quinta-feira, 30 de junho de 2011

a matéria-vacina do provedor UOL

Luis Carlos da Silva: UOL dá uma de malandro para cima de internautas

por Luis Carlos da Silva, para o Viomundo

Manchete de capa do jornal Folha de S. Paulo, quinta-feira, 30 de junho: “Hacker violou e tenta vender e-mails de Dilma”.

Curioso, fui direto à matéria assinada pelos repórteres Matheus Leitão e Rubens Valente, de Brasília. Li, reli, revisei a leitura, comentei com pessoas próximas, porque não estava acreditando no que via no caderno “Poder” do jornal.

Não se tratava de matéria jornalística. Mas, de fato, “um passo a passo” talvez destinado a provar que nem o provedor UOL, nem a própria Folha estariam envolvidos em algum tipo de quebra de sigilo de e-mails da então candidata Dilma Rousseff.

Mas, quem os acusava de alguma coisa?

Até agora ninguém.

Contudo, o passo a passo — ou a matéria-vacina — agora estimula suspeitas. O texto tem um claro roteiro auto-imunizante.

Vejamos o inútil detalhamento da empreitada. A fonte (o hacker) encontrou-se com a Folha em uma cidade satélite, “num shopping, a 20 Km de Brasília”. Ele mora lá. Tem 21 anos, está desempregado, será pai em breve. Tentou vender (“por preocupação”) o conteúdo dos e-mails para a Folha, mas “A Folha não paga pelas informações que publica e recusou a proposta”. Nossa, que retidão moral! A Folha viu, “de relance”, alguns e-mails, numa lan house e não lhe foi permitdo fotografar ou filmar o conteúdo que, por sua vez, estava num disco rígido externo. Antes, ele tentou vender o tal conteúdo a políticos do DEM e do PSDB, mas não teve sucesso. Puro bla,bla, blá.

Ah, até José Dirceu entra na estória, para dar mais credibilidade à matéria-vacina. E o que é mais engraçado: para dar credibilidade ao provedor UOL. Mesmo informado, (por terceiros) do conteúdo de e-mails seus na época da campanha e ainda ter dito que seu e-mail fora invadido nessa segunda (dia do “encontro” do hacker com a Folha), Zé Dirceu continua cliente UOL! Uau! Isso é que é atestado de confiança.

Falando sério:

1. A matéria é assinada por dois jornalistas, mas é a “Folha” o sujeito da ação em todo o texto. Ou seja, mesmo tendo conhecimento de um criminoso confesso, a “Folha” vai preservá-lo, sob o pretexto de sigilo de fonte. Tal instituto, defensável para outros casos, faz do jornal um protetor de um meliante. Logo ela que é exímia delatora de sigilos de seus adversários partidários, nomes de terceiros e cifras de conhecimento restrito.

2. Porém, depois de tantas curvas é dada uma bela derrapada, em relação ao provedor UOL. O UOL não é empresa de comunicação. Não tem a prerrogativa jurídica do sigilo de fonte. Simples medidas judiciais fazem com que provedores identifiquem os IPs e rotas atípicas de transmissões pela internet. Principalmente em períodos determinados.

3. Eu acho até que é esse tal hacker poderia (ah, o salvador futuro do pretérito) ter sido inventado como forma de eximir a Folha e o UOL de uma suposta (ah, salvador adjetivo) quebra de sigilo da então candidata Dilma. Seguramente, o tal computador pessoal da então candidata à presidência pode revelar se houve ou não intrusão. E se não houve?

Presidente do PT, deputado Rui Falcão, não seria um relevante serviço prestado ao país, acionar os órgãos competentes para rastrear o passo a passo da pseudo matéria?

PS.: ao final, uma matéria tão irrelevante, já que reitera apenas que e-mails são vulneráveis e não traz nada de comprometedor no conteúdo das mensagens vistas de “relance”, mereceu manchete de capa. Falta de assunto não é. Ou será a vulnerabilidade do UOL? Estranho. Muito estranho.

Luis Carlos da Silva – sociólogo e ex-secretário de comunicação do PT-MG.

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