quinta-feira, 25 de novembro de 2010

é a vida que segue

A voz do Morro do Sapo


luisnassif

É vida que segue

Por Celso Athayde

Hoje eu estava trabalhando quando a coordenadora da Cufa da favela do Sapo me ligou chorando, dizendo que um oficial de justiça havia telefonado dizendo que irá, hoje, oficialmente, pedir à reintegração de posse do prédio há anos abandonado, onde estamos desenvolvendo nossas ação com os jovens da favela.

Pedi para que ela não chorasse , disse que devemos perder e ganhar com a mesma dignidade . Mas não foi o bastante , ela não parou de chorar e argumentava que o problema não era o prédio, mas as crianças . Ela dizia que não era justo, que eles abandonaram o espaço há anos e que só esperaram a nossa obra para pedir o imóvel de volta. Aos prantos, dizia que eles não pediram antes porque o crime ocupava ... enfim .. ela chorava e dizia que não sabia o que faria com as crianças dos projetos. Tentei acalmá-la dizendo que nem sabemos quem é o dono do espaço, que ele nunca apareceu, que talvez seja um blefe ... mas não era o bastante .

Nesse momento, dois filmes passavam em minha cabeça O primeiro filme foi nossa busca na favela para criar alguma iniciativa social para os jovens , pois eu conhecia muito bem essa favela e sabia do que ela se simbolicamente representa para a marginalidade. Sabia também,e claro , o quanto esses jovens precisavam de atenção, não somente eles, mas seus familiares. Quando encontramos o supermercado , o velho Mar e Terra abandonado há anos , vi sua parte superior ocupada por várias famílias da favela e a parte inferior ocupada pela criminalidade . Não vou falar do mal cheiro , dos ratos , do lixo e de todo o mal que um mercado abandonado pode trazer à comunidade. Bem, resolvemos fazer uma intervenção na favela, via esse espaço, claro, correndo todos os riscos de fazer um investimento e, depois, alguém vir pedir o espaço de volta. Mas esse risco não poderia ser maior do que o desejo de ver o sorriso no rosto te tanta gente , como as fotos mostram. A lei se cumpre e nós não iremos ignorá-las. O certo é o certo e, naquele momento, a decisão correta era criar alternativas para a vidas dos jovens que atendemos , assim como entendo que o certo agora é discutir o direito e outras alternativas. Jamais abandonar aqueles que precisam desse alento.

O segundo filme foi do meu tempo de garoto , nessa mesma favela , mas essa história eu não vou contar , pois já havia contato uma parte dela em 2006 no livro "Falcão, meninos do trafico", uma história chamada: "O Berço do Crime":

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