segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

é que eu sou de porto alegre...

Boçalidade, conivência e o guarda da esquina



Adão Paiani (*)

É inacreditável o que aconteceu durante a marcha dos ciclistas em Porto Alegre, no final da tarde da última sexta-feira (25/02). Inacreditável mas, infelizmente, real.

Em qualquer país sério do mundo um episódio bárbaro desses teria repercussão muito maior, merecendo resposta mais adequada dos órgãos públicos competentes; que não apenas declarações de um Delegado de Polícia tentando justificar uma atitude boçal; colocando no mesmo patamar agressor e vítimas, sem nem ao menos ter ouvido qualquer uma das partes.

O mais lamentável de tudo é que tal Delegado – absolutamente sem noção – é justamente o responsável pela delegacia que investiga delitos de trânsito; pelo que se pode até entender as razões pelas quais crimes desse tipo acabam sendo tratados de forma, muitas vezes, tão benevolente; o que só acaba por incentivar o massacre cotidiano que vivenciamos nas ruas e estradas deste Estado e do país.

Ao fazer um juízo de valor totalmente antecipado, e que desqualifica qualquer investigação séria, o Delegado Titular da Delegacia de Delitos de Trânsito de Porto Alegre certamente deve ter se identificado com o condutor do automóvel; que se julgou no direito de atropelar dezenas de pessoas, pelo simples fato de que elas estavam “atravancando” seu caminho, na hora e no momento errado. Naquele momento, era ele, o motorista, em sua pressa, investido do papel de Deus e a máquina que dirigia, covarde e irresponsavelmente. Nada mais importava.

Ainda que possamos dar ao motorista o benefício da dúvida; uma vez que ele alega ter agido em legítima defesa, ao ser agredido antes por alguns dos integrantes da marcha, e que estava ao seu lado, no veículo, seu filho menor de idade – aliás, que belo exemplo um pai dá ao filho com uma atitude dessas -; nada pode justificar um revide com tamanha violência. E cabe à autoridade policial conduzir o inquérito com um mínimo de isenção, ou se afastar dele, dando-se por impedido.

Nada explica, convincentemente, que um agente público, investido do poder de polícia, se coloque desde o primeiro momento de forma tão vergonhosamente parcial ao lado de alguém que, dolosamente, atentou contra a vida de dezenas de outras pessoas. Sim, dolosamente, pois as imagens e os depoimentos que vimos e ouvimos até agora só nos permite ter a percepção de que estamos diante de tentativa de homicídio, e não apenas de lesões corporais, como já antecipou o entendimento do responsável pelo inquérito. Tentativa de homicídio, nada menos do que isso. Mas pelo que se extrai de suas declarações, não vamos duvidar que o delegado acabe por indiciar as vítimas por terem atropelado, de costas, o veículo e seu condutor.

É aquela velha história. O problema, muitas vezes, não é o governo, mas o guarda da esquina. A postura tomada por um agente da lei, que deveria, na dúvida, agir em benefício da sociedade, mas se porta de forma tão escandalosamente favorável ao ensandecido condutor de um veículo que, ao utilizá-lo como arma, colocou em risco a vida e a integridade física de dezenas de cidadãos; acaba por acaba por desconstruir todo um discurso de governo que se julgava comprometido em estabelecer uma política séria de combate a violência no trânsito.

E o estrago, nesse caso, não se resume apenas às bicicletas retorcidas, aos corpos estirados no chão de uma via pública; feridos física e moralmente por um ato de insanidade. Tem a ver com a consciência que o Estado, por seus agentes, deve ter do seu papel na defesa de todos os seus cidadãos. Tem a ver com credibilidade. Tem a ver com a vontade manifesta de transformar discurso em prática cotidiana.
E isso não pode ficar a cargo do guarda da esquina.

(*) Advogado

Charge: Kayser

un obrero

Homenaje a Luiz Inacio 'Lula' Da Silva -
Subt. Español


e precisam elogiar a Dilma para falar mal dele, coitados...

Lula em vídeo argentino:
mãe protege o mais fraco. Ele também


O Conversa Afiada recomenda assistir a um documentário – muito bem feito – sobre Lula.

O documentário da TV Pública argentina sobre Lula está em http://www.youtube.com/watch?v=SnpIuZ5ISlo : “El ciclo ‘Presidentes de Latinoamérica debutó en la Televisión Pública de Argentina (http://www.tvpublica.com.ar/tvpublica/) de la mano de Luiz Inacio “Lula” Da Silva, primer mandatario de la República Federativa del Brasil.”

É um longo depoimento do Nunca Dantes sobre ele mesmo e seu Governo.

Diz ele: o melhor exemplo de governança você não aprende em livro nenhum.

Aprende com a mãe.

Ela gosta de todos os filhos, mas protege o mais debilitado.

Se precisa dar um pedaço a mais de carne para o mais debilitado, ela dá.

E ainda querem elogiar a Dilma para falar mal dele.

Engraçado !


Paulo Henrique Amorim

Homenaje a Luiz Inacio 'Lula' Da Silva - Subt. Español

você é do time quando o pior é melhor(?)

Miriam não corta Minha Casa nem PAC



Miriam não cortou onde não era para cortar

A Ministra Miriam Belchior do Planejamento e Guido Mantega da Fazenda anunciaram onde será aplicado o corte de R$ 50 bi no Orçamento.

Imediatamente, o PiG (*) se apressou em anunciar a catástrofe.

Para o Globo, o PAC vai empacar:.

Para a Folha (**), o Minha Casa Minha Vida vai acabar.

A presidenta Dilma Rousseff anunciou que os cortes não afetariam o PAC nem o Minha Casa.

Não haverá cortes no Minha Casa.

Ao contrário, haverá um acréscimo de R$ 1 bilhão.

Este ansioso blogueiro conversou com a Ministra Miriam Belchior por telefone e ela explicou que a redução se deve ao fato de só na virada de abril para maio o Congresso analisará a Medida Provisória que autoriza a segunda etapa do Minha Casa.

O Ministério do Planejamento não poderia gastar o que o Congresso não autoriza.

Isso aqui não é a Líbia.

Porém, apesar disso, o Planejamento colocou R$ 1 bi a mais sobre o gasto do ano passado, quando foram construídas 700 mil casas.

Não há o risco de a meta de 2 milhões de casas em quatro anos não ser conseguida.

E sobre o empacamento do PAC, uma espécie de desejo secreto do PiG (*) e dos adeptos do quanto pior melhor ?

Zero de cortes.

“Não há um centavo sequer de corte, zero !,” disse a Ministra.

Portanto, ainda não é dessa vez que os urobólogos do PiG (*) conseguirão derrubar a economia.

Ouça abaixo a entrevista na íntegra com a Ministra Miriam Belchior:



Paulo Henrique Amorim


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.


(**) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

comprar, descartar, comprar

A economia do desperdício

Diário Gauche




"Comprar, Descartar, Comprar - A história secreta da Obsolescência Programada".

Que tal uma lâmpada incandescente que funciona desde 1901, quando hoje elas duram menos de mil horas? A proposta - durante a crise de '29 - de tornar obrigatória a obsolescência programada em nome da defesa do pleno emprego.

As grandes alavancas da sociedade de consumo/desperdício: a publicidade, o crédito e a obsolescência programada. Impressoras domésticas com um chip programado para "matá-la" depois de um certo número de cópias. O mega cemitério de gadgets descartados criminosamente no litoral de Gana.

A Natureza não produz resíduos, mas nutrientes. Não é hora, pois, de imitá-la?

Hoje, consumimos 26 vezes mais do que no tempo de Marx, mas será que somos 26 vezes mais felizes?

Veja o vídeo catalão de 52 minutos e responda você mesmo.

Vídeo pescado do blog Sátiro-Hupper

CPMF já!

Não adianta chorar: a CPMF vai voltar.
Lugar de médico é no Saúde da Família

Saiu na Carta Capital desta semana, pág. 32, imperdível artigo de Adib Jatene, que foi Ministro da Saúde de Collor e Fernando Henrique (e, portanto, conheceu o Cerra de perto).

“Desigualdade na escassez – além de faltarem médicos eles estão mal distribuídos pelo Brasil.”

Jatene mostra, primeiro, que as capitais brasileiras estão bem atendidas de médicos.

O problema é a distribuição dos médicos e dos hospitais entre as áreas pobres e ricas das capitais.

O caso de São Paulo (também conhecido como Chuíça (*) ) é uma decepção.

Nos 25 distritos de áreas mais ricas – conta Jatene -, onde moravam, em 1999, 1,8 milhão de pessoas, havia 13 leitos por mil habitantes.

Nas áreas pobres de 39 distritos – onde alaga por obra de Deus (segundo Cerra) e da chuva (segundo Kassab) -, onde moravam 4 milhões de pessoas, NÃO EXISTIA NENHUM LEITO !!! (ênfase minha – PHA).

E o Nelson Johnbim dizia (será que ainda diz ?) que o Cerra foi o melhor Ministro da Saúde da História do Brasil !

Jatene trata também do programa que lançou, o “Saúde da Família” (esse, o Cerra não disse que era de autoria dele), que já recrutou mais de 250 mil agentes e cobre mais de 85 milhões de habitantes.

Uma beleza !

Mas, o programa precisa ser duplicado !

Aí, Jatene tem uma ideia (sempre) brilhante !

Que os médicos estagiassem por um ou dois anos no Saúde da Família, no estado em que se graduaram.

Seria um pré-requisito para a residência médica.

Assim, se criarão 30 mil equipes do Saúde da Família e o déficit será zerado.

(Cuidado, Dr Jatene ! Daqui a pouco o Cerra vai lhe tomar a ideia, como tentou tomar o programa anti-Aids.)

No Estadão de hoje, na pág. A6, o ministro Alexandre Padilha, da Saúde, informa: “Precisamos de uma regra que garanta investimentos crescentes” na saúde.

“ … para que haja uma regra estável, permanente, para os governos dos estados, municípios e a União.”

Omo se sabe, quem tirou o remédio da boca das crianças e acabou com a CPMF foi um nobre conjunto de grandes brasileiros.

À frente, o Farol de Alexandria, que jamais se conformou com o sucesso do Nunca Dantes, e jogava e joga no quanto pior, melhor.

Na centro do ataque, Arthur Virgilio Cardoso, líder de FHC no Senado, que o povo do Amazonas resolveu premiar.

O povo do Ceará também premiou Tasso tenho jatinho porque posso pela atuação brilhante na CPMF.

Do lado da “sociedade civil”, Paulo Skaf, então presidente  da FIE P (**) foi o líder máximo.

Como se sabe, uma das virtudes da CPMF é combater o “caixa dois”, que, em São Paulo, é conhecido pelo codinome de “bahani”.

Esses foram os barões de Plutarco que tiraram o remédio da boca das crianças.

O Ministro Padilha saiu à frente da discussão sobre a volta de uma CPMF.

Parece, porém, que os governadores, como Cid Gomes, do Ceará, por exemplo, é que vão, antes da Dilma, defender uma CPMF.

Até onde este ansioso blogueiro – clique aqui para ler o que o Oráculo de Delfos acha dessa ansiedade, no post “Dilma vai fazer a Ley de Medios” – se informou, a idéia é  re-criar uma CPMF e aliviar a carga fiscal de outro lado.

Tira imposto de um lado e põe remédio na boca das crianças.

E carga fiscal não muda.

Assim, São Paulo, essa grande construção tucana, poderá construir leitos na Soweto.

Clique aqui para ler sobre a “sowetização de São Paulo”, que se agrava quando chove, como hoje.

(Está tudo alagado.)

(De tucano, só o bico consegue ficar acima d’água.)


Paulo Henrique Amorim


(*) Chuíça é o que o PiG de São Paulo quer que o resto do Brasil ache que São Paulo é: dinâmico como a economia Chinesa e com um IDH da Suíça.

(**) Este Conversa Afiada chama a FIESP de FIE P. Sem o “s”. É uma tentativa de identificar o verdadeiro propósito da campanha da FIE P contra a CPMF. Apagar o “S” de “$”.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

piso nacional no rs

Educação: piso nacional no RS será cumprido de forma processual


Após participar de encontro com o diretorio estadual do PT, o governador do Estado afirmou que o cumprimento do piso mínimo nacional para os professores se dará de forma processual, conforme o acordo feito com o Cpers/Sindicato. Tarso Genro salientou que se houvesse R$ 3,6 bilhões à disposição do Estado, segundo o anúncio de déficit zero feito pela a ex-governadora, mas não existe esse montante nos cofres públicos, as condições seriam outras. De acordo com a previsão da Secretaria Estadual da Fazenda, há um déficit de R$ 150 milhões, em 2010, e R$ 1 bilhão a pagar referentes a anos anteriores. A expectativa é fechar o ano com o déficit de R$ 550 milhões, já que para março o cálculo está estimado em R$ 170 milhões.

O governador Tarso Genro vai se reunir, nessa segunda-feira (28), com o Cpers/Sindicato para tratar de 17 itens, sendo que o primeiro da lista de discussões é o piso mínimo nacional. Conforme a presidente do Cpers/Sindicato, o compromisso do governador foi feito na campanha e, por isso, haverá a exigência do piso mínimo. Segundo Rejane de oliveira, o salário é de R$ 1.187,00 para quem cumpre 40 horas e R$ 593,00 para quem trabalha 20 horas semanais. Atualmente a base por 20 horas é pouco mais de 300,00.

Rejane de Oliveira ainda destacou que a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) discorda do percentual de reajuste para o novo piso nacional. O entendimento é de que o valor correto seja de R$ 1.597,00 e, no Estado, que tem como base 20 horas, o valor corresponderia a R$ 789,00.

a gente pensa em como a conheceu

O grande Moacyr Scliar

Correio do Povo

Juremir Machado da Silva

Morreu Moacyr Scliar.
Os bons partem quase sempre na frente.
Quando morre uma pessoa como Scliar, a gente pensa em como a conheceu.

Eu eu era jovem repórter esportivo na Zero Hora.
Tinha pretensões ao jornalismo cultural.
Estava preparando uma matéria sobre o Bom Fim.
Nílson Souza, meu editor, sugeriu-me falar com o Scliar.
Mandei-lhe um recado pelo precursor do e-mail, uma espécie de intranet que era a grande sensação do jornal em fase acelerada de informatização. Pedi-lhe um material.

Uma tarde, um senhor magro e de barbicha rala surge na minha frente estendendo um envelope.

Olho para ele sem entender.

Depois de alguns minutos, ele ri:

– Sou o Moacyr Scliar, cara.
Fiquei boquiaberto. Quase pedi um autógrafo.
Anos depois, ele me convidou para tomar um café, em Paris. Às oito da manhã.

E aí me deu um conselho: "Briga sempre pelo que acreditas, mas, em caso de alguma derrota, ri".
Muitas vezes Scliar tentou abrir caminho para meus livros.

Nos últimos dois anos, tive a sorte de encontrá-lo algumas vezes.
Uma delas, no Rio de Janeiro, no aeroporto. Ele me ofereceu uma carona:

– É para te acostumares com o carro da Academia Brasileira de Letras.
Uma vez, desembarcamos juntos em São Paulo.

Meu velho amigo gaúcho radicado em Sampa Bernardo Issler estava me esperando.

Ao vê-lo, Scliar disparou:
– Não esquece de devolver o meu livro.
– Fica tranquilo – riu o Bernardo.
No carro, perguntei ao Bernardo:
– Quanto tempo faz que ele te emprestou esse livro?
– Vai fazer 50 anos.

Minha lembrança mais engraçada de uma conversa com Scliar, de quem reli nestas férias o grande "Mes de cães danados", foi num dos meus momentos de dúvida. Conversávamos ao telefone:

– Estás escrevendo cada vez melhor, Juremir.
– É, Moacyr, mas ninguém me considera escritor.
– Posso te mandar um certificado.

Moacyr Scliar foi um craque do humor, da narrativa fina e da sutileza interpretativa da alma humana.
Na última vez que o vi, ano passado, estávamos, na Feira do Livro, ele, Sinval Medina e eu, dividindo uma mesa sobre a revolução de 30, que completava 80 anos. Medina com seu "A batalha de Porto Alegre", eu com "1930, águas da revolução", e ele com seu belo "Eu vos abraço, milhões". A sala não estava cheia. Scliar ironizou:

– Acho que 80 anos não é um bom número. Dentro de 20 anos, haverá mais público.
Postado por Juremir Machado da Silva - 27/02/2011 09:28 - Atualizado em 27/02/2011 16:56

fim de férias... because the nigth

Bruce Springsteen  "Because The Night"




Patti Smith's "Because the Night"




10,000 Maniacs "Because The Night"

Moacyr Scliar

Aos 73 anos, morre o escritor Moacyr Scliar


Brasil Atual

Por: Milton Ribeiro, do Sul21

Porto Alegre - O escritor gaúcho Moacyr Scliar morreu na madrugada deste domingo (27) por falência múltipla de órgãos.

O escritor foi internado no início de janeiro para uma cirurgia de extração de tumores no intestino. Enquanto se recuperava da operação, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) no dia 16 de janeiro e foi encaminhado o para a UTI do Hospital das Clínicas de Porto Alegre.

Seu corpo será velado neste domingo a partir das 14h, no salão Júlio de Castilhos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. O sepultamento será na segunda-feira.

Moacyr recebeu três vezes o prêmio Jabuti, em 1988, 1993 e 2009, assim como prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte em 1989 e o Casa de las Americas em 1989.

Uma vida em torno da literatura e da medicina

Filho de José e Sara Scliar, imigrantes oriundos da Bessarábia (Rússia), Moacyr Scliar nasceu em Porto Alegre em 23 de março de 1937. Foi alfabetizado pela mãe, que era professora primária e o incentivou a ler e escrever. Em 1955, passou a cursar a faculdade de Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde se formou em 1962, ano em que publicou o livro História de um Médico em Formação, o primeiro da extensa bibliografia. São 74 livros abrangendo o romance, a crônica, o conto, a literatura infantil e o ensaio. Ele ainda foi colunista de jornais e teve textos adaptados para o cinema, teatro, tevê e rádio.

Sua obra foi marcada pela aproximação com o imaginário fantástico e com a investigação da tradição judaico-cristã, tendo como temas dominantes a realidade social da classe média urbana no Brasil, a medicina e o judaísmo. Scliar teve livros publicados em diversos países, como Alemanha, Israel, Estados Unidos, Rússia, Franças, entre outros. Na carreira médica, ele especializou-se em saúde pública, fez curso de pós-graduação em Israel e tornou-se doutor em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública. Moacyr Scliar casou-se em 1965 com Judith Vivien Olivien, com quem teve um filho, Roberto.

ABL

Em 31 de julho de 2003, Scliar foi eleito, por 35 dos 36 acadêmicos com direito a voto, para a cadeira de nª 31 da Academia Brasileira de Letras (ABL), substituindo a Geraldo França de Lima. O escritor gaúcho tomou posse em 22 de outubro daquele ano, sendo recebido pelo conterrâneo Carlos Nejar.

No discurso de posse na Academia, Scliar disse que oferecia a nomeação aos pais, “emigrantes que lutaram duramente e que me ensinaram a lutar também, e a acreditar. Como um dia acreditou na literatura aquele gurizinho do bairro do Bom Fim que, de algum lugar do tempo, me olha com seus grandes olhos, um olhar de admiração e de espanto à qual junto, neste momento, a gratidão de toda a minha vida”.

Seus principais livros são A guerra no Bom Fim, O exército de um homem só, O centauro no jardim e Os deuses de Raquel.

não permitir a tentativa do mais forte se impor

Juiz aplica Lei Maria da Penha para casal homossexual no RS

 
Por Jorge Seadi*

A Lei Maria da Penha foi criada para proteger a mulher de agressões domésticas. Porém, na última quarta-feira 23, o juiz  Osmar de Aguiar Pacheco, da comarca de Rio Pardo (144km de Porto Alegre) determinou a aplicação desta lei para um casal de homossexuais em um que um homem se diz ameaçado por seu ex-companheiro.

Em seu despacho, o magistrado afirma que embora a Lei Maria da Penha tenha sido criada com o objetivo de defender a mulher, pode ser aplicada neste caso. ” Todo aquele em situação vulnerável, ou seja, enfraquecido, pode ser vitimado. O Direito não pode permitir a tentativa de o mais forte se impor pela força”, escreveu Osmar Pacheco.

A decisão do juiz impede que o acusado se aproxime a menos de 100 metros da vítima. Além de proibir a aproximação, o juiz reconheceu a competência do Juizado de Violência Doméstica para cuidar do processo.
*Matéria publicada originalmente no Sul21

as mulheres do Egito

As mulheres da Praça Tahrir

Revista Fórum


Durante todo o processo que levou à queda de Mubarak, as egípcias participaram ativamente das manifestações. Elas voltaram à praça nesta terça-feira, para continuar a luta por “democracia, melhores condições de vida e liberdade” e demonstrar solidariedade à vizinha Líbia.

Por Adriana Delorenzo, do Cairo

A Praça Tahrir, principal palco da ‘revolução’ do Egito, foi de novo ocupada por manifestantes nesta terça-feira, 22. Nada comparado à quantidade de gente dos 18 dias de protestos que derrubaram Mubarak, mas isso não significa dizer que havia pouca gente por lá. E hoje, como em todos os outros dias, segundo os manifestantes, havia muitas mulheres na Praça.

A maioria delas usa hijab ou niqab. O primeiro é um véu que cobre apenas a cabeça e é usado em diferentes cores, estampas e modelos. Já com o segundo, só é possível ver os olhos da mulher. Poucas são as que não usam um dos dois. Mas com ou sem véu, as mulheres se revezam com os homens no grito das palavras de ordem e nos discursos.

“Mubarak caiu, mas não significa que o sistema mudou, por isso estamos aqui”, diz Nour Kamel, publicitária de 23 anos. “Hoje também estou aqui para apoiar o povo da Líbia.”

O dia 25 de janeiro foi o primeiro protesto na vida de Nour, desde então ela está participando das manifestações. Ela contou que ficou sabendo do movimento pelo Facebook e decidiu ir. “No primeiro dia que eu vim, minha família ficou muito preocupada”, afirma.

Mas ela diz que, apesar dos confrontos com a polícia, quem estava na Praça era muito solidário e colaborativo. “As pessoas aprendiam e ensinavam umas com as outras, estavam lutando pelo que realmente queriam.” Sobre a participação feminina, explica que não viu qualquer tipo agressão ou violência sexual. Diz ainda que em todas as manifestações esteve sozinha e que sempre foi tratada com respeito.

Já a egípcia Marwa Mohamed , 27 anos, estava na Praça pela primeira vez hoje. Ela mora perto do local e viu todo o movimento pela janela da sua casa. “Queremos democracia e liberdade, não só no Egito, mas na Líbia, Iraque, em todos os países árabes”, diz ela. “Vi muitas pessoas morrerem da janela do meu apartamento, na frente dos meus olhos, chorei muito".

Os egípcios estimam que 300 pessoas tenham sido mortas devido à repressão policial. Na Praça Tahrir, muitos cartazes homenageiam esses ativistas. Quase todos jovens. E não só homens, também mulheres.

Mohamed, um senhor que estava na praça nesta terça-feira, contou que se engajou no movimento no dia 28. “Quem veio primeiro foi minha filha, no dia 25 de janeiro. Ela viu no Facebook e veio. Ficava ligando o tempo todo para saber se ela estava bem. Tenho maior orgulho dela”, diz ele.

Foto por Adriana Delorenzo

se eu avisar as autoridades eu posso ser livre

A idolatria da máquina e o atropelamento de ciclistas


Eu estava fora de Porto Alegre quando fiquei sabendo do absurdo que aconteceu em Porto Alegre sexta-feira no fim da tarde. Fora de Porto Alegre, quase sem internet e praticamente sem ver TV, tanto que acabei sabendo apenas no sábado, pela Zero Hora. Além de indignada, fiquei preocupada e liguei na hora para um amigo que participa sempre da Massa Crítica. Por sorte nesta última ele se atrasou e chegou só depois que o estrago já estava feito. Também por sorte, o tempo estava feio e tinha menos gente. Principalmente, não tinha crianças.


Mas outras pessoas estavam lá e se machucaram. Meu amigo me passou o contato de outro ciclista, que participava pela primeira vez, com quem conversei por telefone e cujas declarações coloquei aqui ontem. Mas faltou dizer algumas coisas. Faltou constatar, por exemplo, que Porto Alegre segue a cultura do resto do país, imitada dos americanos, em boa parte. A idolatria do carro confere aos motoristas a sensação de poderes especiais.

Passei toda a infância e a adolescência sem carro. Meus pais andavam de ônibus, e era assim que eu ia e voltava do colégio. Que era particular, o que fazia com que eu fosse um dos poucos alunos que usavam estritamente o ônibus como meio de transporte. Nunca me deixei abalar, mas eu sempre parecia meio pouco perto dos outros. Uma bobagem tremenda.

Como nosso transporte público é deficitário, deixei de aproveitar muitas coisas porque o passeio se tornaria uma indiada de troca de ônibus, que são demorados nos fins de semana, e eu levaria horas para chegar a alguma atividade mais distante. Indo de táxi, sairia uma fortuna; a grana era curta.

Quando já tinha mais de 20 anos, aprendi a dirigir na auto-escola na mesma época em que minha mãe comprou um carro. Foi aí que ela veio me dizer que também tinha uma sensação de inferioridade nos meios em que circulava. São essas sensações veladas, que a gente tem um pouco de vergonha de admitir.
Quando a gente dirige, é automática a sensação de poder. Isso porque o carro é uma máquina poderosa, mas principalmente porque a nossa cultura supervaloriza o automóvel. Vale mais socialmente quem tem carro. É errado. Mas muita gente se deixa levar por isso, e não é preciso ir longe para comprovar. Os pedestres são constantemente desrespeitados, assim como os demais motoristas, as calçadas, as bicicletas. Tudo ao redor é menor. O carro empodera o motorista, que se sente o dono da rua, passível de cometer qualquer infração e, às vezes, crimes, como o de sexta-feira.

Pode parecer que não tem nada a ver, mas todo o problema tem uma mesma origem.

Tudo isso, aliado à sensação – às vezes certeza – de impunidade, causa danos tremendos. Alguns grandes e mais alarmantes, como as tragédias que levam vidas, as que machucam, as que causam danos materiais. Mas também desvirtua nossa sociedade, inverte nossos valores. Não há razão para achar que um carro faz alguém valer mais que o outro. Não há motivo para idolatrar uma máquina que não pensa, não sente, que pode trazer conforto, mas não pode trazer felicidade. Essa mesma máquina é transformada por nós, que lhe atribuimos um valor que não tem e acabamos nos permitindo pequenos pecados. O pecado de xingar o vizinho do carro ao lado porque, afinal, meu carro é maior, poxa. Ou por passar reto sem olhar o pedestre que equilibra sacolas de supermercado sob a chuva e só precisa atravessar a rua para chegar em casa. Os pequenos pecados que nos fazem egoístas, que nos isolam, que nos tornam injustos.

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Recebi por e-mail o texto a seguir, de Alves Rodrigues. Apesar de não concordar com tudo, acho que bate nessa mesma tecla, e vale para reflexão e para impulsionar o debate. Recomendo também “Um tal Sr Volante em POA, espero que um carro a menos”, em que Cíntia Barenho propõe a mesma discussão e acrescenta outros argumentos. Outro bom texto é o “Bicicletas em um Porto não muito alegre”, do Paulo Marques.

Eu não sei o que esses ciclistas têm na cabeça

Por Alves Rodrigues

Tem um maluco solto na cidade. Quer dizer, um só não, tem um monte deles. Mas me refiro a um psicopata em especial. Um que foi visto na noite da última sexta-feira (25), armado de um Golf preto e tentando assassinar o maior número possível de ciclistas participantes do Massa Crítica (movimento gaúcho pela valorização da bicicleta como meio de transporte).

Eu não sei o que esses ciclistas têm na cabeça. Não sei de onde eles tiraram a ideia de que têm o direito de usarem as rua de Porto Alegre sem o prévio consentimento da EPTC. Ora, onde já se viu? Desaforados. Esses caras estão pensando o quê? Que vão mudar o mundo? Não respeitam o sagrado direito de ir e vir (de carro, é claro). As ruas de Porto Alegre e da região metropolitana são para os carros, não são para pedestres, ciclistas, carroceiros, catadores de lixo reciclável e seus carrinhos que dificultam a “mobilidade urbana”. Lugar de ciclista é nos parques. (Na ciclovia transformada em estacionamento é que não pode ser.) Pelo menos é isso que parece pensar o sr. Vanderlei Capellari, diretor da EPTC, que alega que a empresa não foi informada sobre a intenção do grupo de pedalar pelas ruas da Capital. Isso não me parece fazer sentido, e por dois motivos: o primeiro é que o Massa Crítica se reúne toda última sexta-feira do mês já há bastante tempo, fico surpreso com o desconhecimento do senhor diretor; e o segundo é que se essas mesmas pessoas resolvessem se encontrar no mesmo lugar em que se encontraram na sexta-feira, no mesmo horário e percorrerem as mesmas ruas, de carro e não de bicicleta, não precisariam “pedir” nada para a EPTC. Bicicleta não é meio de transporte, não é veículo? Ciclista não é um personagem do trânsito como outro qualquer?

Atropelamento intencional, acreditem, não é tentativa de homicídio, é “lesão corporal”. Ao menos é o que acredita o delegado Gilberto Almeida Montenegro, diretor da Divisão de Crimes de Trânsito de Porto Alegre. Eu juro que pensava que se eu tivesse um carro e o usasse para passar deliberadamente sobre um grande grupo de pessoas, ia acabar me incomodando. Estava enganado. Isso não me causaria problema se essas pessoas estivessem desrespeitando o indiscutível direito de ir e vir dos egoístas mauricinhos de classe média em seus carros financiados a longo prazo. “Aqui não é a Líbia”, disse o delegado, “aqui todos têm liberdade de manifestação, desde que avisem as autoridades”. Quer dizer que é assim? Se as autoridades permitirem eu posso ser livre? Oba, viva a liberdade.

Não deveríamos estar tão surpresos com as declarações destes representantes do Estado. Lembram do jardineiro de Brasília? Se não lembram vou contar. Vou contar aquela história de um ministro (por ironia, Ministro dos Transportes) que voltava, na companhia de seu filho, de um churrasco regado a bebida alcoólica lá na Capital Federal. Dizem que quem dirigia era o filho do ministro, dizem que não tinha bebido. Não sei. Sei apenas que um jardineiro, um trabalhador, foi atropelado e abandonado caído no asfalto. Ficou lá, não teve assistência dos atropeladores. Julgados, pai e filho foram inocentados da acusação de omissão de socorro. A Justiça (cega) concluiu que por estar a vítima já morta, não havia mal nenhum na atitude dos atropeladores de irem para casa e de lá ligarem para a polícia. Ninguém foi preso, mas, magnânima, a Justiça “condenou” o réu, o filho do ministro, ao pagamento de algumas cestas básicas. Eu sei que a Justiça tem de ser cega, mas não acho que devesse levar a coisa tão ao pé da letra.

O caso do atropelamento em massa aqui de Porto Alegre parece que seguirá pelo mesmo caminho. Mesmo antes da identificação do atropelador, Polícia Civil e EPTC já encontraram alguém para culpar: as vítimas.
Parecia bobagem a figura que eu fiz no post anterior, aquele sobre o metrô de Porto Alegre, mas podem acreditar que é assim mesmo que pensam as autoridades quando falam de mobilidade urbana. Em suas mentes, a imagem de ruas repletas de carros circulando sem serem atrapalhados por pedestres ou outras formas de transporte é a imagem da cidade ideal, moderna, desenvolvida. Quem sabe, quando construírem o tal metrô, não construam também, paralelo aos trilhos, uma ciclovia? Ficaria perfeito. Lugar de ciclista, nas modernas metrópoles capitalistas do Brasil do terceiro milênio, é junto com os trabalhadores: debaixo da terra. O cara do Golf preto só quis ganhar tempo e mandar os ciclistas pra lá de uma vez, não teve paciência de esperar o metrô ficar pronto.

a revoltação contra a múmia mubarak

A graça da revoltação

Revista Fórum


Talvez nem "revolta", nem "revolução", sejam as denominações justas, devido a suas velhas conotações militares e ideológicas. O que nos leva a pensar numa invenção linguística de Antonio Conselheiro no manuscrito que deixou: "revoltação". É a indignação forte que se propaga por contágio verbal e conduz a uma ação coletiva, como vem se dando no mundo árabe.

Por Muniz Sodré
A imprensa parisiense fez pouco caso de uma manifestação estudantil na Place de la Concorde, na primeira semana de fevereiro, em que os jovens agitavam cartazes com a palavra de ordem Dégages! O alvo era o presidente Sarkozy. A expressão significa "cai fora", "sai da frente", por aí. O mais comum seria a popular foutez l´camp ("dê o fora") nos cartazes. Mas era uma maneira de devolver ao presidente francês o insulto por ele lançado ao jovem que se recusou a lhe apertar a mão numa de suas recentes aparições públicas. Destemperado, Sarkozy gritou ao refratário: Dégages, pauvre con! Ou seja, algo como "cai fora, babaca".

Isso, claro, foi largamente explorado pela mídia. Sarkozy herdou algo da grossura dos velhos líderes de direita, paradigma mussoliniano, bem diferente do que agora acontece, por exemplo, com Marine Le Pen (filha do dito cujo), que sabe falar à mídia doucement, como agrada aos franceses, sem o estilo paquidérmico do pai. Sarkozy, não: fora o lado Carla Bruni, ele é seco como uma baguette dormida. Era ministro do Interior quando, a propósito de manifestações vigorosas de imigrantes, declarou que era preciso cachériser os subúrbios de Paris. O verbo é grosseiro: significa limpar a sujeira com jatos de água.

Na Concorde, entretanto, além da resposta simbólica dos estudantes, havia uma clara repercussão dos acontecimentos no mundo árabe, que muito vêm mobilizando a mídia e o meio intelectual francês. O que ali se sugeria era, sem mais nem menos, que Sarkozy tivesse o mesmo destino pretendido para Ben Ali (Tunísia), Mubarak (Egito) et caterva, ou seja, "cair fora" do poder.

Invenção linguística de Antonio Conselheiro

Há um toque risível na demanda porque a situação não é a mesma das ditaduras no mundo árabe. Mas no pequeno episódio transparece um fenômeno que tende a crescer em amplitude, em função das novíssimas ferramentas da comunicação, isto é, a internet com suas muitas possibilidades expressivas em rede. O contato imediato entre os indivíduos está, como bem se sabe, levando a sociedade contemporânea a ganhar um novo tipo de autonomia, que tem menos a ver com independência nacional do que com uma espécie de "interdependência global". Trata-se de relações que passam ao largo dos canais tradicionais do Estado, confluindo para o espaço virtual das redes. Em vez de "relações internacionais" – que se dão entre Estados – vale pensar em "relações intersociais", mantidas entre associações e cidadãos comuns, em qualquer escala de distância.

É prudente não se deixar levar longe demais pela euforia cidadã frente aos acontecimentos na Tunísia e no Egito (não se pode subestimar o potencial da reação conservadora, nem dos interesses econômicos e militares em jogo), mas o que ali ocorre não pode deixar de mobilizar uma forma de consciência mundial em jovens e adultos. Se antes um "bem" necessário era público e nacional, agora ele é deve ser mundial.

Talvez nem "revolta", nem "revolução", sejam as denominações justas para esses eventos, devido a suas velhas conotações militares e ideológicas. O que nos leva a pensar numa invenção linguística de Antonio Conselheiro (ele mesmo, o "gnóstico bronco" de Canudos) no manuscrito que deixou: "revoltação". É a indignação forte que se propaga por contágio verbal e conduz a uma ação coletiva, como vem se dando no mundo árabe.

Estado treme nas bases

Essa primeira "revoltação" do mundo globalizado pode ser entendida como um movimento de massa que dispensa organização política, liderança carismática etc. É lícito pensar, no caso egípcio, em organizações como a Irmandade Muçulmana, ou em figuras influentes como Mohamed El-Baradei, o Prêmio Nobel da Paz. Mas nada disso foi decisivo para o que ocorreu. Eles apenas tomaram carona no "bonde" em movimento, cujo motor é o "tsunami" social, vindo de baixo, inesperado e convulsivo como uma força natural. Se, para as potências mundiais, Hosni Mubarak se afigurava como garantia de paz na região, para as massas ele era tão-só o congelamento das coisas, a "placa tectônica" a ser abalada por uma erupção vital.

Quem quiser dar tratos à bola marxista, poderá ensaiar explicações à luz da luta de classes, o que também é viável. O que será difícil de negar, entretanto, é que essa nova forma de autonomia das massas, por mais flutuante (termo criado pela professora Raquel Paiva para um certo tipo de minoria social) ou efêmera que pareça, tem um eixo comunicacional que não se engata diretamente na arquitetura explicativa do tipo infraestrutura/superestrutura.

Há uma dimensão sócio-comunicacional (propiciada pelas redes) em que se dá um intercâmbio instantâneo entre o local e o global capaz de desestabilizar a excessiva rigidez do social. O Estado e seus aparelhos podem manter o poder repressivo, mas o xis do problema é que, como nenhum poder se garante apenas pela força (a hegemonia consensual é indispensável), os canais tradicionais de consenso estão tremendo nas bases.

Historinha sintomática

Tremor, tsunami e temor: os jovens estão aí, como sempre (maio de 1968 em Paris, Praça Tianmen em Pequim, caras-pintadas em Brasília etc.), transmitindo aos mais velhos a pedagogia da inquietude. A ironia só se dá na escuta, certo, mas pode ser muito pedagógica. É parente do riso que, na visão de Henri Bergson, resulta da crítica afetiva a uma rigidez externa. Por exemplo, a rigidez da mumificação em que parecia ter se convertido a sociedade egípcia por efeito da múmia viva com aspirações a faraó chamada Mubarak.



Daí, a lição irônica e risível dos jovens franceses na Concorde. Sarkozy não é nenhum Obama, para quem "o Egito mostra que nós podemos ser definidos por uma humanidade comum". Também não chega a ser um Mubarak, mas se sair não faz falta – é o que queriam dizer os cartazes de Dégages! O riso é também uma mensagem implícita aos autocratas árabes, aqueles de longa barba: é bom botar as barbas de molho!



Ah, sim, em plena manifestação na Concorde, circulava uma historinha sintomática. Nela, Mubarak se encontra no outro mundo com Sadat e Nasser, longevos no poder antes dele, assassinados. Nasser diz: "Morri envenenado"; Sadat: "Morri de tiro"; Mubarak: "Morri de Facebook..."



Faz todo sentido.



Publicado por Observatório da Imprensa. Foto por http://www.flickr.com/photos/home_of_chaos/.



tu risa me pone livre...

Serrat
Nanas de la cebolla - Poema de Miguel Hernández




JOAN MANUEL SERRAT
nanas de la cebolla




estranha no ninho

Erundina: toda coerência será castigada



''Com Kassab no PSB, serei estranha no ninho''

Ex-prefeita ressalta 'proximidade' com o PT e admite deixar partido se a cúpula decidir acolher líderes do DEM

Daniel Bramatti - O Estado de S.Paulo
 
A ex-prefeita de São Paulo e deputada federal Luiza Erundina deixou claro ontem que sairá do PSB se o partido acolher políticos como o prefeito Gilberto Kassab e o vice-governador Guilherme Afif Domingos, ambos de saída do DEM.

Erundina destacou sua proximidade com o PT, partido do qual saiu em 1997, mas disse esperar que a Justiça Eleitoral impeça a concretização de uma eventual manobra de Kassab e da cúpula do PSB - nessa hipótese, estaria assegurada sua permanência na legenda.

Como a senhora vê a possibilidade de Kassab e Afif criarem outro partido para depois migrar para o PSB?
confirmar, será absolutamente incompatível com a minha opção política pelo PSB. Serei uma estranha no ninho. A convivência, tanto para essas pessoas quanto para mim, será praticamente inviável. Com certeza não terei lugar nesse partido.
 
A senhora deixará o PSB?
Isso poderá acontecer, mas temos de ver em que termos. Há uma questão legal a ser esclarecida. Se eles vão criar outro partido já com o propósito de se incorporar ao PSB, como é que a Justiça Eleitoral vai interpretar esse mecanismo oportunista? É claramente um artifício para fugir do enquadramento na infidelidade partidária.

A legislação não ameaçaria seu próprio mandato em caso de troca de partido?
Se isso (fusão do PSB com partido criado apenas com esse objetivo) pode ser feito, quem estará sendo infiel? Digamos que um de nós, que não concorde com essa via do partido trampolim, queira sair do PSB. Quem sair poderá alegar que foi o partido quem mudou de rumo. Há possibilidade de você não ser punido por infidelidade se a infidelidade se deu pelo partido no qual você está.

Nos últimos anos, a senhora se reaproximou de líderes do PT. Seu retorno ao partido é uma possibilidade?
Essa proximidade minha com os petistas existe. No fundo, minha prática política e meus compromissos não se alteraram um milímetro em relação ao que fazia como petista. Essa base histórica, essa militância, essa identidade nunca deixou de existir. Tenho muitos eleitores que são filiados ao PT. Nunca tive distanciamento com o partido. Alguns dirigentes é que se distanciaram. Mas há companheiros com quem mantenho relação de confiança, de afinidade na luta política. Durante a campanha de Dilma, na qual me engajei, havia manifestações públicas e coletivas para que eu voltasse ao PT. Mas trocar de partido é muito complexo, é traumático. Quero primeiro acreditar que isso (a migração de líderes do DEM) não se confirmará. É um absurdo um partido que estava crescendo como referência política para a sociedade de repente perder tudo em nome de um projeto de poder a médio e longo prazo. Essa não pode ser a lógica predominante em um partido que se pretende de esquerda, socialista e democrático.  

um blogueiro ansioso

Citibank e Opportunity:
A BrOi pode afundar em Nova York


O Conversa Afiada reproduz suculenta reportagem que recebeu de Stanley Burburinho III.

O amigo navegante já conhece o Burburinho I (reparador de iniquidades) e o II.

Agora surge na vida deste ansioso blog o III.

Com uma característica interessante: ele tenta (tenta, mas não consegue, aqui entre, nós, amigo navegante) imitar o estilo inimitável do ansioso blogueiro.

Ao III:

Dia 03 de Março, a Justiça Americana vai funcionar, longe das pressões do Gilmar Dantas (*), Tony Palocci, Zé Eduardo Cardozo, FHC e outros que consideram o Daniel Dantas “brilhante”.


Brilhantíssimo !


(Para saber mais sobre o Zé, clique aqui para ler “Ministro da Justiça defendeu Dantas até diante dos amigos do Berlusconi”).


Dia 03 de Março – número cabalístico – 03/03 -  às 10 horas da manhã, uma audiência pública na United States Court of Appeals for the Second Circuit vai decidir se o Citibank e o Opportunity poderiam esconder os documentos confidenciais da patranha da BROI e da espionagem da KROLL, patrocinada pelo Daniel Dantas.


(Segundo inequívoca investigação da Polícia Federal e que a Desembargadora Cecília Melo, por incrível, incrível coincidência, considerou que mereceria jazer, injulgada, na Primeira Instância. Mera coincidência com o que pretendiam os advogados de Dantas.)


Nos EUA não tem moleza.


E poucas coincidências.


Até o Michael Jackson já saiu algemado da Corte, assim como a celebridade  Lindsay Lohan.


O Madoff vai morrer na cadeia e era outro “brilhante” !


Lá, quanto mais rico e famoso, mais algemado fica para todo mundo ver que a Lei é para ser cumprida.


Nos EUA tem uma Lei chamada Sarbannes-Oxley.


Essa Lei diz que, se uma corporação americana estiver envolvida com corrupção ou outros crimes fora dos EUA, os seus principais executivos podem ir para prisão por 10 anos.


Imagine, amigo navegante: o Gilmar Dantas dá mais 358 Habeas Corpus para o Daniel Dantas no Brasil, e o Presidente do Citi vê o sol de Manhathan nascer quadrado pelos crimes do Daniel Dantas ?


A América se curva diante do Brasil !


Depois que o Citibank descobriu quem era o Daniel Dantas, o Citibank fez uma ação contra o Opportunity et caterva.


Pedia 300 milhões de dólares de indenização mais “punitive damages” que poderiam chegar a 1 bilhão de dólares.


O juiz Kaplan, de Nova York, julgou todas as vezes contra o Opportunity.


Disse em uma audiência que “isso  (o que o Dantas fazia – Santanley Burburinho III) cheira a roubo”.


O Citibank ia ganhar a ação do Opportunity e ia deixar o Daniel Dantas pobre.


Aí o Daniel Dantas colocou no processo um monte de documentos para tentar demonstrar que o Citibank participou da contratação da Kroll para espionar todo mundo no Brasil.


(O Dantas é assim. Usa a Justiça, entope a Justiça, gasta dinheiro do povo que sustenta a Justiça para intimidar e não ir para a cadeia. Um dia o ansioso blogueiro Paulo Henrique Amorim pode contar como são as relações dele com Dantas, o passador de bola apanhado no ato de passar bola, e a Justiça. Até agora o ansioso ganhou todas.)


O Opportunity chamou para depor o Chuck Prince, que era o CEO (Chief Executive Officer) do Citibank e o Win Bischoff, que era o Chairman of the Board.


E eles foram até a Corte de NY (porque nos EUA não tem jeito! A Justiça não é só para p, p e … p, não é, Dr Toron ?).


O Opportunity chamou também para depor a sua “amiga” de longa data, Marylinn Putney, funcionária do Citibank, que o ajudou a montar as operações com fundos em paraísos fiscais.


A tese do Opportunity era que, se tudo de que o Citibank acusou o Opportunity fosse verdade, então, o Citibank também participava das falcatruas.


Em bom português, uma espécie de chantagem.


E o Opportunity e o Citibank decidiram colocar “alguns” documentos em uma área confidencial.


Sem ordem judicial.


Eles que decidiram porque, nos EUA, tem um negócio chamado PACER (www.pacer.gov), que permite a qualquer um ver os processos judiciais na íntegra, passo a passo, com a transparência que exige uma Justiça correta e justa.


Só o que é confidencial (Sealed) não aparece no PACER. O resto aparece tudo.


Aí apareceu a BROI, a plataforma P-36 do Governo Lula.


E toma pressão em cima dos americanos.


A IstoÉ Dinheiro, onde trabalha o notável jornalista do Leonardo Attuch, que, por coincidência, publica reportagens que se casam direitinho com os interesses de Dantas, o notável Attuch publicou que os gringos vieram falar com o Mantega, ou que o Mantega foi falar com os gringos.


Nos novos vazamentos do Wikileaks BR, aparece a turma do Dantas a pressionar  a então Ministra Dilma Rousseff.


Clique aqui para ler “WikiLeaks inocenta Dilma na BrOi”.


O fato é que o Citibank fez o acordo da BROI e desistiu da ação contra o Opportunity, onde o Citibank ia ganhar mais do que ganhou na BROI (????).


Coincidência, não ?, amigo navegante ?


O “brilhante” é assim.


Na vida dele as coincidências são sempre a favor dele.


Porém, porém, quando a ação ia terminar, um brasileiro de que o Dantas gosta muito, Luís Roberto Demarco, entrou com uma “motion to intervene” no processo.


O objetivo era ver os documentos confidenciais.


Na primeira instância, o juiz autorizou (granted) Demarco a intervir no processo.


Mas não o autorizou a ver os documentos confidenciais.


Ué ?! Demarco podia entrar na sala dos documentos e não podia acender a luz.


A advogada de Demarco quer acender a luz, e apelou para o “Second Circuit”.


E disse que não é só o Demarco que quer ver os documentos.


Disse que os documentos são públicos e, portanto, qualquer um pode ver: a Justiça Inglesa (que já sentenciou o Daniel Dantas definitivamente como falsificador de ficha bancária), o Ministério Público Federal do Brasil, a Polícia Federal, o STF, o ministro Eros Grau, que se sentou em cima de documentos do Dantas, o corajoso Juiz Fausto de Sanctis, que foi promovido e não pode julgar Dantas, e até o ansioso blogueiro Paulo Henrique Amorim.


(Quem não precisa ver mais nada é o Gilmar Dantas, porque já conhece a matéria  em profundidade, em português e em alemão).


A advogada de Demarco quer ver o que o Raimundo Pereira não quer.


(Clique aqui para ler o que Mino Carta escreveu sobre um livro que trata o Daniel Dantas como uma cruza de Papai Noel com Madre Maria Tereza de Calcutá e o “Gomes” como um moderno Ruy Barbosa).


A advogada de Demarco quer ver se, nos documentos chamados de “confidenciais” pelo Opportunity e pelo Citibank, não há indícios que justifiquem um processo criminal nos Estados Unidos contra a cúpula do Citibank, pela cumplicidade com Daniel Dantas no Brasil.


Não é interessante, amigo navegante do ansioso blogueiro ?


Qualquer um pode entrar na sala Daniel Patrick Moynihan U.S. Courthouse, 500 Pearl Street, New York, NY, 9th Floor Ceremonial Courtroom, dia 03 de Março, 10 horas da manhã.


Daniel Dantas e o Citibank tem mais um encontro com a Justiça … e lá não tem Gilmar Dantas!


Viva a Justiça Americana! E Viva o Brasil!


Assinado,


Stanley Burburinho III



(*) Clique aqui para ver como um eminente colonista do Globo se referiu a Ele. E aqui para ver como outra eminente colonista da GloboNews e da CBN se refere a Ele.

porto alegre ESTÁ uma vergonha

Sobre a tentativa de homicídio


Blog do Kayser

A estupidez no trânsito não tem limites. E ainda há quem ache justificativas para a barbárie e culpe os ciclistas por não terem avisado a EPTC ou por terem "provocado o motorista." Porto Alegre é uma vergonha!

analisando profundamente

As imagens de semana. Uma reportagem especial do Bessinha

O Conversa Afiada oferece ao amigo navegante uma profunda análise dos acontecimentos políticos, com a inestimável contribuição do ombudsman de tucano, o genial Bessinha.


















aos queridos mestres(!)... com carinho

Avisem os empresários gaúchos: Mariza de Abreu não acreditava no déficit zero

Por Lupiscinio Pires

Era hora da professora Mariza Abreu voltar a Federasul e dar uma nova palestra no Tá na Mesa II. O risco seria ter meia dúzia de pessoas assistindo, ao contrário da primeira palestra que lotou o auditório da entidade.

Quase todo mundo sabe que os grandes apoiadores da gestão da secretária Mariza Abreu foram os grandes empresários locais. Centenas de linhas foram escritas pelos representantes do empresariado local defendendo a atuação Mariza Abreu na SEC. O discurso era sempre o mesmo – déficit zero e arrocho salarial no magistério. Nenhuma melhoria salarial poderia ser direcionada para os professores, pois poderia comprometer a “revolução” nas finanças implementada por Yeda Crusius. Quando a secretária Mariza Abreu enfrentava dificuldades para se manter no cargo, os empresários gaúchos recorriam aos generosos espaços da mídia para defender sua permanência. Quem não se recorda das propagandas institucionais mostrando Mariza Abreu e Gerdau. Lado a lado.

Agora, por ocasião do lançamento de seu livro, “descobrimos” que Mariza Abreu saiu do governo por divergências com Yeda Crusius, em relação ao déficit zero. Pasmem.

Na coluna de Rosane de Oliveira, em Zero Hora, a ex-secretária “confirma que sua saída do governo se deu por divergências em relação à comemoração do déficit zero. Ela achava que o governo não deveria fazer alarde, porque a redução não era sustentável e a euforia poderia desencadear uma série de pressões por aumentos”. Segundo a colunista de ZH, Mariza Abreu atribui o déficit zero a esforços de outros governos. A política de ajustes teria começado em 2000. Impressionante revelação.

Quem lia a coluna de Rosane de Oliveira e outros espaços da RBS tinha informações privilegiadas sobre todos os passos da secretária Mariza Abreu. A permanência de Mariza Abreu na SEC foi anunciada no programa Sala de Redação. Informação ao vivo prestada por Rosane de Oliveira. Neste programa o jornalista Lauro Quadros informou que tinha visto a secretária Mariza Abreu almoçando na Zero Hora com a colunista no dia anterior.

Naquele episódio denominado “Dia do Fico” jamais se viu uma mobilização tão grande do empresariado e em parte da mídia em favor de um secretário. Os programas de Lasier Martins se destinavam a ouvir o depoimento dos caciques da indústria gaúcha em favor de Mariza. A coluna de Rosane de Oliveira registrava pesquisava de opiniões favoráveis a ex-mandatária da SEC. O esforço surtiu efeito. Mariza Abreu ficou mais algum tempo no governo até se retirar para apoiar José Fogaça na eleição para governador.

E agora, em 27 de fevereiro de 2011, na mesma coluna politica de ZH, surge a informação, prestada por Mariza Abreu, de que o “déficit vinha caindo desde 2000.” Que ironia. Começou no governo Olívio Dutra.
Avisem os empresários gaúchos. Quem sabe eles escrevam um artigo contestando Mariza Abreu. Quais razões que levaram Mariza Abreu a não ter revelado estes dados durante o governo Yeda Crusius ? Talvez no próximo livro da ex-secretária, isso seja explicado.

Saramago

O último Caderno

Fundação José Saramago


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Este Último caderno não é um livro triste, não é um livro tronante, é, simplesmente, uma despedida. Por isso, José Saramago, apesar de estar atento à curiosidade do dia ou ao acontecimento terrível, apesar de usar o humor e a ironia e de se empenhar a fundo na compaixão, resgata textos adormecidos que são actuais e deixa-no-los como presentes inesperados, não um testamento, mas simples oferendas íntimas que desvelam paixões e sonhos. Aproxima-nos do mundo de Kafka ou da inevitável tristeza de Charlot, enquanto nos descreve a soberba aventura de coroar o cume da Montanha Blanca em Lanzarote.

Este é um livro de vida, um tesouro, um Saramago que nos fala ao ouvido para dizer-nos que o problema não está na justiça mas sim nos juizes que a administram no mundo. Não haverá mais cadernos, esse olhar oblíquo para ver o outro lado das coisas, a direito, sem nunca baixar a cabeça diante do poder, mas sim para beijar, a ironia, a curiosidade, a sabedoria de quem não tendo nascido para contar continua a contar, e com que actualidade agora que já não está e tanta falta continua a fazer-nos. Assim são as despedidas dos homens que sabem que nasceram da terra e que à terra regressam, mas agora abraçados a ela, com essa espécie de imortalidade que lhes oferece o solo de que nos levantamos a cada dia, com novas experiências assimiladas. As de quem são solo e terra, nosso sustento, talvez a nossa alma.

Pilar del Río
In El último cuaderno, Alfaguara

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Barcelona se entrega a Saramago con un festival de la palabra(El País)

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Saramago: "O último caderno", um presente "inesperado" do Nobel Português

A um dia de cumprir oito meses da morte de José Saramago, Barcelona homenageia o Nobel português com diferentes atos, um deles relacionado com "O último caderno", que hoje Pilar del Río considerou um "presente inesperado".
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O Caderno 2
(Ed. Caminho)

L'últim quadern
(Edicions 62)

L'ultimo quaderno
(Feltrinelli) 

El último cuaderno
(Alfaguara)

Mis ojos, sin tus ojos, no son ojos

Miguel Hernandez

Mis ojos, sin tus ojos, no son ojos,
que son dos hormigueros solitarios,
y son mis manos sin las tuyas varios
intratables espinos a manojos..


No me encuentro los labios sin tus rojos,
que me llenan de dulces campanarios,
sin ti mis pensamientos son calvarios
criando nardos y agostando hinojos.


No sé qué es de mi oreja sin tu acento,
ni hacia qué polo yerro sin tu estrella,
y mi voz sin tu trato se afemina.


Los olores persigo de tu viento
y la olvidada imagen de tu huella,
que en ti principia, amor, y en mí termina.




Al derramar tu voz su mansedumbre
de miel bocal, y al puro bamboleo,
en mis terrestres manos el deseo
sus rosas pone al fuego de costumbre.

Exasperado llego hasta la cumbre
de tu pecho de isla, y lo rodeo
de un ambicioso mar y un pataleo
de exasperados pétalos de lumbre.

Pero tú te defiendes con murallas
de mis alteraciones codiciosas
de sumergirte en tierras y océanos.

Por piedra pura, indiferente, callas:
callar de piedra, que otras y otras rosas
me pones y me pones en las manos.



Miguel Hernandez- Nanas de la cebolla / J.M. Serrat

outra da polícia, agora vem do Rio

Siron Nascimento: Os bastidores da polícia do Rio

Viomundo

Azenha,

Sei que o tema mais quente do momento é a Líbia. O que está acontecendo lá merece toda a nossa atenção, até mesmo para fugirmos da cobertura de nossa grande mídia que quer reduzir tudo a um simples movimento de internet, Facebook e twitter.

Porém, a reviravolta que está acontecendo nas forças policiais do Rio merece nossa atenção, ainda mais se lembrarmos como foi a reação entusiasmada – na minha opinião, exagerada – da grande maioria das pessoas, independente de sua sintonia política. À época, escrevi para você e o texto até foi publicado no blog [na época da ocupação do Alemão]; os comentários massacraram nossa posição de esperar para ver o que vai dar. Mas parece que a casa caiu, e a grande mídia, principalmente do Rio de Janeiro, está querendo minimizar sua importância.

Depois da Operação Guilhotina e da reação do ex-chefe da Polícia Civil em fazer uma devassa na Draco, ficamos à espreita de maiores informações e são bastante desencontradas e sem profundidade. Uma coisa, entretanto, ficou mais do que provada – mais uma vez, diga-se de passagem; que o crime organizado está intrinsicamente ligado com as forças policiais, seja PM ou Polícia Civil; que diversos políticos tem envolvimento com as milícias e vivem em uma verdadeira simbiose de interesses econômicos e políticos; que os agentes policiais extorquiam, roubavam e, quando contrariados, executavam traficantes. A Operação Guilhotina parece que vai dar em alguma coisa, mas e a devassa na Draco? As acusações foram sérias e nada mais é dito sobre isso…

O ex-delegado e ex-chefe da Polícia Civil RJ, Hélio Luz, sempre afirmava que não existia crime organizado no tráfico de varejo no Rio de Janeiro, pois quem organizava o crime era a própria polícia, que prendia, executava conforme seus interesses economicos. Ele falava isso há mais de 15 anos. Desde lá, por diversas vezes, sua tese foi comprovada e nada mudou. Será que agora vai mudar alguma coisa?

Eu tenho minhas dúvidas. No Rio de Janeiro, temos uma imprensa extremamente oficialista, que se vendeu por interesses economicos – sempre eles – que envolvem Copa do Mundo e Olimpíadas. É muito dinheiro envolvido; logo, os interesses do povo ficam em terceiro plano, pois, ainda em segundo, estão os interesses das classes mais abastadas em garantir sua falsa sensação de segurança (é só olhar atentamente o mapa de instalação das UPPs e o deslocamento dos criminosos para as periferias, Baixada fluminense, Baixada Gonçalina, Região dos Lagos).

Enfim, gostaria de fazer uma sugestão: uma série de reportagens sobre Segurança Pública. Peça a Conceição Lemes passar um mês aqui e entrevistar a galera séria que discute o tema: Orlando Zaccone (delegado), o pessoal da Justiça Global, Marcelo Freixo (deputado), Luiz Eduardo Soares (sociólogo), Vera Malaguti (jurista) entre outras pessoas e organizações sérias defensoras dos Direitos Humanos.
Isto não tem nada a ver em fazer uma matéria contra ou a favor sobre as UPPs, mas sim dissecar as instituições de segurança, suas atitudes, preceitos. Esta discussão já é mais que necessária, e se não for feita por blogs progressistas, nada podemos esperar da grande mídia. Infelizmente.

Abraços,
Siron Nascimento

PS do Viomundo: Faremos o que estiver ao nosso alcance.

Para ler o que o Siron escreveu naquela época, clique aqui.

direitos humanos são só para humanos direitos(?)

O caso da escrivã e a punição à corregedora

Viomundo

por Luiz Carlos Azenha

Em tempos recentes, foi o assunto que realmente mobilizou os leitores deste site.

No texto da Conceição Oliveira, publicado no blog da Mulher (aqui), foram 260 shares no Facebook, 155 tweets e 184 comentários (e contando).

O vídeo, no You Tube, teve 371.753 mil acessos (e contando).

A Conceição se estressou em alguns momentos, por causa de comentários que considerou deselegantes (a mediação no Viomundo não é centralizada, razão pela qual não sei se ela deletou ou bloqueou comentários).
Como o caso teve desdobramentos, eu gostaria de saber dos leitores o que eles acharam da decisão:
24/02/2011 – 17h42

Vídeo de escrivã despida derruba corregedora da Polícia Civil de SP

ANDRÉ CARAMANTE
DE SÃO PAULO
da Folha.com

O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Antonio Ferreira Pinto, destituiu nesta quinta-feira de seu cargo a corregedora-geral da Polícia Civil, Maria Inês Trefiglio Valente.

Reportagem publicada hoje na Folha revela que a divulgação do vídeo que mostra delegados da Corregedoria tirando à força a calça e a calcinha de uma escrivã durante uma revista abriu uma crise na instituição.

Segundo o texto, durante a reunião semanal do Conselho da Polícia Civil, na manhã de ontem (23), a corregedora-geral, que apoiou a ação dos quatro delegados que investigaram a escrivã, foi pressionada publicamente a deixar o cargo por 5 dos 23 delegados da cúpula da instituição.

A crise interna na Polícia Civil foi impulsionada porque a divulgação da gravação da operação policial foi destaque em todo o país. Os envolvidos foram afastados. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou, após a divulgação das imagens, que o vazamento do vídeo na internet era “grave”.

De acordo com a SSP, Valente será transferida para a Delegacia Geral de Polícia Adjunta. O delegado Delio Marcos Montresor, que já trabalhava na área de processos admistrativos da Corregedoria, ocupará o cargo de corregedor-geral interinamente.

Os delegados suspeitos de abuso de autoridade foram afastados da Corregedoria pelos secretário Ferreira PInto na segunda-feira (21).

O CASO

O caso aconteceu em junho de 2009. Ao longo dos 12 minutos do vídeo, a escrivã diz que os delegados poderiam revistá-la, mas que só retiraria a roupa para policiais femininas. Mas nenhuma investigadora da corregedoria foi até o local para acompanhar a operação.

Ao final, o delegado Eduardo Filho, uma policial militar e uma guarda civil algemam a escrivã, retiram a roupa dela e encontram quatro notas de R$ 50. A escrivã foi presa em flagrante e, após responder a processo interno, acabou sendo demitida pela Polícia Civil. No mês seguinte, seus advogados recorreram da decisão.