segunda-feira, 2 de março de 2009

Paulo Freire

Nesses dias de começo das aulas escolares, parar e escutar Paulo Freire dá a dimensão do nosso trabalho como educadores. Nestes dias, em que as forças reacionárias deste país buscam de todas as formas criminalizar o MST, parar e escutar Paulo Freire há de indicar o caminho fundamental a ser trilhado pelo nosso trabalho.

A mim parece importante chamar a atenção para quantas e quantas vezes sucumbimos frente a falas destrutivas e desesperançadas, que nos fragmentam e nos implodem em pequeninos pedaços voadores, transformando em poeira nossas tentativas íntimas. Nas muitas e mais tantas oportunidades em que isto acontece, não o sabemos se ocorre por intenção deliberada ou por não sabermos pensar e sentir diferente. Guardamos silêncio para o enfrentamento final quando o bem vencerá definitivamente o mal. Eis o imobilismo na crença que haverá somente um embate e que todos os desgastes dos afrontamentos anteriores se dão sem razão. Ao assumir uma posição critica e não lírica deixamos de assumir os defeitos e dificuldades dos outros para estabelecer parcerias razoáveis de comprometimento com a esperança, dentro de uma práxis libertadora do outro em mim que retorna ao outro que está fora de mim.

Não há fadas ou benfeitores, todos e todas nós precisamos caminhar com as próprias pernas, errando ou acertando que diferença faz, nos basta por ora o movimento. Parando vez que outra para estabelecer diálogos íntimos, produzindo alguns enfrentamentos pessoais, fixando regras de ação e deixando o coração livre para voar os maiores e melhores sentimentos da esperança, não se deixar vencer pela insônia do medo e ficar escondido. Levantar da cômoda cadeira e retirar o disco de vinil do toca-disco, virar o vinil e tocar o lado B, movimento e reflexão, quanta sonoridade no vinil, nem tudo que é novo supera em qualidade o antigo.

Aquilo que é novo, a notícia ou a colheita, não nos embaraça tanto, quanto o novo que chega pelas idéias de fazer diferente. Não se diz querer o novo das idéias por astúcia ou ingenuidade, pois tanto uma como a outra farão da novidade mentiras diárias. Cresceremos com as idéias do novo fazer e pensar, na discussão permanente entre mim e o eu, entre o eu e o nós, entre o nós e o todo, entre o todo e o que repito que é meu, pois sempre retorno ao início que sou eu. Minha dor não é nova, mas meu sorriso está diferente. Estou refletido em mim mesmo, clareando e esclarecendo minhas próprias perguntas. Sou astuto, ingênuo ou progressista?, por ora, já me basta responder por está investigação, permanentemente atento, mesmo que sofrendo muito com o esforço, mas em movimento.

Professor, o senhor está descrevendo a esperança?

A esperança no homem e na mulher, independentemente da maneira como se manifesta e se diz pertencente e querendo a humanidade que nos habita, é permanentemente mobilizada para recriar as condições humanas de ser mais. Esperar o que se deseja é o natural, a necessidade que transcende a biologia e vem se assentar em nossa condição humana, no desejo que existe na palavra e na reflexão que impregna nossa ação. E é esta palavra carregada com nossos desejos que aviva a práxis voltada para o humano que se quer sendo mais humana, recriadora das possibilidades e oportunidades que nos aproximam. Sonhar esperança é pensar a vida com um chá refrescante de hortelã na xícara em nossas mãos, quentinho e aconchegante, que necessita ser sorvido, tomado delicada e decisivamente, sem esperar que amorne ou esfrie. A esperança do chá está na sua delicadeza e na sua maneira diferente de observar e influir na vida, na saúde da existência, na ausência de agressões e resultados inflamados por fármacos pedagógicos tirânicos e imediatistas.

A pedagogia antibiótica se revela eficaz para acabar com o analfabetismo porque acaba com o analfabeto. Antes dos conteúdos está o amor capaz de nos aliviar aos poucos um pouco mais, antes que o tempo veloz nos engula e nos impeça de estarmos juntos, novamente, descobrindo que o amor não é paz, mas a contradição do outro e da outra em mim mesmo. Assim, na diversidade, deveríamos ajudar o mundo a mudar.

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