quinta-feira, 29 de setembro de 2011

a UFRGS é a mesma URFGS do tempo da ditadura?

Professor critica decisão da UFRGS de rejeitar feira orgânica no Campus

 

Na semana passada, o Núcleo de Economia Alternativa (NEA) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) teve negada a solicitação para a realização de uma feira orgânica quinzenal no Campus Central da UFRGS, sob alegação de que a mesma “não daria lucro” à Universidade. Indignado, Carlos Schmidt, coordenador do NEA e professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, escreveu um artigo e publicou-o no blog do núcelo. Reproduzimos o artigo abaixo:

Indignai-vos!

Peço desculpas à Stéphane Hessel por plagiar o título de seu manifesto, mas acredito que ele não se importaria, pois deve pensar que sua iniciativa pode ser multiplicada. Como alguns sabem, coordeno o Núcleo de Economia Alternativa (NEA) que desenvolve trabalho de pesquisa, ensino e extensão voltado para formas alternativas de práticas econômicas e especula sobre a viabilidade da transformação social.

Um dos trabalhos que realizamos é o apoio à comercialização dos produtos da agricultura familiar, em particular, dos assentamentos da
reforma agrária, na perspectiva da sustentabilidade social, ambiental e da segurança alimentar. Na prática, busca-se através de um ponto de comercialização da economia solidária (Contraponto), a venda dos produtos agroecológicos e o abastecimento do sistema dos restaurantes universitários, com produtos desta natureza, por agricultores dos assentamentos.

Evidentemente, como é papel da Universidade nesta prática extensionista, está se buscando a geração de conhecimento que possa servir a formulação de políticas públicas, bem como, a discussão de elementos centrais da economia como a teoria do consumidor. Como parte da estratégia de atendimento dessa demanda socialmente orientada, programamos, junto com colegas da engenharia de produção a realização de uma feira agroecológica ao lado da Contraponto (espaço ocioso) a ser feita por mulheres do assentamento de Viamão, filhos de Sepé. Esta feira seria semanal.

Como de praxe, fizemos uma solicitação à Superintendência de infra-estrutura, garantindo a não utilização do estacionamento e a limpeza
pós realização da feira. Para surpresa nossa, a demanda foi negada e depois de inúmeras tentativas de contatar os responsáveis, estes, concederam a graça de nos receber.

Surpresa novamente! Deparamo-nos com um doublé de funcionário do capital e chefete latino-americano, na robusta pessoa do Professor Tamagna. Funcionário do capital nos propósitos e chefete no método autoritário. O referido professor ao ser interrogado sobre o direito que tinham os bancos de espalhar seus quiosques pelo pátio da Universidade, disse que estes tinham direito porque pagavam. E quando perguntado sobre a existência de regras escritas a este respeito, alegou que neste assunto, quem mandava era ele.

Se alguém tem dúvida que para alguns personagens da administração central da universidade, esta deve funcionar, exclusivamente, para o andar de cima da sociedade, a situação acima relatada fala por si só. Aliás, recordando das posições do Professor Tamagna no Conselho Universitário, estas, eram sempre alinhadas com o bloco da UFRGS/S.A.

Tivemos, recentemente em nossa Universidade, um seminário da corrente universitária “Universidade Popular”, que discutiu ampla e profundamente as dificuldades da Universidade ser plural quanto as suas finalidades, assim muito mais dificuldade teria de ser uma instituição voltada para os interesses da maioria da população.

Portanto, o fato antes relatado, mostra o quanto estão seguros os setores que propugnam uma Universidade voltada aos interesses do capital, com métodos que privilegiam os critérios de mercado (quem paga pode) e exclui, despudoradamente, “esta gente diferenciada” que ousa querer fazer da Universidade um espaço que também é seu, que estuda suas questões, que os acolhe para o diálogo de saberes e que os assume como membros do corpo discente.

Se permitirmos que atitudes truculentas como esta tenham livre curso, outras bandeiras democráticas e inclusivas pelas quais lutamos ficarão cada vez mais distantes. Portanto indignai-vos e ajam em conseqüência.

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