sábado, 23 de maio de 2009

Mario Benedetti


Vida Bandoneón: Uruguai se despede de Mario Benedetti


O cantor e compositor e amigo íntimo de Benedetti, Daniel Viglietti lembrou que "estamos todos consternados, como escrevia ele quando morreu o Che, mas sua caneta nos deixa a alma cheia de versos simples, simples na altura, como aqueles versos do cubano José Martí que ele tanto admirava". "Hoje enterramos um homem que acreditava na esperança de que as coisas, essas que todos sabemos importantes — amor, justiça, solidariedade, honestidade, rigor, entrega de vida — podem ser atingidas", diz Hugo Achugar, diretor de Cultura do governo uruguaio.


Redação - Carta Maior


Escritor uruguaio dos mais reconhecidos na América Latina, Benedetti morreu no domingo último em sua casa, aos 88 anos, após uma carreira literária de seis décadas. Benedetti tinha sido internado num hospital particular no final de abril, depois de diagnosticada uma doença intestinal crônica, e os médicos lhe deram alta no início de maio. "Aparentemente ele estava melhorando; os médicos diziam que estava se recuperando. Por isso, sua morte nos pegou de surpresa", comentou seu irmão Raúl aos canais de TV uruguaios.


A morte de Benedetti reuniu milhares de uruguaios para se despedirem ontem (20) do escritor. Os restos mortais de Benedetti foram conduzidos por trabalhadores e estudantes até o Panteão Nacional do Cemitério Central de Montevidéu, em meio a um eloqüente silêncio somente interrompido por respeitosos aplausos quando o caixão chegou ao destino. "Hoje enterramos um homem que acreditava na esperança de que as coisas, essas que todos sabemos importantes — amor, justiça, solidariedade, honestidade, rigor, entrega de vida — podem ser atingidas", disse na ocasião Hugo Achugar, diretor de Cultura do governo uruguaio.


O cantor e compositor e amigo íntimo de Benedetti, Daniel Viglietti lembrou que "estamos todos consternados, como escrevia ele quando morreu o Che, mas sua caneta nos deixa a alma cheia de versos simples, simples na altura, como aqueles versos do cubano José Martí que ele tanto admirava". Ainda no domingo, após a notícia do falecimento, familiares e amigos começaram a chegar à casa do poeta, no centro da capital uruguaia, cidade que Benedetti sempre mencionava em seus escritos.


Benedetti nasceu em 14 de setembro de 1930 no departamento de Tacuarembó, no norte do Uruguai, exilou-se durante a ditadura que desgovernou o país de 1973 a 1985, vivendo em Madri por boa parte desse período. Vários de seus poemas, escritos durante a ditadura e nos últimos anos, foram dedicados a vítimas da repressão militar, como o senador de esquerda e amigo íntimo Zelmar Michelini, seqüestrado e morto em Buenos Aires em 1976. Benedetti ficou famoso em 1956 com a publicação de "Poemas de la Oficina", sobre a rotina do trabalho.


Carta Maior publica aqui, na íntegra, um dos belos e simples poemas de Bendetti, em homenagem a ele e a todos que transformam as dores latinoamericanas em arte.


Bandoneón


me jode confesarlo

pero la vida es también un bandoneón

hay quien sostiene que lo toca dios

pero yo estoy seguro que es troilo

ya que dios apenas toca el arpa

y mal


fuere quien fuere lo cierto es

que nos estira en un solo ademán purísimo

y luego nos reduce de a poco a casi nada

y claro nos arranca confesiones

quejas que son clamores

vértebras de alegría

esperanzas que vuelven

como los hijos pródigos

y sobre todo como los estribillos


me jode confesarlo

porque lo cierto es que hoy en día

pocos

quieren ser tango

la natural tendencia

es a ser rumba o mambo o chachachá

o merengue o bolero o tal vez casino

en último caso valsecito o milonga

pasodoble jamás

pero cuando dios o pichuco o quien sea

toma entre sus manos la vida bandoneón

y le sugiere que llore o regocije

uno siente el tremendo decoro de ser tango

y se deja cantar y ni se acuerda

que allá espera

el estuche.

Nenhum comentário: