quinta-feira, 31 de maio de 2012

"Este é o clima, ao que tudo indica, desejado pela revista Veja ao publicar sem provas, as denúncias, tanto a primeira quanto a atual."


Veja e Gilmar Mendes: tentativas reiteradas de gerar crises institucionais?

Editorial


Insistem, ao que parece, a revista Veja e o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, em criar uma crise institucional no país. Já é a segunda vez que isto ocorre. A primeira, foi quando Gilmar Mendes, no exercício da presidência do STF, acusou, por meio da revista Veja e com ampla reverberação do senador Demóstenes Torres (ex-DEM), a existência de um “grampo” eletrônico em seu gabinete. Gilmar Mendes solicitou audiência com o então presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, para denunciar o fato e exigir providências, insinuando que o poder Executivo teria alguma responsabilidade nos possíveis acontecimentos. Mendes foi recebido, uma minuciosa varredura foi realizada em todo o tribunal e nada foi encontrado. Lula contemporizou e a crise institucional iminente foi esvaziada.
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A segunda vez, ocorre agora, por meio da mesma revista Veja, mas sem o respaldo do senador Demóstenes Torres, que atualmente responde processo na Comissão de Ética do Senado por envolvimento com a contravenção do jogo do bicho e por dar cobertura às práticas de corrupção cometidas por Carlinhos Cachoeira, que hoje se encontra preso e tem suas atividades investigadas por uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito.
Em matéria publicada na edição desta semana da revista Veja, Mendes denuncia ter sido “pressionado” por Lula, durante um encontro ocorrido no escritório do também ex-presidente do STF e ex-ministro da Justiça e da Defesa Nelson Jobim, para direcionar os rumos do julgamento do “mensalão” e impedir o seu julgamento durante este ano. Ainda segundo Mendes, na tentativa de intimidá-lo, Lula o teria questionado sobre um encontro com Demóstenes em Berlim, ocorrido no mesmo período em que Cachoeira se encontrava naquela cidade.
Jobim, ouvido pelo jornal Zero Hora, negou o teor da conversa. Afirmou que esteve com Lula e Mendes durante todo o tempo do encontro e que o diálogo relatado por Mendes e publicado pela Veja não ocorreu. Disse mais Jobim, esclarecendo que já havia feito a mesma declaração quando foi consultado pela revista, mas que a mesma publicou o contrário do que afirmara.
Lula, por meio de nota oficial divulgada por sua assessoria, nega os fatos relatados por Mendes. Confirma que ocorreu o encontro, mas que a versão da conversa relatada pela Veja é inverídica. Afirma que, enquanto presidente da República, sempre respeitou a independência e a autonomia dos poderes e que como ex-presidente continua tendo o mesmo comportamento.
Ainda que dois dos três participantes da conversa neguem o teor relatado por um deles, restarão sempre dúvidas sobre os fatos, já que não há “grampos” ou gravações legais que possam servir de prova para tal ou qual lado. As personalidades envolvidas são integrantes do mais alto círculo de poder do país, o que lhes garantiria, a princípio, uma respeitabilidade e um senso de responsabilidade que impediria o exercício da pressão/coação e da mentira. Mentira, aliás, que, inevitavelmente, está sendo praticada por um dos dois ex-presidentes da mais alta corte de justiça do país.
O que restam é a dúvida e a perplexidade e, quem sabe, a descrença com as instituições públicas e seus agentes.
Este é o clima, ao que tudo indica, desejado pela revista Veja ao publicar sem provas, as denúncias, tanto a primeira quanto a atual. Envolvida no escândalo de Carlinhos Cachoeira, pois que as escutas telefônicas, autorizadas pela justiça, que lançaram graves suspeitas sobre Demóstenes envolveram seriamente também o chefe de sua sucursal em Brasília, a revista Veja teria grande interesse em tumultuar a cena política brasileira neste momento, lançando uma cortina de fumaça para encobrir sua possível participação nos atos ilegais de Cachoeira/Demóstenes. A se julgar pelas conversas gravadas entre o chefe da sucursal da Veja em Brasília e Carlinhos Cachoeira, são fundadas as suspeitas sobre uma possível participação daquela revista na montagem do escândalo do “mensalão”, ajudando a forjar fatos e divulgando-os de modo tendencioso.
Além da revista Veja quem mais teria hoje a ganhar com a divulgação de fatos sem provas e com o lançamento de dúvidas sobre a honorabilidade de algumas das mais altas autoridades do país e a credibilidade de algumas das instituições mais importantes do Estado brasileiro?
O atual presidente do STF, ministro Ayres Brito, tem como ponto de honra de sua gestão o julgamento do “mensalão”. Denúncias, mesmo que sem provas, de que há movimentos de um ex-presidente da República para impedir que o julgamento ocorra podem se tornar o estopim de uma grave crise entre os poderes Executivo, Judiciário e também Legislativo, uma vez que a oposição já representou criminalmente contra Lula, procurando tirar vantagem dos fatos.  A crise, que foi evitada no momento da denúncia anterior, pode explodir agora.

Enfim, uma boa notícia: os jornalistas não estão acima da lei


A imprensa que estupra


Por Eliane Brum, em sua coluna na revistaÉpoca:

– Não estuprou, mas queria estuprar!

A frase foi dita pela repórter Mirella Cunha, no programa “Brasil Urgente”, da Band da Bahia, a um jovem de 18 anos, preso em uma delegacia desde 31 de março. Algemado, ele diz que arrancou o celular e a corrente de ouro de uma mulher, mas repete que não a estuprou. Na reportagem, a jornalista o chama de “estuprador”. Pergunta se a marca que ele tem no rosto é resultado de um tiro. Ele responde que foi espancado. A repórter não estranha que um homem detido, sob responsabilidade do Estado, tenha marcas de tortura. O suspeito diz que fará todos os exames necessários para que seja provado que ele não estuprou a mulher. Ele não sabe o nome do exame, não sabe o que é “corpo de delito” e pronuncia uma palavra inexistente. Ela debocha e repete a pergunta para expô-lo ao ridículo. Ele então pronuncia uma palavra semelhante à “próstata”. A jornalista o faz repetir várias vezes o nome do exame para que ela e os telespectadores possam rir. Depois, pergunta se ele gosta de fazer exame de próstata. No estúdio, o apresentador Uziel Bueno diz: “Tá chorando? Você não fez o exame de próstata. Senão, meu irmão, você ia chorar. É metido a estuprador, é? É metido a estuprador? É o seguinte. Nas horas vagas eu sou urologista…”.


A chamada da reportagem era: “Chororô na delegacia: acusado de estupro alega inocência”. A certa altura, a jornalista olha para a câmera e diz ao apresentador, rindo:

– Depois, Uziel, você não quer que o vídeo vá pro YouTube…

Ela tinha razão: o vídeo foi postado no YouTube. A versão mais curta dele já foi vista por quase 1 milhão de pessoas. Aqui neste link, se quiser, você pode assistir a uma versão um pouco mais longa, de quase cinco minutos.

O vídeo foi divulgado nas redes sociais, na semana passada, com grande repercussão e forte pressão por providências. Um grupo de jornalistas fez uma carta aberta: “A reportagem de Mirella Cunha, no interior da 12ª Delegacia de Itapoã, e os comentários do apresentador Uziel Bueno, no estúdio da Band, afrontam o artigo 5º da Constituição Federal: ‘É assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral’. E não faz mal reafirmar que a República Federativa do Brasil tem entre seus fundamentos ‘a dignidade da pessoa humana’. Apesar do clima de barbárie num conjunto apodrecido de programas policialescos, na Bahia e no Brasil, os direitos constitucionais são aplicáveis, inclusive aos suspeitos de crimes tipificados pelo Código Penal”.

E, mais adiante: “É importante ressaltar que a responsabilidade dos abusos não é apenas dos repórteres, mas também dos produtores do programa, da direção da emissora e de seus anunciantes – e nesta última categoria se encontra o governo do Estado que, desta maneira, se torna patrocinador das arbitrariedades praticadas nestes programas”. Em 23/5, o Ministério Público Federal abriu representação contra a jornalista. Em nota, a Band afirmou que tomaria “todas as medidas disciplinares necessárias” e que “a postura da repórter fere o código de ética do jornalismo da emissora”.

Em visita ao suspeito, a Defensoria Pública assim o descreveu: “É réu primário, vive nas ruas desde criança, apesar de ter residência em Cajazeiras 11. Tem seis irmãos, é analfabeto e já vendeu doces e balas dentro de ônibus. Ao ser questionado sobre como se sentiu durante a entrevista, ele diz: ‘Eu me senti humilhado, porque ela ficou rindo de mim o tempo todo. Eu chorei porque sabia que eu iria pagar por algo que não fiz, e que minha mãe, meus parentes e amigos iriam me ver na TV como estuprador, e eu sou inocente’”.

A reportagem é um exemplo de mau jornalismo do começo ao fim. E, para completar, ainda presta um desserviço à saúde pública, ao reforçar todos os clichês e preconceitos relacionados ao exame de próstata. Por causa dessa mistura de ignorância e machismo, homens demais morrem de câncer de próstata no país. Os abusos cometidos pela repórter e pelo apresentador foram tantos, porém, que esse prejuízo passou quase despercebido.

Por que vale a pena refletir sobre esse episódio? Primeiro, porque ele está longe de ser uma exceção. Se fosse, estaríamos vivendo em um país muito melhor. O microfone (e a caneta) tem sido usado no Brasil, assim como em outros países, também para cometer violências. Nestas imagens, se observarmos bem, a repórter manipula o microfone como uma arma. (Outras interpretações, vou reservar para os psicanalistas.)

Muitos passam mal ao assistir ao vídeo porque o que se assiste é uma violência sem contato físico, sem marcas visíveis. Uma violação cometida com o microfone e uma câmera, exibida para milhões de pessoas, contra um homem algemado (e, portanto, indefeso), sob a responsabilidade do Estado, que, em vez de garantir os direitos do suspeito, o expõe à violência.

O suspeito é humilhado por algo que deveria ser uma vergonha para o Estado e para todos nós: a péssima qualidade da educação. E, no caso dele, o analfabetismo de um jovem de 18 anos no ano de 2012, na “sexta economia do mundo”. Ao afirmar que o rapaz era um estuprador, a repórter colocou em risco também a vida do suspeito, já que todos sabem – e muitos toleram – o que acontece dentro das cadeias e prisões com quem comete um estupro.

A repórter e o apresentador, porém, são apenas a parte mais visível da rede de violações. Estão longe de serem os únicos responsáveis. Para que esse caso se torne emblemático e para que a Justiça valha é preciso que todas as responsabilidades sejam apuradas, a começar pela do Estado. Tanto em permitir que alguém sob sua custódia fosse exibido dessa maneira, e possivelmente contra a sua vontade, numa rede de TV, quanto nas marcas de tortura no seu rosto. As marcas e o relato de espancamento, aliás, seriam objeto da apuração de qualquer bom jornalista. No caso, não suscitaram nenhuma surpresa.

Basta ligar a televisão para ter certeza de que nem essa jornalista, nem esse apresentador, nem essa rede de TV são os únicos a violar direitos previstos em lei, especialmente contra presos e contra favelados e moradores das periferias do Brasil. Especialmente, portanto, contra os mais frágeis e com menos acesso à Justiça. Vale a pena lembrar que o número de defensores públicos no Brasil é insuficiente – em São Paulo, por exemplo, segundo relatório feito pela Pastoral Carcerária Nacional e pelo Instituto Terra, Trabalho e Cidadania, há apenas 500 defensores públicos para prestar assistência jurídica à população carente. E quase 60 mil presos que nunca foram julgados.

Como também sabemos, nenhum jornalista publica ou veicula o que quer. Para que reportagens como esta tenham espaço é preciso que exista antes uma estrutura disposta a permitir que os maus profissionais violem as leis. Em última instância, também quem anuncia seus produtos em programas que exibem esse tipo de reportagem está sendo conivente e estimulando a violação de direitos.

A responsabilidade não acaba aí. Nos blogs, onde o vídeo foi denunciado como uma violação de Direitos Humanos, parte dos comentários dos leitores pode ser assim resumida: “Ah, mas ele não é nenhum inocente”. Ou: “Queria ver se fosse você que ele tivesse assaltado”. São afirmações estúpidas, mas elas ajudam a explicar por que esse tipo de abordagem tem audiência. Persiste ainda no Brasil uma ideia de condenação sem julgamento – e o linchamento público, via TV, é uma das formas mais apreciadas de exercer a barbárie. Até porque, dessa forma, ninguém precisa sujar as mãos de sangue.

É preciso, porém, lembrar o óbvio: até ser julgado, um suspeito é um suspeito. E só o ritual da Justiça poderá dizer se ele é culpado ou inocente. E, mesmo culpado, ele vai cumprir a pena determinada pela lei, mas continuará a ter direitos. E esta é uma conquista da civilização – contra a barbárie.

É também por causa da vontade de fazer “justiça” com as próprias mãos de parte da população que o mau jornalista se sente “autorizado” a se colocar no lugar de juiz e condenar um suspeito no tribunal midiático. Quem o legitima não são as leis tão duramente conquistadas no processo democrático, mas a audiência. Quem legitima o mau jornalismo é justamente esse tipo de comentário: “Ah, mas ele não é nenhum inocente” ou “Queria ver se fosse você que ele tivesse assaltado”.

“Queria ver se fosse você que ele tivesse assaltado”.

Para esse tipo de raciocínio valer e o mau jornalismo continuar tendo espaço é preciso que a sociedade decida que não existem leis no Brasil e que os suspeitos perdem todos os direitos e devem ser linchados sem julgamento, nas ruas ou na TV. E isso vale para todos – e também para aqueles que gostam de expressar sua sanha porque pensam estar a salvo da sanha alheia.

Por sorte, não chegamos a esse ponto. Mas, para que violências como a que assistimos não se repitam, não basta punir quem as comete, é preciso que cada um saiba que, ao dar audiência para o mau jornalismo, está escolhendo a barbárie. O telespectador também tem responsabilidade. Cada um de nós tem responsabilidade. É assim numa democracia: a responsabilidade é compartilhada. Quem escolhe, se posiciona e se responsabiliza. E quem se omite também escolhe e se responsabiliza.

Este episódio, que, repito, está longe de ser exceção, poderia ser usado para iluminar capítulos não contados, ou pouco contados, ou ainda mal contados da imprensa. É importante compreender que, historicamente, parte do jornalismo policial tem uma relação promíscua com a polícia. Desde sempre. Parte porque há grandes e decentes repórteres na história da crônica policial brasileira. Mas, arrisco-me a dizer, não representam a maioria.

Na ditadura, parte dos jornalistas policiais foi conivente com a tortura dos presos políticos, da mesma maneira que já era conivente, antes, com a tortura dos presos comuns. E que, depois do fim da ditadura, continuou a ser conivente com a tortura largamente praticada até hoje nas cadeias e presídios do país. Há histórias escabrosas e ainda não bem contadas de repórteres que, inclusive, assistiam às sessões de tortura e até ajudavam a torturar. Estas só tomei conhecimento pela narrativa de colegas mais velhos – obviamente, nunca presenciei.

Na transição democrática, nos anos 80, eu cheguei a conviver com jornalistas da editoria de polícia que andavam armados e achavam não só natural, mas desejável, a tortura de presos. Outros se limitavam a não denunciá-las. Era comum o repórter chegar à delegacia e ouvir a seguinte frase: “Espera um pouquinho, que estamos maquiando o elemento”.

“Maquiar” o preso significava que estavam apagando as marcas de tortura, para que ele pudesse ser fotografado ou filmado. Algumas marcas, claro, restavam. E ninguém – nem repórter, nem fotógrafo, nem mesmo os leitores – achava estranho.

É por causa dessa mentalidade, ainda hoje largamente disseminada entre a população brasileira, que as denúncias das torturas praticadas nas cadeias e prisões não causam revolta – para além das organizações de direitos humanos e alguns segmentos restritos da sociedade. Como se, ao ser condenado ou apenas suspeito de um crime, as pessoas perdessem todos os seus direitos, inclusive os fundamentais.

Se a tortura de presos políticos durante a ditadura tem grande repercussão na classe média, a tortura contumaz dos presos comuns, praticada antes, durante e depois do regime militar, é tolerada por parte da população – até hoje. Sobre a tortura disseminada nas cadeias e prisões brasileiras, aliás, aguarda-se a divulgação do relatório da ONU, cujos resultados e recomendações estão nas mãos do governo federal desde fevereiro.

Se no passado alguém estranhasse as marcas dos presos, bastava alegar “resistência à prisão” – “explicação” até hoje amplamente usada pelas polícias para justificar a morte de suspeitos. É assim que a pena de morte – punição inexistente na legislação brasileira – tem vigorado na prática no país. Suspeitos são executados pela polícia – e a justificativa é “morto ao resistir à prisão” ou “morto em confronto” ou “morto durante troca de tiros”.

Ontem – como hoje –, na prática, o preso não tinha nenhum direito a não querer dar entrevista ou ser fotografado ou filmado. Estava implícito que, se tentasse protestar, seria agredido. Era comum os policiais levantarem a cabeça do preso para as câmeras. Tanto daqueles que não queriam ter seu rosto exposto quanto daqueles que tinham sido tão torturados que não conseguiam manter a cabeça ereta sobre o pescoço.

Esta era a cultura que imperava – e em geral as redações não estranhavam, ou quem estranhava preferia deixar por isso mesmo para não ter de se confrontar com a “naturalidade” reinante. Não me parece – pelo que assistimos nesse vídeo – que hoje a situação seja muito diferente.

No início dos anos 90, um colega de jornal, Solano Nascimento (hoje professor do curso de jornalismo da UnB), que raramente cobria a área policial, presenciou um agente dar um tapa em um preso. Vários jornalistas, de outros veículos, testemunharam a cena. Mas só ele estranhou e denunciou a violência na sua matéria. O fato – o de um jornalista ter denunciado algo que para muitos era corriqueiro – causou espanto nas redações. Ainda assim, a polícia foi obrigada a abrir uma sindicância.

Uma pesquisa realizada em 2009 por Marcos Rolim, Luiz Eduardo Soares e Silvia Ramos com profissionais de segurança pública mostrou que 20,5% dos quase 65 mil policiais que responderam ao questionário – 1 em cada 5 – afirmaram ter sofrido torturas em seu processo de formação. O curioso é que a cultura de violência também se fazia presente na formação dos repórteres de polícia, ainda que em proporções mais amenas. Uma espécie de “batismo de sangue” (no caso, sangue alheio) era motivo de orgulho e até de certa superioridade diante dos “frouxos” de outras editorias. Posso afirmar que isso persistiu até pelo menos a década de 90 – mas há motivos para supor que ainda exista em algumas regiões do país.

Entre os jornalistas, a iniciação era feita de várias maneiras. Uma repórter contou que, em seu primeiro dia de trabalho, foi escoltada das 7h às 21h por um jornalista veterano, com um revólver calibre 38 na cintura (era a década de 80 e o “três-oitão” ainda vivia momentos de glória). Nestas 14 horas ininterruptas, eles acompanharam todas as mortes ocorridas na cidade – não só os assassinatos, mas também os suicídios. O veterano obrigou a “foca” a examinar os cadáveres, verificar o que havia nos bolsos, apalpar os “presuntos”, como ele chamava. Ao final do processo de violação dos corpos, ela tinha de relatar o número de buracos de bala e de perfurações de faca, sob os olhos cúmplices dos policiais responsáveis pela investigação.

Nos deslocamentos entre um morto e outro, o veterano contava sobre como gostava de torturar “vagabundos” e lamentava o fim da ditadura. Quando a noite chegou, ele a levou ao plantão de polícia do pronto-socorro público. Lá ela viu uma mulher chegar gritando e chorando, com o corpo todo esfaqueado e o sangue saindo por todos os furos. Pela mão, a mulher levava um menino com cerca de cinco ou seis anos. Quando a jovem repórter viu os olhos do menino, deu alguns passos e desmaiou no corredor do hospital. Quando acordou, descobriu que tinha urinado na roupa durante o desmaio.

O veterano a levou para casa no carro do jornal e, ao descobrir que ela morava sozinha, impôs sua autoridade para deixá-lo entrar, com a justificativa de que era sua responsabilidade profissional ter certeza de que ela, uma subordinada, ficaria bem. Enquanto a jornalista tomava banho, ele revistou a sua casa. Nada pior aconteceu porque ela arranjou um jeito de dizer que o sogro era professor universitário e a família do namorado deveria estar preocupada com o seu atraso. Por muitos meses ela sentiu-se violentada e não conseguia dormir sozinha em casa. Trocou as fechaduras da porta, lavou todas as suas roupas, porque o veterano repórter de polícia as tinha tocado, e botou fora tudo aquilo que não era documento, inclusive seus bichos de pelúcia.

Assim eram as coisas há não tanto tempo atrás. E acredito que ainda sejam em algumas redações do país. A reportagem que gerou a polêmica não é um episódio isolado. Assim como a teia de responsáveis é ampla e não se restringe à repórter e ao apresentador. E, por fim, a realidade a que assistimos hoje é parte de um processo histórico da imprensa brasileira, com capítulos ainda obscuros. Basta lembrar que conhecemos os nomes dos torturadores e dos legistas que assinavam os laudos falsos da ditadura, mas desconhecemos o nome dos jornalistas que foram cúmplices do regime também nos porões da repressão.

Uma linha de investigação interessante para um livro ou uma pesquisa acadêmica seria entender como a cultura da violência e a relação de promiscuidade de parte dos jornalistas de polícia com os aparatos de repressão da ditadura manteve-se e encontrou novas expressões a partir da retomada da democracia. Uma dessas expressões são os programas considerados sensacionalistas, mas com grande audiência, com reportagens como a que agora discutimos.

Estabelece-se no país a tolerância à violação dos direitos dos presos e dos pobres, mesmo na democracia – bastando apenas fazer uma careta e dizer que os programas são “sensacionalistas”. Os “esclarecidos” dizem que não assistem “a esse lixo” – e isso seria suficiente. O “jornalismo sério” considera-se separado da ralé – e isso seria suficiente. Na prática, sabemos que, na guerra pela audiência, cada vez mais acirrada, a contaminação entre o jornalismo “sério” e o “sensacionalista” é crescente e estimulada. E, mesmo na imprensa considerada séria, parte dos jornalistas que cobrem a área, como se diz no jargão, continua “comendo na mão da polícia”. E não é uma parte tão pequena assim.

Qual é a novidade? A grande – e boa – novidade é a capacidade de mobilização e de pressão pelas redes sociais. Até não muito tempo atrás, duvido que a apuração da responsabilidade de jornalistas como os do vídeo fosse sequer cogitada. Alertado por Fabrício Ramos, pelo Facebook, o vídeo foi postado em 21/5 no blog de Renato Roval. Em menos de 24 horas foi replicado em centenas de blogs e disseminado pelo Twitter, ganhando repercussão nacional.

Se estamos discutindo esse episódio aqui é porque as pessoas estão usando a internet para exercer sua cidadania e se responsabilizar pela democracia, que vai muito além do voto. Usando os instrumentos da internet para exercer pressão legítima, forçando a quebra do corporativismo, o funcionamento das instituições e o cumprimento das leis. Não me parece que nos faltem leis – o que nos falta é justiça. E, para a parte mais frágil da população, acesso à Justiça.

Na semana passada, os responsáveis pela condenação e humilhação públicas de um suspeito negro, pobre e analfabeto descobriram que os jornalistas não estão acima da lei. Enfim, uma boa notícia.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Vazou de novo!

Bomba ! Bomba ! Vazou o
vídeo da Veja sobre Gilmar !(PHA!)


ética jornalística e o respeito aos direitos humanos


Novo vídeo do caso Mirella/Band compromete apresentador Uziel Bueno


28 de maio de 2012 às 8:47


O vídeo que segue completa a matéria da entrevista de Mirella Cunha que apresentei aqui na segunda-feira passada e que havia sido apresentado no programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes da Bahia. Daquele vídeo só constava a entrevista de Mirella. Agora surge o complemento com os comentários do apresentador Uziel Bueno, famoso no estado pela sua agressividade.

O vídeo tem montagens típicas de internet, como repetições das falas e legendas, mas deixa evidente e claro que Uziel Bueno é tão responsável quanto Mirella Cunha neste caso. Ou seja, a Rede Bandeirantes que condenou de pronto o episódio precisa se posicionar também sobre os comentários do seu apresentador.

Num primeiro momento, Uziel insinua com dois dedos que vai fazer o exame de próstata em Paulo Sérgio. Depois, com uma folha de sulfite enrolada simulando um pênis, repete as provocações.



Assista este vídeo e confira você mesmo se as atitudes de Uziel não são tão graves quanto as de Mirella do ponto de vista da ética jornalística e do respeito aos direitos humanos.



As coisas mudaram no Brasil. E continuarão mudando.


Protógenes: “Desta vez a tentativa de blindar o crime organizado não deu certo”

publicado em 30 de maio de 2012 às 2:01

Viomundo

Nota spbre as declarações de Gilmar Mendes

do Blog do Protógenes, sugerido por Fábio Passos

Ao povo brasileiro:

Como todos e todas puderam recentemente testemunhar, o ex-presidente do STF, Sr. Gilmar Mendes, fez declarações à revista Veja, ao site Conjur, aos jornais Globo e Folha de S. Paulo nesta semana, repercutido em diversos meios de comunicação, envolvendo o ex-presidente Lula e também o ex-ministro Nelson Jobim. Tanto foi assim que o próprio Gilmar Mendes teve que retificar tais declarações em seguida, na Rede Globo em 29/05.

Desta vez a tentativa de blindar o crime organizado não deu certo. Felizmente, o trabalho da CPMI do Cachoeira já transcendeu o poder de obstrução dos corruptos, corruptores e do Sr. Gilmar Mendes. Não adianta mais tentar ganhar no grito ou querer dispersar o foco objetivo da CPMI por meio de mentiras.

Convém lembrar que há pouco menos de quatro anos, em 2008, quando o mesmo Gilmar Mendes, então presidente do STF, concedeu dois habeas-corpus em 48 horas ao banqueiro condenado Daniel Dantas, previa e devidamente preso por desviar bilhões de reais dos cofres públicos. Inaugurou naquela época o “foro privilegiado” para banqueiro bandido.

Naquele momento de crise institucional no Brasil, advindo da operação Satiagraha, a falta de credibilidade na justiça brasileira foi alertada, também, pelo ministro Joaquim Barbosa, ocasião em que abriu o debate na própria corte com o ex-presidente do STF Gilmar Mendes.

Os atos incomuns praticados no STF pelo ex-presidente Gilmar Mendes tinham, então, respaldo de um super poder judicial acima da lei e da Constituição da República. Hoje eles não tem mais. As coisas mudaram no Brasil. E continuarão mudando.

As afirmações mentirosas e criminosas dirigidas por ele contra mim serão apreciadas em instrumentos próprios e no foro adequado, registrando que não tem indícios e documentos que classifiquem qualquer conduta na minha atividade como policial ou parlamentar vinculados ao esquema Cachoeira.

Talvez o destempero, nervosismo e arrogância de Gilmar Mendes se explique ao longo da CPMI do Cachoeira na ampliação da coleta de dados, documentos e informações que aprofundem as investigações com o objetivo final de revelar as infiltrações nos Poderes da República, que ameaçam o Estado Democrático de Direito.

Por isso, é bom lembrar que as mudanças abrem novos caminhos para o futuro da mesma forma em que resgatam a memória. Assim, retroativamente, podemos desimpedir a evolução de um país que permanece obstruído por um legado de corrupção ética, moral e material. Ressalto ao final que a instauração da Comissão da Verdade e do Acesso à Informação dá para entender que a busca pela verdade é a ordem do dia no Brasil de hoje e de amanhã.

Deputado Delegado Protógenes (PCdoB-SP)



Observação: Nota em resposta as seguintes reportagens:

1) http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2012/05/28/em-entrevista-gilmar-confirma-pressao-de-lula/

2) http://www.conjur.com.br/2012-mai-27/comportamento-lula-indecoroso-avaliam-ministros-supremo

3) http://oglobo.globo.com/pais/lula-sobre-encontro-com-mendes-meu-sentimento-de-indignacao-5049209

Leia também:

Rui Falcão alerta sobre manobra para desmoralizar Lula e o PT

Maierovitch: Gilmar Mendes pode ter cometido crime contra a honra de Lula

Carta Maior: A carona que pode estar na origem de tudo

Lula sobre a reportagem de Veja: “Indignação”

Canoas terá, em 2012, o número mais elevado de candidatos desde 1992


Eleições 2012

Benedito Tadeu César *O quadro político-eleitoral em Canoas hoje
SUL 21
Primeiro produto interno bruto (PIB), primeira população e terceiro eleitorado do interior do Rio Grande do Sul, Canoas atravessa hoje período de relativa calmaria política, depois das grandes turbulências que enfrentou há poucos anos. São 14 os partidos que integram a coalizão de governo comandada pelo prefeito Jairo Jorge (PT) e que deverão manter apoio à sua tentativa de reeleição.
O arco de alianças em torno do prefeito é amplo, incluindo partidos de todos os posicionamentos do espectro ideológico e, inclusive, antigos adversários. Além do PT, integram também a aliança PSB, PCdoB, PPL, PDT, PV, PMDB, PSD, PR, PPS, PRB, PTB e PRB. Apenas os pequenos partidos no município se propõem a lançar candidatos para enfrentar o atual prefeito, numa tentativa de firmar posição e conquistar espaços.
Não obstante a abrangência da aliança de situação, a lista dos pré-candidatos de oposição é grande, totalizando seis nomes, cada um deles representando um partido diferente, a saber: o ex-deputado estadual Jesus Coffy Rodrigues (PSDB); o coronel Cláudio Faccin (DEM), a advogada e ex-candidata a deputada estadual pelo PV Gisele Uequed (PTN); o médico e presidente do HPS de Canoas João Luís Ilha Ilha (PHS); o advogado Sales da Rosa (PSOL) e o metalúrgico Vagner da Rosa Ripoll (PSTU), o Maradona.
A se confirmarem todas as sete pré-candidaturas até aqui anunciadas, Canoas terá, em 2012, o número mais elevado de candidatos desde 1992. Impedida de eleger livremente seus governantes durante todo o período da ditadura militar (1964/1985), por ter sido considerada “área de segurança nacional” em decorrência de abrigar em seu território uma base da aeronáutica brasileira, Canoas teve cinco candidatos em 1985, quando voltou a eleger diretamente seu prefeito, o mesmo número em 1988, sete em 1992, seis em 1996, cinco em 2000 e 2004 e quatro em 2008.
A não fixação de padrões de comportamento eleitoral e de algum tipo de hegemonia partidária para os cargos executivos municipais parece ser uma característica de Canoas. Evidência disto é o fato de que em sete pleitos foram eleitos prefeitos de seis partidos diferentes, considerando-se apenas as cabeças de chapa e não as coligações eleitorais que os apoiaram. Hugo Simões Lagranha e Marco Ronchetti constituem as únicas exceções.
Lagranha foi prefeito de Canoas por cinco vezes não consecutivas, sendo que três delas por nomeações ocorridas durante a ditadura e apenas duas vezes pelo voto popular; a primeira em 1988, concorrendo pelo PDT, e a segunda em 1996, pelo PTB. Ronchetti foi eleito em 2000 e reeleito em 2004 com 70,13% dos votos válidos, sempre pelo PSDB, mas foi denunciado por corrupção pelo Ministério Público Federal pelo possível envolvimento com o chamado “Escândalo da Merenda Escolar”, ocorrido durante sua gestão, e hoje se encontra impedido de se candidatar.
Canoas é também o berço político do senador Paulo Paim e do deputado federal, e hoje presidente do Congresso Nacional, Marco Maia, ambos do PT. O primeiro nunca disputou cargo municipal em Canoas, mas o segundo foi candidato a prefeito em 1988, 2000 e 2004, concorrendo primeiro com Lagranha e depois duas vezes com Ronchetti, sem ter conseguido se eleger. Não obstante estes fatos, Paim foi o candidato a deputado federal mais votado no município de 1990, 1994 e 1998 e para senador em 2000 e em 2010, enquanto Maia obteve a segunda maior votação para deputado federal em 2006 e a primeira em 2010.
Na eleição passada, pela primeira vez, um candidato do PT venceu as eleições para a Prefeitura Municipal de Canoas. Depois de construir uma ampla aliança para as eleições, que incluiu, também pela primeira vez na história de seu partido no Rio Grande do Sul, a cedência da vaga de vice ao PP, Jairo Jorge elegeu-se prefeito e, rapidamente, conquistou antigos adversários e até mesmo o PTB, com quem disputou o segundo turno daquelas eleições, para a sua base política.
Com uma administração bastante bem avaliada, o atual prefeito espera reeleger-se sem grandes sobressaltos e é esta a aposta de muitos dos analistas políticos. Como eleições, muitas vezes, produzem surpresas inesperadas e, tal como o futebol, se revelam “uma caixinha de surpresas”, a pouco mais de cinco meses da votação, os adversários se mantêm na disputa e prometem dificultar o jogo.
. oOo.
Benedito Tadeu César é cientista político especializado em análise política, partidos políticos, pesquisas de opinião pública e comportamento eleitoral e é também diretor executivo do Sul21.

terça-feira, 29 de maio de 2012

E se ela estiver certa...?

MAFALDA



A agenda proposta por Arnobio, endossada pelo Nassif e (modestamente) por mim:


Ponto final na dispersão política


Autor: 
 
A partir de amanhã, o Blog só voltará ao tema Gilmar se surgir algum fato relevante.
Essa loucura está tomando rumos irresponsáveis e não se pode transformá-la em neurose coletiva, aceitando a isca de um sistema de notícias sem noção de país.
Que me chama a atenção é o blogueiro Arnobio Rocha. O que está em jogo não é PT, mensalão, Gilmar, mas a própria solidez das instituições.
Com sua loucura, Gilmar Mendes colocou o STF (Supremo Tribunal Federal) no centro do questionamento nacional. Qualquer decisão que tome será questionada por essa supina irresponsabilidade de um Ministro sem limites. Quem pretendeu colocar o Supremo nas cordas foi o próprio Gilmar. E está conseguindo com sua loucura com método.
A agenda proposta por Arnobio e endossada por mim:
  1. O “mensalão” tem que ser julgado o mais rapidamente possível, um julgamento severo, porém técnico, que restaure a confiança nas leis e no STF. Junto com o mensalão do PT, o mensalão tucano de Minas Gerais, já que as fontes são as mesmas.
  2. Do mesmo modo, a CPMI tem que ir fundo nas investigações e punição do mais atrevido esquema de corrupção do Brasil moderno: Carlinhos Cachoeira e seus diversos tentáculos.
  3. Depois, limpar a área política para o que interessa, a agenda positiva contra a crise e  espaço para Dilma, Banco Central e Fazenda completar o processo de redução de juros e de fortalecimento da produção nacional.

machismo broxa!


“Se não se vestissem como vadias, poderiam evitar o estupro”


Suzane Pires (*)
Foi está “genial” frase acima, proferida por um policial canadense, que deu inicio a “Marcha das Vadias” hoje em sua segunda edição.
Após uma série de estupros na Universidade de Toronto no Canadá, um policial convidado a orientar as estudantes para a prevenção desta violência sugere que o estupro é motivado pelas roupas que as estudantes vestem.
Por mais chocante que possa parecer este pensamento não é incomum e traz na sua gênese a força do pensamento machista. A mulher é a culpada pela violência que sofre.
Este é um tema exaustivamente debatido pelo movimento feminista ao longo de décadas e ganha hoje um novo contorno.
Milhares de pessoas na sua maioria jovens tomam as ruas do país para dizer não a violência, não à idéia de que seus corpos são objeto em exposição para o uso e abuso dos homens.
Nos cartazes empunhados como bandeiras pode-se ler um recado que dá conta do nível de consciência desta mulher contemporânea sobre seu direito de opção. “Me respeite, de burca ou de shortinho”
Estes manifestações trazem também antigas bandeiras feministas para a rua, igualdade de salário, o fim da violência doméstica e a legalização do aborto.
As reivindicações são antigas o jeito de fazer e os rostos são novos. A grande participação dos homens nestas marchas dá um pequeno sinal de que a cultura machista já começa a ser questiona pelo conjunto da sociedade.
Agora falta mudar o estado, a justiça e polícia,
Bons ventos às trazem.
(*) Repórter fotográfica e militante feminista.
Fotos: Suzane Pires

as voltas e reviravoltas do mundo


Collor volta à História.
E acusa Gurgel e Civita


Conversa Afiada




A Veja trocava informação entre o MP e o crime (clique na imagem para assistir ao vídeo)


A partir do R7:

“Eu não deveria ter de volta o meu mandato?”, pergunta Fernando Collor em entrevista

Vinte anos depois da queda, ele admite que foi “arrogante” na presidência



Vinte anos após deixar a Presidência da República por suspeita de corrupção, o hoje senador por Alagoas Fernando Collor de Mello (PTB) concedeu uma entrevista a Paulo Henrique Amorim na Record News em que fala abertamente sobre o assunto. Ele diz que o poder “subiu à cabeça” de seu então tesoureiro Paulo César Farias, o PC Farias; admite que foi “arrogante” no poder e que perdeu o mandato porque ignorou o Congresso Nacional. Inocentado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 1994, ele questiona: “Eu não deveria ter de volta o meu mandato? É uma questão. É uma pergunta a ser respondida”.

Acusado pelo crime de corrupção passiva, Collor renunciou ao mandato, mas o Congresso ignorou seu pedido e votou pelo impeachment, o que lhe retirou os direitos políticos por oito anos. Dois anos após seu afastamento, em 1994, o STF (Supremo Tribunal Federal) arquivou o processo contra ele “por falta de provas”. Para Collor, sua recondução à cadeira presidencial é uma questão a ser debatida no Brasil.

— Do afastamento ao julgamento foram dois anos em que minha vida foi investigada de cima a baixo. [...] O STF me inocentou de todas as acusações que me foram feitas. Aí vem uma pergunta: se eu perdi o meu mandato com base na suposição de que as denúncias que me faziam eram verdadeiras, onde está o meu mandato que eu perdi quando a mais alta corte de Justiça do País decidiu que aquelas acusações eram falsas? Eu não deveria ter de volta o meu mandato? É uma questão. É uma pergunta a ser respondida.


Sobre seu trabalho na CPMI, Collor volta a dizer que o Procurador-Geral Roberto Gurgel e sua mulher Claudia Sampaio cometeram um crime de improbidade, chegando até a um crime de prevaricação.

Clique aqui para ver o vídeo com o pronunciamento de Collor da tribunal do Senado.

Reagiu também à denúncia feita pela Folha (*) de que estaria perseguindo a mulher de Gurgel porque ela o processa no STF.

Eu nem sabia que ela me processava, disse: “o argumento (da Folha) é tão tosco quanto o português de quem escreveu.”

Paulo Henrique Amorim perguntou o que ele achava da acusação de Gurgel de que os que o acusavam estava preocupados com uma condenação no mensalão.

- Eu, perguntou Collor surpreso ? Eu não visto essa carapuça, ele disse.


Collor repete que a Veja se associou a uma organização criminosa.

Que a Veja e seu dono, Roberto Covita sabiam perfeitamente que lidavam com uma organização criminosa.

Que Roberto Civita é um um analfabeto: “é isso que o doutor Civita é.”

Collor descreveu o modus operandi de Policarpo Junior.


Ele trocava informações que obtinha no Ministério Público com as que obtinha com Carlinhos Cachoeira e nesse intercâmbio a Veja se munia de um poder inadmissível numa sociedade democrática.

Paulo Henrique Amorim relembrou que o Globo publicou celebre editorial – “Roberto Civita não é Murdoch” – para defender a liberdade de imprensa.

E perguntou a Collor se, como proprietário de uma rede comunicação em Alagoas – afiliada da Globo – ao acusar a Veja ele não se sentia, também ameaçado, como o Globo ?

Collor diz que é um incansável defensor da liberdade de expressão.

E que a Veja e seu dono não se beneficiam disso, porque estão acumpliciados ao crime organizado. É outra coisa.


A queda
Relembrando os momentos que antecederam sua queda, Collor admite um erro crucial no auge da crise. Em um discurso para taxistas no Palácio do Planalto, ele pediu que os brasileiros saíssem às ruas em sua defesa vestindo verde e amarelo.

— Na reunião com taxistas [...] eu disse que não iria falar. Terminou o evento e os taxistas começaram a gritar “fala Collor, fala”. Eu me senti estimulado a falar, voltei e falei. E foi quando eu pedi – um erro de avaliação – que no domingo seguinte todos saíssem às ruas de verde e amarelo para mostrar que a democracia no Brasil era maior do que qualquer tentativa de golpe contra o primeiro presidente eleito pelo voto direto depois de 30 anos. E minha solicitação não foi atendida; todos saíram às ruas vestidos de preto.

Collor admitiu que a “arrogância” o fez ignorar o Congresso Nacional e que foi essa falta de apoio a verdadeira razão para sua queda.

— O que na realidade causou a minha saída da presidência da forma como se deu foi a falta de sustentação política no Congresso Nacional. Embora sendo de uma família uma parte política outra parte de diplomatas… Mas na questão política eu não havia aprendido uma coisa: que era o respeito e atenção que o chefe do Poder Executivo deve ter com o Poder Legislativo.



Clique aqui para assistir à primeira parte da entrevista completa.


Ele afirmou que essa não havia sido a primeira vez em que ignorou o Legislativo. Ele já havia feito o mesmo quando foi prefeito de Maceió e governador de Alagoas.

— Não dei a atenção devida. [...] Saí do governo [estadual], me elegi presidente e aquilo foi sedimentando em mim algo nocivo. A arrogância também [...] um certo sentimento de superioridade em relação aos seus semelhantes, que é um erro terrível ao qual eu me penitencio sempre.

Veja X IstoÉ
Collor também nega que a revista Veja o tenha derrubado, apesar da publicação de uma entrevista com Pedro Collor de Mello, em que ele (morto em 1994) acusa o próprio irmão.

— [A revista Veja] acha que foi ela quem causou [meu afastamento], mas não foi, foi a revista IstoÉ. [Foi com a matéria] em que apareceu um motorista que estava lotado no Palácio do Planalto fazendo trabalhos para a minha secretária. Eu não o conhecia, mas foi essa matéria que foi a pedra de toque que levou ao meu afastamento, que mobilizou o Congresso e a população.



O que, portanto, segundo ele, não tira a legitimidade do que faz hoje na CPMI: exige a incriminação de Robert(o) Civita , dono da Veja e seu diretor em Brasília, Policarpo Júnior.

Ele não está fazendo um “acerto de contas”, hoje, porque não foi a Veja a responsável por sua queda, mas a IstoÉ.


Lula e PC Farias
— Subiu à cabeça.

Foi assim que Collor se referiu a PC Farias — também inocentado pelo crime de corrupção passiva — sem o qual “não haveria campanha presidencial” que o elegeu.

— Diferentemente do que pintam dele, ele era uma pessoa extremamente cordata, correta, amiga. Teve um momento em que nos afastamos, quando eu tive algumas comprovações de que ele tinha se deixado levar pela notoriedade que havia ganho, mas o fato é que desde o início acreditou no projeto político.

PC – que foi encontrado morto ao lado da namorada Suzana Marcolino em 1996 – e Collor estreitaram relações quando ele ainda governava Alagoas.

— Eu procurei o Paulo César, contei do projeto que eu tinha e se ele poderia me ajudar. Ele disse “acredito porque conheço você, que é determinado, e a linha que o Brasil necessita é essa”. Ele foi para São Paulo, Rio e Minas e fez os contatos para que tivéssemos uma estrutura mínima de campanha. No segundo turno, a situação mudou porque já havia uma notória divisão de forças, Collor versos Lula.

“Não fui leniente com a corrupção”


Paulo Henrique Amorim lembrou a Collor que foi o delegado Paulo Lacerda da Policia Federal, então dirigida por Romeu Tuma – nomeado por Collor – quem fez uma minuciosa investigação sobre as atividades de PC Farias.

E que Lacerda localizou doações ilegais de grande grupos – como dos Ermírio de Moraes e da empreiteira Andrade Gutierrez – a PC Farias.

E que Collor pessoalmente teria se beneficiado disso.

Amorim lembrou também que Lacerda localizou uma retribuição que sua ministra Zélia Cardoso de Mello recebeu de uma empresa de transporte interestadual, dias depois de autorizar um aumento nas tarifas de transporte interestadual.


Vinte anos depois, de cabelos brancos, ele não admitiria que foi leniente com a corrupção que existiria em seu Governo e que o próprio irmão, Pedro, denunciou na entrevista à Veja ?

Collor rejeita enfaticamente a possibilidade de ter sido leniente.

Lembra, de novo, que foi absolvido pelo Supremo, que não fez restrições ao trabalho da CPI nem tentou impedir a investigação da imprensa.

Ao contrário, ele sempre quis saber se era verdade o que a imprensa dizia do Governo dele.

De acordo com o senador, a eleição em que ele venceu Luiz Inácio Lula da Silva foi a “a última disputa presidencial em que houve uma nítida diferença de programas entre um candidato e outro”.


— Foi no segundo turno de 1989, em que o Lula pregava a presença do Estado, não à privatização e abertura comercial; e eu do lado oposto. Quando a população decidiu pelo meu nome, ela decidiu a favor de um programa de governo. Depois desta eleição, vamos verificar que, em todas elas, a diferença de discurso dos candidatos se estreitou.

Collor conclui a entrevista lembrando que foi eleito presidente da República muito novo, “aos 40 anos e sete meses…”

— E com medida provisória à minha disposição.





Na segunda parte da entrevista a ser exibida na Record News segunda que vem, dia 4 de junho, Collor fala de Fernando Henrique, da privatização – diz que, embora tenha iniciado a desestatização, não venderia a Vale – , elogia o Governo Lula de que foi adversário, fala da Rio+20, ele, que promoveu a Eco-92, diz que voltará na Dilma, se ela for candidata em 2014, e diz como gostaria que o verbete “Presidente Fernando Collor” fosse escrito.



(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

Bob Fernandes


A estranha tabelinha Gilmar-Veja


Enquanto foi Ministro da Defesa, a Eliana Catanhêde acreditava piamente no que o Nelson Johnbim dizia.


Johnbim chama Gilmar
de mentiroso, de novo


Conversa Afiada


Assim, a Catanhêde acreditava nele



Saiu no Zero Hora depois de sair no Estadão (e numa versão “mexerico da Candinha”, no Globo):
Jobim falou com ZH no domingo à tarde, por telefone, enquanto se dirigia ao aeroporto, no Rio, de onde regressaria a Brasília.


Zero Hora — Lula pediu ao ministro Gilmar Mendes o adiamento do julgamento do mensalão?

Nelson Jobim — Não. Não houve nenhuma conversa nesse sentido. Eu estava junto, foi no meu escritório, e não houve nenhum diálogo nesse sentido.


ZH — Sobre o que foi a conversa?

Jobim — Foi uma conversa institucional. Lula queria me visitar porque eu havia saído do governo e ele queria conversar comigo. Ele também tem muita consideração com o Gilmar, pelo desempenho dele no Supremo. Foi uma conversa institucional, não teve nada nesses termos que a Veja está se referindo.

ZH — Por quanto tempo vocês conversaram?

Jobim — Em torno de uma hora. Ele (Lula) foi ao meu escritório, que fica perto do aeroporto.

ZH — Em algum momento, Lula e Mendes ficaram a sós?

Jobim — Não, não, não. Foi na minha sala, no meu escritório. Gilmar chegou antes, depois chegou Lula. Aí, saiu Lula e Gilmar continuou. Ficamos discutindo sobre uma pesquisa que está sendo feita pelo Instituto de Direito Público, do Gilmar. Foi isso.


ZH — Depois que Lula saiu, o ministro fez algum comentário com o senhor sobre o teor da conversa?

Jobim — Não. Não disse nada. Só conversamos sobre a pesquisa, para marcar as datas de uma pesquisa sobre a Constituinte.


ZH — Lula pediu para o senhor marcar um encontro com Mendes?

Jobim — Sim. Ele queria me visitar há muito tempo. E aí pediu que eu chamasse o Gilmar, porque gostava muito dele e porque o ministro sempre o havia tratado muito bem. Queria agradecer a gentileza do Gilmar. Aí, virou essa celeuma toda.


ZH — Há quanto tempo o encontro estava marcado?

Jobim — Foi Clara Ant, secretária do Lula, quem marcou. Lula tinha me dito que queria me visitar há um tempo atrás. Um dia me liga a secretária, dizendo que ele iria a Brasília numa quarta-feira (25 de abril) e que, na quinta, queria me visitar e ao ministro Gilmar. Ele apareceu lá por volta das 9h30min, 10h. Foi isso.


ZH — Se não houve esse pedido de Lula ao ministro, como se criou toda essa história?

Jobim — Isso você tem de perguntar a ele (Gilmar), e não a mim.


ZH — O senhor acha que Mendes pode estar mentindo?

Jobim — Não. Não tenho nenhum juízo sobre o assunto. Estou fora disso. Estou te dizendo o que eu assisti.


ZH — Veja disse que o senhor não negou o teor da suposta conversa. Por que o senhor não negou antes?

Jobim — Como não neguei? Me ligaram e eu disse que não. Eu disse para a Veja que não houve conversa nenhuma.

Clique aqui para ler “PT vai pra cima do Gilmar”.

Aqui para ler “Britto e Gurgel têm que expulsar Gilmar”.

E aqui para ler “Lula, indignado, chama Gilmar de mentiroso”.

NAVALHA



Enquanto foi Ministro da Defesa, a Eliana Catanhêde acreditava piamente no que o Nelson Johnbim dizia.

Agora, quando ele chama o Gilmar de mentiroso repetidamente, a Catanhêde, na página dois da Folha (*) – onde só se recomenda ler o Safatle e o Delfim – não acredita mais no Johnbim.

Acredita no Gilmar.

Foi o que deu ir trabalhar na GloboNews: esqueceu dos amigos.


Paulo Henrique Amorim


(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

Viva Manoel de Barros!


Leia poema inédito de Manoel de Barros



Poeta matogrossense, de 96 anos de idade, foi condecorado em Lisboa com o Prêmio Casa da América Latina





Manoel de Barros é o primeiro autor brasileiro a receber o Prêmio de Literatura Casa da América Latina/Banif, instituído em Portuagal em 2005.

Segundo o jornal “Público”, a “Poesia Completa” (no Brasil, lançado pela ed. Leya), de Manoel de Barros foi unanimidade entre os jurados, constituído por Maria Fernanda de Abreu, presidente do júri, pelo poeta e professor universitário Fernando Pinto do Amaral e pelo poeta José Manuel de Vasconcelos, representando a Associação Portuguesa de Escritores. É o primeiro livro de poesia a receber esse prêmio.

Impossibilitado de comparecer ao evento, sua filha, Martha Barros, receberá o prêmio oficialmente. O escritor, porém, fez questão de agradecer com um poema inédito.

Manoel de Barros, que nasceu em Dezembro de 1916 em Cuiabá, no Estado de Mato Grosso, foi considerado por Carlos Drummond de Andrade o “poeta maior” do Brasil e obteve ao longo da sua longa carreira importantes prêmios literários, como o Prêmio Nacional de Poesia (1966), o Prêmio Jabuti (1989 e 2002) e o Prêmio da Academia Brasileira de Letras (2000).

Leia abaixo o poema Inédito de Manoel de Barros:

Fôssemos merecidos de água, de chão, de rãs, de árvores, de brisas e de graças!
Nossas palavras não tinham lugar marcado. A gente andava atoamente em nossas origens.
Só as pedras sabiam o formato do silêncio. A gente não queria significar, mas só cantar.
A gente só queria demais era mudar as feições da natureza. Tipo assim: Hoje eu vi um lagarto lamber as pernas da manhã. Ou tipo assim: Nós vimos uma formiga frondosa ajoelhada na pedra.
Aliás, depois de grandes a gente viu que o cu de uma formiga é mais importante para a humanidade do que a Bomba Atômica.


O grande poeta brasileiro vivo: Manoel de Barros



Diário Gauche




Fôssemos merecidos de água, de chão, de rãs, de árvores, de brisas e de graças!
Nossas palavras não tinham lugar marcado. A gente andava atoamente em nossas origens.
Só as pedras sabiam o formato do silêncio. A gente não queria significar, mas só cantar.
A gente só queria demais era mudar as feições da natureza. Tipo assim: Hoje eu vi um lagarto lamber as pernas da manhã. Ou tipo assim: Nós vimos uma formiga frondosa ajoelhada na pedra.
Aliás, depois de grandes a gente viu que o cu de uma formiga é mais importante para a humanidade do que a Bomba Atômica.  



........................................


Eu diria que o cu de uma formiga é mais importante do que o rei da Espanha, do que a Merkel e do que o Dr. Thomas, juntos. Todo esse lixo humano do século 20 e 21 não valem o cu de uma formiga.


Viva Manoel de Barros!

  

o ódio do carapálida só é maior que a sua própria burrice?


Mensalão só foi denunciado ao STF porque Lula não interferiu

Posted by eduguim on 29/05/12 • Blog da Cidadania




Se você anda espalhando por aí que acredita nessa denúncia de Gilmar Mendes contra Lula que a revista Veja publicou, ou é estúpido ou não tem um pingo de caráter. É possível a qualquer pessoa, mesmo não sendo muito inteligente, concluir, sem a menor sombra de dúvida, que tal denúncia não faz o menor sentido.

Lula foi acusado de tentar interferir no andamento do inquérito do mensalão propondo um escambo ao magistrado: ele postergaria o julgamento até depois das eleições em troca de indulgência da CPI do Cachoeira em relação a supostas evidências de seu envolvimento com Demóstenes Torres e Carlos Cachoeira.

Gilmar foi Advogado-Geral da União do Governo Fernando Henrique Cardoso. No último ano de seu mandato, FHC o indicou para ministro do Supremo Tribunal Federal. Naquele momento, o professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo Dalmo de Abreu Dallari teve um artigo publicado na Folha de São Paulo em que declarou o seguinte sobre tal indicação:

Se essa indicação (de Gilmar Mendes) vier a ser aprovada pelo Senado, não há exagero em afirmar que estarão correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional. (…) o nome indicado está longe de preencher os requisitos necessários para que alguém seja membro da mais alta corte do país.

Gilmar tentou processar criminalmente o jurista Dallari por esse artigo, mas a Justiça recusou a instauração da ação penal que o agora ministro do STF pretendia mover. Dizia a sentença: “A crítica, como expressão de opinião, é a servidão que há de suportar (…) quem se encontrar catalogado no rol das figuras importantes”

A previsão de Dallari se faria sentir cerca de seis anos após a nomeação de Gilmar. Em 2008, o magistrado concedeu habeas-corpus ao banqueiro Daniel Dantas. No mesmo dia, 42 procuradores da República, 134 juízes federais e a Associação de Delegados da Polícia Federal (ADPF) divulgaram documentos manifestando indignação com a soltura do banqueiro.

Alguns Procuradores Regionais da República estudaram até fazer um abaixo-assinado solicitando o impeachment de Gilmar. O senador Demóstenes Torres, então, já exibia suas relações com ele: classificou esse movimento dos Procuradores Regionais da República como “ridículo”.

Esses são apenas alguns fatos que deveriam ser considerados antes de pessoas subdotadas intelectualmente ou moralmente comprarem a acusação de Gilmar a Lula sem o menor questionamento, mas não são o cerne da questão. Servem apenas para lembrar quem é o sujeito que acusa o presidente mais querido da história do Brasil.

O cerne da questão é que os oito anos de mandato de Lula provam que ele jamais interferiu na Justiça com nenhum fim, muito menos para impedir o progresso do inquérito do mensalão. Venho dizendo isso desde 2010, quando publiquei um post contendo informação que desmonta completamente a tese de Gilmar sobre o ex-presidente.

Lula nomeou três procuradores-gerais da República enquanto que FHC manteve o mesmo, Geraldo Brindeiro, de 1995 a 2002, contrariando o Ministério Público Federal por oito anos seguidos.

Claudio Fonteles, que hoje integra a Comissão da Verdade, foi indicado por Lula em 2003 e ficou no cargo até 2005, quando o nome indicado pelo MP foi acatado por Lula novamente. Antonio Fernando de Souza denunciou o mensalão e foi reconduzido por Lula ao cargo. Ficou até 2009, quando Roberto Gurgel, o novo escolhido pelo MP, foi nomeado. O mesmo Gurgel que recentemente difamou o partido do ex-presidente na tevê.

Lula tinha o poder. Se não interferiu nem no Judiciário nem no Ministério Público naquela época, se não há uma só denúncia de outro ministro do STF de que tenha sofrido qualquer pressão do ex-presidente, por que ele escolheria começar a fazê-lo justo com Gilmar Mendes, que tantas vezes se mostrou um adversário político?

A história não se sustentaria só por isso, mas há mais. Nelson Jobim, ex-ministro do Supremo e ministro da Defesa de Lula e Dilma, saiu do governo dela descontente porque foi demitido por declarar publicamente que votou em seu adversário José Serra em 2010. Esse mesmo Jobim desmentiu a acusação de Gilmar a Lula.

É desolador o volume de desonestidade ou burrice que vêm sendo espargidas com ímpeto tão infatigável. Tudo isso produz uma reflexão: será possível que tanta canalhice venha a vingar? Até quando o Brasil será esbofeteado dessa forma? Em que tipo de país mentiras tão grosseiras ganham tal dimensão?

a cachoeira é funda “se” a viagem se confirmar. É preciso apurar. Os indícios são gravíssimos.



É caso de impeachment no STF?
Gilmar Mendes: foi por medo de avião…


publicada segunda-feira, 28/05/2012 às 23:09 e atualizada segunda-feira, 28/05/2012 às 23:10


Escrevinhador




Rocambole: o ministro parece enroladopor Rodrigo Vianna



Suarento e gaguejante, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes apareceu na tela da Globo na noite de segunda-feira. Confirmou o encontro com Lula e reafirmou que “houve a conversa sobre o Mensalão”.

Ok. Mas em que termos? E o que isso teria a ver com a CPMI do Cachoeira/Veja? Gilmar respondeu no melhor estilo rocambole, o estilo de quem está todo enrolado:“Depreendi dessa conversa que ele [Lula] estava inferindo que eu tinha algo a dever nessa conversa da CPMI”.

“Depreendi”, “inferindo”. Hum…

De forma rocambolesca, Gilmar Mendes piscou. Pouco antes, Lula publicara nota em que manifesta “indignação” com o teor da reportagem…

PSDB/DEM/PPS e a velha mídia, numa estranha parceria com o PSOL, tentam transformar o encontro Lula/Mendes em notícia, para impedir que venham à tona fatos gravíssimos já de conhecimento de alguns integrantes da CPI Cachoeira/Veja.

Qualquer ser pensante pode concluir por conta própria: se Gilmar sentiu-se “chantageado” ou “pressionado” por um ex-presidente, por que levou um mês (a reunião entre ele e Lula teria ocorrido em 26 de abril) para revelar esse fato ao Brasil? E por que o fez pela “Veja”, em vez de informar seus pares no STF, como seria sua obrigação?

A explicação pode estar aqui, nos grampos que o tuiteiro Stanley Burburinho fez circular pela rede. Nesses grampos, depreende-se que um tal “Gilmar” (e o próprio agente da PF conclui que o citado parece ser ”Gilmar Mendes”) teria viajado num jatinho emprestado pelo bicheiro Cachoeira. Na companhia (ou compania?) de Demóstenes, o mosqueteiro da ética.

Parafraseando outro ministro do STF, Celso de Melo: “se” a viagem de Gilmar Mendes no jatinho do bicheiro se confirmar, estaríamos diante de um caso que não teria outra consequência possível, se não a renúncia ou o impeachment. Repito: “se” a viagem se confirmar. É preciso apurar. Os indícios são gravíssimos.

A entrevista para “Veja”, seguida do suarento balbuciar no JN da Globo, parece indicar desespero. Uma espécie de defesa antecipada. Fontes na CPI informam que haveria mais material comprometedor contra certo ministro do STF, nas escutas a envolver Cachoeira.

A entrevista à “Veja”, portanto, teria como explicação aquela velha canção: “foi por medo de avião… que eu peguei pela primeira vez na sua mão”.

Mais que um aperto de mãos, Gilmar Mendes e Veja podem ter dado um abraço de afogados. A Cachoeira é funda e não se sabe quem conseguirá nadar até a margem…





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segunda-feira, 28 de maio de 2012

Lula vai ser processado?


Gilmar tem que processar Lula.
Com Johnbim de testemunha


Conversa Afiada





Se fosse verdade o que Gilmar Dantas (*) disse à Veja – clique aqui para ler sobre a “armadilha da Veja”- ele não poderia correr o risco de se incriminar como um prevaricador.

Um Ministro do Supremo não poderia eximir-se da responsabilidade de tentar punir o reles chantagista.

Se isso for verdade, Gilmar Dantas (*) não tem alternativa.

Entrar na Justiça nesta segunda-feira com uma denúncia contra o chantagista e arrolar como testemunha a única pessoa que assistiu à chantagem.

Gilmar tem que processar Lula e Nelson Johnbim tem que ser sua testemunha.

O perigo é o acusado arrolar a mesma testemunha, Nelson Johnbim, aquele que foi Ministro cerrista da Dilma.

Ao Estadão, Johnbim desmentiu Gilmar insofismavelmente e desmontou a armadilha.

Chamou Gilmar de mentiroso.

No Globo, também desmentiu, mas, ali, notável colonista (**) social percebeu no tom de voz uma inclinação mentirosa, uma contradição entre o que dizia e a forma pela qual dizia.

Um fonoaudiólogo, infiltrado no Globo !

E concluiu o crítico de hábitos brasilienses: Johnbim me mentiu quando me disse que Gilmar mentiu.

Um jenio !

(Observa, amigo navegante, que este global colonista de costumes tem essa mania: dá uma informação que talvez desagrade os patrões, e, lá no fim, desdiz o que disse.

Foi o que fez no rumoroso episódio em o Globo se arrependeu de acusar o Policarpo.)

O Johnbim também ficou numa sinuca.

Caiu também na armadilha.

Se não a armou.

Johnbim terá que chamar um dos dois de mentiroso: o Gilmar ou o Lula.

Sem menosprezar o fato de Gilmar, ao confirmar as declarações, chamar o Johnbim, que o desmentiu, de mentiroso.

Amigo navegante, veja a gravidade do que o Gilmar e a Veja fizeram: transformaram dois ministros do Supremo em mentirosos.

Até que um processo judicial movido por Gilmar esclareça tudo.

Se não esclarecer, o destemido advogado do Espírito Santo, o Dr Piovesan se verá na contingência de reiniciar no Senado e no Supremo o pedido de impeachment de Gilmar.

Por que Gilmar jogou essa cartada audaciosa ?

Isso é assunto para o Profeta Tirésias: clique aqui para ler “Como Gilmar tentou melar a CPI”.


Paulo Henrique Amorim



(*) Clique aqui para ver como um eminente colonista (**) do Globo se referiu a Ele. E aqui para vercomo outra eminente colonista (**) da GloboNews e da CBN se refere a Ele.

(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

nada além da Constituição!

III Encontro Nacional - blogprog
“Blogueiros sujos de uma imprensa limpa”: nada além da Constituição!


publicada sábado, 26/05/2012 às 11:49 e atualizada sábado, 26/05/2012 às 11:51

Escrevinhador

por Rodrigo Vianna

O auditório ainda se agitava com as histórias sobre o trânsito infernal em Salvador, na sexta-feira à noite, quando Altamiro Borges, presidente do Centro de Estudos Barão de Itararé, deu por iniciado o III Encontro Nacional de Blogueiros, chamando os primeiros convidados à mesa.

Em meio ao burburinho (e não era Stanley) que vinha dos corredores, Miro pediu que os presentes (quase 300 blogueiros de todo o Brasil) prestassem atenção à mensagem em vídeo que seria exibida no telão. O barulho, de repente, cessa - diante da voz conhecida. É Lula que surge na tela, numa saudação que ele – pessoalmente – decidira gravar. O ex-presidente lembra a participação dele no II Encontro, em Brasília, e ressalta o papel dos blogs para a construção de uma Comunicação com mais diversidade. “A Comunicação não pode estar concentrada em poucas famílias no Brasil”, diz o ex-presidente. A voz rouca ecoa pelo auditório.

Na sequência, outras vozes: Rosane Bertotti (FNDC), Marcio Pochmann (IPEA), Nelson Breve (EBC)… 

”O Brasil ainda não superou completamente o subdesenvolvimento, ainda tem características de um país subdesenvolvido, e uma delas é a democracia imperfeita na área de Comunicação. Seremos uma Democracia plena quando tivermos pluralismo e liberdade nessa área”, diz Pochmann.

Nelson Breve, que hoje comanda a TV Brasil, lembra da época em que trabalhava na Secretaria de Comunicação (SECOM), sob a presidência de Lula. E conta qual foi a estratégia para furar o bloqueio da velha mídia naquela época. A SECOM passou a trabalhar com a imprensa internacional, a imprensa regional e, segundo ele, “com uma terceira imprensa que surgia: a blogosfera”. Breve lembra de episódios em que a blogosfera cumpriu papel decisivo. “Pra ficar num só, falemos da bolinha de papel em 2010″.

Essa “terceira” imprensa parece incomodar. A tal ponto que passou a receber ataques sucessivos nas páginas da velha mídia, aquela controlada pelas tais “famílias” a que Lula se referiu no vídeo. Incomoda tanto que a revista mais vendida do Brasil decidiu enviar um repórter (dessa vez não era Dadá, nem algum araponga a serviço de Cachoeira) para acompanhar o encontro em Salvador. “Cadê o cara da Veja?”, “merece uma saudação especial”, brincam os blogueiros pelos corredores. Renato Rovai ironiza, via twitter: “ele [o repórter da Veja] tá sendo bem tratado, ninguem invadiu o quarto de hotel dele”.

A gente brinca, mas sabe muito bem que, do outro lado, há uma turma que não brinca em serviço: ataca, tenta destruir os adversários mas, no fundo, se amedronta diante da concorrência e do contraponto que vem dos blogs.

Ainda na abertura do Encontro, o ex-ministro Franklin Martins fez uma bem-humorada saudação “aos blogueiros sujos, que fazem uma imprensa limpa”. E lembrou que a turma dos blogs tem uma qualidade importante: “a capacidade de ser insubmissa; é assim que se cria cidadania”.

Franklin defendeu, sim, a regulação da Comunicação eletrônica: “regulação que existe em todas as democracias”. E acrescentou: defender isso é defender “o que já está na Constituição”.

O mote, lançado por Franklin, parece ter ganho corpo entre os blogueiros. Ampliar o debate para além da esquerda, trazendo para o debate amplas parcelas da sociedade: essa deve ser a direção nos próximos meses/anos. Por isso, no segundo dia de debates, Paulo Henrique Amorim sugeriu um novo lema para os blogueiros que lutam por Comunicação democrática no Brasil: “Nada além da Constituição”!

Assino embaixo. Foi o que defendi num recente encontro do FNDC. A turma do outro lado quer que a sociedade acredite que, do lado de cá, há “bolcheviques querendo controlar a imprensa livre”. Nada disso. Pra fazer a comunicação democrática, não precisamos de Revolução Russa. Basta um pouquinho de Revolução Francesa.

Nada além da Constituição!





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