segunda-feira, 29 de março de 2010

Carter: Kátia Abreu recebe 25 vezes mais dinheiro do Governo do que o MST



Em dezembro de 2009, Miguel Carter concluiu o trabalho de organizar o livro ‘Combatendo a Desigualdade Social – O MST e a Reforma Agrária no Brasil.’. É um lançamento da Editora UNESP, que reúne colaborações de especialistas sobre a questão agrária e o papel do MST pela luta pela Reforma Agrária no Brasil.

Esta semana, ele conversou com Paulo Henrique Amorim, por telefone.

PHA – Professor Miguel, o senhor é professor de onde?

MC – Eu sou professor da American University, em Washington D.C.

PHA – Há quanto tempo o senhor estuda o problema agrário no Brasil e o MST?

MC- Quase duas décadas já. Comecei com as primeiras pesquisas no ano de 91.

PHA – Eu gostaria de tocar agora em alguns pontos específicos da sua introdução “Desigualdade Social Democracia no Brasil”. O senhor descreve, por exemplo, a manifestação de 2 de maio de 2005, em que, por 16 dias, 12 mil membros do MST cruzaram o cerrado para chegar a Brasília. O senhor diz que, provavelmente, esse é um dos maiores eventos de larga escala do tipo marcha na história contemporânea. Que comparações o senhor faria ?

MC – Não achei outra marcha na história contemporânea mundial que fosse desse tamanho. A gente tem exemplo de outras mobilizações importantes, em outros momentos, mas não se comparam na duração e no numero de pessoas a essa marcha de 12 mil pessoas. Houve depois, como eu relatei no rodapé, uma mobilização ainda maior na Índia, também de camponeses sem terra. Mas a de 2005 era a maior marcha.

PHA – O senhor compara esse evento, que foi no dia 2 de maio de 2005, com outro do dia 4 de junho de 2005 – apenas 18 dias após a marcha do MST – com uma solenidade extremamente importante aqui em São Paulo que contou com Governador Geraldo Alckmin, sua esposa, Dona Lu Alckmin, e nada mais nada menos do que um possível candidato do PSDB a Presidência da República, José Serra, que naquela altura era prefeito de São Paulo. Também esteve presente Antônio Carlos Magalhães, então influente senador da Bahia. Trata-se da inauguração da Daslu. Por que o senhor resolver confrontar um assunto com o outro ?

MC – Porque eu achei que começar o livro com simples estatísticas de desigualdades sociais seria um começo muito frio. Eu acho que um assunto como esse precisa de uma introdução que também suscite emoções de fato e (chame a atenção para) a complexidade do fenômeno da desigualdade no Brasil. A coincidência de essa marcha ter acontecido quase ao mesmo tempo em que se inaugurava a maior loja de artigos de luxo do planeta refletia uma imagem, um contraste muito forte dessa realidade gravíssima da desigualdade social no Brasil. E mostra nos detalhes como as coisas aconteciam, como os políticos se posicionavam de um lado e de outro, como é que a grande imprensa retratava os fenômenos de um lado e de outro.

PHA – O senhor sabe muito bem que a grande imprensa brasileira – que no nosso site nós chamamos esse pessoal de PiG (Partido da Imprensa Golpista) - a propósito da grande marcha do MST, a imprensa ficou muito preocupada como foi financiada a marcha. O senhor sabe que agora está em curso uma Comissão Parlamentar de Inquérito Mista, que reúne o Senado e a Câmara, para discutir, entre outras coisas, a fonte de financiamento do MST. Como o senhor trata essa questão ? De onde vem o dinheiro do MST ?

MC _ Tem um capítulo 9 de minha autoria feito em conjunto com o Horácio Marques de Carvalho que tem um segmento que trata de mostrar o amplo leque de apoio que o MST tem, inclusive e apoio financeiro.

PHA – O capítulo se chama “Luta na terra, o MST e os assentamentos” - é esse ?

MC – Exatamente. Há uma parte onde eu considero sete recursos internos que o MST desenvolveu para fortalecer sua atuação, nesse processo de fazer a luta na terra, de fortalecer as suas comunidades, seus assentamentos. E aí tem alguns detalhes, alguns números interessantes. Porque eu apresento dados do volume de recursos que são repassados para entidades parceiras por parte do Governo Federal. Eu sublinho no rodapé dessa mesma página o fato de que as principais entidades ruralistas do Brasil têm recebido 25 vezes mais subsídios do Governo Federal (do que o MST). E o curioso de tudo isso é que só fiscalizado como pobre recebe recurso público. Mas, sobre os ricos, que recebem um volume de recursos 25 vezes maior que o dos pobres, (sobre isso) ninguém faz nenhuma pergunta, ninguém fiscaliza nada. Parece que ninguém tem interesse nisso. E aí o Governo Federal subsidia advogados, secretárias, férias, todo tipo de atividade dos ruralistas. Então chama a atenção que propriedade agrária no Brasil, ainda que modernizada e renovada, continua ter laços fortes com o poder e recebe grande fatia de recursos públicos. Isso são dados do próprio Ministério da Agricultura, mencionados também nesse capítulo. Ainda no Governo Lula, a agricultura empresarial recebeu sete vezes mais recursos públicos do que a agricultura familiar. Sendo que a agricultura familiar emprega 80% ou mais dos trabalhadores rurais.

PHA – Qual é a responsabilidade da agricultura familiar na produção de alimentos na economia brasileira ?

MC – Na página 69 há muitos dados a esse respeito.

PHA- Aqui: a mandioca, 92% saem da agricultura familiar. Carne de frango e ovos, 88%. Banana, 85%.. Feijão, 78%. Batata, 77%. Leite, 71%. E café, 70%. É o que diz o senhor na página 69 sobre o papel da agricultura familiar. Agora, o senhor falava de financiamentos públicos. Confederação Nacional da Agricultura, presidida pela senadora Kátia Abreu, que talvez seja candidata a vice-presidente de José Serra, a Confederação Nacional da Agricultura recebe do Governo Federal mais dinheiro do que o MST ?

MC – Muito mais. Essas entidades ruralistas em conjunto, a CNA, a SRB, aquela entidade das grandes cooperativas, em conjunto elas recebem 25 vezes do valor que recebem as entidades parceiras do MST. Esses dados, pelo menos no período 1995 e 2005, fizeram parte do relatório da primeira CPI do MST. O relatório foi preparado pelo deputado João Alfredo, do Ceará.

PHA – O senhor acredita que o MST conseguirá realizar uma reforma agrária efetiva ? A sua introdução mostra que a reforma agrária no Brasil é a mais atrasada de todos os países que fazem ou fizeram reforma agrária. Que o Brasil é o lanterninha da reforma agrária. Eu pergunto: por que o MST não consegue empreender um ritmo mais eficaz ?

MC – Em primeiro lugar, a reforma agrária é feita pelo Estado. O que os movimentos sociais como o MST e os setenta e tantos outros que existem em todo o Brasil fazem é pressionar o Estado para que o Estado cumpra o determinado na Constituição. É a cláusula que favorece a reforma agrária. O MST não é responsável por fazer. É responsável por pressionar o Governo. Acontece que nesse país de tamanha desigualdade, a história da desigualdade está fundamentalmente ligada à questão agrária. Claro que, no século 20, o Brasil, se modernizou, virou muito mais complexo, surgiu todo um setor industrial, um setor financeiro, um comercial. E a (economia) agrária já não é mais aquela, com tanta presença no Brasil. Mas, ainda sim, ficou muito forte pelo fato de o desenvolvimento capitalista moderno no campo, nas últimas décadas, ligar a propriedade agrária ao setor financeiro do país. É o que prova, por exemplo, de um banqueiro (condenado há dez anos por subornar um agente federal – PHA) como o Dantas acabar tendo enormes fazendas no estado do Pará e em outras regiões do Brasil. Houve então uma imbricação muito forte entre a elite agrária e a elite financeira. E agora nessa última década ela se acentuou num terceiro ponto em termos de poder econômico que são os transacionais, o agronegócio. Cargill, a Syngenta… Antes, o que sustentava a elite agrária era uma forte aliança patrimonialista com o Estado. Agora, essa aliança se sustenta em com setor transacional e o setor financeiro.

PHA – Um dos sustos que o MST provoca na sociedade brasileira, sobretudo a partir da imprensa, que eu chamo de PiG, é que o MST pode ser uma organização revolucionária – revolucionária no sentido da Revolução Russa de 1917 ou da Revolução Cubana de 1959. Até empregam aqui no Brasil, como economista Xico Graziano, que hoje é secretário de José Serra, que num artigo que o senhor fala em “terrorismo agrário”. E ali Graziano compara o MST ao Primeiro Comando da Capital. O Primeiro Comando da Capital, o PCC, que, como se sabe ocupou por dois dias a cidade de São Paulo, numa rebelião histórica. Eu pergunto: o MST é uma instituição revolucionária ?

MC – No sentido de fazer uma revolução russa, cubana, isso uma grande fantasia. E uma fantasia às vezes alardeada com maldade, porque eu duvido que uma pessoa como o Xico Graziano, que já andou bastante pelo campo no Brasil, não saiba melhor. Ele sabe melhor. Mas eu acho que (o papel do) MST é (promover) uma redistribuição da propriedade. E não só isso, (distribuição) de recursos públicos, que sempre privilegiou os setores mais ricos e poderosos do país. Há, às vezes, malícia mesmo de certos jornalistas, do Xico Graziano, Zander Navarro, dizendo que o MST está fazendo uma tomada do Palácio da Alvorada. Eles nunca pisaram em um acampamento antes. Então, tem muito intelectual que critica sem saber nada. O importante desse (“Combatendo a desigualdade social”) é que todos os autores têm longos anos de experiência (na questão agrária). A grande maioria tem 20, 30 anos de experiência e todos eles têm vivência em acampamento e assentamentos. Então conhecem a realidade por perto e na pele. O Zander Navarro, por exemplo, se alguma vez acompanhou de perto o MST, foi há mais de 15 anos. Tem que ter acompanhamento porque o MST é de fato um movimento.

PHA – Ou seja, na sua opinião há uma hipertrofia do que seja o MST ? Há um exagero exatamente para criar uma situação política ?

MC – Exatamente. Eu acho que há interesse por detrás desse exagero. O exagero às vezes é inocente por gente que não sabe do assunto. Mas às vezes é malicioso e procura com isso criar um clima de opinião para reprimir, criminalizar o MST ou cortar qualquer verba que possa ir para o setor mais pobre da sociedade brasileira. Há muito preconceito de classe por trás (desse exagero).

(*)Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista

domingo, 28 de março de 2010

Emir Sader: quem acredita na FSP (Força Serra Presidente) ? Participe da campanha “A Folha (*) mente”

27/03/2010

Quem acredita na FSP (Força Serra Presidente)?

Menos de duas semanas depois de ter que se render às inquestionáveis tendências de subida da candidatura da Dilma e de estagnação e até mesmo descenso da de Serra, a FSP (Forca Serra Presidente) se apressou em fazer uma nova pesquisa, que nem esperou a tradicional divulgação de domingo, saindo no sábado.

Sem que nenhum fato político pudesse explicar, fizeram o que se imaginaria que um adepto da campanha serrista faria: levantar o animo depressivo da campanha opositora, tentando evitar o anti clímax do lançamento no dia 10 de abril da candidatura do Serra.

A manipulação – que já havia estado presente na não qualificação de empate técnico na diferença de 4 pontos – agora se revela abertamente. A FSP (Forca Serra Presidente) faz parte da direção da campanha do Serra e qualquer divulgação de pesquisa tem que ser caracterizado como manobra da campanha opositora.

Quem acredita na FSP (Forca Serra Presidente), depois de tudo que tem feito, desesperadamente, particularmente nestes últimos tempos, em que tiveram que abandonar a postura de aparente segurança na vitoria do seu colunista, o atual governador de São Paulo (ex presidente da UNE e ex prefeito de Sáo Paulo, ambos cargos abandonados por ele sem concluir o mandato), para se jogar, já sem nenhum escrúpulo, na campanha serrista?

Quem acredita no jornal que emprestou seus carros para dar cobertura à repressão da ditadura militar? Quem acredito no jornal que anunciou que haveria dezenas de milhões de vitimas da gripe suína no Brasil? Quem acredita no jornal que divulgou ficha falsa da Dilma? Quem acredita no jornal que publicou na primeira pagina artigo de suposto psicanalista acusando o governo de ter assassinado (sic) a mais de cem pessoas no acidente da TAM em Congonhas?

Quem acredita na FSP (Forca Serra Presidente), dirigida pelo filho do proprietário e não por nenhum tipo de eleição publica e democrática? Quem acredita em quem dirige o jornal porque é Frias Filho, filho do dono e não por algum tipo de mérito próprio que pudesse ter?

Quem acredita na FSP (Forca Serra Presidente) se o candidato que apóiam é colunista permanente do jornal, circula pela redação como se fosse sua casa, indica jornalistas vinculados a ele para cargos do jornal – como a diretora da redação de Brasilia, colunista da página 2, indicada por ele, conforme declaração de membro do Comite Editorial do jornal?

Como acreditar na FSP (Forca Serra Presidente) se se transformou no Diario Oficial Tucano (DOT), partido da direita brasileira, que dirigiu catastroficamente o país durante 8 anos – tendo mudado a Constituicao durante seu mandato para se beneficiar, com a compra de votos de parlamentares -, com todo o apoio desse jornaleco da Barão de Limeira?

Quem ainda acredita na FSP (Forca Serra Presidente)? Como se fez campanha no Chile, com Allende, contra o correspondente dessa imprensa no Chile, com o lema EL MERCURIO MIENTE, aqui devemos espalhar por todas partes, sobre a FSP (Forca Serra Presidente) e sobre seus congêneres, plásticos e toda forma de divulgação com o lema:

A FOLHA MENTE
O GLOBOMENTE
A VEJA MENTE
O ESTADAO MENTE.
Porque A DIREITA MENTE.

(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que avacalha o Presidente Lula por causa de um comercial de TV; que publica artigo sórdido de ex-militante do PT; e que é o que é, porque o dono é o que é ; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

Em tempo: e o editorial da FSP (Força Serra Presidente) de hoje ? Elogiar o governo do Supremo ex-Presidente do Supremo. Nem o Estadão foi capaz de tanto disparate. Clique aqui para ler “Estadão elogia Gilmar. Melhor seria se não tivesse feito” – PHA

Clique aqui para ler “Data-da-Folha vem aí. Mauricio da Carta também”.

sábado, 27 de março de 2010

Presidente da Bolsa e do BC de FHC vai ao exterior derrubar o Brasil



O Conversa Afiada reproduziu e-mail do amigo navegante Trindade:

Segundo o Jornal o Globo do dia 26 de março de 2010, dois grandes bancos o UBS da Suíça e o JP Morgan, dizem que a economia do Brasil corre o risco de “superaquecer”. Irônico, mas vejamos se a notícia é verdadeira ou se é obra do PIG.

Primeiramente tivemos notícias de que o Sr. Armínio Fraga estava ministrando palestras no exterior afirmando que a economia brasileira possuía bolhas e, que temos vários “gargalos na infra-estrutura”.

Questionei a BM&F Bovespa que seu Presidente estava especulando contra a Bolsa de Valores e contra a própria economia do país, Vejam o que a BM&F Bovespa respondeu:

“Prezado(a) Gilson José Trindade de Vasconcelos, Agradecemos seu contato. Mediante sua reclamação de protocolo 301131, informamos o abaixo disposto:

Obrigado por sua mensagem. O presidente do Conselho de Administração da BM&FBOVESPA, Arminio Fraga, é uma figura pública, que foi presidente do Banco Central e é também economista. Frequentemente é procurado pela mídia especializada em economia, que quer ouvi-lo sobretudo sobre temas do setor financeiro. As afirmações reproduzidas parcialmente pela Bloomberg foram extraídas de uma palestra de Arminio Fraga em Nova York, na Câmara de Comércio Brasil-EUA, que girou, grosso modo, em torno de dois pontos: os gargalos da infra-estrutura brasileira e a falta de investimento dirigid a a esse setor; e a política de combate à crise de 2008 praticada pelo Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

É opinião deste Ombudsman que a reprodução de alguns trechos dessa palestra pela Bloomberg não foi feliz, abrindo espaço para uma interpretação incorreta das palavras de Fraga. Em nenhum momento ele sugeriu aos estrangeiros que deixassem de investir no Brasil, por exemplo. Ou foi pessimista quando afirmou que a infra-estrutura brasileira é sofrível. Em relação aos estrangeiros, o que Fraga disse é que está preocupado com a percepção que esses investidores tem do Brasil atualmente – uma percepção alimentada por um excesso de otimismo com as perspectivas de crescimento do Paí s e que não condiz com nossa realidade, cujos níveis de investimento são ainda baixos e cuja infra-estrutura – e aqui ele usou aquela expressão que está entre aspas no texto da Bloomberg – está em péssimo estado (terrible shape). Trata-se obviamente de uma opinião, com a qual se pode ou não concordar. Mas não me parece que seja uma opinião pessimista.

Se o Sr. quiser mais informações, posso enviar-lhe por e-mail as principais reportagens sobre a fala de Arminio Fraga e sua repercussão”.

Veja o que respondi para a Ouvidoria da BM&F Bovespa:

Prezado Sr. Izalco Sardenberg, é bom lembrar que o Sr Armínio Fraga não ocupa uma posição qualquer, em minha opinião seu comportamento é antiético porque já foi Presidente do Banco Central na gestão de outro governo.

Em entrevista para a CNN, o ex-presidente do Banco Central Americano – Sr. Paul Volcker – disse que não opina sobre a gestão de outros. O Sr Armínio, ao que parece, incorre no que podemos chamar de “conflito de interesse”, porque sinaliza nos bastidores para um cenário pessimista, posição que aliás jamais assumiu durante sua permanência no BC do Brasil.

Direito de opinião – com o devido respeito – é um princípio Constitucional Pétreo, direito este que é usurpado sempre que um agente público e econômico resolve falar demais, sem recordar-se da ortodoxia que ele implacavelmente sujeitou a nosso país.

Repito que o direito de opinião não pode ser leviano, afinal o Sr. Armínio, nas suas próprias palavras “é um agente público” e, naquele momento, não falava apenas como cidadão, mas como agente de uma Bolsa de Valores, e valor é qualidade e não defeito.

1. Pense na seguinte hipótese Sr. Sardenberg: Um vendedor aperta a campainha de sua casa e diz:

” – Bom dia Sr. Sardenberg, trabalho para a empresa BM&FBOVESPA, quero oferecer-lhe ações de empresas de meu país – o Brasil – país agradável e de péssima infraestrutura, aliás essa deficiência pode causar problemas para o futuro da economia e, além disso é um país excessivamente otimista alvo de “bolhas”.

2. Um segundo vendedor bate à sua porta e argumenta:

” – Bom dia Senhor Sardenberg, trabalho para a Bolsa de Valores, vendo ações das empresas brasileiras, país que possuí alto potencial, grande demanda por infraestrutura e expectativa de crescimento, é uma grande oportunidade para se investir e lucrar”.

Qual o comportamento de quem quer investir? Quer comprar bons dividendos ou aplicar em maus dividendos?

A política da Bolsa, repito, não é cercear o direito de ninguém, mas sim zelar pela lisura e retidão de seus agentes e acho que nesse quesito a Bolsa está sendo reticente.

Sr. Fraga não possuí isenção e imparcialidade necessária a um agente público de tamanha envergadura, e o que estou dizendo merece ser considerado pois investir na Bolsa é o mesmo que investir no Brasil e, infelizmente, o Presidente do Conselho “desaconselha” os investidores a acreditar no potencial do Brasil.

Reflita e concluirá que no fundo tenho um pouco de razão.

Leandro: professor carrega policial ferido. O mundo bizarro de José Serra




O Conversa Afiada republicou post de Leandro Fortes:


Blog de Leandro Fortes

26/03/2010

O mundo bizarro de José Serra

Quase todos perdidos de armas nas mãos

Muito ainda se falará dessa foto de Clayton de Souza, da Agência Estado, por tudo que ela significa e dignifica, apesar do imenso paradoxo que encerra. A insolvência moral da política paulista gerou esse instantâneo estupendo, repleto de um simbolismo extremamente caro à natureza humana, cheio de amor e dor. Este professor que carrega o PM ferido é um quadro da arte absurda em que se transformou um governo sustentado artificialmente pela mídia e por coronéis do capital. É um mural multifacetado de significados, tudo resumido numa imagem inesquecível eternizada por um fotojornalista num momento solitário de glória. Ao desprezar o movimento grevista dos professores, ao debochar dos movimentos sociais e autorizar sua polícia a descer o cacete no corpo docente, José Serra conseguiu produzir, ao mesmo tempo, uma obra prima fotográfica, uma elegia à solidariedade humana e uma peça de campanha para Dilma Rousseff.

Inesquecível, Serra, inesquecível.

CHARGE do Kayser


Pandora



domingo, 21 de março de 2010

WANTED

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Carta Maior, 12/03/2010

Os fariseus e a dignidade

Por Emir Sader


O que sabem os leitores dos diários brasileiros sobre Cuba? O que sabem os telespectadores brasileiros sobre Cuba? O que sabem os ouvintes de rádio brasileiros sobre Cuba? O que saberia o povo brasileiro sobre Cuba, se dependesse da mídia brasileira?

O que mais os jornalistas da imprensa mercantil adoram é concordar com seus patrões. Podem exorbitar na linguagem, para badalar os que pagam seu salários. Sabem que atacar ao PT é o que mais agrada a seus patrões, porque é quem mais os perturba e os afeta. Vale até dar espaco para qualquer mercenário publicar calúnias contra o Lula, para, depois jogá-lo de volta na lata do lixo.

No circo dessa imprensa recentemente realizado em São Paulo, os relatos dizem que os donos das empresas – Frias, Marinhos – tinham intervenções mais discretas, – ninguem duvida das suas posiçõoes de ultra-direita -, mas seus empregados se exibiam competindo sobre quem fazia a declaração mais extremista, mais retumbante, sabendo que seriam recolhidas pela mídia, mas sobretudo buscando sorrisinho no rosto dos patrões e, quem sabe, uns zerinhos a mais no contracheque no fim do mês.

Quem foi informado pela imprensa que há quase 50 anos Cuba já terminou com o analfabetismo, que mais recentemente, com a participação direta dos seus educadores, o analfabetismo foi erradicado na Venezuela, na Bolívia e no Equador? Que empresa jornalística noiticiou? Quais mandaram repórteres para saber como países pobres ou menos desenvolvidos conseguiram o que mais desenvolvidos como os EUA ou mesmo o Brasil, a Argentina, o México, náo conseguiram?

Mandaram repórteres saber como funciona naquela ilha do Caribe, pouco desenvolvida economicamente, o sistema educacional e de saúde universal e gratuito para todos? Se perguntaram sobre a comparação feita por Michael Moore no seu filme "Sicko" sobre os sistemas de saúde – em particular o brutalmente mercantilizado dos EUA e o público e gratuito de Cuba?

Essas empresas privadas da mídia fizeram reportagens sobre a Escola Latinoamericana de Medicina que, em Cuba, já formou mais de cinco gerações de médicos de todos os países da América Latina e inclusive dos EUA, gratuitamente, na melhor medicina social do mundo? Foi despertada a curiosidade de algum jornalista, econômico, educativo ou não, sobre o fato de que Cuba, passando por grandes dificuldades econômicas – como suas empresas não deixam de noticiar – não fechou nenhuma vaga nem nas suas escolas tradicionais, nem na Escola Latinoamericana de Medicina, nem fechou nenhum leito em hospitais?

Se dependesse dessas empresas, se trataria de um regime “decrépito”, governado por dois irmãos há mais de 50 anos, um verdadeiro “goulag tropical”, uma ilha transformada em prisão.

Alguém tentou explicar como é possivel conviver esse tipo de sociedade igualitária com a base naval de Guantánamo? Se noticiam regularmente as barbaridades que ocorrem lá, onde presos sob simples suspeita, são interrogados e torturados – conforme tantas testemunhas que a imprensa se nega em publicar – em condições fora de qualquer jurisdição internacional?

Noticiam que, como disse Raul Castro, sim, se tortura naquela ilha, se prende, se julga e se condena da forma mais arbitrária possível, detidos em masmorras, como animais, mas isso se passa sob responsabilidade norteamericana, desse mesmo governo que protesta por uma greve de fome de uma pessoa que – apesar da ignorância de cronistas da família Frias – não é um preso, mas está livre, na sua casa?

Perguntam-se por que a maior potência imperial do mundo, derrotada por essa pequena ilha, ainda hoje tem um pedaco do seu territorio? Escandalizam-se, dizendo que se “passou dos limites”, quando constatam que isso se dá há mais de um século, sob os olhos complacentes da “comunidade internacional”, modelo de “civilização”, agentes do colonialismo, da escravidão, da pirataria, do imperialismo, das duas grandes guerras mundiais, do fascismo?

Comparam a “indignação” atual dos jornais dos seus patrões com o que disseram ou calaram sobre Abu-Graieb? Sobre os “falsos positivos” (sabem do que se trata?) na Colômbia? Sobre a invasao e os massacres no Panamá, por tropas norteamericanas, que sequestraram e levaram para ser julgado em Miami seu ex-aliado e então presidente eleito do país, Noriega, cujos 30 anos foram completamente desconhecidos pela imprensa? Falam do muro que os EUA construíram na fronteira com o México, onde morre todos os anos mais gente do que em todo tempo de existência do muro de Berlim? A ocupação brutal da Palestina, o cerco que ainda segue a Gaza, é tema de seus espacos jornalisticos ou melhor calar para que os cada vez menos leitores, telespectadores e ouvintes possam se recordar do que realmente é barbarie, mas que cometida pela “civilizada” Israel – que ademais conta com empresas que anunciam regularmente nos orgãos dessas empresas – deve ser escondida? Que protestos fizeram os empregados da empresa que emprestou seus carros para que atuassem os servicos repressivos da ditadura, disfarçaados de jornalistas, para sequestrar, torturar, fuzilar e fazer opositores desaparecerem? Disseram que isso “passou de todos os limites” ou ficaram calados, para não perder seus empregos?

Mas morreu um preso em Cuba. Que horror! Que oportunidade para bajular os seus patrões, mostrando indignação contra um país de esquerda! Que bom poder reafirmar diante deles que se se foi algum dia de esquerda, foi um resfriado, pego por más convivências, em lugares que não frequentam mais; já estão curados, vacinados, nunca mais pegarão esse vírus. (Um empregado da família Frias, casado com uma tucana, orgulha-se de ter ido a todos os Foruns Econômicos de Davos e a nenhum Fórum Social Mundial.
Ali pôde conhecer ricaços e entrevistá-los, antes que estivessem envoldidos em escândalos, quebrassem ou fossem para a prisão. Cada um tem seu gosto, mas não dá para posar como “progressista”, escolhendo Davos a Porto Alegre.)

Não conhecem Cuba, promovem a mentira do silêncio, para poder difamar Cuba. Não dizem o que era na época da ditadura de Batista e em que se transformou hoje. Não dizem que os problemas que têm a ilha é porque não quer fazer o que fez o darling dessa midia, FHC, impondo duro ajuste fiscal para equilibrar as finanças públicas, privatizando, favorecendo o grande capital, financeirizando a economia e o Estado. Cuba busca manter os direitos universais a toda sua população, para o que trata de desenvolver um modelo econômico que não faça com que o povo pague as dificuldades da economia. Mentem silenciando sobre o fato de que, em Cuba, não há ninguem abandonado nas ruas, de que todos podem contar com o apoio do Estado cubano, um Estado que nunca se rendeu ao FMI.

Cuba é a sociedade mais igualitária do mundo, a mais solidária, um país soberano, assediado pelo mais longo bloqueio que a história conheceu, de quase 50 anos, pela maior potência econômica e militar da história. Cuba é vítima privilegiada da imprensa saudosa do Bush, porque se é possivel uma sociedade igualitária, solidária, mesmo que pobre, que maior acusação pode haver contra a sociedade do egoísmo, do consumismo, da mercantilizacao, em que tudo tem preço, tudo se vende, tudo se compra?

Como disse Celso Amorim, o Ministro de Relações Exteriores do Brasil: os que querem contribuir a resolver a situação de Cuba tem uma fórmula muito simples – terminem com o bloqueio contra a ilha. Terminem com Guantanamo como base de terrorismo internacional, terminem com o bloqueio informativo, dêem aos cubanos o mesmo direito que dão diariamente aos opositores ao regime – o do expor o que pensam. Relatem as verdades de Cuba no lugar das mentiras, do silêncio e da covardia.

Diante de situações como essa, a razão e a atualidade de José Martí:

“Há de haver no mundo certa quantidade de decoro,
como há de haver certa quantidade de luz.
Quando há muitos homens sem decoro, há sempre outros
que têm em si o decoro de muitos homens.
Estes são os que se rebelam com força terrível
contra os que roubam aos povos sua liberdade,
que é roubar-lhes seu decoro.
Nesses homens vão milhares de homens,
vai um povo inteiro,
vai a dignidade humana…

quinta-feira, 18 de março de 2010

domingo, 14 de março de 2010

DISCURSO DA DILMA

Viva o povo brasileiro!
Para quem teve a vida sempre marcada pelo sonho e pela esperança de mudar o Brasil, este é para mim um dia extraordinário.

Meu partido -- o Partido dos Trabalhadores -- me confere a honrosa tarefa de dar continuidade à magnífica obra de um grande
brasileiro.
A obra de um líder -- meu líder -- de quem muito eu tenho orgulho: o presidente Lula, o Lula.
Jamais pensei que a vida me reservasse tamanho desafio. Mas me sinto absolutamente preparada para enfrentá-lo - com
humildade, com serenidade e com confiança.
Neste momento, ouço a voz da minha Minas Gerais, terra de minha infância e de minha juventude.. Dessa Minas que me deu o
sentimento de que vale a pena lutar, sim, pela liberdade e contra a injustiça. Ouço os versos de Drummond:
"Teus ombros suportam o mundo
E ele não pesa mais do que a mão de uma criança"
Até hoje eu sinto o peso suave da mão de minha filha, quando nasceu.
Que força naquele momento ela me deu. Quanta vida ela me transmitiu. Quanta fé na humanidade me passou. Eram, naquela
época, tempos difíceis.
Ferida no corpo e na alma, fui acolhida e adotada pelos gaúchos --- pelos gaúchos generosos, solidários, insubmissos, como
são os gaúchos.
Naqueles anos de chumbo, onde a tirania parecia eterna, encontrei nos versos de outro poeta -- Mário Quintana -- a força
necessária para seguir em frente. Mário Quintana disse:
"Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho."
Eles passaram e nós hoje voamos livremente.
Voamos porque nascemos para ser livres.
Sem ódio, sem revanchismo e com serena convicção afirmo que nunca mais viveremos numa gaiola, numa jaula ou numa prisão.
Hoje estamos construindo um novo país na democracia. Um país que se reencontrou consigo mesmo. Onde todos, todos, mas todos
mesmo, expressam livremente suas opiniões e suas idéias.
Mas um país que não tolera mais a injustiça social. Que descobriu que só será grande e forte se for de todos.
Vejo nesta manhã -- já quase tarde -- nos jovens que nos acompanham e nos mais velhos que aqui estão -- um extraordinário
encontro de gerações. De gerações que, como a minha, levaram nosso compromisso do país e com o país às últimas
consequências.
Amadureci. Amadurecemos nós todos.
Amadureci na vida. No estudo. No trabalho duro. Nas responsabilidades de governo no Rio Grande do Sul e, sobretudo, aqui no
governo do Brasil.
Mas esse amadurecimento não se confunde com perda de convicções.
Não perdemos a indignação frente à desigualdade social, à privação de liberdade, às tentativas de submeter nosso país.
Não sucumbimos aos modismos ideológicos. Persistimos em nossas convicções, buscando, a partir delas, construir alternativas
concretas e realistas.
Continuamos movidos a sonhos. Acreditando na força do povo brasileiro, em sua capacidade de construir um mundo melhor.
A história recente mostrou que estávamos certos.
Tivemos um grande mestre -- o Presidente Lula nos ensinou o caminho.
Em um país, com a complexidade e as desigualdades do Brasil, ele foi capaz de nos conduzir pelo caminho de profundas
transformações sociais em um clima de paz, de respeito e fortalecimento da democracia.
Não admitimos, portanto, que alguém queira nos dar lições de liberdade. Menos ainda aqueles que não tiveram e não têm
compromisso com ela.
Companheiras, Companheiros
Recebo com humildade a missão que vocês estão me conferindo. Com humildade, mas com coragem e determinação. Coragem e
determinação que vêm do apoio que recebo de meu partido e de seu primeiro militante mais ilustre -- o Presidente Lula.
Do apoio que espero ter dos partidos aliados que, com lealdade e competência, também são responsáveis pelos êxitos do nosso
Governo. Com eles quero continuar nossa caminhada. Participo de um governo de coalizão. Quero formar um Governo de
coalizão.
Estou consciente da extraordinária força que conduziu Lula à Presidência e que deu a nosso Governo o maior respaldo da
história de nosso país --a força do povo brasileiro. Esta é a força que nos conduziu até aqui e que nos mantém.
A missão que me confiam não é só de um partido ou de um grupo de partidos.
Recebo-a como um mandato dos trabalhadores e de seus sindicatos.
Dos movimentos sociais.
Dos que labutam em nossos campos.
Dos profissionais liberais.
Dos intelectuais.
Dos servidores públicos.
Dos empresários comprometidos com o desenvolvimento econômico e social do país.
Dos negros. Dos índios. Dos jovens.
De todos aqueles que sofrem ainda distintas formas de discriminação..
Enfim, das mulheres.
Para muitos, elas são "metade do céu". Mas queremos mesmo é metade da terra também. Com igualdade de direitos, salários e
oportunidades.
E como disse o presidente Lula, não há limite para nós mulheres. É esse, inclusive, um dos preceitos da primeira vez nós
termos uma candidata mulher.
Quero com vocês -- mulheres do meu país -- abrir novos espaços na vida nacional.
É com este Brasil que quero caminhar. É com ele que vamos discutir e seguir, avançando com segurança, mas com a rapidez que
nossa realidade social exige sistematicamente de nós.
Nessa caminhada encontraremos milhões de brasileiros que passaram a ter comida em suas mesas e hoje fazem três refeições
por dia.
Milhões que mostrarão suas carteiras de trabalho, pois têm agora emprego e melhor renda.
Milhões de homens e mulheres com seus arados e tratores cultivando a terra que lhes pertence e de onde nunca mais serão
expulsos.
Milhões que nos mostrarão suas casas dignas e os refrigeradores, fogões, televisores ou computadores que puderam comprar.
Outros milhões acenderão as luzes de suas modestas casas, onde reinava a escuridão ou predominavam os candeeiros. E estes
milhões de pontos luminosos pelo Brasil afora serão como uma trilha incandescente que mostra um novo caminho.
Nessa caminhada, veremos milhões de jovens mostrando seus diplomas de universidades ou de escolas técnicas com a convicção
de quem abriu uma porta para o futuro, para o seu futuro.
Milhões -- mas muitos milhões mesmo -- expressarão seu orgulho de viver em um país livre, justo e, sobretudo, respeitado em
todo o mundo.
Muitos me perguntam por que o Brasil avançou tanto nos últimos anos. Digo que foi porque soubemos construir novos caminhos,
e ter a vontade política de um grande líder, como o presidente Lula com a sua vontade de fazer trilhar, derrubando velhos
dogmas que funcionavam como barreiras nos caminhos do Brasil.
O primeiro caminho é o do crescimento com distribuição de renda -- o verdadeiro desenvolvimento.. Provamos que distribuindo
renda é que se cresce. E se cresce de forma mais rápida e sustentável..
Essa distribuição de renda permitiu construir um grande mercado de bens de consumo de massa, de consumo popular. Ele nos
protegeu dos efeitos da crise mundial. O nosso consumo, o consumo do povo brasileiro sustentou o país diante do medo que se
abateu sobre o sistema financeiro internacional e privado nacional.
Criamos 12 milhões de empregos formais. A renda dos trabalhadores aumentou. O salário mínimo real cresceu como nunca.
Expandimos o crédito para o conjunto da sociedade. Estamos construindo um Brasil para todos. Não o Brasil para uma minoria,
como fizemos sistematicamente desde os tempos da escravidão.
O segundo caminho foi o do equilíbrio macro-econômico e da redução da vulnerabilidade externa.
Eliminamos as ameaças de volta da inflação. Reduzimos a dívida em relação ao Produto Interno Bruto.
Aumentamos nossas reservas de 38 bilhões de dólares para mais de 241 bilhões. Multiplicamos por três nosso comércio
exterior, praticando uma política externa soberana, que buscou diversificar mercados.
Deixamos de ser devedores internacionais e passamos à condição de credores. Hoje não pedimos dinheiro emprestado ao FMI. É
o Fundo que pede dinheiro a nós.
Grande ironia é essa: os mesmos 14 bilhões de dólares que foram sacados do empréstimo, que antes o FMI nos emprestava,
agora somos nós que emprestamos ao FMI.
E isso faz a diferença no que se refere à nossa postura soberana.
O terceiro caminho foi o da redução das desigualdades regionais. Invertemos nos últimos anos o que parecia uma maldição
insuperável. Quando o país crescia, concentrava riqueza nos estados e regiões mais prósperos. Quando estagnava, eram os
estados e regiões mais pobres que pagavam a conta.
Governantes e setores das elites viam o Norte e o Nordeste como regiões irremediavelmente condenadas ao atraso.
A vastos setores da população não restavam outras alternativas que a de afundar na miséria ou migrar para o sul em busca de
oportunidades. É o que explica o inchaço das nossas grandes cidades e das médias também.
Essa situação está mudando por decisão do governo do presidente Lula que focou nessas questões, num grande conjunto de sua
política de desenvolvimento.
O Governo Federal começou um processo consistente de combate às desigualdades regionais. Passou a ter confiança na
capacidade do povo das regiões mais pobres. O Norte e o Nordeste receberam investimentos públicos e privados. O crescimento
dessas duas regiões passou a ser sensivelmente superior ao do Brasil como um todo no período da crise.
Nós vamos aprofundar esse caminho e esse compromisso de acabar com esse desequilíbrio. O Brasil não mais será visto como um
trem em que uma única locomotiva puxa todos vagões, como nos tempos da "Maria Fumaça". O Brasil de hoje é como alguns dos
modernos trens de alta velocidade, onde vários vagões são como locomotivas e contribuem para que o comboio avance, se
desenvolva e cresça. Nós queremos 27 locomotivas puxando o trem do Brasil.
O quarto caminho que trilhamos e continuaremos a trilhar é o da reorganização do Estado.
Alguns ideólogos chegavam a dizer que quase tudo seria resolvido pelo mercado. O resultado foi desastroso para muitos
países.
Aqui, no Brasil, o desastre só não foi maior -- como em outros países -- porque os brasileiros resistiram a esse desmonte e
conseguiram impedir a privatização parcial e integral da Petrobrás, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica ou de FURNAS.
Alguns falam todos os dias de "inchaço da máquina estatal". Omitem, no entanto, que estamos contratando basicamente médicos
e profissionais de saúde, professores e pessoal na área da educação, diplomatas, policiais federais e servidores para as
áreas de segurança, controle e fiscalização.
Escondem, também, que a recomposição do corpo de servidores do Estado está se fazendo por meio de concursos públicos.
Vamos continuar valorizando o servidor e o serviço público. Reconstituindo o Estado. Recompondo sua capacidade de planejar,
gerir e induzir o desenvolvimento do país.
É muito bom lembrar que diante da crise, quando o crédito secou, não sacrificamos os investimentos públicos e privados. Ao
contrário, utilizamos nossos bancos para impulsionar o desenvolvimento e a garantia de emprego no País. Por isso, quando em
muitos países, o emprego caia, em 2009, aqui, nós conseguimos criar quase um milhão de empregos.
Na verdade, quando a crise mundial apenas começava, Lula disse em seu discurso na ONU em 2008:
É chegada a hora da política!
Nada mais apropriado do que essa frase. A maior prova nós demos ao mundo: o Brasil só pôde enfrentar com sucesso a crise
porque tivemos políticas públicas adequadas. Soubemos articular corretamente Estado e mercado, porque colocamos o interesse
público no centro de nossas preocupações.
O quinto caminho foi o de nossa presença soberana no mundo.
O Brasil não mais se curva diante dos poderosos. Sem bravatas e sem submissão, o país hoje defende seus interesses e, como
diz minha mãe, se dá ao respeito. É solidário com as nações pobres e em desenvolvimento. Tem uma especial relação com a
América do Sul, com a América Latina e com a África. Estreita os laços Sul-Sul, sem abandonar suas relações com os países
desenvolvidos. Busca mudar instituições multilaterais obsoletas, que impedem a democratização econômica e política do
mundo.
Essa presença global, e o corajoso enfrentamento de nossos problemas domésticos em um marco democrático, explicam o
respeito internacional que hoje gozamos.
O sexto caminho para onde convergem todos os demais foi o do aperfeiçoamento democrático.
No passado, tivemos momentos de grande crescimento econômico. Mas faltou democracia. E nós sabemos como faltou!
Em outros momentos tivemos democracia política, mas faltou democracia econômica e social. E sabemos muito bem que quando
falta democracia econômica e social, é a democracia como um todo que começa a ficar ameaçada. O país fica à mercê das
soluções de força ou de aventureiros.
Hoje nós estamos crescendo e distribuindo renda, com equilíbrio macro-econômico, com expansão da democracia, com forte
participação social na definição das políticas públicas e com respeito aos Direitos Humanos.
Quem duvidar do vigor da nossa democracia que leia, que escute ou que veja o que dizem os jornais livremente, o que dizem
nos jornais livremente as vozes oposicionistas. Mas isso não nos perturba. Preferimos as vozes dessas oposições -- ainda
quando mentirosas, injustas e caluniosas -- ao silêncio das ditaduras.
Como disse o Presidente Lula, a democracia não é a consolidação do silêncio, mas a manifestação de múltiplas vozes
defendendo seus direitos e interesses. Nela, vai desaparecendo o espaço para que velhos coronéis e os velhos senhores
tutelem o povo. Este passa a pensar com sua cabeça e a se constituir uma nova e verdadeira opinião pública.
As instituições funcionam no país. Os poderes são independentes. A Federação é respeitada. Diferentemente de outros
períodos de nossa história, o Presidente relacionou-se de forma republicana com governadores e prefeitos, não fazendo
qualquer tipo de discriminação em função de suas filiações partidárias.
Não praticamos nenhum casuísmo. Basta ver a reação firme e categórica do Presidente Lula ao frustrar as tentativas de mudar
a Constituição para que pudesse disputar um terceiro mandato. Não mudamos -- como se fez no passado -- as regras do jogo no
meio da partida.
Como todos podem ver, temos um extraordinário alicerce e uma herança bendita sobre a qual construir o terceiro Governo
Democrático e Popular. Temos rumo, experiência e impulso para seguir o caminho iniciado por Lula. Não haverá retrocesso,
nem aventuras. Mas podemos avançar muito mais. E muito mais rapidamente.
Queridas companheiras, queridos companheiros.
Não é meu propósito apresentar aqui um Programa de Governo.
Este Congresso aprovou as Diretrizes para um programa que será submetido ao debate com os partidos aliados e com a
sociedade.
Hoje quero assumir alguns compromissos como pré-candidata, para estimular nossa reflexão e indicar como pretendemos
continuar este processo iniciado há sete anos.
Vamos manter e aprofundar aquilo que é marca do Governo Lula -- seu olhar social, seu compromisso social. Queremos um
Brasil para todos. Nos aspectos econômicos e em suas projeções sociais, mas também um Brasil sem discriminações, sem
constrangimentos. Ampliaremos e aperfeiçoaremos os programas sociais do Governo Lula, como o Bolsa Família, e implantaremos
novos programas com o propósito de erradicar a miséria na década que se inicia.
Vamos dar prioridade à qualidade da educação, essencial para construir o grande país que almejamos, fundado no conhecimento
e na justiça social. Mas a educação será, sobretudo, um meio de emancipação política e cultural do nosso povo. Uma forma de
pleno acesso à cidadania. Daremos seguimento à transformação educacional em curso -- da creche ao pós-graduação.
Os jovens serão os primeiros beneficiários da era de prosperidade que começamos a construir no primeiro governo do
presidente Lula, que continuamos no segundo e que continuaremos. Nosso objetivo estratégico é oferecer a eles a
oportunidade de começar a vida com segurança, liberdade, trabalho e realização pessoal.
No Brasil temos hoje 50 milhões de jovens, entre os 15 e os 29 anos de idade. Mais de um quarto da nossa população. É para
eles que estamos construindo um Brasil melhor. Eles têm direito a um futuro melhor.
O Brasil precisa muito da juventude. De profissionais qualificados. De mulheres e homens bem formados.
Isto se faz com escolas que propiciem boa formação teórica e técnica, com professores contratados, concursados, bem
treinados e bem remunerados. Isso não é inchaço da máquina, é imprescindível para todos. Com bolsas de estudo e apoio para
que os alunos não sejam obrigados a abandonar a escola. Com banda larga gratuita para todos, computadores para os
professores, salas de aula informatizadas para os estudantes. Com acesso a estágios, cursos de especialização e ajuda para
entrar no mercado de trabalho.
Serão esses jovens bem formados e preparados que vão nos conduzir à sociedade do conhecimento nas próximas décadas.
Protegeremos as crianças e os mais jovens da violência, do assédio das drogas, da imposição do trabalho em detrimento da
formação escolar e acadêmica.
As crianças e os mais jovens devem ser, sim, protegidos pelo Estado, desde a infância, para que possam se realizar, em sua
plenitude, como brasileiros.
Companheiros e companheiras,
Um País se mede pelo grau de proteção que dá a suas crianças. São elas a essência do nosso futuro. E é na infância que a
desigualdade social cobra seu preço mais alto. Crianças desassistidas do nascimento aos cinco anos serão jovens e adultos
prejudicados nas suas aptidões e oportunidades. Cuidar delas adequadamente é combater a desigualdade social na raiz.
Vamos ampliar e disseminar por todo o Brasil a rede de creches, pré-escolas e escolas infantis. Um tipo de creche onde a
criança tem acesso à socialização pedagógica, aos bens culturais e aos cuidados de nutrição e saúde indispensáveis ao seu
pleno desenvolvimento. E o governo federal vem fazendo isso. E é isso é o que está previsto no PAC 2.
Vamos resolver os problemas da saúde, pois temos um incomparável modelo institucional -- o SUS. Com mais recursos e melhor
gestão vamos aprimorar a eficácia do sistema. Vamos reforçar as redes de atenção à saúde e unificar as ações entre os
níveis de governo. Darei importância às Unidades de Pronto Atendimento, as UPAs --pretendemos chegar até 2010, até o fim do
governo do presidente Lula, a 500 UPAs. Daremos prioridade também ao SAMU, aos hospitais públicos e conveniados, aos
programas Saúde da Família, Brasil Sorridente, que o presidente Lula tanto se empenha para implantar, e Farmácia Popular.
Vamos cuidar das cidades brasileiras. Colocar todo o empenho do Governo Federal, junto com estados e municípios, para
promover uma profunda reforma urbana, que beneficie prioritariamente as camadas mais desprotegidas.
Vamos melhorar a habitação e vamos perseguir a universalização do saneamento. Implantar transporte seguro, barato e
eficiente. Tudo isso está previsto no chamado PAC 2.
Vamos reforçar, também, os programas de segurança pública.
A conclusão do PAC 1 e a implementação do PAC 2, junto com a continuidade do programa Minha Casa, Minha Vida serão
decisivos para realizar esse compromisso. Serão decisivos para melhorar as condições de vida dos brasileiros. Naquilo que é
talvez uma das maiores chagas da história do Brasil, que é o fato de uma parte da população ter sido obrigada a morar em
favelas, em áreas de riscos, como beiras de córregos e, quando caem as grandes chuvas, são eles os mais afetados e os que
mais sofrem conseqüências dramáticas, incluindo a morte.
Vamos fortalecer a proteção de nosso meio ambiente. Continuaremos reduzindo o desmatamento e impulsionando a matriz
energética mais limpa do mundo. Vamos manter a vanguarda na produção de biocombustíveis e desenvolver nosso potencial
hidrelétrico. Desenvolver sem agredir o meio ambiente, com usinas a fio d'água e utilizando o modelo de usinas-plataforma.
Aprofundaremos nosso zoneamento agro-ecológico. Nossas iniciativas explicam a liderança que alcançamos na Conferência sobre
a Mudança do Clima, em Copenhague. As metas voluntárias de Copenhague, assumidas pelo Brasil, serão cumpridas, haja ou não
acordo internacional. Este é o nosso compromisso haja, ou não, acordo internacional. Esse é o compromisso do presidente
Lula e o meu compromisso.
Vamos aprofundar os avanços já alcançados em nossa política industrial e agrícola, com ênfase na inovação, no
aperfeiçoamento dos mecanismos de crédito, aumentando nossa produtividade.
Agregar valor a nossas riquezas naturais é fundamental numa política de geração de empregos no País. Tudo que puder ser
produzido no Brasil deve ser -- e será -- produzido no Brasil. Sondas, plataformas, navios e equipamentos aqui produzidos,
para a exploração soberana do Pré-sal. Essa decisão vai gerar emprego e renda para os brasileiros. Emprego e renda que
virão também da produção em indústrias brasileiras de fertilizantes, combustíveis e petroquímicos derivados do óleo bruto.
Assim, com este modelo soberano e nacional, a exploração do Pré-sal dará diversidade e sofisticação à nossa indústria.
Os recursos do Pré-sal, aplicados no Fundo Social, sustentarão um grande avanço em nossa educação e na pesquisa científica
e tecnológica. Recursos que também serão destinados para o combate à pobreza, para a defesa do meio ambiente e para a nossa
cultura.
Vamos continuar mostrando ao mundo que é possível compatibilizar o desenvolvimento da agricultura familiar e do
agronegócio. Assegurar crédito, assistência técnica e mercado aos pequenos produtores e, ao mesmo tempo, apoiar os grandes
produtores, que contribuem decisivamente para o superávit comercial brasileiro.
Todas as nossas ações de governo têm, sem sombra de dúvida, uma premissa: a preservação da estabilidade macro-econômica.
Vamos manter o equilíbrio fiscal, o controle da inflação e a política de câmbio flutuante.
Vamos seguir dando transparência aos gastos públicos e aperfeiçoando seus mecanismos de controle.
Vamos combater a corrupção, utilizando todos os mecanismos institucionais, como fizemos até agora.
Vamos concretizar, junto com o Congresso, as reformas institucionais que não puderam ser completadas ou foram apenas
parcialmente implantadas, como a reforma política e a tributária.
Uma coisa é estratégica. Vamos aprofundar nossa postura soberana no complexo mundo de hoje. É como diz o presidente Lula:
"Quem não se respeita, não pode ser respeitado". Seremos intransigentes na defesa da paz mundial e de uma ordem econômica e
política mais justa.
Enfim, vamos governar para todos. Com diálogo, tolerância e combatendo as desigualdades sociais e regionais.
Companheiras e companheiros,
Faremos na nossa campanha um debate de idéias, com civilidade e respeito à inteligência política dos brasileiros e das
brasileiras. Um debate voltado para o futuro.
Nós somos aqueles que temos o que apresentar.
Recebo essa missão especialmente como um mandato das mulheres brasileiras, como mais uma etapa no avanço de nossa
participação política e como mais uma vitória contra a discriminação secular que nos foi imposta. Gostaria de repetir:
quero com vocês, mulheres do meu País, abrir novos espaços na vida nacional.
Queridas amigas e amigos
No limiar de uma nova etapa de minha vida, quando sou chamada a tamanha responsabilidade, penso em todos aqueles que
fizeram e fazem parte de minha trajetória pessoal.
Em meus queridos pais.
Em minha filha, meu genro e em meu futuro neto ou neta.
Nos tantos amigos que fiz.
Nos companheiros com quem dividi minha vida.
Mas não posso deixar de ter uma lembrança especial para aqueles que não mais estão conosco. Para aqueles que caíram pelos
nossos ideais. Eles fazem parte de minha história.
Mais que isso: eles são parte da história do Brasil.
Quero recordar três companheiros que se foram na flor da idade.
Carlos Alberto Soares de Freitas.
Beto, você ia adorar estar aqui conosco.
Maria Auxiliadora Lara Barcelos
Dodora, você está aqui no meu coração. Mas também aqui com cada um de nós.
Iara Yavelberg.
Iara, que falta fazem guerreiras como você.
O exemplo deles me dá força para assumir esse imenso compromisso.
A mesma força que vem de meus companheiros de partido, sobretudo daquele que é nosso primeiro companheiro -- o presidente
Lula.
Este ato de proclamação de minha candidatura tem uma significação que transcende seu aspecto eleitoral.
Estamos hoje concluindo o Quarto Congresso do Partido dos Trabalhadores.
Mais do que isso: estamos celebrando os Trinta Anos do PT.
Trinta anos desta nova estrela que veio ocupar lugar fundamental no céu da política brasileira.
Em um período histórico relativamente curto mudamos a cara de nosso sofrido e querido Brasil.
O PT cumpriu essa tarefa porque não se afastou de seus compromissos originais. Soube evoluir. Mudou, quando foi preciso.
Mas não mudou de lado.
Até chegar à Presidência do país, o PT dirigiu cidades e estados, gerando práticas inovadoras políticas, econômicas e
sociais que o mundo observa, admira e muitas vezes reproduz. Fizemos isso, preservando e fortalecendo a democracia.
Mas, a principal inovação que o PT trouxe para a política brasileira foi colocar o povo -- seus interesses, aspirações e esperanças -- no centro de suas ações.
Olhando para este magnífico plenário o que vejo é a cara negra, branca, índia e mestiça do povo brasileiro.
Esta é a cara do meu partido.
O rosto daqueles e daquelas que acrescentam à sua jornada de trabalho, uma segunda jornada -- ou terceira, no caso das mulheres: a jornada da militância.
Quero dizer a todos vocês que tenho um enorme orgulho de ser petista. De militar no mesmo partido de vocês. De compartilhar com Lula essa militância.
Companheiros e companheiras,
Estou aceitando a honrosa missão que vocês me delegam com tranquilidade e determinação.
Sei que não estou sozinha.
A tarefa de continuar mudando o Brasil é uma tarefa de milhões. Somos milhões.
Vamos todos juntos, até a vitória.

Viva o povo brasileiro!"

quinta-feira, 11 de março de 2010

REVISTA STRAVA9ANZA

OS JORNAIS SÃO UM LIXO

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Mais uma do JUREMIR

As virtudes da Dilma


Jornal Correio do Povo de 08/03/2010
Juremir Machado da Silva

Chega de preconceito: Dilma Rousseff é uma excelente candidata à Presidência da República. Talvez a melhor entre os que estão no jogo. Poderia, quem sabe, ter as preocupações ecológicas de Marina Silva. Aí ela seria perfeita. Diz-se que não tem experiência eleitoral. Pouco importa. Sempre é tempo de começar. Afirma-se que ela não tem experiência administrativa. Tem muito mais, por exemplo, do que Luiz Inácio quando foi eleito. É economista. Já foi secretária da Fazenda de Porto Alegre, secretária de Minas, Energia e Comunicação do Rio Grande do Sul, ministra de Minas e Energia e da Casa Civil.

Tem, na verdade, um extenso currículo. Quais os seus defeitos então? É antipática, de faca na bota, esquerdista e foi guerrilheira. Simpatia é papo de marqueteiro. Os preconceitos contra Luiz Inácio incluíam o fato de ele não ter um dedo, não ter formação universitária, dizer, vez ou outra, "menas" e "a nível de" e querer redistribuir renda no Brasil. Hoje, o "analfabeto", depois de quase oito de governo, tem quase 80% de aprovação popular, o melhor nível da economia brasileira nos últimos 30 anos, política social com sensibilidade de primeiro mundo e reconhecimento internacional de matar de inveja o doutor FHC. No meio do caminho, claro, tinha um mensalão. Quem não tem um que jogue a primeira pedra. Falta denunciar a política repressiva de Cuba. O cachimbo e a foice entortam a boca.

Dilma é competente, séria e dura na queda. Participou de assalto a banco? E daí? Era uma jovem idealista que acreditava numa sociedade melhor e lutava contra um ditadura que não se constrangeu em usar métodos medievais como a tortura para combater seus adversários. Afinal, quem tem mais do que se envergonhar? Quem assaltou banco e sequestrou por acreditar, mesmo errando, que esse era o caminho para um Brasil melhor ou quem torturou e matou para manter o Brasil sem mudanças substanciais? Dilma já encostou em Serra. Tem tudo para ultrapassá-lo assim que começar a campanha. Talvez antes. A direita está desesperada. Tenta de tudo. Nada funciona.

A elite brasileira é predadora. Ainda critica o Bolsa-Família. Tem gente que detesta o Bolsa-Família por maldade. É aquele tipo de pessoa ruim que defende o "cada um por si" e o "azar o deles se não têm o que comer, que trabalhem", mesmo não existindo emprego. Tem outro segmento social que odeia o Bolsa-Família por uma razão ainda mais egoísta: gostaria de ficar com o dinheiro destinado a esse fim. São os ricos predadores do Estado, sempre em busca de um financiamento barato ou de uma compensação por perdas no cassino econômico. A eleição de Dilma impedirá alterações profundas nessa política que vem dando certo. O povo sabe que não se mexe em time que está ganhando. Daí o bombardeio em cima da candidata.

O jogo está feito. Dilma tem fortes chances de ser a primeira mulher a governar o Brasil. Parte de bases sólidas. Nos debates, com seus conhecimentos técnicos, vai ficar longe da demagogia habitual. Certo, Dilma não tem o carisma do chefe. Tem algumas vantagens essenciais: não é corintiana nem faz metáforas futebolísticas.

JUREMIR MACHADO DA SILVA correio@correiodopovo.com.br

segunda-feira, 8 de março de 2010

Dia internacional da mulher

Postado por Juremir Machado da Silva - 07/03/2010 09:57
Correio do Povo

Ano passado, no dia internacional da mulher, publiquei um texto que atualizo agora.

Alguns pensadores ditos estruturalistas (como se dizia em Palomas, não vale a pena explicar, já passou) decretaram que o homem era (ou é) uma invenção recente. Se de fato é, sinto muito, já está obsoleta. A mulher, tenho certeza disso, é uma invenção mais antiga. Não acredito, com todo respeito, na hipótese de que Eva saiu de uma costela de Adão. Acho que foi o contrário. Adão não teria suportado morar sozinho no paraíso sem futebol nem cerveja. Está certo que Dilma Roussef parece que vai sair diretamente de uma costela de Luiz Inácio para a presidência da República. Mas isso não prova coisa alguma. Salvo que o PT está sem quadros para substituir o condutor ou que a mulher é a melhor solução. Todo ano, no dia internacional da mulher, eu penso a mesma coisa: a mulher, em termos darwinistas culturais, está mais aparelhada para se adaptar ao mundo contemporâneo. Não é por acaso que elas vivem mais. E nos carregam.
A lógica feminina é mais perfeita. Começa que os homens nem têm lógica. Ou, se quiserem, limitam-se a uma lógica binária: Grêmio ou Inter. O Juventude não passa, como dizia aquela música, de uma nuvem passageira que foi parar na segunda divisão. As mulheres são incrivelmente mais complexas. Foram elas que inventaram o talvez. Sem o talvez, garanto (sou homem), não haveria Shakespeare nem Machado de Assis. Tampouco mistério ou suspense. Capitu é a encarnação de um talvez ainda não resolvido, mas deliciosamente disseminado. O mundo nunca mais foi o mesmo depois do talvez. Sim ou não é coisa de primitivos. Como a brutalidade tende a se impor sobre a sofisticação, os homens dominaram o sexo feminino nos últimos anos (mais ou menos quatro mil). As mulheres são tão fortes que sobreviveram. Os homens teriam morrido todos no parto ou por causa da dupla jornada. Não estou querendo dizer que o masculino é o verdadeiro sexo frágil. É pura dissimulação. Aí está: os homens é que são dissimulados. Fingem estar perdendo o poder.
Eu sonho com a dominação total das mulheres. Quero mulheres em todos os postos de comando. Só elas são transparentes, objetivas, sinceras e diretas. Esse é o paradoxo do gênero: homens dizem sim ou não. Mas nunca se sabe se estão falando a verdade. Em geral, estão mentindo.
Com as mulheres é muito mais simples: sim é sim e não é não, exceto quando não é sim e sim é não, o que qualquer homem, por mais limitado que seja, consegue perceber. A emancipação da mulher ainda não se completou. A brutalidade masculina ainda faz estragos imensos. As estatísticas não mentem: homens matam mais. A prova da superioridade feminina está no fato de que é quase impossível vê-las enterradas no sofá encharcando-se de cerveja e olhando 22 homens correrem atrás de uma bola sem conseguir, ao longo de 90 minutos, fazer um gol. As mulheres têm um vestuário muito mais complexo. Comunicam-se de modo mais sutil. A dominação masculina fez do homem o centro do mundo.
Qual foi a grande filósofa grega? Os gregos só gostavam mesmo de homens. Qual foi a grande pintora da Renascença? Deve ter. Eu é que sou ignorante. Os machos são pulhas e parasitas. Sufocaram as mulheres. Não as deixaram produzir ou relegaram o que elas produziram ao esquecimento. Alguns ainda lamentam a grande virada das últimas décadas.
Eu, se fosse mulher, juraria vingança. Até nisso as mulheres são superiores.
Têm aceitado uma anistia ampla, geral e irrestrita.
Nunca entendi esses três termos. Sempre achei que dizem o mesmo.
Já imaginaram se as mulheres resolvessem entrar na justiça para exigir reparação pelos séculos em que foram exploradas por nós? Eu, no lugar delas, imporia um castigo. Exigiria um dia internacional do homem.
E os obrigaria a perder a barriga.

Postado por Juremir Machado da Silva

domingo, 7 de março de 2010

A CORAGEM DE FAZER





A página da secretaria é modesta e não informa todos os feitos corajosos desta filha aguerrida e orgulhosa do Rio Grande do Sul. Como fechar salas de cinema, por exemplo. Não há nenhum registro sobre o fechamento da sala Norberto Lubisco, na Casa de Cultura Mário Quintana. Especula-se que a decisão de fechar a sala de 53 lugares deva-se a uma avaliação feita pela Secretaria da Cultura acerca da ausência de um “projeto transformador, agregador e educativo” no funcionamento da mesma. No site da Casa de Cultura Mário Quintana, há uma breve referência a Lubisco: “Fotógrafo gaúcho que marcou por mais de três décadas a produção cinematográfica. Teve seus trabalhos inúmeras vezes premiados com Kikito de melhor direção de fotografia no Festival de Cinema de Gramado.”
Uma trajetória que, infelizmente, parece ter sido insuficiente para manter a sala aberta e o emprego de três funcionários demitidos. Mas, enfim, a secretária da Cultura e a governadora do Estado tem mais o que fazer para defender os “símbolos da nossa cultura”. Coragem é o que não falta a este governo. Fechar uma sala de cinema alternativa ao circuito comercial é como tirar doce de criança. Só meia dúzia de gatos pingados iam lá mesmo, devem ter avaliado as corajosas e aguerridas gestoras. Que vão para os cinemas nos shoppings. Lá tem pipoca, refri, estacionamento, lojas para comprar algo. Quando retornar da Cavalgada do Mar, a secretária certamente explicará como isso é mais agregador, educativo e transformador.

Marco Aurélio Weissheimer

“Cavalgamos no mato fechado, sem sinal de celular e completamente isolados do mundo.. O percurso foi difícil e perigoso”.
Mônica Leal, Secretaria Estadual da Cultura do Rio Grande do Sul, no Twitter
Visitar o site da Secretaria da Cultura do governo Yeda Crusius (PSDB) sempre é uma experiência transcendente. Lá ficamos sabendo das corajosas iniciativas deste governo para “manter viva a tradição gaúcha”, expressão que, aparentemente, resume a compreensão da secretária Mônica Leal acerca da pasta que comanda. Ficamos sabendo, por exemplo, que, pelo terceiro ano consecutivo, a secretária acompanha os mais de 3 mil cavalarianos que participam da 26ª Cavalgada do Mar. “Mulheres a Cavalo pelo Rio Grande” é o lema da cavalgada este ano, uma “homenagem às Anitas”, segundo informa o site da Sedac. Segundo a secretária, trata-se de “um projeto transformador, agregador e educativo, símbolo da nossa cultura”. “A Cavalgada do Mar merece todo o meu interesse e atenção, como secretária da Cultura e como filha aguerrida e orgulhosa do Rio Grande do Sul”, diz Mônica Leal.

DEM corresponsabiliza negros pela escravidão

Para uma discussão que sempre convoca emoções e discursos inflamados, como é a das cotas raciais ou reserva de vagas nas universidades públicas para negros, a audiência pública que se iniciou ontem no Supremo Tribunal Federal transcorreu em calma na maior parte do tempo. Até que um óóóóóóó atravessou a sala. Quem falava, então, era o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), que se esforçava para demonstrar a corresponsabilidade de negros no sistema escravista vigente no Brasil durante quatro séculos.

A reportagem é de Laura Caprigilone e Lucas Ferraz e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo,04-03-2010.

Disse Demóstenes sobre o tráfico negreiro: "Todos nós sabemos que a África subsaariana forneceu escravos para o mundo antigo, para o mundo islâmico, para a Europa e para a América. Lamentavelmente. Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos. Mas chegaram. (...) Até o princípio do século XX, o escravo era o principal item de exportação da pauta econômica africana."

Sobre a miscigenação: "Nós temos uma história tão bonita de miscigenação... [Fala-se que] as negras foram estupradas no Brasil. [Fala-se que] a miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro. [Fala-se que] foi algo forçado. Gilberto Freyre, que é hoje renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual."

As referências à história "tão bonita" da miscigenação brasileira, ao negro traficante de mão de obra negra, o democrata usou para argumentar contra as cotas raciais, já adotadas em 68 instituições de ensino superior em todo o país, estaduais e federais. Desde 2003, cerca de 52 mil alunos já se formaram tendo ingressado na faculdade como cotistas.

O partido de Demóstenes considera que as cotas raciais são inconstitucionais porque, ao reservar vagas para negros e afrodescendentes, contrariariam o princípio da igualdade dos candidatos no vestibular.
Na condição de relator de dois processos sobre o tema (também há um recurso extraordinário interposto por um candidato que se sentiu prejudicado pelo sistema de cotas adotado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul), o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, decidiu convocar a audiência pública, que se estenderá até sexta-feira, com intervenções pró e anticotas.

A audiência pública é uma forma de as partes interessadas levarem seus pontos de vista ao STF. Segundo Lewandowski, o assunto será votado ainda neste ano. Se considerar que as cotas ferem preceito fundamental, acaba essa modalidade de ingresso no sistema universitário. Se considerar que são ok, a decisão sobre adotar ou não uma política de cotas continuará a ser dos conselhos universitários.

No primeiro dia, falou uma maioria de favoráveis às cotas, em um placar de 10 a 3. Falaram representantes de ministérios e de universidades favoráveis às cotas, e os advogados do DEM e do estudante gaúcho, além de Demóstenes.