quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

TURPILÓQUIO

Por trás dos discursos indignados com o palavrão discursado pelo Exmo. Sr. Presidente da República, se esconde a ideologia moralizadora que deseja confiscar as lutas sociais através de seminários de sociologia e mecanismos de constituição textual.

Vinculam a capacidade de governar com a oratória do erotismo semântico do realismo da burguesia.

A pobreza de milhões deveria ser mantida num canto escuro, para o equilíbrio e harmonia social, através de discursos preocupados com as formas de construção lingüística enquanto sequência de frases – não importando as intenções.

Mas esse palavrão aponta como critério de textualidade a coesão e a coerência porque o povo, pela primeira vez, está no poder, e ele, fala turpilóquios.

Foi quando a gente humilde, escrava dos desejos da burguesia, sentiu-se no exercício pleno do poder ao escutar o tal palavrão.

O apogeu do pensamento burguês foi que elegeu e manteve o governo FHC. Onde o trabalho e a mão-de-obra barata vestiam os corpos da burguesia com palavras de bom tom e figurinos de bom gosto.

Enquanto isso, o povo vivia na merda, com fome e esgoto correndo por pátios e calçadas de barro e poeira.

A linguística erótica burguesa controladora do decoro dos discursos, não pode apontar o desaparecimento dos pobres, canalizados para guetos de contenção, já que eles existem na base de qualquer trabalho capitalista, mas retoma os processos de ordenação para afirmar: a burguesia é a eternidade.

Parece-me que estamos caminhando, para uma época, em que as máscaras não serão necessárias, para o povo falar.

Por enquanto, se permite que fale baixo, para manter o equilíbrio do sistema e a burguesia possa dormir tranquila.

É a tática de permitir sem libertar.

Os preceitos de decoro e bom tom linguístico trabalham à favor da ordem e do progresso.

A moralidade e o bom gosto andam com a gente fina. Decorosos e austeros escolhem com cuidado o que falar ao povo, sem despertar-lhe a consciência.

O discurso não autorizado do Exmo. Sr. Presidente, que se negou a ficar no silêncio narrativo, se impôs como necessário e imprescindível, para se revelar claramente como ideológico.

Mostra que entre o que se diz e o que não se diz, a vida continua com mais ou menos hipocrisia.

Maromar

Um comentário:

Anônimo disse...

Não é a toa que o Lula tem 80% de aprovação popular, pois se perguntarmos o que é "merda" e "turpilóquio" tenho certeza de que todos saberão definir o primeiro.