sábado, 24 de março de 2012

Estádio dos Eucaliptos e a memória colorada dos anos 50


O cerebral Larry no Estádio dos Eucaliptos – um documento

Impedimento no SUL 21
De repente, não mais que de repente, sem cerimônia nem anúncio no jornal, as máquinas adentraram o campo santo dos Eucaliptos e começaram seu trabalho. Deve ter sido numa sexta-feira, quando as preocupações de todos estão mais voltadas ao que fazer do fim de semana. De forma mecânica, rápida e compassada, as máquinas arrancaram gomos espessos de tijolo e concreto do mítico estádio do Internacional, processo que não durou mais que cinco dias. Desaparecia, fisicamente, a memória do Rolo Compressor, do Rolinho, do gol em plano inclinado de Carlitos, da Copa do Mundo de 1950, das arrancadas de Tesourinha, das pestanas tiradas por Charuto durante as partidas, da entrada triunfal da cabrita Chica no meio da torcida, da zaga intransponível de Alfeu e Nena, das tabelas fatais entre Bodinho e Larry, que ficou para contar a história.
Fazia muito calor e não havia nuvens naquele começo de tarde de terça-feira, 14 de fevereiro, quando Larry Pinto de Faria desceu do automóvel, que dirigia de próprio punho, reclamando em tom de brincadeira do horário da entrevista, que lhe obrigara a encurtar a sesta sagrada. Aos 79 anos, Larry merece que lhe respeitem o horário de descanso. Mas fora o contratempo, encontrou uma sombra no meio do canteiro de obras, sentou e conversou por quase uma hora com o Impedimento.
O gol que considera o mais bonito, a estreia nos Eucaliptos, a ovação da torcida, a convivência com os colegas no alojamento do estádio, a vida construída em Porto Alegre, o amor por apenas um clube e por que no futebol há coisas mais importantes que o dinheiro. Tudo isso foi dito por Larry neste documento de 30 minutos, gravado com o microfone “vazando” na imagem por conta do barulho das máquinas, que durante a entrevista destruíam o que restava da casa e do palco principal do cerebral Larry.
Natural de Nova Friburgo e oriundo do Fluminense, Larry chegou ao Inter em 1954 para pegar experiência. Acabou ficando no clube até 1961, marcando 176 gols e se tornando um dos maiores artilheiros da história colorada. É também o último remanescente do Rolinho, como ficou conhecido o time que foi a sequência do grande Rolo Compressor. Depois de encerrada a carreira de jogador, ainda foi vereador por quatro mandatos e secretário municipal de Porto Alegre. Nos dias atuais, desempenha com cortesia e generosidade o papel de memória viva do Internacional dos anos 50 e do Estádio dos Eucaliptos, o grande estádio do futebol gaúcho naquela época.
Assistam o vídeo, dividido em três partes:

Nenhum comentário: