdio público de ensaios. No segundo andar funciona sala administrativa, ateliê livre, sala multiuso e de multimeios. Na restauração foram tomados os devidos cuidados com a acessibilidade universal. Os banheiros são adaptados e foi colocado um elevador na casa.
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Por enquanto, o funcionamento da casa está se resumindo à oferta gratuita de programação cultural. A partir de julho deverão ser oferecidos também cursos e oficinas de artes plásticas e música, aulas para formação na área cultural e um telecentro. O principal foco da Casa das Artes Vila Mimosa é a formação cultural.
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
A Casa das Artes Vila Mimosa está localizada na Avenida Guilherme Schell, no Centro de Canoas. Foi tombada como patrimônio histórico de Canoas em 2010 e restaurada pela construtora Goldstein Cyrella, que a entregou ao município em dezembro de 2011. O valor da revitalização foi de R$ 1 milhão.
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21

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