sábado, 21 de agosto de 2010

E o passarinho?

Aurélio avisa: “eles passarão”!

No fim de semana em que os blogueiros e blogueiras de todo o Brasil se encontram para um Primeiro Encontro Nacional (clique aqui para ver a programação completa), reproduzo o belo texto de Marco Aurélio Mello. Belo porque consegue ser sintético, e resume em 20 linhas a mudança brutal pela qual passa a comunicação no Brasil. Aurélio inverte a histórica frase de “La Passionaria”, e vaticina: “eles (os velhos barões da mídia) passarão!”

O Primeiro Encontro dos Blogueiros você acompanha ao vivo, aqui:
http://tv.softwarelivre.org/aovivo/encontro-de-blogueiros-progressistas

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RECORDAR É VIVER

por Marco Aurélio Mello

A internet tem uma dinâmica própria e o que foi dito ontem pode não ser nada hoje. É assim por causa da velocidade com que as coisas acontecem na rede e sua efemeridade. Comecei a refletir sobre isso depois de ler o texto do Azenha no Vi o Mundo em que ele relembra o que aconteceu às vésperas das eleições de 2006, na redação da maior emissora de televisão do país. Fui testemunha ocular da história e, considerando que muitas pessoas podem não conhecê-la, ou podem estar chegando ao blog só agora, resolvi recontá-la, já que faz tempo que tratei do assunto aqui. Depois das eleições de 1989, quando a emissora saiu desmoralizada, com a confessa manipulação do debate entre Collor e Lula, o Departamento de Jornalismo passou por uma “abertura lenta e gradual”. Durante o processo de impeachment, equipes de reportagem da emissora passaram a ser hostilizadas nas ruas da maior capital do país. Um recado para que algo mudasse. A renovação durou quase dez anos. O jornalismo passou a ser popular, procurar o povo era a regra. Projetos com foco local e comunitário foram implementados e a credibilidade da emissora foi sendo resgatada vagarosamente. Do fim dos anos 90 ao início dos 2000 a emissora viveu sua supremacia absoluta. Foi o momento das grandes coberturas e da adoção de uma visão de mundo mais abrangente. Não que o viés patronal deixasse de existir. Claro que, em vários momentos, o patrão soube exercer influência para defender seus interesses, sobretudo interesses comerciais. Só que era um jogo elegante, cheio de sutilezas. Mas com a morte do patrão e de seu veterano diretor, os herdeiros assumiram o poder e com eles seu novo preposto. Foi aí que as coisas começaram a desandar. Para pior, muito pior. O ápice foi a eleição de 2006. Nunca tinha visto um jornalismo feito daquela forma e, a exemplo de profissionais como Carlos Dorneles, Luiz Carlos Azenha e Rodrigo Vianna, protestei. Não tive pudor em dizer tudo o que achava que estava errado na nossa cobertura a cada um dos responsáveis por ela, ao vivo e por escrito. Insistia que existia um erro editorial! Quatro anos depois, não me arrependo. Hoje tenho certeza de que estava do lado certo. Eles passarão. É apenas uma questão de tempo.

Outros textos do Aurélio você encontra no blog “Doladodelá”.

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