quarta-feira, 28 de março de 2012

Millôr Fernandes


Millor por Jorge Furtado

Por Jorge Furtado
Millôr fazia muitas coisas, todas com brilhantismo.
Como jornalista, começou a assombrar o país com seu talento em 1938, nas páginas de O Cruzeiro, um sucesso editorial sem precedentes e, desde então, nunca igualado. Foi um dos criadores do Pasquim, que enfrentou a ditadura militar com humor e renovou a língua brasileira. Trabalhou em muitos jornais e revistas, sempre com grande talento.
Como escritor, é autor de dezenas de livros, todos muito bons, muitos são obras primas. Li todos eles, alguns várias vezes, eles ocupam uma estante inteira de minha biblioteca.
Como dramaturgo, é autor de algumas das melhores peças brasileiras, muitas delas foram extraordinários sucessos.
mas, escritas na forma de colagem de textos, como "Liberdade, liberdade", "A história é uma istória" e "o Homem do princípio ao fim", são verdadeiros cursos de literatura e teatro. De tanto ler e reler suas peças, acabei decorando longos trechos.
Como poeta, foi um dos maiores da língua portuguesa, misturando uma profunda erudição com a mais sofisticada simplicidade.
Como humorista, foi o maior de todos, um demolidor de mitos, um crítico feroz da prepotência, da pose sem conteúdo, dos hipócritas, dos moralistas, dos cínicos.
Como tradutor, foi o melhor que eu conheço. Suas traduções de Hamlet e Rei Lear, de William Shakespeare, são, de longe, as melhores em língua portuguesa. Um dos meus primeiros trabalhos foi a revisão de sua espetacular tradução de "O Jardim das Cerejeiras", de Tchecov, também a melhor que eu conheço.
Como artista plástico, era um gênio, um dos maiores do mundo. Basta dizer que, num concurso internacional de desenhos, dividiu o primeiro lugar com Saul Steinberg.
Tive o prazer e a honra de encontrá-lo algumas vezes. Adaptei para a televisão sua peça "Vidigal: memórias de um sargento de milícias", um especial, dirigido por Mauro Mendonça, que venceu o New York Film Festival. No longínquo anos de 1984, fiz aquela que foi talvez a sua primeira entrevista para a televisão, no programa Quizumba, na TV Educativa do Rio Grande do Sul.
O Brasil perde um de seus maiores artistas. Sou profundamente grato ao talento incomparável de Millôr Fernandes. Nenhum escritor, filósofo ou pensador me ensinou tanto sobre o mundo. Sua obra é eterna e sua ausência, irreparável.

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