segunda-feira, 2 de abril de 2012

SUL 21


Editorial do SUL21

Demóstenes Cachoeira / Carlinhos Torres

Ícone da moralidade política contemporânea, encarnada no DEM, o senador Demóstenes Torres caiu em desgraça desde a semana passada, com a divulgação de gravações de conversas telefônicas que mantinha com o contraventor Carlinhos Cachoeira, controlador do jogo e de negócios escusos no estado de Goiás. Ambos combinavam negócios e negociatas, contratações e funcionários fantasmas, além de percentuais de participação em ganhos ilícitos. Tudo foi gravado pela Polícia Federal, na Operação Monte Carlo, e agora veio a público.
Além de Demóstenes Torres, integrante da Comissão de Ética do Senado, outros políticos, de diferentes partidos, incluindo-se o governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB, os deputados federais Stepan Nercessian, do PPS,  Carlos Alberto Leréia, do PSDB, Jovair Arantes, do PTB, e Rubens Otoni, do PT, também aparecem nas escutas da Operação Monte Carlo e se encontram sob suspeita. Ao que tudo indica, existia um amplo esquema de corrupção e difamação montado e que agia, de acordo com evidências divulgadas por diferentes fontes, em conluio com o revista Veja.
Os escândalos dos Correios, do Mensalão e muitos outros, teriam sido armações que Carlinhos Cachoeira conseguiu “plantar” na Veja, para se vingar de perseguições. Segundo denúncias publicadas por diferentes fontes nesta semana, a revista Veja e Carlinhos Cachoeira têm/tinham informantes infiltrados na ABIN, que agiriam  como agentes duplos, forjando acontecimentos e passando informações sigilosas para a revista, que seriam divulgadas com exclusividade.
Indo além dos fatos, cabe destacar que o caminho para a moralização das práticas políticas no Brasil e da diminuição do convívio pouco ético entre parlamentares e integrantes do poder executivo com empresários ávidos por ganhos fáceis passa pela realização de uma ampla reforma política, que altere o sistema eleitoral e as formas de financiamento de campanha e que puna com rigor tanto os corruptos quanto os corruptores. Enquanto tivermos a combinação do voto proporcional com a lista aberta de candidaturas e o financiamento privado de campanha, teremos o incentivo aberto e a alimentação contínua da corrupção.
Indo além dos fatos, cabe destacar que o caminho para a moralização das práticas jornalísticas e de comunicação no Brasil e para a diminuição do convívio pouco ético de mídias que adotam práticas jornalísticas que se costumam classificar como características de um jornalismo marrom passa pela adoção de uma legislação reguladora e pela criação de um conselho nacional de comunicação que, nos moldes de outros conselhos nacionais (da Justiça e de Publicidade, por exemplo), coibam excessos e punam atos considerados lesivos à sociedade.
Nenhuma das duas reformas, entretanto, se concretizará sem uma ampla mobilização dos formadores de opinião e sem uma forte pressão sobre os políticos e os meios de comunicação de massas no Brasil. Pouco adiantarão a cassação dos Demóstenes e a prisão dos Cachoeiras, pois outros surgirão e encontrarão terreno fértil para suas práticas. Os falsos moralistas, aliás, continuarão encontrando respaldo nos partidos políticos sedentos de escândalos e na mídia sensacionalista. Mais do que o bem público, o que lhes move é a defesa de seus interesses, muitas vezes escusos.

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