segunda-feira, 29 de novembro de 2010

qualquer um cai(?)

“Se o Complexo do Alemão caiu, qualquer um cai”,
diz comandante das UPPs no RJ

Sul21

Rachel Duarte
“Se o complexo caiu, qualquer um cai”. A frase é do comandante das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro, coronel Robson Rodrigues, em avaliação do trabalho feito neste final de semana no Complexo do Alemão. Em conversa com o Sul21, o coronel disse que a operação que prendeu 20 pessoas e matou três no maior conjunto de favelas cariocas resgatou a confiança da população na polícia e no estado, além de intimidar os demais criminosos do RJ.

Cel. Rodrigues explica que a comunidade e a mídia tiveram papel importante no trabalho na última semana, desde que polícia reagiu aos incêndios de veículos e barricadas cometidos por facções criminosas. “Essas reações estavam previstas no nosso planejamento. Mas, em virtude destas ocorrências o governo teve que antecipar as ações de enfrentamento do crime. O alerta para a necessidade de utilizar mais equipamentos e efetivo já fazia parte do planejamento, para que evitássemos os riscos aos cidadãos civis”, relata.

A intimidação e o efeito psicológico nos criminosos foi o principal mérito das UPPs, segundo o comandante. Ele conta que os traficantes apostavam em um recuo das forças públicas desde o começo da pacificação dos territórios. “A polícia militar do RJ mostrou que o planejamento estava certo e não se curvou à intimidação dos criminosos ou das pessoas que não acreditavam nesta política. Consolidamos a paz e quebramos o Comando Vermelho”, falou.

Retomada e continuidade

Oito dos 20 criminosos presos no primeiro dia de ocupação no Conjunto de Favelas do Alemão, segundo informações da polícia do RJ, foram detidos ainda sujos, quando tentavam entrar em bueiros da comunidade. Há suspeitas de que ainda há bandidos na favela, que podem estar escondidos na rede de esgoto, túneis, em casas de moradores da favela e na mata.

Depois de interromperem as buscas de armas, drogas e criminosos no Conjunto no período da noite, a polícia recomeçou na manhã desta segunda-feira (29) a operação.

O comandante das UPPs no RJ, Robson Rodrigues, garante que o trabalho terá continuidade e a meta é de 40 UPPs no estado carioca até 2014. “Vamos seguir o trabalho para conquistar ainda mais a confiança da comunidade. Esta dimensão simbólica que já temos auxiliará para intimidar os demais criminosos. Nosso recado é que é melhor os demais se entregarem, se não, vamos prender”, alerta. E complementa: “A população destas favelas está política e democraticamente amordaçada. Vivem com medo e pavor, mas esperam ação da polícia e do estado”.

Na avaliação do consultor em Direitos Humanos e Segurança Pública, mestre em sociologia pela Universidade Federal do RS, Marcos Rolim, a formação integrada, com quase três mil homens das polícias (Civil,Militar e Federal) e das forças armadas estabeleceu uma confiança e identidade maior da população com as forças de segurança pública. Rolim acredita na política de pacificação e na filosofia de policiamento comunitário, porém, ele esclarece que as reações dos criminosos no RJ não foi uma retaliação direta às UPPs. “Essa operação começou em uma mentira e terminou com uma ilusão. Os atentados foram comandados por lideranças do CV que estão presas para obrigar o estado a negociar com eles”, disse comparando com a reação do PCC em São Paulo, no ano de 2006.


Guardadas as proporções dos ataques do crime no RJ e os ocorridos em São Paulo, Rolim diz que isto serve de alerta para um debate mais profundo e que demandará maior ousadia do governo federal no próximo período. “Os presídios federais estão ruins, a sustentabilidade das UPPs precisa ser pensada e é necessário agir contra às milícias no RJ e fazer uma grande reforma social, que toque no tema das drogas, porque a guerra que aconteceu hoje não combateu o tráfico, combateu facções criminosas”, diferenciou.

A ilusão de que a operação deste final de semana combateu o tráfico de drogas é o principal alerta de Rolim. O especialista em Direitos Humanos comenta que, apesar do mérito de o estado e a polícia ocuparem áreas que antes eram inacessíveis, não diminui os riscos para a comunidade que permanece vivendo naquele local. “É preciso agora uma invasão social no morro. Com promoção social para esta comunidade. O próximo governo federal precisará criar uma política econômica mais inclusiva do que o Bolsa Família. A esquerda precisará fazer o que não fez neste governo para que isto aconteça”, argumenta.

Milícias comandam mais que facções

Segundo levantamento feito pelo pesquisador do Instituto de Ciências Policiais da Universidade Cândido Mendes, Paulo Storani, as milícias (grupos criminosos formados por policiais militares e civis, bombeiros, agentes penitenciários, aposentados e da ativa), ocupam hoje mais territórios do que as grandes facções do narcotráfico no Rio de Janeiro.

O ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e mestre em Antropologia pesquisou as 250 principais favelas — sendo que a estimativa é de que na capital carioca são mais de mil. No trabalho, foram usadas informações de líderes comunitários e da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado da Polícia Civil do Rio de Janeiro (Draco). O resultado foi: 100 favelas são controladas pelas milícias, 84 pelo Comando Vermelho, 35 pelos Amigos dos Amigos e 31 pelo Terceiro Comando Puro.

Segundo o mestre em sociologia gaúcho, Marcos Rolim, a atuação sobre o forte sistema de milícias no RJ, oriundo da cultura do “oba, oba”, é ainda mais importante do que o combate às facções. “Este sistema compromete a sustentabilidade das UPPs porque, elas são feitas no RJ com policiais novos, pois os das corporações já se corromperam. Mas, até quando estes novos vão resistir aos apelos do envolvimento com o crime?”, questiona.

Rolim aponta a valorização do policial como a saída para o combate à corrupção dentro das policiais e alerta para uma parte importante na cadeia do crime: o consumo de drogas. “Enquanto houver consumidor não terá como frear o tráfico. As experiências no mundo todo provam isso. O que está em jogo é desconstituir o tráfico armado e combater as facções. Mas, devemos manter as drogas ilegais?”, critica.

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