sexta-feira, 22 de julho de 2011

O “esquecimento” de Jango e sua desqualificação para legitimar o Golpe

Ferreira revisita Jango. Espártaco não era petista. Gaspari leva um tiro

Ferreira faz Gaspari jogar uns chapéus no lixo (sobram outros)

“João Goulart – uma biografia”, de Jorge Ferreira, editado pela Civilização Brasileira, Rio, 2011 é um murro no estômago no historialismo brasileiro – essa cruza de Jornalismo e História, que resulta na diminuição dos dois.

Ferreira demonstra que o esquecimento de Jango foi uma política deliberada.

Desqualificar um Governo que lutou pelas Reformas de Base dentro da Constituição.

Um herdeiro de Vargas.

Um Governo que lançou as bases para a política de reformas dos Governos Lula e Dilma.

Para esquecer Jango, os conservadores, explica Ferreira, aplicavam o desqualificativo “populista”.

Vargas, JK (que teve menos votos que seu vice, Jango), Jango, Brizola, Lula – todos cometeram o pecado da “tentação populista”, segundo os conservadores.

Ferreira mostra que “populista”, em si, não quer dizer nada – é apenas forma de preconceito contra o objeto das políticas reformistas e seus autores.

Serve para desqualificar quem defende as reformas que beneficiam os pobres.

“Populista” é o equivalente a “incompetente” – que é como Cerra chamou Lula e agora Dilma – clique aqui para ler “Cerra é candidato se si mesmo – que bom!”.

Ferreira, porém, mostra que Cerra não foi sempre assim.

Na pagina 420, Ferreira revela que Cerra, presidente da UNE, no Comício da Central que precipitou o Golpe contra Jango,  Cerra condenou de “forma contundente” as ameaças a uma central sindical, depois de pregar o fim da vitaliciedade de cátedra na universidade.

A “contundência” sobrevive.

Noutra direção: da extrema direita.

O livro de Ferreira merece mais do que análise num post da internet.

É uma obra de recuperação não só de  Jango, mas também da geração dele e das idéias que levaram para o exílio e as salas de tortura, como Rubens Paiva, que Fernando Henrique não tem a coragem de reparar.

Porém, cabe, de saída, aproveitar o lançamento de “João Goulart” para dar relevo a um aspecto que analista da Folha, neste sábado, menosprezou.

O “esquecimento” de Jango e sua desqualificação serviram para legitimar a intervenção militar de 1964.

O mais prolífico historialista da intervenção militar é Elio Gaspari, autor de trabalho jornalístico que culmina com a tese de que Geisel e Golbery foram Washington e Jefferson da democratização brasileira.

Washington e Jefferson puseram ordem na matroca em que se tinha transformado a intervenção militar.

Gaspari usa vários chapéus.

Um deles é precisamente este que Ferreira flagra logo na primeira pagina da Introdução.

O Jango de Gaspari era por si próprio motivo para  justificar o Golpe militar:

“Sua biografia raquítica fazia dele um dos mais despreparados – Gaspari é dos que consideram Cerra “o mais preparado”, PHA – e primitivos governantes da história nacional. Seus prazeres estavam na trama política e em pernas, de cavalos ou de coristas”

“ … condicionantes de classe (sic) interferem na conduta política dos homens públicos, podendo levá-los da temeridade à vacilação e dela ao imobilismo …”

(A banalidade se aplica tanto a Napoleão quanto a Stalin. Mas, vamos adiante.)

“No caso de João Goulart”, diz o colonista (*) da Folha (**), “independentemente da classe em que estivesse (sic), ele seria sempre um pacato vacilante“.

(Estabelece-se aí uma relação entre Psicologia e Sociologia que faria Max Weber morder-se de inveja !)

Logo, rasgue-se a Constituição !

Que venham os militares iluminados pela teoria da Segurança Nacional.

E pau no povo!

(Gaspari, porém, é contra a tortura. Geisel e Golbery são geniais, mas, a tortura foi “um erro”.

É mais ou menos assim: Gaspari chegou para a secretária de Hitler e garantiu em troca dos bilhetinhos: eu faço a melhor biografia possível dele, mas, com os campos de concentração, não concordo !)

O “esquecimento” de Jango e sua desqualificação para legitimar o Golpe se constroem, com perfeição, na súmula vinculante de Gaspari.

A “crítica” da Folha poupa o colonista (*) da casa.

Porém, o “mal” está feito: a biografia de Ferreira é um passo gigantesco na obra de reconstrução desse passado.

Deveria sensibilizar, também, os arrogantes ideólogos do petismo de São Paulo, que se acreditam inventores do trabalhismo.

O PT de São Paulo descobriu Vargas no Governo Lula, mas não sabe quem foi Jango.

Nem Celso Furtado, Evandro Lins e Silva, Darcy Ribeiro, Hermes Lima, San Tiago Dantas, Araújo Castro, Dr. Tancredo, Almino Afonso, Baby Bocaiúva, Raul Ryff, Doutel de Andrade, Sérgio Magalhães, Waldir Pires, Roberto Silveira, Paulo de Tarso …

Desconhecem os que trabalharam sob a liderança de Jango e iniciaram a obra que os heróis de Gaspari interromperam em 64: trazer a patuléia (como diz o de muitos chapéus) ao proscênio.

O PT de São Paulo acredita que Espártaco era afiliado ao partido, da corrente do José Dirceu.

Ferreira vai desconstruir a obra que “esqueceu” Jango.

Os (são muitos) Gaspari serão a maior vítima.

Mas o PT de São Paulo vai tomar um susto.

O copyright perdeu a validade.


Paulo Henrique Amorim



(*) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

(**) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

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