quinta-feira, 22 de julho de 2010

“O Rio Grande do Sul cresceu sem a Ford”, garante Olívio Dutra

por Admin última modificação 12/07/2010 16:18

Ex-governador gaúcho fala sobre os reais motivos que levaram a Ford a deixar de instalar sua fábrica no estado



12/07/2010


Raquel Casiraghi

de Porto Alegre (RS)


Mais uma vez, a saída da montadora Ford do Rio Grande do Sul voltou a ocupar o posto das principais notícias nos meios de comunicação gaúchos. Uma decisão tomada pela juíza Lílian Cristiane Siman em dezembro de 2009, mas que somente se tornou pública no final de maio deste ano, condenou a montadora Ford Brasil Ltda a indenizar o estado do Rio Grande do Sul em mais de R$ 134 milhões (corrigido, o valor pode chegar a quase R$ 1 bilhão) por não instalar uma fábrica na cidade de Guaíba em 1999. Embora a decisão da juíza já tenha sido contestada pelo Tribunal de Justiça gaúcho, que anulou a sentença por ter sido julgada em separado de uma outra ação civil pública que tramita sobre o mesmo tema, a notícia serviu para reavivar um assunto que ainda é constantemente relembrado na política do Rio Grande do Sul. Após uma década, o governo (1999-2002) da Frente Popular (PT-PSB-PCdoB-PCB), encabeçado por Olívio Dutra (PT), ainda é rotulado como aquele “que deixou a Ford ir embora”. Confira, a seguir, entrevista com o ex-governador.



Brasil de Fato – Como o senhor recebeu a decisão da Justiça de exigir indenização da Ford ao estado do Rio Grande do Sul?

Olívio Dutra – A decisão foi importante, valiosa. Ela reforça uma visão que sempre tivemos e da qual não abdicamos: de que o desenvolvimento gaúcho não depende da atração de mega projetos às custas de uma alta renúncia fiscal, de que nós podemos desenvolver o Rio Grande de forma mais parelha, mais espraiada e até mesmo mais enraizada, valorizando a produção do estado, seu parque produtivo que é diversificado, numa relação entre os setores agropecuário, indústria, comércio e serviços, e valorizando as vocações locais. Esta visão nos fez tomar a medida que tomamos naquela ocasião. E penso, quero, desejo que os adversários de projeto possam discutir com mais qualidade a visão de desenvolvimento para o Rio Grande, porque é isso que está em jogo. E são visões diferenciadas. Nós fomos eleitos em um momento de ascenso do neoliberalismo aqui no estado, com a privatização. E fomos atacados por todos os lados; por grupos poderosos, órfãos desta multinacional, a Ford. Nós procuramos, numa linguagem bem gaúcha, “chinchar” esta empresa; trazê-la para uma mesa de negociação para renegociar um acordo que tinha sido feito com o governo anterior. Um acordo leonino para o estado devido aos seus parcos recursos; leonino para o seu orçamento, para os seus investimentos. Isso não era uma novidade porque outras empresas multinacionais instaladas em outras regiões do país também estavam tendo que negociar. É o caso do Paraná. Nós conseguimos chamar para a mesa de negociação a General Motors (GM), que aceitou conversar. Fizemos uma contraproposta e reduzimos em mais de R$ 100 milhões a permanência da GM no estado. Já a Ford não quis. Esta empresa tinha as costas largas, numa relação política com o grupo partidário-ideológico que foi derrotado pelo nosso governo. Também se revelou muito articulada com este grupo e seus partidos, com a sua bancada de oposição ao nosso governo e presente na Câmara federal. Aliás, desta bancada participava a atual governadora, Yeda Crusius (PSDB). E nem por isso deixamos de insistir em uma negociação. Para ver como estavam bem relacionados [a transnacional, o governo federal e a bancada de oposição no Congresso], conseguiram que o governo federal de FHC emitisse uma medida provisória que alterou o regime automotivo do Mercosul. Com as mudanças, foram dadas condições para que as fábricas fossem levadas para o Nordeste – o prazo estava expirado, renúncia fi scal era ainda maior do que a Ford tinha aqui no estado. E essa MP, que depois teve de ser votada, foi aperfeiçoada pelas oligarquias baiana e paulista e com o apoio da oposição, que votou a favor da Ford e contra o Rio Grande do Sul.

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