domingo, 25 de julho de 2010

Salas de Lata

Saiu no dezoito com dezoito

ABC, ABC...

Tenho uma proposta à Zero Hora. Proponho que, de agora em diante, os jornalistas e demais profissionais por essa empresa contratados trabalhem em contêineres. Sim. Afinal, quem realmente quer trabalhar, o faz em qualquer lugar - e bem feito. Ora, o jornalista já passou horas na rua, sob um sol escaldante - ou um frio de matar, como é o caso atualmente -, correndo atrás daquela superpauta, então pode tranquilamente acomodar-se num contêiner fresquinho para escrever sua matéria. Fantástico.

É. É absurdo. A utilização de salas de "lata" é uma medida extrema, provisória. Compreensível, raramente, mas nunca permanente. Trabalhar dessa maneira em um contêiner beira o absurdo - desumano. Yeda Crusius, nossa admirável governadora, há anos, adota essa prática com escolas estaduais. Crianças são obrigadas a suportar condições climáticas totalmente inapropriadas e que muito inibem o aprendizado. As temperaturas são cálidas ou gélidas em demasia, e poderiam servir como justificativa integral de qualquer desempenho escolar.

Pois bem. O jornal Zero Hora, que escancaradamente mostra-se muito favorável à reeleição de Yeda, conseguiu o inexplicável: interceder por essas escolas. Evidentemente, de maneira escamoteada - porém bastante visível. A rebostagem, que não foi assinada, foi publicada na página 26 da edição da última terça-feira (dia 13 de julho) com o título de "Desafio vencido na Serra". A matéria objetiva fixar a ideia de que pouco interessa se a escola for de cimento, madeira, plástico, isopor. O que realmente importa é a gana dos corpos discente e docente. A abordagem foi em cima de uma conquista de um colégio caxiense, como informa o subtítulo: "Alunos que estudam em salas improvisadas em Caxias têm a 4ª melhor nota do Ideb na rede estadual". Em suma, Zero Hora enfatiza que a presente mixórdia que é o ensino brasileiro assim é devido aos maus alunos e professores.

O jornalismo precisa ser analisador e crítico. O que Zero Hora praticou chama-se propaganda subliminar. Quem será que foi o "jornalista" que se submeteu a isso? Acorrentou sua ética e submeteu-se ao interesse de uma empresa privada. Poucas foram as referências às evidentes inconveniências. Quando feitas, são logo justificadas, seja com texto corrido, seja com entrevistas provavelmente escolhidas a dedo. Um contêiner instalado no fim da Restinga Velha, bairro de Porto Alegre que recentemente ficou abaixo d'água, poderia ser o novo escritório da Yeda.

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