quarta-feira, 6 de junho de 2012

só vê o qui qué... quem qué!


Na sucessão do IPEA,
PiG se faz de lobbista

Conversa Afiada





O Conversa Afiada reproduz post da Carta Maior:

O mundo imaginário da sucessão do Ipea

Com a saída de Marcio Pochmann, que concorrerá a prefeitura de Campinas, abriu-se a disputa para a presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Imprensa entrou no jogo como parte interessada. E acabou saindo mal na fita. Trama relatada por Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Correio Braziliense e Valor Econômico inverteu regra de bom senso lógico: se os fatos não forem bem assim, problema dos fatos.

Saul Leblon

Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), caiu em janeiro de 2011, quando Wellington Moreira Franco assumiu a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), ministério ao qual o Instituto está subordinado. Tem mais: Marcio Pochmann censura pesquisas no Instituto desde que tomou posse em 2007. Sob sua direção, o órgão caracteriza-se pelo chapabranquismo militante. Acha pouco? Agora Pochmann vetou o nome de seu sucessor, indicado pela presidenta Dilma Rousseff que, em represália, vetou os nomes apresentados pelo economista e impôs um nome de preferência de Aldo Rebelo, que ainda não havia entrado na história. Depois disso, Moreira Franco indicará um interino em caráter definitivo.

A trama pode continuar indefinidamente. Nada disso corresponde aos fatos, mas tudo foi registrado pelos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Correio Braziliense e Valor Econômico. Se os fatos não forem bem assim, problema dos fatos. A desconexão com a realidade ultrapassa a linha do ridículo.

A presidência do Ipea é um cargo concorrido. A sucessão de Pochmann é notícia desde que este professor da Unicamp anunciou a disposição de disputar a prefeitura de Campinas pelo PT. Em sua gestão, o Instituto ampliou o raio de atuação, abriu-se para áreas além da economia, aumentou o leque de trabalhos e passou a assessorar não apenas o governo federal, mas também administrações estaduais e municipais, além de fornecer subsídios a entidades da sociedade civil e aos poderes Legislativo e Judiciário. Com pouco mais de seiscentos pesquisadores, o Ipea é uma das maiores instituições de pesquisa na América Latina. Possui uma representação em Caracas e em breve terá outras na Argentina e no Paraguai.

Sucessão de vetos
A imprensa entrou no jogo, comprando informação por metro e vendendo por quilo.

O repórter João Villaverde, do Valor Econômico (29 de maio) apurou o seguinte sobre a secessão no Instituto:

“Os três nomes indicados por Pochmann (Vanessa Petrelli, Leda Paulani e Jorge Abrahão) não entusiasmaram Dilma, que já decidiu também negar a candidatura a [Ricardo] Paes de Barros, apoiada pelo ministro Moreira Franco. (…) Dilma comunicou a Moreira Franco na semana passada que prefere Paes de Barros na SAE, e não na presidência do Ipea. Além disso, Pochmann vetou o nome de Paes de Barros”.

Faltou Villaverde explicar como um funcionário de segundo escalão como Pochmann pode impor veto a um ministro e à presidenta da República.

O jornalista praticamente nomeou o sucessor. Trata-se do professor da UnB, José Luís Oreiro. Quem lê a reportagem do Valor fica sabendo que o economista era o candidato preferido das seguintes lideranças: Aldo Rebelo (PCdoB-SP), Henrique Eduardo Alves, Lindbergh Farias (PT-RJ), além do ministro da Fazenda, Guido Mantega, do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e do vice-presidente da República, Michel Temer.

Lindbergh contestou a informação. “Meu candidato é o candidato de Marcio Pochmann”, disse o senador no final de semana.

Zerando o placar
Dois dias depois, o repórter Raymundo Costa, do mesmo jornal, vendo que não havia fumacinha branca em canto algum, zera o placar. Em primeira mão, ele noticia que:

“O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (…) será presidido interinamente até o ministro (…) Wellington Moreira Franco, indicar um titular para o cargo. A atual diretora de Estudos de Políticas Econômicas do Instituto, Vanessa Petrelli Corrêa, será a interina. Ela foi indicada pelo economista Marcio Pochmann”.

Mas Moreira Franco já não havia escolhido um nome, que fora “vetado” por Pochmann? E Vanessa Petrelli não é aquela que “não entusiasmara” Dilma?

Mais adiante, Costa relata:

“Na véspera, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, telefonou para Moreira para perguntar se ele tinha um nome para indicar. Moreira respondeu que sim. Não havia indicado, para não precipitar os acontecimentos, enquanto Pochmann prepara sua desincompatibilização para concorrer em outubro”. E o ministro teria completado: “Não tive nenhum problema em nomear a indicação do Marcio”.

O caso passou a se assemelhar a um filme policial com trama rocambolesca, nos quais a certa altura não se sabe mais quem matou e quem morreu. Moreira Franco, que indicara Paes de Barros agora diz à ministra Gleisi Hoffmann que não indicou ninguém “para não precipitar os acontecimentos”. Quem apurou errado, Villaverde ou Raymundo Costa?

O gozado é que em 14 de fevereiro de 2011, há um ano e meio, o jornal O Estado de São Paulo, em uma matéria intitulada “Ministro decide tirar Pochmann do Ipea”, contava o que se segue:

“O ministro (…) Moreira Franco, vai tirar o economista Márcio Pochmann do comando do Ipea. (…) Moreira Franco, apurou ontem o Estado, ainda está conversando com assessores para definir os nomes da nova diretoria”.

Agora ficou confuso. Se Moreira Franco buscava nomes em fevereiro do ano passado, como agora a imprensa informa que ele não quer “precipitar os acontecimentos”?

Asas à imaginação
Apurar notícias, ser enredado por boatos e noticiar algo a ser desmentido no dia seguinte compõem o cotidiano de um repórter. Isso se exacerba num centro de variados interesses como Brasília. Mas não é preciso exagerar. A jornalista Rosana Hessel, no Correio Brasiliense de 28 de maio, resolveu dar asas à imaginação:

“O objetivo de Dilma é colocar no lugar de Pochmann um técnico que consiga recuperar a imagem antiga do órgão, independente e respeitado pelas pesquisas que realiza. No governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Instituto chegou a ser chamado por vários economistas de máquina de propaganda. Hoje, encontra críticos dentro do próprio governo. Em abril de 2011, por exemplo, o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, desqualificou um estudo do Ipea que denunciava o passo lento das obras de ampliação dos aeroportos nas cidades que sediarão a Copa de 2014, mostrando que pelo ritmo das obras apenas 4 dos 12 aeroportos ficariam prontos”.

Em um parágrafo, Rosana desmente a si mesma. Primeiro diz que o Ipea deixou de ser “independente e respeitado” e virou uma “máquina de propaganda” do governo. Na frase seguinte fala que o ministro Gilberto Carvalho desqualificou um estudo do Ipea”. Se é chapa-branca, por que um ministro ataca o órgão?

Rosana Hessel fecha a matéria com chave de ouro: “A presidente quer indicar pessoa com perfil técnico e sem aspirações políticas”. Perfil técnico e sem aspirações políticas era a mais perfeita tradução de economista Dilma Rousseff ao ser nomeada ministra das Minas e Energia, em 2003.

O que tais matérias demonstram? Entre outras coisas que quando jornalistas se prestam a ser portadores de recados de lobistas, difusores de boatos e escritores de ficção, quem perde é o jornalismo. E cá entre nós, a atividade não anda em seus melhores dias no Brasil.

Em tempo: a economista Vanessa Petrelli, indicação de Marcio Pochmann, é a nova presidenta do Ipea.

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