domingo, 18 de julho de 2010

Cinema


Nota da APTC sobre a situação atual do cinema gaúcho

Uso o espaço do blogue para divulgar a nota oficial emitida hoje pela APTC, Associação de Cineastas do Rio Grande do Sul, sobre o vazio de políticas públicas para o cinema e a cultura do Estado. O diagnóstico é da entidade, a preocupação é de todos.

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A CULTURA NO RS E A SITUAÇÃO ATUAL DO CINEMA GAÚCHO

Esta semana foi divulgada a lista dos filmes de curta-metragem selecionados para o próximo Festival de cinema de Gramado, incluindo 12 títulos na Mostra Gaúcha. Fora a comemoração dos selecionados, a classe dos realizadores de cinema do nosso Estado não têm muitos motivos para celebração.

Depois de passar a década de 90 como o terceiro estado pólo produtor de audiovisual do país, o RS vem perdendo posições no ranking da produção nacional, por uma evidente falta de política pública para o setor. Da lista destes 12 filmes da Mostra Gaúcha, é possível fazer um breve panorama da produção recente do nosso Estado e verificar a enorme dificuldade para financiamento das obras com incentivos locais. Muitos filmes são de produção independente, isto é, sem mecanismos públicos de incentivo, outros tantos são patrocinados por verbas federais (MinC ou Petrobrás), um filme é do Edital Fundoprocultura da Prefeitura de Caxias do Sul, e um único curta é financiado pelo Fumproarte, da Prefeitura de Porto Alegre.

Filmes do Prêmio IECINE da SEDAC-RS, nem rastro. Filmes feitos com recursos da Lei de Incentivo à Cultura também são inexistentes, os realizadores atualmente desanimam ao saber da farta burocracia que precede a inscrição de um projeto pela LIC-RS.

O 11º. Prêmio IECINE foi o único lançado pela atual gestão estadual, com edital aberto em abril de 2008, e o anúncio dos 05 vencedores no dia 20 de fevereiro de 2009. Em março deste mesmo ano foi assinado o contrato com os selecionados e a então Secretária da Cultura do Estado, Mônica Leal. Ela deixou o cargo em março de 2010 para concorrer a uma vaga no Legislativo, e deixou seu sucessor para pagar a conta, ainda em débito quase um ano e meio após a assinatura do contrato.

O Fumproarte, da Prefeitura de Porto Alegre, que há 16 anos fomenta não só o audiovisual como também todas as outras áreas da cultura como música, teatro e artes plásticas, pela primeira vez na história corre o risco real de lançar somente um único edital em 2010. A informação não é oficial, mas o calendário do edital do primeiro semestre de 2010 está tão atrasado que inviabiliza a realização de nova chamada pública.

A situação de descaso e calamidade não se restringe somente aos curtas. No tempo das "vacas gordas", tivemos três edições do Prêmio RGE do Governo do Estado do RS, que entre os anos de 1998 e 2005 financiou a realização de 09 longas-metragens com o total de verba de R$ 11.700.000,00 (onze milhões e setecentos mil reais). Já estamos há 05 anos sem este patrocínio, que não tem previsão de retomada. E nenhum outro incentivo similar na área foi implantado neste período. Os financiamentos dos trabalhos recentes se dão, ou via leis de incentivos federais, ou via alguns editais nacionais específicos, com número de projetos inscritos que ultrapassa várias médias de inscritos pro vaga de vestibulares no Brasil, com algo em torno de 20 a 60 projetos de filmes inscritos por vaga de prêmio. Enquanto isso, outros estados do país investem fortemente no fomento à atividade audiovisual local, com editais de milhões que abrangem ao mesmo tempo vários formatos diferentes.

O único edital que não acontecia desde 2006 e finalmente voltou reformulado em 2009 é o Prêmio para Desenvolvimento de Projetos de Longa-metragem em parceria do Santander Cultural com a Prefeitura de Porto Alegre e APTC, que a partir de então será bianual e selecionou 04 projetos com R$ 50.000,00 cada para desenvolver o embrião de novos longas-metragens.

Outras iniciativas na área, não somente da parte da produção, mas também de exibição de filmes, como o Rodacine e a Cinemateca Capitólio, seguem adormecidas neste longo período de hibernação do cinema brasileiro feito no Rio Grande do Sul.

A APTC - ABD/RS (Associação Profissional dos Técnicos Cinematográficos do RS e Brasileira de Documentaristas RS) denuncia esta grave situação em que se encontra o nosso cinema, e se dispõe a dialogar com as instâncias públicas locais e também com os novos candidatos ao Governo do Estado para que esta situação se reverta o mais rápido possível. Ou fatalmente enviaremos mais talentos para o centro do país, esvaziando de forma irreversível nossa produção cultural local.

Contatos:
aptcrs@yahoo.com.br
www.aptc.org.br

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