quinta-feira, 31 de março de 2011

jornalistas e fotografias


mágico militante

Ponto de Vista

Conheci  alguns velhos JORNALISTAS que tinham por hábito a leitura, um rápido passar de olhos, da página de obituário dos jornais. Prática que, evidentemente, era obrigatório para velhos pauteiros. Publiquei no último dia 22 uma foto de Thomaz Farkas, escaneada do livro “Thomas Farkas – uma antologia pessoal”, editado pelo Instituto Moeira Salles. Única página que me chamou a atenção, na edição de sábado, em Zerolândia, foi a do Obtuário, com uma nota sobre a morte de Farkas, fundador da revista novidades Fotopica e uma das figuras de destaque do Cine Clube Bandeirantes. O resto do showrnal, o velho e tradicional lixão.


Tenho uma modesta biblioteca sobre fotografia e com alguns livros que são sínteses da obra de alguns grandes fotógrafos. Logo que li uma pequena matéria sobre Farkas no jornal “Estadão”, encomendei o livro editado pelo Instituo Moreira Salles.



Foi deste livro que escolhemos uma foto para publicação no Blog, no último dia 22 com o título “mágico militante” . E que agora repetimos como uma homenagem a este grande fotógrafo.


De Thomaz Farkas
Dizia ele sobre fotografar: “é ver, descobrir paisagens, pessoas, caras, grupos, ruas, fachadas, praças – todos trabalhando, brincando, folgando, comendo, dançando. Tudo isso é nossa vida: experiências vividas, olhando – e vendo – sempre, e daí, fotografando sem fim com qualquer máquina, técnica ou filme, ou sem. Mas, olhando no visor ou no reflex, tudo é uma visão que não tem fim. Todo dia é diferente: todo olhar é outro e a gente percebe finalmente que o mundo é imenso! É  bom ser fotógrafo! Ou como diz o colega português, Fernando Lemos, um mágico militante.” (2010)
Meninos espiando jogo de fora do estádio do Pacaembu, São Paulo, 1941 é o título desta foto de Farkas. Estamos repetindo o título “mágico militante”.

nem uma coisa nem outra, apenas assim... uma mulher

Carta aberta para Sandy

Contra machismo


Vou te dar um conselho… de mulher pra mulher: você não precisa ser santa, nem puta. Você pode ser livre.
por Tica Moreno*
Quando eu estava no ensino médio, você fez um desserviço pras meninas da minha idade, que é a mesma idade que a sua.

Foi a época da “garota sandy“: uma jovem, bonita, magra, de cabelo liso, a filha que todo pai e mãe queria ter, rica…. e virgem. E que afirmava que queria casar virgem.

A garota sandy era aquilo que nenhuma de nós éramos, mesmo que a gente tivesse uma ou outra característica dessas aí de cima. A verdade é que a gente nem queria ser daquele jeito.

Foi a primeira vez (que eu me lembre) que eu me vi sendo comparada com um modelo de mulher que eu não queria ser. E eram os outros que nos comparavam. Aí a gente foi se sentindo inadequada, umas mais, umas menos.

Qual era (qual é) o problema de não casar virgem? (Isso pra não perguntar qual é o problema de não querer casar…)

Você não acha um problema de fato, até porque há alguns anos você afirmou que não tinha casado virgem. Fico até aliviada por você, porque imagina se não fosse bom com seu marido? Ainda mais se a relação de vocês for monogâmica e conservadora… Não desejo uma vida sem orgasmo nem pro meu pior inimigo.

Mas voltando. O padrão “garota sandy” não foi uma reportagem qualquer que saiu na revista da folha. Reforçou um padrão que faz com que a anorexia e a bulimia estejam entre as principais doenças de jovens mulheres, que faz com que milhões de meninas e mulheres vivam sua sexualidade a vida inteira de forma passiva, em função do desejo e do prazer do cara, que faz as meninas e mulheres que são donas do seu desejo serem consideradas vadias, vagabundas, putas, devassas.

O machismo faz isso: separa as mulheres entre santas e putas, “valoriza” as santas e puras e desqualifica, discrimina, violenta as “putas”.

Deve ter algum motivo pra você se afirmar como santa, e não como puta, numa época da sua vida.

E daí eu vou te dizer, caso você ainda não tenha entendido o porquê dessa carta aberta, seu segundo desserviço pras mulheres. Ser a nova garota devassa.

Pra quê?? De dinheiro você não precisa.

Você não estudou psicologia? [Não, me disseram aí nos comentários que ela estudou Letras, mal aê - mas eu lancei um google e vi que na época do meu ensino médio, de onde eu tirei a memória pra escrever esse post (ano 2000), circulou ainformação da psicologia, rs.] Deveria ter aprendido alguma coisa sobre sexualidade teoricamente, além da prática (que, de novo, espero que seja boa pra você).

Nem as santas, nem as putas, são donas do seu desejo, do seu corpo, da sua sexualidade. O símbolo da devassa, e o imaginário que essa cerveja construiu – e que você vai propagandear – é o de uma mulher feita nos moldes do que a maioria dos homens tem tesão por. Importa o tesão deles, e não o nosso.

As revistas femininas (e as masculinas) fazem isso também. Sabe aquelas dicas da Nova pra fazer qualquer mulher deixar qualquer homem louco na cama? Então. É o mesmo machismo, a mesma submissão.

Você de alguma forma tá querendo apagar a imagem de santa, usando a idéia de que você pode ser devassa?

Vou te dar um conselho… de mulher pra mulher: você não precisa ser santa, nem puta. Você pode ser livre.
* Tica Moreno é formada em Ciências Sociais, foi do DCE da USP e do Centro Acadêmico de Ciências Sociais (CEUPES). Atualmente trabalha na Sempreviva Organização Feminista, SOF. Tica é militante da Marcha Mundial das Mulheres.

finalizando este 31 de março

Charge para o dia 31 de março

 
 
É o aniversário do Miguel, filho do Farinatti e da Nikelen e isso é bom. Mas fazer o quê? A charge é do Maringoni.


Fidel e Carter

De Fidel para Jimmy Carter

Tijolaço

Jimmy Carter, a mulher Rosalyn e Fidel Castro, hoje, em Havana

O líder cubano Fidel castro distribuiu um comunicado sobre a visita que recebeu hoje do ex-presidente americano Jimmy Carter. Publico-a, como homenagem ao bom entendimento e á paz entre pessoas e nações que podem ser diferentes sem guerrear.

“Hoje eu tive o prazer de receber Jimmy Carter, que foi presidente dos EUA entre 1977 e 1981 e o único que teve, na minha opinião, serenidade e coragem suficiente para resolver a questão das relações dos EUA com Cuba.

Carter fez o que pôde para reduzir tensões internacionais e promover a criação dos gabinetes de interesse para Cuba e os Estados Unidos. Sua administração foi a única que tomou medidas para atenuar o criminoso bloqueio imposto ao nosso povo.

A Revolução sempre apreciou o seu gesto corajoso. Em 2002, recebi-o calorosamente. Agora, lhe reitero meu respeito e apreço.

Será que realmente a oligarquia que rege a superpotência poderá renunciar ao seu insaciável desejo de impor sua vontade sobre o resto do mundo? Pode fazer isso um sistema que gera cada vez mais presidentes, como Nixon, Reagan e George W. Bush, cada vez com mais poder destrutivo e menos respeito pela soberania das nações?”

falta de inteligência de mãos dadas com falta de consciência

O que a falácia da ditabranda revela sobre o presente




Em um editorial publicado no dia 17 de fevereiro de 2009, o jornal Folha de S. Paulo utilizou a expressão “ditabranda” para se referir à ditadura que governou o Brasil entre 1964 e 1985. Na opinião do jornal, que apoiou o golpe militar de 1964 que derrubou o governo constitucional de João Goulart, a ditadura brasileira teria sido “mais branda” e “menos violenta” que outros regimes similares na América Latina. Como já se sabe, a Folha não foi original na escolha do termo. Em setembro de 1983, o general Augusto Pinochet, em resposta às críticas dirigidas à ditadura militar chilena, afirmou: “Esta nunca foi uma ditadura, senhores, é uma dictablanda”. Mas o tema central aqui não diz respeito à originalidade. O uso do termo pelo jornal envolve uma falácia nada inocente. Uma falácia que revela muita coisa sobre as causas e consequências do golpe militar de 1964 e sobre o momento vivido pela América Latina.

É importante lembrar em que contexto o termo foi utilizado pela Folha. Intitulado “Limites a Chávez”, o editorial criticava o que considerava ser um “endurecimento do governo de Hugo Chávez na Venezuela”. A escolha da ditadura brasileira para fazer a comparação com o governo de Chávez revela, por um lado, a escassa inteligência do editorialista. Para o ponto que ele queria sustentar, tal comparação não era necessária e muito menos adequada. Tanto é que pouca gente lembra que o editorial era dirigido contra Chávez, mas todo mundo lembra da “ditabranda”. A falta de inteligência, neste caso, parece andar de mãos dadas com uma falsa consciência culpada que tenta esconder e/ou justificar pecados do passado. Para a Folha, a ditadura brasileira foi uma “ditabranda” porque teria preservado “formas controladas de disputa política e acesso à Justiça”, o que não estaria ocorrendo na Venezuela. Mas essa falta de inteligência talvez seja apenas uma cortina de fumaça.

O editorial não menciona quais seriam as “formas controladas de disputa política e acesso à Justiça” da ditadura militar brasileira, mas considera-as mais democráticas que o governo Chávez que, em uma década, realizou 15 eleições no país, incluindo aí um referendo revogatório que poderia ter custado o mandato ao presidente venezuelano. Ao fazer essa comparação e a escolha pela ditadura brasileira, a Folha está apenas atualizando as razões pelas quais apoiou, junto com a imensa maioria da imprensa brasileira, o golpe militar contra o governo constitucional de João Goulart. Está dizendo, entro outras coisas, que, caso um determinado governo implementar um certo tipo de políticas justifica-se interromper a democracia e adotar “formas controladas de disputa política e acesso à Justiça”. A escolha do termo “ditabranda”, portanto, não é acidental e tampouco um descuido. Trata-se de uma profissão de fé ideológica.

Há uma cortina de véus que tentam esconder o caráter intencional dessa escolha. Um desses véus apresenta-se sob a forma de uma falácia, a que afirma que a nossa ditadura não teria sido tão violenta quanto outras na América Latina. O núcleo duro dessa falácia consiste em dissociar a ditadura brasileira das ditaduras em outros países do continente e do contexto histórico da época, como se elas não mantivessem relação entre si, como se não integrassem um mesmo golpe desferido contra a democracia em toda a região. O golpe militar de 1964 e a ditadura militar brasileira alimentaram política e materialmente uma série de outras ditaduras na América Latina. As democracias chilena e uruguaia caíram em 1973. A argentina em 1976. Os golpes foram se sucedendo na região, com o apoio político e logístico dos EUA e do Brasil. Documentos sobre a Operação Condor fornecem vastas evidências dessa relação.

Recordando. A Operação Condor é o nome dado à ação coordenada dos serviços de inteligência das ditaduras militares na América do Sul, iniciada em 1975, com o objetivo de prender, torturar e matar militantes de esquerda no Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e Bolívia. O pretexto era o argumento clássico da Guerra Fria: “deter o avanço do comunismo internacional”. Auxiliados técnica, política e financeiramente por oficiais do Exército dos Estados Unidos, os militares sul-americanos passaram a agir de forma integrada, trocando informações sobre opositores considerados perigosos e executando ações de prisão e/ou extermínio. A operação deixou cerca de 30 mil mortos e desaparecidos na Argentina, entre 3 mil e 7 mil no Chile e mais de 200 no Uruguai, além de outros milhares de prisioneiros e torturados em todo o continente.

Na contabilidade macabra de mortos e desaparecidos, o Brasil registrou um número menor de vítimas durante a ditadura militar, comparado com o que aconteceu nos outros países da região. No entanto, documento secretos divulgados recentemente no Paraguai e nos EUA mostraram que os militares brasileiros tiveram participação ativa na organização da repressão em outros países, como, por exemplo, na montagem do serviço secreto chileno, a Dina. Esses documentos mostram que oficiais do hoje extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) ministraram cursos de técnicas de interrogatório e tortura para militares chilenos.
Em uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo (30/12/2007), o general Agnaldo Del Nero Augusto admitiu que o Exército brasileiro prendeu militantes montoneros e de outras organizações de esquerda latino-americanas e os entregou aos militares argentinos. “A gente não matava. Prendia e entregava. Não há crime nisso”, justificou na época o general. Humildade dele. Além de prender e entregar, os militares brasileiros também torturavam e treinavam oficiais de outros países a torturar. Em um dos documentos divulgados no Paraguai, um militar brasileiro diz a Pinochet para enviar pessoas para se formarem em repressão no Brasil, em um centro de tortura localizado em Manaus.

Durante a ditadura, o Brasil sustentou política e materialmente governos que torturaram e assassinaram milhares de pessoas. Esconder essa conexão é fundamental para a Folha afirmar a suposta existência de uma “ditabranda” no Brasil. A ditadura brasileira não teve nada de branda. Ao contrário, ela foi um elemento articulador, política e logisticamente, de outros regimes autoritários alinhados com os EUA durante a guerra fria. O editorial da Folha faz eco às palavras do general Del Nero: “a gente só apoiava e financiava a ditadura; não há crime nisso”.

Não é coincidência, pois, que o mesmo jornal faça oposição ferrenha aos governos latino-americanos que, a partir do início dos anos 2000, levaram o continente para outros rumos. Governos eleitos no Brasil, na Venezuela, na Bolívia, na Argentina, no Paraguai e no Uruguai passam a ser alvos de uma sistemática oposição midiática que, muitas vezes, substitui a própria oposição partidária.

A Folha acha a ditadura branda porque, no fundo, subordina a continuidade e o avanço da democracia a seus interesses particulares e a uma agenda ideológica particular, a saber, a da sacralização do lucro e do mercado privado. Uma grande parcela do empresariado brasileiro achou o mesmo em 64 e apoiou o golpe. Querer diminuir ou relativizar a crueldade e o caráter criminoso do que aconteceu no Brasil naquele período tem um duplo objetivo: esconder e mascarar a responsabilidade pelas escolhas feitas, e lembrar que a lógica que embalou o golpe segue viva na sociedade, com um discurso remodelado, mas pronto entrar em ação, caso a democracia torne-se demasiadamente democrática.

(*) Artigo produzido para o Especial sobre a Ditadura Militar, da Carta Maior.

apagando da memória

Vladimir Safatle: Tentando apagar a história da ditadura

Viomundo

Vladimir Safatle: certos setores da sociedade querem apagar a ditadura da história do Brasil
por Gilberto Costa

 
conforme reprodução no site da Boitempo [o artigo, de 31.01.2010, foi publicado pela Agência Brasil]
Após a Segunda Guerra Mundial, os judeus sobreviventes revelaram que seus carrascos asseguravam que ninguém acreditaria no que havia ocorrido nos campos de concentração. A história, no entanto, não cumpriu o destino previsto pelos nazistas, muitos foram condenados e o episódio marca a pior lembrança da humanidade.

Crimes cometidos em outros momentos de exceção também levaram violadores de direitos humanos a serem interrogados em comissões da verdade e punidos por tribunais, como na África do Sul, em Ruanda, na Argentina, no Uruguai e Paraguai.

Para filósofo Vladimir Safatle, professor da Universidade de São Paulo (USP), há um lugar que resiste à memória do horror e a fazer justiça às vítimas: o Brasil. Nenhum agente do Estado ditatorial (1964-1985), envolvido em crimes como sequestro, tortura, estupro e assassinato de dissidentes políticos, foi a julgamento e preso.

Em março, será lançado o livro O Que Resta da Ditadura (editora Boitemço), organizado por Safatle e Edson Teles. A obra tenta entender como a impunidade se forma e se alimenta no Brasil. Para Safatle,o Brasil continua uma democracia imperfeita por resistir a uma reavaliação do período da ditadura militar (1964-1985) e por manter uma relação complicada entre os Três Poderes.

Agência Brasil: O Brasil tem alguma dificuldade com o seu passado?


Vladimir Safatle: Existe um esforço de vários setores da sociedade em apagar a ditadura, quase como se ela não tivesse existido. Há leituras que tentam reduzir o período à vigência do AI-5 [Ato Institucional nº 5], de 1968 a 1979. E o resto seria uma espécie de democracia imperfeita, que não se poderia tecnicamente chamar de ditadura. Ou seja, existe mesmo no Brasil um esforço muito diferente de outros países da América Latina, que passaram por situações semelhantes, que era a confrontação com os crimes do passado. É a ideia de anular simplesmente o caráter criminoso de um certo passado da nossa história.

ABr: Há quem diga que o Brasil não teve de fato uma ditadura clássica depois de 1964, mas sim uma “ditabranda” se comparada à da Argentina e a do Uruguai, por exemplo.


Safatle: Essa leitura é do mais clássico cinismo. É inadmissível para qualquer pessoa que respeite um pouco a história nacional. Afirmar que uma ditadura se conta pela quantidade de mortes que consegue empilhar numa montanha é desconhecer de uma maneira fundamental o que significa uma ditadura para a vida nacional. A princípio, a quantidade de mortes no Brasil é muito menor do que na Argentina. Mas é preciso notar como a ditadura brasileira se perpetuou. O Brasil é o único país da América Latina onde os casos de tortura aumentaram após o regime militar. Tortura-se mais hoje do que durante aquele regime. Isso demostra uma perenidade dos hábitos herdados da ditadura militar, que é muito mais nociva do que a simples contagem de mortes.

ABr: Qual o reflexo disso?

Safatle: Significa um bloqueio fundamental do desenvolvimento social e político do país. Por outro lado, existe um dado relevante: a ditadura de certa maneira é uma exceção. Ela inaugurou um regime extremamente perverso que consiste em utilizar a aparência da legalidade para encobrir o mais claro arbítrio. Tudo era feito de forma a dar a aparência de legalidade. Quando o regime queria de fato assassinar alguém, suspender a lei, embaralhava a distinção entre estar dentro e fora da lei. Fazia isso sem o menor problema. Todos viviam sob um arbítrio implacável que minava e corroía completamente a ideia de legalidade. É um dos defeitos mais perversos e nocivos que uma ditadura pode ter. Isso, de uma maneira muito peculiar, continua.

ABr: Então, a semente da violência atual do aparato policial foi plantada na ditadura?

Safatle: Não é difícil fazer essa associação, pois nunca houve uma depuração da estrutura policial brasileira. É muito fácil encontrar delegados que tiveram participação ativa na ditadura militar, ainda em atividade. No estado de São Paulo, o ex-governador Geraldo Alckmin indicou um delegado que era alguém que fez parte do DOI-Codi [Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna]. Teve toda uma discussão, mas esse debate não serviu sequer para ele voltasse atrás na nomeação. Se você levar em conta esse tipo de perenidade dos próprios agentes que atuaram no processo repressivo, não é difícil entender por que as práticas não mudaram.

ABr: Estamos atrás de outros países, como Argentina e África do Sul, na investigação e julgamento de crimes cometidos pelo Estado?

Safatle: Estamos aquém de todos os países da América Latina. Nosso problema não é só não ter constituído uma comissão de verdade e justiça, mas é o de que ninguém do regime militar foi preso. Não há nenhum processo. O único processo aceito foi o da família Teles contra o coronel [Carlos Alberto Brilhante] Ustra, que foi uma declaração simplesmente de crime. Ninguém está pedindo um julgamento e sim uma declaração de que houve um crime. Legalmente, sequer existiram casos de tortura, já que não há nenhum processo legal. E levando em conta o fato de que o Brasil tinha assinado na mesma época tratados internacionais, condenando a tortura, nossa situação é uma aberração não só em relação à Argentina e à África do Sul, mas em relação ao Chile, ao Paraguai e ao Uruguai.

ABr: Que expectativa o senhor tem quanto ao funcionamento da Comissão Nacional da Verdade, prevista no Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3), para apurar crimes da ditadura?

Safatle: Uma atitude como essa é a mais louvável que poderia ter acontecido e merece ser defendida custe o que custar. O trabalho feito pelo ministro Paulo Vannuchi [secretário dos Direitos Humanos, da Presidência da República] e pela Comissão de Direitos Humanos é da mais alta relevância nacional. Acho que é muito difícil falar o que vai acontecer. A gente está entrando numa dimensão onde a memória nacional, a política atual e o destino do nosso futuro se entrelaçam. Existe uma frase no livro 1984, de George Orwell, que diz: “Quem controla o passado controla o futuro”. Mexer com esse tipo de coisa é algo que não diz respeito só à maneira que o dever de memória vai ser institucionalizado na vida nacional, mas à maneira com que o nosso futuro vai ser decidido.

ABr: Mas, antes mesmo da criação da Comissão da Verdade, os debates já estão muito acalorados.


Safatle: O melhor que poderia acontecer é que se acirrassem de fato as posições e cada um dissesse muito claramente de que lado está. O país está dividido desde o início. Veja a questão da Lei da Anistia. O programa do governo [PNDH 3] em momento algum sugeriu uma forma de revisão ou suspensão da lei. O que ele sugeriu foi que se abrisse espaço para a discussão sobre a interpretação da letra da lei. Porque a anistia não vale para crimes de sequestro e atentados pessoais. A confusão que se criou demonstra muito claramente como a sociedade brasileira precisa de um debate dessa natureza, o mais rápido possível. Não dá para suportar que certos segmentos da sociedade chamem pessoas foram ligadas a esses tipos de atividades de “terroristas”. É sempre bom lembrar que no interior da noção liberal de democracia, desde John Locke [filósofo inglês do século 17], se aceita que o cidadão tem um direito a se contrapor de forma violenta contra um Estado ilegal. Alguns estados nos Estados Unidos também preveem essa situação.

ABr: O termo “terrorista” é usado por historiadores que não têm qualquer ligação com os militares e até mesmo por pessoas que participaram da luta armada. Usar a palavra é errado?
Safatle: Completamente. É inaceitável esse uso que visa a criminalizar profundamente esse tipo de atividade que aconteceu na época. A ditadura foi um estado ilegal que se impôs através da institucionalização de uma situação ilegal. Foi resultado de um golpe que suspendeu eleições, criou eleições de fachada com múltiplos casuísmos. Podemos contar as vezes que o Congresso Nacional foi fechado porque o Executivo não admitia certas leis. O fato de ter aparência de democracia porque tinham algumas eleições pontuais, marcadas por milhões de casuísmos, não significa nada. No Leste Europeu também existiam eleições que eram marcadas desta mesma maneira.Um Estado que entra numa posição ilegal não tem direito, em hipótese alguma, de criminalizar aqueles que lutam contra a ilegalidade. Por trás dessa discussão, existe a tentativa de desqualificar a distinção clara entre direito e Justiça. Em certas situações, as exigências de Justiça não encontram lugar nas estruturas do Direito tal como ele aparecia na ditadura militar. Agora, existem certos setores que tentam aproximar o que aconteceu no Brasil do que houve na mesma época na Europa, com os grupos armados na Itália e na Alemanha. As situações são totalmente diferentes porque nenhum desses países era um Estado ilegal. E não há casos no Brasil de atentado contra a população civil. Todos os alvos foram ligados ao governo.

ABr: Os assaltos a banco não seriam atentados às pessoas comuns que estavam nas agências?
Safatle: Todos os que participaram a atentados a bancos não foram contemplados pela Lei da Anistia e continuaram presos depois de 1979. Pagaram pelo crime. Isso não pode ser utilizado para bloquear a discussão. Dentro de um processo de legalidade, de maneira alguma o Estado pode tentar esconder aquilo que foi feito por cidadãos contra eles, como se fossem todos crimes ordinários. Se um assalto a banco é um crime ordinário, eu diria que a luta armada, a luta contra o aparato do Estado ilegal, não é. Isso faz parte da nossa noção liberal de democracia.

ABr: Que democracia é a nossa que tem dificuldades de olhar o passado?


Safatle: É uma democracia imperfeita ou, se quisermos, uma semidemocracia. O Brasil não pode ser considerado um país de democracia plena. Existe uma certa teoria política que consiste em pensar de maneira binária, como se existissem só duas categorias: ditadura ou democracia. É uma análise incorreta. Seria necessário acrescentar pelo menos uma terceira categoria: as democracias imperfeitas.

ABr: O que isso significa?

Safatle: Consiste em dizer basicamente o seguinte: não há uma situação totalitária de estrutura, mas há bloqueios no processo de aperfeiçoamento democrático, bloqueios brutais e muito visíveis. Existe uma versão relativamente difundida de que a Nova República é um período de consolidação da democracia brasileira. Diria que não é verdade. É um período muito evidente que demonstra como a democracia brasileira repete os seus impasses a todo momento. O primeiro presidente eleito recebeu um impeachment, o segundo subornou o Congresso para poder passar um emenda de reeleição e seu procurador-geral da República era conhecido por todos como “engavetador-geral”, que levou a uma série de casos de corrupção que nunca foram relativizados. O terceiro presidente eleito muito provavelmente continuou processos de negociação com o Legislativo mais ou menos nas mesmas bases. Chamar isso de consolidação da estrutura democrática nacional é um absurdo. Os poderes mantêm uma relação problemática, uma interferência do poder econômico privado nas decisões de governo. Um sistema de financiamento de campanhas eleitorais que todos sabem que é totalmente ilegal e é utilizado por todos os partidos sem exceção.

moraliSação

47 anos do golpe que depôs João Goulart

Tijolaço



Oficialmente hoje, na prática amanhã, primeiro de abril, completam-se 47 anos do golpe que depôs João Goulart e atirou nosso país numa ditadura de 20 anos.

Foram precisos 25 anos até termos eleições diretas para presidente e 38 anos até termos, de novo, um presidente nacionalista e alinhado aos interesses dos trabalhadores.

Não posso agora fazer uma reflexão mais longa sobre esta era. Mas reproduzo, para quem ainda não assistiu, o filme Jango, do cineasta Sílvio Tendler, como uma homenagem ao presidente que, por defender a democracia e os trabalhadores, amargaria até sua morte, 12 anos depois, o exílio e a dor de não poder ver de novo o país que tento amava.

Amanhã, às 17 horas, o jornalista José Augusto Ribeiro lança um livreto – parte de uma série de cartilha de memória trabalhistas – narrando a trajetória de João Goulart. Como tenho compromisso em São Paulo, não poderei estar presente ao Auditório da Fundação Alberto Pasqualini (Rua do Teatro, ao lado do teatro João Caetano), mas mando o meu abraço ao Zé Augusto e ao Movimento dos Aposentados do PDT, que promovem a coleção.

imunidade para roubar(?)

Bolsonaro diz que tem imunidade para roubar

Tijolaço



Estou preparando uma nova representação contra o Deputado Jair Bolsonaro.
Ele perdeu as condições de ser respeitado como parlamentar.

Se não bastassem as declarações racistas e homofóbicas, hoje, ao atacar o programa antidiscriminação desenvolvido pelo Ministério da Educação – um projeto que recebeu, inclusive, elogios da Unesco – Bolsonaro foi acima e além do que pode ser aceito pelo decoro parlamentar.

“Eu tenho imunidade para falar ou para roubar”, disse ele.

O senhor Bolsonaro tornou-se uma desmoralização para a Câmara. E seu comportamento está estimulando os grupos nazistóides, como o que invadiu o site da apresentadora e cantora Preta Gil, cuja pergunta sobre negros detonou a ira do deputado.

Os outros 512 deputados não podem aceitar que um parlamentar saia por aí dizendo que nossa imunidade parlamentar é “para roubar”.

Se ele acha que é para isso, não tem o direito de tê-la.

2 de abril de 1964

“Ressurge a democracia” – o Globo, em
2 de abril de 1964. Depois, foi dedo duro


No dia de hoje, 31 de março de 1964, houve a intervenção militar, a maior desgraça que se abateu sobre o Brasil, depois de três séculos de Escravidão (ainda inacabada).

Clique aqui para ler a entrevista de Mino Carta ao Abujamra: “O PiG implorou pelo Golpe militar”.

O Conversa Afiada deseja aliar-se aos que, em surdina, celebram a intervenção.

Muitos historialistas se desculpam com pretenso Golpe que o Jango ia dar – a intervenção teria sido um ato de “guerra de prevenção”, como dizia o Bush, filho.

E convoca o jornal O Globo para, em seu nome, brindar o regime que o deputado Bolsonaro ainda defende.

Transcrevemos aqui o editorial que o Globo escreveu logo após o Golpe.

No dia 2 de abril.

Em seguida, o amigo navegante verá como o Globo logo cedo, rápido começou a prestar serviços ao regime militar ( aos torturadores hoje devidamente anistiados).

É o Globo, no dia 7 e abril, a desempenhar o papel de dedo-duro.

Contemple, amigo navegante, a história do PiG (*).


2 de abril de 1964

“Ressurge a Democracia”

Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade, não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada.


Agora, o Congresso dará o remédio constitucional à situação existente, para que o País continue sua marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos individuais sejam afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos estava a levar à anarquia e ao comunismo.


Poderemos, desde hoje, encarar o futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os nossos problemas terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão geridos com má-fé, demagogia e insensatez.


Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares, que os protegeram de seus inimigos. Devemos felicitar-nos porque as Forças Armadas, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não confundiram a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um daqueles poderes, o Executivo.


As Forças Armadas, diz o Art. 176 da Carta Magna, “são instituições permanentes, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade do Presidente da República E DENTRO DOS LIMITES DA LEI.”


No momento em que o Sr. João Goulart ignorou a hierarquia e desprezou a disciplina de um dos ramos das Forças Armadas, a Marinha de Guerra, saiu dos limites da lei, perdendo, conseqüentemente, o direito a ser considerado como um símbolo da legalidade, assim como as condições indispensáveis à Chefia da Nação e ao Comando das corporações militares. Sua presença e suas palavras na reunião realizada no Automóvel Clube, vincularam-no, definitivamente, aos adversários da democracia e da lei.


Atendendo aos anseios nacionais, de paz, tranqüilidade e progresso, impossibilitados, nos últimos tempos, pela ação subversiva orientada pelo Palácio do Planalto, as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-os do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal.


Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais. Aliaram-se os mais ilustres líderes políticos, os mais respeitados Governadores, com o mesmo intuito redentor que animou as Forças Armadas. Era a sorte da democracia no Brasil que estava em jogo.


A esses líderes civis devemos, igualmente, externar a gratidão de nosso povo. Mas, por isto que nacional, na mais ampla acepção da palavra, o movimento vitorioso não pertence a ninguém. É da Pátria, do Povo e do Regime. Não foi contra qualquer reivindicação popular, contra qualquer idéia que, enquadrada dentro dos princípios constitucionais, objetive o bem do povo e o progresso do País.


Se os banidos, para intrigarem os brasileiros com seus líderes e com os chefes militares, afirmarem o contrário, estarão mentindo, estarão, como sempre, procurando engodar as massas trabalhadoras, que não lhes devem dar ouvidos. Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente, as medidas reclamadas para que se inicie no Brasil uma época de justiça e harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro foi socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem maiores sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande favor.”

Publicado em 22/09/2010

Amigo navegante enviou ao Conversa Afiada essas duas páginas do Globo de 7 de abril de 1964.

É um documento histórico.

Atribuído a um grupo de democratas, o Globo publicou no dia 7 de abril de 1964, poucos dias depois da intervenção militar, a lista dos que tinham assinado um manifesto do Comando dos Trabalhadores Intelectuais.

Como hoje, o Globo do Dr Roberto colaborava com o Golpe: “chamamos a atenção de alto-comando militar para os nomes que o assinaram”.

É o dedo duro na sua manifestação mais cristalina.

Repare, amigo navegante, alguns dos nomes que o Globo queria mandar para a câmara de torturas:
Ferreira Gullar, Carlos Diegues, Arnaldo Jabour, Chico Anísio, Paulo Francis, Tereza Rachel, Jorge Zahar.

Que horror !

É a “Lista de Schindler” de sinal trocado: é a “Lista do Globo”, dos que deveriam ser cremados.

Viva o Brasil !

Em tempo: se o amigo navegante quiser ler a lista completa dos dedodurados pelo Globo clique no endereço do post.

correção

Correção: escolinha do Gilmar não se meteu com o Arruda



A propósito de post que já saiu do ar, o Conversa Afiada se desculpa e agradece a colaboração de amigos navegantes:

Renato

PHA, a galera tem razão. São IDP´s diversos.


Gabriel

Parece que esse IDP não é o IDP do Prof. Gilmar, embora existam semelhanças entre os institutos que vão além da sigla…


LECO-RJ

PHA, tira esse post do ar! O IDP do Gilmar é o “Instituto de Direito Público”. Esse do post é qualquer coisa, menos o IDP do Gilmar.


Adilson

PHA,

O Ministro Dantas é ligado ao IDP – Instituto Brasiliense de Direito Público. Há equívoco na divulgação dessa matéria, não creio que o MP ousaria afrontar o Supremo do Supremo.

No Instituto Brasiliense de Direito Público pode ser observada a menção do ilustre Ministro do STF, até como uma maneira de publicidade do Instituto Brasiliense de Direito Público, eis aqui o link que dá acesso ao Instituto ligado ao Dantas: http://www.idp.edu.br/.

Já no link a seguir pode-se chegar ao Instituto que o MP está afrontando: http://www.institutoidp.org.br/portal/quem-somos.html.


Evaristo Almeida da Silva

PHA há um equívoco aí, o IDP do Ministro Gilmar Mendes é o Instituto de Direito Público, e não esse aí que você citou.

Por favor, revise suas fontes e seja mais criterioso em suas notícias, não vá noticiando nada assim sem uma mínima verificação preliminar.

30″ de internet já são mais do que suficientes para verificarmos que o IDP da notícia não é o IDP do Ministro.

Por favor aceite esse comentário como vindo de um ASSÍDUO leitor seu e que não deseja vê-lo quedar-se na qualidade dos textos com os quais nos brinda.

Evaristo


H. C. Paes

PHA, tens certeza?

IDP é Instituto Brasiliense de Direito Público, não Instituto Nacional de Desenvolvimento Profissional. A matéria acima não parece ter nada que ver com o que se espera de uma escola de especialização em Direito. Nem me parece que o IDP do Gilmar queira tenha interesse em gerir centros de internação.

Parece-me um caso de confusão de siglas. Melhor remover a postagem antes que o Gilmar Dantas aproveite para te processar com base num mal-entendido.

major curió foi preso

Curió, major da repressão à guerrilha do Araguaia, é preso

Viomundo

por Tatiana Farah, em O Globo

sugestão do Stanley Burburinho

 
SÃO PAULO – O oficial de reserva Sebastião Curió Rodrigues de Moura, um dos chefes da repressão à Guerrilha do Araguaia, foi preso na terça-feira em sua casa em Brasília durante uma operação de busca e apreensão a documentos da ditadura. Segundo a Superintendência da Polícia Federal (PF) do Distrito Federal, O major Curió guardava em casa armas sem o devido registro. Depois de prestar depoimento à Justiça Federal e à PF, Curió foi levado para o Batalhão de Polícia do Exército, uma vez que é militar.

Os agentes federais e o procurador da República Paulo Roberto Galvão foram à casa de Curió para tentar resgatar documentos do período da ditadura (1964-1985), em especial de sua atuação durante a Guerrilha do Araguaia, no início dos anos 70. Foram apreendidos documentos, um computador e armas que não tinha registro de porte.

O Ministério Público Federal vai submeter o computador a análise em busca de documentos que possam estar digitalizados. Entre os papéis encontrados pelo MPF, estão páginas de documentos antigos com o selo “confidencial”. No entanto, o MPF não confirmou se os papeis podem ajudar na localização dos corpos dos guerrilheiros enterrados no Araguaia (TO) durante a ditadura.

Em entrevistas públicas e em depoimentos à Justiça, Curió já disse que o Exército teria executado 41 guerrilheiros no Araguaia. Ao jornal “O Estado de S. Paulo”, em 2009, Curió abriu uma mala cheia de papeis em que anotava, supostamente, detalhes de diversas dessas mortes. Os 41 militantes de esquerda teriam sido mortos, segundo ele, fora do campo de combate, quando não ofereciam risco aos militares.

A intenção do MPF ao buscar os documentos é encontrar pistas de onde os corpos foram enterrados. O governo federal já fez buscas, orientadas pelo Exército, para localizar essas vítimas.

– Era o que precisava ser feito desde a sentença da Justiça Federal, em 2007 — disse Crimeia de Almeida, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos.

Segundo Crimeia, a busca e apreensão é resultado de uma ação movida por 22 familiares de 25 desaparecidos, entre eles, o marido de Crimeia, André Grabois, um dos líderes da guerrilha. A própria Crimeia participou do conflito no Araguaia.

A ação dos familiares da Guerrilha do Araguaia tramita na 1.a Vara Federal Criminal de Brasília. Até o final da tarde, nem o STF (Supremo Tribunal Federal), o STJ (Superior Tribunal de Justiça) ou o TRF (Tribunal Regional Federal) haviam divulgado a entrada de algum recurso para a libertação de Curió. O GLOBO tentou entrar em contato com a família do militar de reserva, mas não a localizou. Um de seus antigos advogados, que ainda não foi acionado por Curió, aformou que o major reformado poderia ter armas sem registro em casa por sua condição de militar, o que não foi confirmado pelo Exército.

eu tive um pesadelo...


Apenas um pesadelo

BAITASAR

Imaginávamos que hoje, na redação do blog do baitasar, seria apenas mais um dia.

Mudamos de imaginação com a chegada do Professor.

Veio com o chimarrão e a térmica (chaleira de guardar a água chiada) nas mãos, mas nos olhos se percebia a sua tristeza.

Todos na redação (eu) ficaram calados.

Ele sentou e serviu um chimarrão.

Tudo bem devagar, parecia querer ouvir a água chiada se despejando da garrafa térmica nas ervas do mate

"aceita, guri?"

Estendi a mão, em silêncio.

Permanecemos calados.

Não podíamos falar.

Sobre bobagens, talvez.

Pensei dizer coisas sem importância, quem sabe, fazer o tempo se encurtar, como se ele pudesse ou quisesse.

Coloquei a bomba na boca e permaneci silencioso.

Ele sentado à porta, olhando e escutando as botinas marchando.

As baionetas fechando as bocas e rasgando os uniformes da liberdade, as palavras e os pensamentos caiam nas calçadas e sarjetas.

As botinas cada vez mais nervosas derrubavam portas e marchavam nas casas, nos becos sem saída, queriam isolar e encarcerar a consciência das ideias

"guri, o mate vai esfriar."

Faço a bomba roncar.

Acabou

"ainda não, baitasar."

Devolvo o mate em silêncio.

virando a página(?) sem ressentimentos(?)

os jornais imploraram pelo golpe militar

Mino: PiG implorou
pelo Golpe Militar

O Conversa Afiada reproduz entrevista de Mina Carta, em que fica claro o papel deplorável do PiG no golpe militar de 1964.

O que explica o apoio que a ele dá até hoje.

Por exemplo, na furiosa defesa da Lei da Anistia.

Assista ao vídeo:



Mino Carta afirma que jornais imploraram pelo golpe militar


Da Redação


O jornalista Mino Carta afirmou em entrevista ao programa Provocações, da TV Cultura, que os donos de veículo de comunicação do País apoiaram o golpe militar de 1964. Em conversa com o apresentador Antônio Abujamra, na atração que foi exibida na noite desta terça-feira (29/3), o criador e diretor de redação da revista Carta Capital afirmou que a mídia imprensa apoiou o golpe militar de 1964.


“A imprensa nativa no fim de 1963 implorando pelo golpe de 64, que é uma das grandes desgraças brasileiras. Acho que a maior desgraça é a escravidão, três séculos de escravidão, mas essa é uma desgraça muito grande. Eles (donos dos veículos de comunicação) queriam que os ‘milicos’ chegassem e assumissem o poder, em nome deles”, disse Mino.


Ao ser questionado por Abujamra que, depois de implantada a ditadura militar no Brasil, a “censura entrou” na imprensa, o diretor da Carta Capital declarou que “todos os jornais queriam o golpe e conseguiram”. Mino ainda comentou que o único veiculo impresso que chegou a ser censurado foi O Estado de S. Paulo, mas de forma “branda”.


“O Estadão passou a sofrer censura, mas uma censura muito branda. Uma censura que autorizava o Estadão a publicar versos de Camões (…) ou então, as receitas de bolo no Jornal da Tarde. Os demais jornais não foram censurados”, declarou o fundador da revista Carta Capital.


Para Mino, dizer que os jornais brasileiros foram censurados durante o período de ditadura militar “é uma piada, uma mentira. Uma mentira grossa”.

quarta-feira, 30 de março de 2011

o doutor do povo

CartaCapital: Lula, o doutor do povo

Viomundo





por Eduarda Freitas*, de Coimbra, em CartaCapital

 
A luz do sol estica-se devagar no pátio da Universidade de Coimbra. Ainda não são nove da manhã. Um grupo de jovens conversa nas escadas que dão acesso à Sala dos Capelos, onde mais tarde vai ser atribuído o grau de Doutoramento Honoris Causa a Lula da Silva. Nas mãos têm máquinas fotográficas. Às costas, a bandeira do Brasil. “Isto é muito importante para nós, por tudo o que Lula fez em oito anos, por todas as mensagens que passou ao mundo em língua portuguesa”. Denise tem 20 anos, é de Caxias do Sul. Está em Coimbra desde janeiro, a estudar Direito. Faz parte da comunidade de quase mil alunos brasileiros que estudam na academia de Coimbra. À entrada do pátio, lê-se: “Em defesa da Amazônia, Dilma pare a barragem de Belo Monte”. Os sinos tocam. Os batedores da polícia aproximam-se. Os jornalistas apontam as máquinas. Centenas de pessoas gritam num português cantado: “Lula! Lula!”. Destaca-se uma voz: “Tira uma foto com o gaúcho, Lula!”. O ex-presidente levanta a mão, como quem pede desculpa: “Estamos atrasados…”. Ainda assim, Fernanda Esteves consegue uma foto: “Eu nem acredito! Consegui…ai…”, diz com a voz entregue à emoção e os olhos castanhos a encherem-se de água. “Estou tremendo!”. E Lula ainda nem era doutor.

Doutoramento para poucos

Faltava pouco. Ao final da manhã, Lula da Silva haveria de sair da mais antiga universidade de Portugal e uma das mais velhas da Europa, com o título de doutor Honoris Causa. Uma distinção que só chega a quatro ou cinco pessoas por ano. Mas antes, havia ainda que cumprir um rigoroso e tradicional protocolo. Já dentro da Biblioteca Joanina, Lula aguardava pela formação do cortejo acadêmico. À entrada da Universidade, ninguém arredava pé. Improvisava-se a voz. Cantava-se o hino brasileiro misturado com saltos e gritos de “sou brasileiro, com muito orgulho, sou brasileiro!”. A manhã ia crescendo. “Isto havia de ser sempre assim”, confidenciavam três empregadas de limpeza da biblioteca onde  estava Lula. “Ganhamos o dia e não fazemos nada!”, riam. Mais um carro a chegar. Sai o primeiro-ministro demissionário de Portugal, José Sócrates. “Não sei se ele é bom politico, mas sei que ele é um gato…!”, riam duas amigas de olhos azuis. Agora sim, Dilma Rousseff. “ Eu quero vê-la!”, gritava Maria da Conceição, uma portuguesa de cabelos brancos, no alto dos seus sessenta anos. Entre seguranças, Maria viu Dilma, casaco vermelho escuro, sorriso rasgado: “Estou muito feliz. Ela é uma grande mulher!”.

Homenagem ao povo brasileiro

Seguiu-se o cortejo. Palmas, muitas palmas, para o quase doutor. Um quinteto de metais marcava o ritmo solene da ocasião. Lula seguia de capa preta e um capelo – pequena capa – sob os ombros. Distinguia-se dos outros elementos do cortejo, cerca de cem doutores de Coimbra, por não usar ainda a borla, uma espécie de chapéu. A luxuosa Sala dos Capelos, datada do sec. XVI, repleta de retratos dos reis de Portugal, aguardava Lula da Silva. “Mais do que um reconhecimento pessoal, acredito que esta láurea é uma homenagem ao povo brasileiro, que nos últimos oito anos realizou, de modo pacifico e democrático, uma verdadeira revolução econômica e social, dando um enorme salto qualitativo no rumo da prosperidade e da justiça”. A voz fugia-lhe, emocionado. “Nada disto seria possível, igualmente, sem a colaboração generosa e leal daquele que foi o meu parceiro de todas as horas, um dos homens mais íntegros que conheci”. Lula referia-se ao seu sempre vice-presidente, José Alencar, falecido na passada terça-feira. A regra dos doutoramento impõe silêncio, mas na Sala dos Capelos ouviram-se palmas no final do discurso de Lula da Silva. E foi ao catedrático jurista português Gomes Canotilho,  que coube fazer o discurso de elogio do doutorando Honoris Causa Luiz Inácio Lula da Silva. Antes do ex-presidente do Brasil receber o anel de senhor doutor.

Lula, o homem de mãos grandes

“Foi o maior anel de doutoramento que fizemos, devido à mão robusta de Lula!”, conta sorridente o joalheiro António Cruz. “ O anel é feito no melhor ouro português, rematado com um rubi com cerca de cinco quilates, elevado por 12 garras”. O preço? “Não posso dizer. Mas não é económico”, ri.  “Vimos várias fotos de Lula para lhe fazermos um anel personalizado. Foi muito especial para nós…!”. Por esta joalharia que vive paredes meias com a muralha de Coimbra, já nasceram anéis de doutoramentos honoris causa para os dedos dos prêmios Nobel José Saramago e Amartya Sen, para Jorge Amado, entre muitos outros. Apesar de tantos anéis, este foi a primeira cerimônia de doutoramento a que António foi assistir: “Admiro muito Lula da Silva!”. Uma hora antes, na sala onde são homenageados os maiores doutores entre os doutores, Canotilho Gomes justificava a atribuição deste título ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”. Emocionado, de sorriso triste, sem prestar declarações, Lula saiu rápido para apanhar o avião para o velório de José Alencar. Ainda assim, uma jornalista brasileira, atirou uma pergunta sem ponto de interrogação: “Ei, presidente, você agora é doutor!”

* A nossa colunista portuguesa Eduarda Freitas, de Coimbra, acompanhou o emocionante doutoramento do ex-presidente Lula na tradicional Universidade da cidade.

preces para Vitória

Preces para Victoria



Nesta quarta-feira, minha filha Victoria entra novamente no ringue da vida contra a enfermidade que a fustiga desde há 12 anos, quando chegou a este mundo.

Será tentada nova gastrostomia (perfuração do abdome e do estômago para colocação de sonda para alimentação enteral), pois a primeira, feita no final de 2009, fracassou.

Desde agosto do ano passado, Victoria se alimenta por sonda nasal. Durante esse período, passou de 19 para 32 quilos e literalmente floresceu.

Agora, fortalecida, como a foto acima mostra, terá que enfrentar novamente esse inimigo cruel ao qual minha corajosa filha tem dado tanto trabalho.

Como em outras oportunidades, peço, para ela, preces dos crentes ou energia dos que não acalentam fé religiosa. É só o que me resta fazer por ela, agora. Infelizmente.

Volto a postar no fim do dia, espero.

—–

Atualizado às 19:18 hs.
Victoria foi operada. Algumas complicações fizeram a cirurgia demorar além do previsto, mas minha filha passa bem. Que Deus os abençoe pelas boas palavras. Estou certo de que contribuíram para o êxito da cirurgia. Volto a postar nesta quinta-feira.
Atualizado às 19:18 hs.
Victoria foi operada. Algumas complicações fizeram a cirurgia demorar além do previsto, mas minha filha passa bem. Que Deus os abençoe pelas boas palavras. Estou certo de que contribuíram para o êxito da cirurgia. Volto a postar nesta quinta-feira.

além do agnelli milhão, fhc deixou outro legado para os brasileiros

Onde foi se meter a escolinha
do prof Gilmar. Com o Arruda


O Ministro Gilmar detesta o Ministério Público. Pudera !

Olha só onde a escolinha de Gilmar Mendes se meteu.

Esquema com Arruda.


Clique aqui para ler: “Vasco acha que o prof Gilmar faz merchandising na TV Justiça”.

e você lendo os jornais e acreditando que está bem informado (sic)

Bradesco diz que Folha (*) não tem pé nem cabeça



Agnelli, o jatinho e a megalomania (montagem)

Saiu no blog do Nassif:


Bradesco desmente nota da Folha


Nota à imprensa


O Bradesco declara improcedentes as informações da reportagem envolvendo esta instituição no jornal Folha de S. Paulo, hoje, 30 de março, na primeira página e páginas B1 e B3, desconsiderando o seu teor, por não ter qualquer fundamento ilações nela contidas.

Bradesco

Assessoria de Imprensa


Comentário


O vazamento das informações foi atribuído a fontes ligadas a Roger Agnelli visando embolar o meio de campo. Em particular, acreditam ter sido da lavra de um publicitário estreitamente ligado a Agnelli. A intenção seria criar constrangimento, atrasar as mudanças – inevitáveis.


O que a Folha (*) disse, foi o seguinte:

Bradesco indica Tito Martins para substituir Agnelli na Vale

Maiara responde, não confundir com a Mayara afogadora de nordestinos

Cotista de Medicina responde a Bolsonaro



O Conversa Afiada publica e mail e fotomontagem da Maiara:

Sr. Bolsonaro,

Venho atraves deste e-mail exercer o meu Direito de Resposta relativo as suas afirmações no programa CQC.


http://www.conversaafiada.com.br/video/2011/03/29/preta-gil-vai-processr-bolsonaro-nao-nao-somos-racistas/

Sou cotista de medicina com muito orgulho, graças ao presidente Lula.


Caso o senhor tenha o infortunio de sofrer um acidente algum dia e cair nas minhas mãos em um pronto socorro, terei o maior prazer em atendê-lo, pois só vendo o senhor viver é que terei a certeza de que continuará sofrendo ao ver a diversidade de raças e a prosperidade do povo mestiço brasileiro.

Vai um presente para o senhor. Imprima, coloque numa moldura e se delicie olhando para os seus herois, por que os nossos… os nossos são outros e o senhor sabe muito bem quem são.
Maiara Silva


Ps. “Favor não confundir com aquela Mayara das eleições, a afogadora de nordestinos.”

naturalidade homofóbica

Racismo, machismo e homofobia: a dificuldade de uma transformação cultural


O que mais surpreende na entrevista que o deputado Jair Bolsonaro deu pro CQC e na nota de explicação publicada a seguir é a naturalidade com que ele disse as coisas que disse. Ele não achava que estava falando nenhum absurdo quando fazia comentários machistas ou homofóbicos. Isso mostra o tamanho do desafio que a gente tem pela frente, que é o de enfrentar distorções culturais arraigadas na nossa sociedade.

Assim como a violência contra a mulher, fruto de uma cultura paternalista que coloca o homem em posição superior à mulher na sociedade, o mesmo tipo de influência cultural faz com que sejamos racistas, com que desprezemos os relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo. Por quê? De que forma essas relações nos prejudicam, nos afetam negativamente? Por que a gente não pode entender o outro como um igual? Por que a gente não pode respeitar as decisões do outro?

Assim como um tem olhos escuros e outro olhos azuis, um é branco e outro é negro.

É uma cultura forte que vem de séculos, por conta da influência religiosa, da escravidão, da disputa entre nações e outros fatores. O que explica, mas de forma alguma justifica. Não há explicação que justifique esse ódio, essa discriminação, esse preconceito tão grande.

Mudar isso, transformar a cultura, é muito complicado, um desafio enorme. Mas que está posto e que temos que enfrentar em nome de uma justa. Em nome de mais igualdade, dos direitos humanos, dos direitos de cada cidadão. Porque não há lugar algum que diga que um ser humano é superior é outro pela sua cor, pela sua orientação sexual, pelo seu gênero.

já se vão tarde

Delfim: réquiem para os neoliberais. Snif, snif. Já vão tarde


Bye-bye Pinochet e os Chicago Boys


Neoliberalismo nasceu, como se sabe, na ditadura de Pinochet, no Chile, com os Chicago Boys.

Floresceu com Margaret Thatcher, Ronald Reagan (que dupla, hein, amigo navegante ?) e construiu sua Suma Teológica nos mandamentos do “Consenso de Washington”, escrito por um economista de organização americana que trabalhava para bancos.

Aqui, brotou no Governo Collor.

Atingiu a maturidade e, simultaneamente, a senilidade no espaço de oito anos em que o Brasil viveu sob a treva planejante de  Padim Pade Cerra e a liderança do Farol de Alexandria, aquele que iluminou a Antiguidade e foi destruído num terremoto.

Agora, realizam-se as exéquias do neoliberalismo.

O filme “Trabalho Interno”, onde Obama se destaca, revela alguns dos aspectos mais fulgurantes da lógica neoliberal.

Deu no que deu: 2008.

É imperdível.

Ontem e hoje, no Valor, na página dois, e hoje na Folha (*), também na página 2, Delfim Netto se refere a um trabalho sob a regência de Olivier Blanchard (economista chefe do FMI), financiado pelo FMI.

Pelo FMI, amigo navegante !

E aqui os neoliberais pensam que o FMI ainda é aquele, aquele, do tempo em que o Fernando Henrique pedia a bênção ao Clinton – clique aqui para assistir ao vídeo memorável em que Clinton desmoraliza FHC em público e ele não defende o Brasil nem a si próprio.

O trabalho a que Delfim se refere – “Repensando a Política Econômica”, reúne palestras de dois prêmios Nobel: Joseph Stiglitz e Michael Spence, entre outros parvos (bom mesmo é aquele colonista (**) do jornal da Globo que usa gráficos e bissetrizes para defender o Agnelli em nome do sacrossanto “livre mercado”).

Conclusões do estudo que enterra de vez Urubologia:

1) Entre o mercado e o Estado, o pêndulo avançou em direção ao Estado (a urubóloga vai ter um troço !)

2) É preciso regular os reguladores;

(Não é à toa que o presidente do BankBoston, o Meirelles, outro falcão neoliberal, pediu “independência” ao embaixador americano.)

3) Aumentar os juros não basta. É preciso levar o PIB (aqui, na terra do Nunca Dantes, se chama de Pibão) em conta;

4) “Política fiscal” é muito mais do que “gastos” menos “receitas”.

5) Nós não sabemos o que é “liquidez”;

Logo, quando os colonistas (**) do PiG falam em “excesso de liquidez” para aumentar os juros, caia na gargalhada !

6) Qual é o problema de aplicar “controle de capitais” ou “política industrial” – desde, é claro, que os jenios do BNDES não queiram inventar outra BrOi – clique aqui para ver como ela afundou gloriosamente.

7) Para onde vamos ?

Só a urubóloga e o colonista do jornal da Globo sabem.

Os autores desse estudo não têm a menor idéia.

Por isso, recomendam pragmatismo e medidas cuidadosas, de pequenos avanços.


NAVALHA

Que descansem em paz.

E não nos amofinem mais !

Paulo Henrique Amorim

Ministra da Cultura

Se Ana de Holanda quer guerra, por que seus assessores pedem paz?

Na sexta-feira à tarde pela primeira vez desde o início da crise motivada pela retirada do selo do Creative Commons da página na internet do MinC, representantes do ministério se encontraram com militantes da cultura digital. Este blogueiro estava lá. Como ademais tem estado em outros tantos encontros da comunicação e da cultura. Sempre como militante. Sim, isso mesmo, militante jornalista.

De forma sacana, tem gente manifestando estranheza na rede que um jornalista possa vir a ser militante. Ignorância pura. Desde sempre jornalistas atuam defendendo posições. Tem gente que defende o interesse dos grandões, há os que se colocam do outro lado. John Reed achou seu lado na cobertura da revolução russa. E fez jornalismo.

A minha luta é a da democratização da comunicação. E isso desde os tempos de estudante. Avalio hoje que a democratização da comunicação passa pela garantia de uma internet livre e de amplo acesso aos bens culturais. Por isso participo desse movimento que tem questionado as posições da ministra Ana de Holanda desde que ela tirou o Creative Commons da página do ministério.


Mas voltando à reunião de sexta, o encontro foi franco e direto. Falaram pelo MinC o secretário-executivo Victor Ortiz, o ator e secretário de Política Cultural do MinC, Sérgio Mamberti, e José Murilo Jr, coordenador de política digital da Secretaria de Política Cultural.

Murilo apresentou o programa do ministério para a área nos próximos anos, Serginho Mamberti fez uma fala reafirmando os compromissos do MinC com a democratização da cultura e lembrando construções neste sentido. Victor Ortiz foi direto ao ponto e pediu sinceridade aos participantes no debate sobre a questão do CC e também da cultura digital. Afirmou que teria havido uma “demonização” da atual gestão do MinC por parte de alguns e que se precisava construir um novo momento no debate. Afirmou que o MinC não era comprometido com o Ecad e que as posições não haviam mudado em relação à cultura digital. Tratou o episódio do CC como algo circunstancial e menor.

O primeiro a falar pela militância digital foi o professor da USP Pablo Ortelado. Ele lembrou as posições do Brasil em diferentes fóruns internacionais no debate da propriedade intelectual e disse que a posição da atual gestão do MinC estaria em caminho contrário a esse posicionamento construído no governo Lula.

Gustavo Anitelli, do Teatro Mágico, lembrou que o “jabá” utilizado pelas gravadoras para garantir que músicas sejam executadas pelas rádios, que são concessões públicas, desvirtua a distribuição dos direitos de execução e o pagamento dos direitos autorais pelo ECAD. E que em relação a isso o MinC não se manifesta. Prefere lutar contra o licenciamento livre a um desrespeito a legislação. Ou seja, o pagamento por parte de gravadoras para que rádios executem músicas.

Além desses, falaram o professor Sergio Amadeu, a diretora da Faculdade de Comunicação da UFRJ Ivana Bentes, Rodrigo Savazoni, da Casa de Cultura Digital e outros tantos como este blogueiro. Lembrei que a agenda da cultura que ganhou a eleição não é a que vem sendo sinalizada pela atual gestão do MinC. E que o ministério não poderia ser “magnânimo”, termo utilizado por Ortiz. Que executar políticas públicas é ter lado. E que aqueles que ali estavam, e que em boa parte haviam votado em Dilma, esperavam que o lado fosse o da agenda vitoriosa. Aquela que pensa a cultura como bem comum e não como mercadoria.

Também brinquei com o nome da minha filha e da de Ortiz, que se chamam Carolina pelo mesmo motivo, a música do Chico, mas tudo no sentido de desanuviar o ambiente. Que claro, era tenso.

E por quê? Exatamente porque os sinais que vêm do MinC são absolutamente confusos e contraditórios. E a cada fala da ministra percebe-se que ela tem menos conhecimento sobre questões que deveria dominar. Explico.

Depois de uma boa conversa com Ortiz, que disse claramente que a porta do diálogo estava aberta e de uma fala bonita e histórica das ações do MinC de Mamberti, a ministra concede uma entrevista ao Estado de S. Paulo (que tem se derramado em elogios a ela, junto com o Globo) e diz que o selo do CC na página do MinC era propaganda e que como ministra não poderia deixar isso acontecer.

Ou seja, Gilberto Gil autorizou o uso do espaço público para propaganda, ministra? É isso? Juca Ferreira também? E o presidente Lula é cúmplice. É isso? E a então ministra da Casa Civil, a agora presidenta Dilma, que estava no papel de zelar pelo bom andamento da máquina pública foi leniente com esse tipo de privatização do espaço público? É isso que a ministra está dizendo? Se é isso, por que na página do MinC aparece o selo do wordpress? Isso não é propaganda?

A conversa com Vitor Ortiz na sexta-feira foi boa. Ele se mostrou um interlocutor sério e aberto ao diálogo. As considerações de Sergio Mamberti e José Murilo provavelmente seriam assinadas por quase todos os presentes.

Ainda continuo achando que é possível avançar na construção de uma base de propostas que garanta que políticas públicas relevantes que foram impulsionadas no governo Lula não sejam abandonas para dar vez a caprichos da indústria cultural. Mas as entrevistas que Ana de Holanda têm dado aos veículos de comunicação que atuaram como Partido da Imprensa Golpista (PIG) durante todo o governo Lula não são nada entusiasmantes, veja a última, publicada no domingo pelo Estadão. As pontes que seus assessores constroem com o movimento social da área num dia, ela dinamita no outro.

É um jeito de fazer política. Há quem goste. Eu acho muito triste que seja assim, principalmente num governo que carrega a história de luta pela democracia como valor. E que tem compromisso com os movimentos sociais e suas lutas.

PS: Para a revista Carta Capital, a ministra responde por email e no fim do fechamento. Para veículos da mídia independente, não fala. Com os veículos do PIG, Ana se derrama em entrevistas. Repito o provérbio da minha querida avó Conceição: “Diga-me com quem andas e te direi quem és”.

a reação da caserna à baderna(?)(sic)

Movimento de 1964 foi “reação contra baderna”, afirmam clubes militares



Movimento de 1964 foi “reação contra baderna”, afirmam clubes militares

Por Vitor Nuzzi, da Rede Brasil Atual

Em nota relativa aos 47 anos do golpe, comandantes dizem que objetivo era evitar regime ditatorial indesejado pela nação

Às vésperas do 47º aniversário do golpe militar brasileiro, os presidentes dos clubes militares (Aeronáutica, Exército e Marinha) divulgaram nota na qual reafirmam que o objetivo daquele movimento foi impedir “a tomada do poder e sua entrega a um regime ditatorial” indesejado pela nação. Regime, a saber, “comunista, atrelado a ideologias antagônicas ao modo de ser do brasileiro”.

Os militares contestam a tentativa de se dar outras explicações para a motivação do movimento que, segundo eles, visava a defender a democracia. “Por maiores que sejam alguns esforços para ‘criar’ uma versão diferente da real, os acontecimentos registrados na memória dos cidadãos de bem e transmitidos aos seus sucessores são indeléveis, até porque são mera repetição de acontecimentos similares registrados em outros países”, diz o documento.

Datado de 24 de março, uma semana antes do aniversário do golpe – em 31 de março, segundo os militares, ou 1º de abril – o manifesto é assinado pelos presidentes do Clube Militar, general Renato César Tibau da Costa, do Clube Naval, vice-almirante Ricardo Antônio da Veiga Cabral, e do Clube de Aeronáutica, tenente-brigadeiro-do-ar Carlos de Almeida Batista. Ainda segundo eles, a imprensa “escrita e falada” da época foi implacável no relato dos fatos, “todos inadmissíveis em um país democraticamente organizado”.

A crítica se dirige ao governo e mesmo a líderes militares. “À baderna, espraiada por todo o território nacional, associavam-se autoridades governamentais entre as quais Comandantes Militares que procuravam conduzir seus subordinados à indisciplina e ao desrespeito aos mínimos padrões da hierarquia”.

No texto, não há referências à Comissão da Verdade defendida pelo atual governo, para analisar o período da ditadura brasileira (1964-1985). No final do ano passado, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos (OEA), condenou o Brasil por crimes cometidos pela ditadura na região do Araguaia, nos anos 70.


Leia outros textos de Outras Palavras

passagem gratuita para alunos do ensino médio da Capital

Vou à Escola para o Ensino Médio vira realidade

Vereadora Sofia Cavedon

foto jonathan heckler /cmpa
Após seis anos, entre trâmites legais e construção do projeto, a vereadora Sofia Cavedon (PT), presidente da Câmara de Porto Alegre, comemora a instalação do projeto piloto do Programa Vou à Escola, que, através da Lei Municipal 10.996, sancionada ano passado, estende a passagem gratuita para os alunos do ensino médio da Capital.

Sofia, autora da Lei junto com a então vereadora, deputada Manuela D’Ávila (PcdoB), destaca que foram anos de construção na busca de viabilizar a proposta, a partir do Legislativo Municipal, em conjunto com os conselheiros tutelares e comunidade escolar. “Foram inúmeras reuniões e debates, na Secretaria Municipal de Educação, no Ministério Público, na Comissão de Educação da Assembleia Legislativa e na Comissão de Educação da Câmara (Cece), onde somente em 2010 realizamos três encontros para discutirmos a implantação do projeto”, lembra a vereadora.
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Para Sofia, o reconhecimento da necessidade da implantação do Vou à Escola, pelo governador Tarso Genro e secretário estadual da Educação, José Clovis de Azevedo, preservará nos estudos dois mil alunos, com até 24 anos de idade, que estão sendo beneficiados.
Nesta primeira etapa foram priorizados os alunos que possuíam o beneficio em 2010 e os alunos da Escola Júlio de Castilhos (Julinho), que preencheram os critérios socioeconômicos e que não conseguiram vaga em escola próxima da sua residência.

Vou à Escola

O Vou à Escola será aplicado apenas no caso de não existir vaga disponível em escolas públicas próximas às residências. O aluno deverá ter idade entre sete e 24 anos incompletos e residir em Porto Alegre, a renda familiar per capita da família deve ser de até meio salário mínimo nacional, e a distância entre escola e residência do aluno deve ser:

De, no mínimo um quilômetro, quando o aluno tem de sete a dez anos incompletos;
1,5 quilômetro, para alunos de dez a 14 anos incompletos;

e 2 quilômetros (diurno) / 1,5 quilômetro (noturno), para estudantes de 14 a 24 anos incompletos.
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Cronograma

2005 - Protocolado na Câmara Municipal no dia 06 de abril.
2006/2007 - Tramitou nas Comissões da Câmara Municipal

2008 - Em abril os conselheiros tutelares denunciam na Cece a falta de mais de 650 vagas nas escolas da Capital. Durante o ano a Comissão realiza mais três audiências para debater o tema. A vereadora Sofia, presidente da Cece na época, realiza várias reuniões com a Smed, avançando na proposta.

2009 – A Comissão de Educação da Assembleia Legislativa realiza Audiência Pública, onde Sofia Cavedon apresenta e defende o projeto de Lei de extensão do Vou à Escola para o ensino médio. A Comissão de Educação da Câmara Municipal inicia uma série de visitas aos Centros Regionais e às escolas apontadas com dificuldade de encaminhar os alunos ao Programa. Várias tentativas foram feitas para apresentar o projeto a Secretaria Estadual de Educação.

2010 – Comissão de Educação da Câmara realiza mais audiências aprimorando o projeto. Em agosto é aprovado no Legislativo Municipal. Em 07 de dezembro é sancionado pelo Prefeito. Na construção do programa de governo da Unidade Popular pelo Rio Grande, Sofia , também coordenadora da Setorial de Educação do PT/RS, conquistou a inclusão do Vou à Escola como projeto a ser desenvolvido pela gestão Tarso Genro.

2011 – No exercício de prefeita, a vereadora Sofia reúne-se com o secretário estadual da Educação, José Clovis de Azevedo, confirmando a iniciativa de implantar um projeto piloto em Porto Alegre. Também como prefeita, Sofia encontra-se com o governador Tarso Genro, que acolheu a ideia. Em fevereiro, a presidente da Câmara apresenta o Vou à Escola, em Brasília, ao coordenador do Transporte Escolar do Ministério da Educação. Em 30 de março, é instalada, pela Seduc e Smed, a Comissão Coordenadora do Projeto Piloto do Vou à Escola.