quinta-feira, 24 de março de 2011

sai a tropa de choque entra o diálogo

Governo substitui tropa de choque por diálogo



Em agosto de 2009, um agricultor sem terra foi atingido com tiros de espingarda calibre 12 nas costas, em uma ocupação em São Gabriel. Seu nome era Elton Brum. No momento em que foi morto, cuidava das mulheres e crianças de seu acampamento. Não viu quando o policial disparou sua arma e tirou a vida de um homem pelas costas.

Os tiros saíram da espingarda de um policial da Brigada Militar. O enfrentamento violento foi ordenado pelo governo do estado, então comandado por Yeda Crusius. A truculência já virara marca de seu governo no trato com os cidadãos. Fora utilizada em manifestações pacíficas na capital e no interior, de diferentes classes de trabalhadores. Claro, apenas contra trabalhadores.

Em 2011, o governo é outro. Tarso Genro assumiu o Piratini com o compromisso principal exatamente com aqueles contra quem Yeda dedicava sua truculência. Os trabalhadores estão no nome do partido do governador. Na Praça da Matriz, as manifestações não estão mais restritas pela grade colocada por Yeda. No campo, as manifestações não são mais reprimidas pelas forças truculentas de tropas de choque.
Ontem, dia 22 de março, o governo negociou com os trabalhadores rurais sem terra que ocupavam a Fazenda Palermo em São Borja. Com diálogo, foi consensuada a saída do movimento da propriedade particular e pré-acertado seu assentamento. Ali, onde hoje mora uma única família, deverão produzir alimentos 64 famílias de agricultores.

Os mesmos que acusam a ocupação de São Borja – que não registrou nenhum ferido – de violenta são os que nada disseram quando Elton Brum foi covardemente assassinado.

O que realmente assusta

Dias atrás a colunista-mor do grupo RBS alertou para a falta de alarde (sic) em torno do fato de o governador ter usado um boné do MST. O que é pior: ocupar um latifúndio improdutivo na luta pela redistribuição de terra, para que todos tenham mais, ou assassinar trabalhadores sem condições de defesa? Em abril, faz 15 anos que os mandantes do massacre que matou 19 agricultores em Eldorado dos Carajás estão impunes.

No Rio Grande do Sul, a grande diferença do governo Tarso para a maioria dos governos anteriores – “com exceção de um ou dois”, como disse Tarso outro dia – é que o atual dialoga com todos os setores da sociedade e não tem medo de melindrar os grandes empresários ao mostrar sua identificação com a causa dos trabalhadores que durante séculos lutam pelo direito à terra. Uma terra que foi dividida arbitrariamente. Que um dia foi tomada, com o único critério do interesse privado. Uma terra que outrora era pública, coletiva, e que se tornou privada devido à “esperteza” dos que chegaram primeiro.


Os agricultores não ocupam terra e ficam meses ou anos acampados porque querem, como bem diz o deputado Edegar Pretto. A ocupação é uma forma legítima de fazer pressão política para lutar pela reforma agrária. Além do diálogo constante e respeitoso, a melhor forma de acabar com as ocupações é fazer uma reforma que quase todos admitem necessária, mas que os grandes e poderosos lutam para impedir – por mesquinhos interesses privados. É entender que a reforma agrária vai distribuir renda e, como consequência, diminuir o êxodo rural, melhorando também as condições de vida nas cidades, especialmente nas maiores. Entender que redistribuir as terras improdutivas de forma mais justa gera todo um desdobramento social que atinge grandes parcelas da população, melhorando a vida dos que mais precisam do Estado.

Edegar Pretto lembrou hoje na tribuna da Assembleia que em abril vai fazer 15 anos que 19 trabalhadores rurais foram mortos no que ficou conhecido como massacre de Eldorado dos Carajás. Até hoje, nenhum dos mandantes foi preso.

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