segunda-feira, 20 de setembro de 2010

e os Lanceiros Negros (?) gauchada

Lanceiros Negros - O preço da Liberdade
DOCUMENTÁRIO
Por Caio Batista e Patrícia Brito.

O Massacre de Porongos é um fato histórico da maior relevância. Aconteceu dentro da Revolução Farroupilha, mas nunca teve, assim como a história do negro no Brasil, sua importância real discutida, nem ao menos formatada. O negro que, assim como tantas etnias, também protagonizou a diversidade social, econômica, artística, humana e cultural do país, continua invisível aos olhos da sociedade, no reboque da história, visto como coadjuvante, e com sua importância relativizada, diminuída, sem direito de usufruir e orgulhar-se da brasilidade que contribui vigorosamente em formatar. O Massacre de Porongos segue a mesma lógica das elites nacionais, que na intenção de concentrar saberes e poderes preservam a história a partir de seus próprios interesses, multiplicando uma visão parcial, limitando o reconhecimento daqueles que também fizeram história, também construíram o país em que vivemos. Toda a ação no sentido de inverter esta visão elitista, discriminatória e autoritária de manipular a história a seu favor passa a representar um serviço de relevância pública. Em plena era da inclusão, da expansão de reconhecimento de direitos de toda ordem, cabe revisar, pesquisar, confrontar, questionar “verdades” e evidenciar o verdadeiro protagonismo e importância histórica do negro como fundamental na formação e desenvolvimento do país.

Procurando respostas.

Não pretendemos trocar um ufanismo por outro, substituindo o gaúcho mítico pelo negro heróico, mas fazer uma investigação histórica e confrontar as versões existentes a respeito da “Batalha de Porongos” e, assim, proporcionar uma oportunidade de a comunidade tirar suas conclusões e/ou ampliar ainda mais a discussão. Teria havido traição? David Canabarro armou o massacre de Porongos juntamente com o Barão de Caxias? A paz já estaria tratada e os negros (libertados, conscientizados e militarizados) passavam a representar um perigo iminente de insurgência? Onde foram parar os ideais liberais farroupilhas nos acordos de paz? O que coube a cada um no espólio da guerra? Qual foi o destino dos soldados negros que sobreviveram? São algumas questões que o vídeo deseja investigar e discutir, sem ter a pretensão de ser ponto de chegada, mas sim, um ponto de partida na formatação de uma visão mais próxima do real. Quer trazer para as telas esse fato nebuloso da Guerra dos Farrapos quando os negros, seduzidos pela promessa de liberdade, formaram um dos mais bravos regimentos da revolução, algo que é lembrado somente quando se faz necessário acrescentar um componente épico e emocional aos heróicos relatos de guerra.

A história não tem dono.

Historiadores, produtores, músicos, atores, diretores de arte e uma equipe de técnicos do mais alto gabarito estão empenhados em desenvolver e concluir este projeto que, a cada dia se torna mais significativo, ganhando apoios e adesões a cada passo. Um filme que nasce provocando curiosidade, discussões e algumas polêmicas, causando certa ansiedade em ver o documentário nas telas. Isso comprova que um ponto de vista novo sobre um assunto conhecido, que já tem sua “verdade” aceita e estabelecida, agita o padrão histórico consagrado, até então protegido, seguro e confortavelmente instalado na “oficialidade incontestável” de sua interpretação. Mostra que a história é escrita por homens. Indivíduos que tem suas crenças, seus interesses e, a partir dos fatos, podem criar e sedimentar suas versões como as únicas que possuem legitimidade histórica. Podemos inverter esta lógica dominante e criar um novo olhar sobre nossa história, buscar um ponto de vista mais amplo e sem exclusão, que proporcione visibilidade e reconhecimento a todos os protagonistas e não somente àqueles que representem os interesses culturais, econômicos, sociais e étnicos do poder estabelecido. Este filme é uma tentativa, um começo, uma atitude no sentido de exercer plenamente o direito ao questionamento, no mínimo. E os lanceiros e soldados negros, recorte importante na Revolução Farroupilha, merecem esse resgate pelo bem de toda uma etnia e da sociedade brasileira.

OBJETIVOS

1-Contextualizar o Massacre de Porongos, ocorrido em Pinheiro Machado na zona sul do estado do Rio Grande do Sul.
2- Abrir a discussão sobre “a traição” ocorrida que dizimou o corpo de Lanceiros e soldados negros. Um ponto obscuro da história rio-grandense e brasileira.
3- Mostrar que este episódio e seus desdobramentos acabaram colocando em suspeição a verdadeira intenção abolicionista dos comandantes farrapos, evidenciando sua divisão entre escravistas e abolicionistas.
4-Confrontar as diferentes versões sobre esse momento histórico que culminou com a morte de centenas de soldados negros.
5- A partir do fim da guerra, comparar aquilo que foi “destinado” aos diferentes protagonistas da revolução: Imperiais, Farroupilhas e soldados negros.
6- Indiretamente apresentar aspectos da questão racial naquele momento histórico.
7-Oportunizar aos afros descendentes rio-grandenses e brasileiros e a toda sociedade, o acesso ao verdadeiro protagonismo do negro na história da Revolução Farroupilha.
9-Criar um recorte importante da Revolução rio-grandense e disponibilizá-lo ao maior número de pessoas possível.
10-Tornar-se ferramenta prática, em consonância com a Lei 10.639/03, ainda com escassez de material de caráter didático-pedagógico.

RESULTADOS ESPERADOS

Gerar impacto reflexivo em toda comunidade sobre a relevância do tema abordado;
Gerar discussão interna e externa sobre o tema;
Resgatar a participação dos afro-brasileiros na história e identidade do Estado;
Despertar o papel sócio cultural de cada cidadão, como multiplicador, na busca da melhoria histórica;
Contribuir para a valorização e auto-estima de toda etnia negra dentro e fora do Estado;
Contribuir para que a sociedade brasileira reconheça sua história como elemento formador da mesma;
Incentivar a comunidade escolar a produzir e refletir sobre a temática proposta gerando formadores de opinião;
Gerar sensibilidade por parte de professores e alunos quanto à complementação da história;
Valorizar a cultura africana e afro-brasileira, ajudando a reduzir a invisibilidade do fato histórico principalmente nas escolas;
Priorizar a importância, sobretudo nos processos formativos, a discussão dos resultados dessa pesquisa.

“Sem educação não há liberdade.”
“O que nos faz semelhantes ou mais humanos são as diferenças.” (Nilma Lina Gomes)

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